Attilio Mordini di Selva (Florença, 22 de junho de 1923 – Florença, 4 de outubro de 1966) foi um teólogo, filósofo, esoterista, linguista, engenheiro militar e escritor toscano que, acompanhado por uma geração de tradicionalistas estudiosos do hispanismo e do germanismo, ajudou a estabelecer a base de uma concepção "neogibelina" entre católicos europeus e sul-americanos.

Attilio Mordini
Attilio Mordini
Nome completo Attilio Mordini di Selva
Outros nomes Frei Alighiero
Nascimento 22 de junho de 1923
Florença, Itália
Morte 4 de outubro de 1966 (43 anos)
Florença, Itália
Causa da morte Câncer
Nacionalidade Italiano
Ocupação Professor, escritor
Movimento literário Tradicionalismo
Magnum opus Il Tempio del Cristianesimo
Escola/tradição Tomismo
Serviço militar
País Reino de Itália

República Social Italiana

Serviço Régio Exército e Wehrmacht (Heer) (1940-43);

Exército Nacional Republicano (1943-45)

Anos de serviço 1940-1945
Patente Tenente
Unidades Milícia Voluntária para a Segurança Nacional e 4.ª Divisão Panzer (1940-43),

Guarda Nacional Republicana (1943-45)

Conflitos Frente Oriental, Campanha da Itália
Título Barão de Selva
Religião Católico Romano

Biografia editar

Attilio Mordini della Selva, de nobilíssima família florentina, recebeu educação inicialmente pelos piaristas e depois pelos salesianos. No início da Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Milícia Voluntária para a Segurança Nacional e, a partir de 8 de setembro de 1943, serviu no departamento de engenheiros da 4.ª Divisão Panzer na Frente Oriental.[1] De volta à Itália, após sofrer com um congelamento de um dos pés na frente ucraniana, ingressou na República Social Italiana, sendo condenado à prisão pelo lado vencedor no final da guerra: neste período, contraiu tuberculose.[1] Retomou os estudos universitários e, sob orientação do germanista Vittorio Santoli, formou-se com nota máxima numa tese em literatura alemã. No mesmo período foi admitido na Pontifícia Universidade Gregoriana.[2]

Colaborou na revista L'Ultima, fundada pelo poeta Giovanni Papini, e em várias publicações católicas como L'Alfiere, Il Ghibellino, Carattere e Adveniat Regnum. Nos anos 1964 e 1965 tornou-se um respeitado professor de italiano na Universidade de Quiel e, durante sua estadia na Alemanha, colaborou com a revista de teologia e ciência das religiões Kairos, publicada pelos beneditinos de Salzburgo.[2]

Manteve uma relação colaborativa e epistolar com expoentes do mundo cultural, entre eles: Giano Accame, Gianni Baget Bozzo, Fausto Belfiori, Titus Burckhardt, Alfredo Cattabiani, Adolfo Oxilia, Silvano Panunzio, René Pechère, Pietro Porcinai, Adriana Zarri e Sergio Quinzio. Suas correspondências estão guardadas em Roma, na Fundação Ugo Spirito e Renzo De Felice.

Foi o autor do verbete "O trabalho à luz cristã" da Moderna Enciclopedia del Cristianesimo publicada pela Edição Paoline. Integrou a Ordem Terceira de São Francisco com o nome de Frei Alighiero. Em seus escritos analisou, numa síntese personalíssima, o processo da civilização cristã, da Encarnação até os dias de hoje.

Depois de uma vida de sofrimento e dor, rodeado por um cenáculo cultural e espiritual de jovens estudantes, dentre eles o ecumenista (e continuísta) Franco Cardini e o lefebvrista conde Neri Capponi, morreu em Florença em 4 de outubro de 1966, dia da festa de São Francisco de Assis.[3]

Nazifascismo

Após o fim de seu cárcere, Mordini manteve contato com personalidades fascistas italianas no pós-guerra. No decorrer dos anos 50 e 60, apoiou as indicações eleitorais do Movimento Social Italiano, coordenado pelo também veterano Giorgio Almirante. Durante este período, após atacar o pacifismo e o progressismo do partido da Democrazia Cristiana (Democracia Cristã), chegou a ser acusado publicamente de heresia pelo então prefeito de Florença (e representante da esquerda do partido), Giorgio La Pira (hoje em procresso de beatificação e a quem Mordini acusava de falso tradicionalista).[4]

Mordini recusava o racismo científico e também nazismo, enxergando-os como um produto da modernidade e opostos tanto à doutrina católica quanto às tradições autênticas. Ainda assim inspirou-se, provavelmente graças a sua formação germanista, em alguns estudos de Alfred Rosenberg para compor alguns de seus escritos.

Também se mostrou um crítico do nacionalismo de uma maneira geral:[2]

Quanto ao suposto nacionalismo italiano e alemão, muito se especulou para lançar poeira aos olhos dos ingênuos; na realidade, ambos nasceram apenas em 1848, quando o nacionalismo francês já tinha muitos séculos e o imperialismo inglês já estava atingindo seu esplendor. Os jovens nacionalismos italiano e alemão surgiram apenas para reagir a todos os outros nacionalismos que em 1748, em Aquisgrão, acabaram por substituir a construção tradicional do império católico pelo império do medo, com o compromisso dos cinco estados mais fortes, ameaçadores e hostis, que lutaram uns contra os outros. E devemos agradecer aos combatentes italianos e alemães da última guerra mundial se hoje todo nacionalismo soberbo está definitivamente erradicado na Europa.[4]


Tradicionalismo

Um dos maiores expoentes da concepção católica gibelina da Cristandade, Mordini se diferenciava de autores pagãos gibelinos como Evola, Ruta e até mesmo de uma de suas maiores influências, o guelfo branco Dante Alighieri, ao alinhar sua doutrina política com o ultramontanismo e até mesmo a concepção de infalibilidade papal. Segundo o tradicionalista polonês Jacek Bartyzel, a árdua tarefa de Mordini no decorrer da vida foi "catolicizar o evolianismo" através da renovação da Teologia Imperial da Era cristã, extraindo a base de seu trabalho da obra dantesca Monarchia Universalis. De acordo com Primo Siena, um de seus alunos, a concepção mordiniana, considerando que a Roma pré-cristã criara uma "cópia falsa da Divindade autêntica", rejeita a apologia evoliana do "imperialismo pagão" e, centrando-se nas obras de Francisco de Assis, gira entorno do princípio de povertà regale (ou pobreza real, cujo exemplo-mor, Henrique Liudolfinga, é o único imperador germânico a ser canonizado pela Igreja Católica).

Mordini cría que a fratura entre os dois Vigários de Cristo na terra, o Papa (poder espiritual) e o Imperador Romano (poder temporal) – alavancada e arquitetada tanto pela França quanto pela classe burguesa das cidades-estado italianas –, havia sido a causa central pela qual Lutero e a nobreza imperial, aproveitando-se da fraqueza institucional do imperador Carlos V, foram capazes de consolidar o protestantismo (rebelião espiritual) e consequentemente um maior enfraquecimento da Cristandade enquanto Império Universal (rebelião política). Assim, concluía que a vitória da Rebelião Protestante, que por sua vez encontraria um leal aliado na França "católico-galicana" rival do Sacro Império e da Espanha dos Habsburgo, teria sido também a consolidação do "politeísmo político" da modernidade, uma vez que os estado-nações, sendo historicamente contrapostos ao Império Católico (imitação por excelência da hierarquia dos Reino dos Céus), eram como as diversas divindades pagãs que se opunham à adoração do Deus Único.[4]

Apesar de apoiar um claro e evidente autoritarismo e de manter contato com círculos fascistóides, ainda que paradoxalmente mantendo um tradicionalismo político e religioso intransigente, Mordini também era um crítico do tradicionalismo (especialmente o francês). Durante uma conferência no 1º Convegno Tradizionalista Italiano de Nápoles, em 26 de maio de 1962, disse:[4]

Se tivéssemos a oportunidade e o tempo de considerar todo o tradicionalismo contemporâneo que aparece em homens como Joseph de Maistre, De Bonald até Maurras, veríamos como suas fraquezas eram, numa análise final, as de reduzirem a si mesmos, de um modo ou de outro, a campeões da autoridade do Estado e da monarquia nacional; o que praticamente significa reduzir a Tradição a uma ideologia política mais ou menos coberta por religiosidade.

Ainda que tenha sido influenciado em seus estudos das religiões tradicionais por René Guénon e Julius Evola, Mordini se destacou pelo caráter católico de seus escritos, indo contra a onda do tradicionalismo pagão e islâmico que se instalavam como doutrinas dominantes em diversos círculos tradicionalistas italianos.[2] Separou-se definitivamente de Evola na mesma época em que estabeleceu, em sua casa na Via della Pergola (Florença), um cenáculo de estudos católicos que atraiu alguns destes jovens, como o autor contrarrevolucionário Giovanni Cantoni.

Foi uma das primeiras personalidades a divulgar a causa e a veneração de Carlos I d'Áustria, beatificado pela Igreja Católica no século XXI.[2]

Principais obras editar

  • Il segno della Carne, escrito sob o psudeônimo Ermanno Landi, La fronda, Firenze 1956
  • Dal Mito al materialismo, Il Campo Editore, Firenze 1966
  • Giardini d'Oriente e d'Occidente, Fabbri, Milano, 1966 (com Pietro Porcinai)
  • Verità del linguaggio, Volpe, Roma 1974
  • Il Mito primordiale del Cristianesimo quale fonte perenne di metafisica, Scheiwiller, Milano 1976
  • Il mistero dello Yeti alla luce della tradizione biblica, Il Falco, Milano 1977
  • Il Tempio del Cristianesimo, Settecolori, Vibo Valentia 1979
  • Francesco e Maria, Cantagalli, Siena 1986
  • Il mito antico e la letteratura moderna, Solfanelli, Chieti 1989
  • Il cattolico ghibellino, Il Settimo Sigillo, Roma 1989
  • Verità della Cultura, Il Cerchio, Rimini 1995
  • Passi sull'acqua. Dai Quaderni d'appunti (1954-1961), Ed. Europa- Settimo Sigillo, Roma 2000
  • Povertà regale, Cantagalli, Siena 2001
  • Il Tempio del Cristianesimo (nova edição), Il Cerchio, Rimini 2006
  • Il segreto cristiano delle fiabe, Il Cerchio, Rimini 2007
  • Il mistero dello Yeti (nuova edizione), Cantagalli, Siena, 2012
  • L' ordine costantiniano di S. Giorgio. La regola di S. Basilio e altri scritti di simbologia e cavalleria (1960-1964), Thule, Palermo, 2017.
  • lIl Mito primordiale del Cristianesimo quale fonte perenne di metafisica (nuova edizione), Il Cerchio, Rimini 2019.

Notas editar

  1. a b «Una pagina al giorno: Ricordo di Attilio Mordini, di Franco Cardini». Ariannaeditrice.it (em italiano). Consultado em 1 de agosto de 2022 
  2. a b c d e Sanguinetti, Oscar (2017). «Attilio Mordini di Selva: un ricordo a oltre cinquant'anni dalla scomparsa». Messainlatino.it. Consultado em 7 de novembro de 2020 
  3. «Una pagina al giorno: Ricordo di Attilio Mordini». Consultado em 16 de setembro de 2012 
  4. a b c d MORDINI, Attilio. Il Cattolico Ghibellino. [S.l.]: Settimo Sigilo 

Bibliografia editar

  • Tradizione e restaurazione: saggio introduttivo al pensiero di Attilio Mordini, Centro Studi Mordiniani, Roma 1973
  • Alberto Castaldini, Lo spirito del francescanesimo nel pensiero di Attilio Mordini, “Vita Minorum”, 2, 2002, pp. 182–197.
  • Paolo Rizza, Attilio Mordini e il senso della tradizione, Controcorrente, Napoli 2004
  • Maria Caterina Camici - Franco Cardini, Attilio Mordini, il maestro dei segni, Il Cerchio, Rimini 2016

Ver também editar

Ligações externas editar