Assassinato de Maxciel Pereira dos Santos

O assassinato de Maxciel Pereira dos Santos aconteceu no dia 6 de setembro de 2019. Ele foi executado com um tiro na cabeça em Tabatinga enquanto dirigia de moto com sua esposa e enteada. Suspeita-se que sua morte tenha sido encomendada por seu trabalho contra o garimpo, à exploração ilegal de madeira, à caça e à pesca ilegais na região.

Assassinato de Maxciel Pereira dos Santos

Maxciel dos Santos era um indigenista que atuava na área do Vale do Javari
Local do crime Avenida da Amizade, em Tabatinga, Amazonas
Data 6 de setembro de 2019
Por volta das 18h30 (UTC-3)
Tipo de crime Morte encomendada (hipótese da Polícia Federal)
Arma(s) Arma de fogo
Vítimas Maxciel Pereira dos Santos

Vítima editar

Maxciel Pereira dos Santos, conhecido como Tabatinga, tinha 34 anos. Foi ex-militar da Aeronáutica[1] e era um indigenista servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) por mais de doze anos, chefiando, por cinco anos, o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari.[2][3] Era conhecido por ser um servidor "duro". Na época, em que morreu, tinha sido desligado oficialmente da Funai no governo Temer[1] e trabalhava como colaborador da Fundação na coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental nas operações de combate ao garimpo, à exploração ilegal de madeira, à caça e à pesca ilegais.[4] Na época em que foi assassinado, ele e Bruno Pereira estavam ajudando a Polícia Federal (PF) na organização da Operação Korubo, focada no combate ao garimpo ilegal no rio Jutaí.[1] Ele tinha 11 irmãos[5] e era casado e tinha uma filha de nove anos, do antigo casamento de sua esposa.[1]

Ele já havia recebido diversas ameaças de morte e a base onde trabalhava, em Ituí-Itacoaí, havia sido atacada quatro vezes. Após o assassinato, os invasores de terra disseram que tinham uma lista e iriam matar mais pessoas.[6]

Assassinato editar

Em 6 de setembro de 2019, por volta das 18h30, Maxciel estava dirigindo sua moto pela Avenida da Amizade, em Tabatinga, com sua mulher e enteada, quando dois homens se aproximaram e atiraram em sua cabeça.[5][7] Seu assassinato ocorreu em público.[3] Ele foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o hospital do Exército, onde faleceu. A suspeita da família era que a morte foi retaliação por seu trabalho com indígenas na região do Vale do Javari.[8]

Reações editar

Os Indigenistas Associados (INA) demonstram preocupação com o crime e pediram sua investigação. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) informou que acionou o Ministério Público Federal (MPF) e a PF.[9] A Funai lamentou a morte e afirmou ter repassado as informações para a PF.[10]

O assassinato teve repercussão em jornais como Reuters,[11] The Guardian,[12] The Insider[13] e BBC.[14]

Investigação editar

O caso foi inicialmente investigado pela Polícia Civil do Amazonas, e o laudo cadavérico original concluiu que Maxciel morreu com dois tiros na cabeça.[15]

Em 15 de setembro de 2022, a PF retomou as investigações.[8] De acordo com a nova linha de investigação, Maxciel teria sido executado pelo mesmo grupo de pesca ilegal e narcotraficantes que mataram Bruno Pereira e Dom Phillips em 2022. O novo inquérito é baseado em investigação paralela feita pela família, que entregou para a PF em 2021 um cartão de memória contendo gravações, supostos valores pagos aos executores e nomes de testemunhas. O principal suspeito era Rubens Villar, o "Colômbia".[5][16]

Em 4 de outubro, seu corpo foi exumado pela PF, com o objetivo de identificar a cápsula do projétil que o acertou. Também foram coletadas amostras de DNA e saliva.[7] O novo laudo cadavérico indicou que Maxciel morreu com apenas um tiro na cabeça, e a PF concluiu que as autoridades do caso foram negligentes e que a autópsia foi feita por pessoas inexperientes.[15]

No dia 19 de maio de 2023, a PF considerou que a Funai foi relapsa aos casos de ameaças e assassinatos que estavam ocorrendo na região e indiciou Marcelo Xavier, ex-diretor da Fundação, e Alcir Amaral Teixeira, ex-coordenador de monitoramento territorial da Fundação, por homicídio qualificado e omissão de cadáver com dolo eventual pelo assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.[17]

Referências editar

  1. a b c d Ciro Barros e Rubens Valente (14 de junho de 2022). «A primeira vítima da Funai no Javari sob o governo Bolsonaro». Agência Pública. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  2. «Colaborador da Funai é assassinado em região remota da Amazônia». Exame. 9 de setembro de 2019. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  3. a b Daniela Penha. «'É como se a qualquer momento ele fosse voltar'». Repórter Brasil. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  4. Letícia Mori (9 de junho de 2022). «Morte de trabalhador da Funai no Vale do Javari segue impune após 3 anos». BBC News Brasil. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  5. a b c Vinícius Valfré (20 de junho de 2022). «Dossiê aponta que indigenista amigo de Bruno Pereira teve morte encomendada no Vale do Javari». Estado de S. Paulo. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  6. «Cova Medida - Maxciel Pereira dos Santos». Repórter Brasil. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  7. a b «PF exuma corpo do indigenista Maxciel dos Santos na investigação sobre relação da morte com caso Bruno e Dom». Jornal Nacional. 5 de outubro de 2022. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  8. a b Isabela Camargo e Wellington Hanna (15 de setembro de 2022). «PF retoma investigações sobre morte de indigenista Maxciel dos Santos após apuração paralela de família». TV Globo. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 27 de outubro de 2022 
  9. «Indigenista colaborador da Funai é assassinado na Amazônia». O Globo. 11 de setembro de 2019. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  10. «Nota da Funai sobre o assassinato de Maxciel Pereira dos Santos». Fundação Nacional dos Povos Indígenas. 9 de setembro de 2019. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  11. «Brazil indigenous agency worker killed in remote Amazon town» (em inglês). 9 de setembro de 2019. Consultado em 24 de maio de 2023. Arquivado do original em 5 de janeiro de 2023 
  12. Oliver Laughland e Roberto Kaz (21 de junho de 2022). «'We all demand justice': the unsolved murder of the man Bruno Pereira mentored». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  13. Lauren Frias. «Indigenous agency worker reportedly was killed 'execution-style' in a remote Brazilian town amid Amazon rainforest fires». Insider (em inglês). Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  14. «Brazil worker who protected indigenous tribes killed in Amazon». BBC News (em inglês). 9 de setembro de 2019. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  15. a b Isabela Camargo e Wellington Hanna (27 de outubro de 2022). «PF encontra falhas em laudo cadavérico de Maxciel, indigenista morto na Amazônia em 2019». Globonews e TV Globo. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  16. Vinicius Valfré (21 de junho de 2022). «Indigenista amigo de Bruno teve morte encomendada, afirma dossiê». Uol. Consultado em 24 de maio de 2023. Cópia arquivada em 24 de maio de 2023 
  17. «PF indicia o ex-presidente da Funai por homicídio com dolo eventual de Bruno Pereira e Dom Phillips». Jornal Nacional. 20 de maio de 2023. Consultado em 22 de maio de 2023. Cópia arquivada em 22 de maio de 2023