Centro Operário e de Proteção Mútua (Cachoeiro de Itapemirim)

bem tombado em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, Brasil

Centro Operário e de Proteção Mútua (COPM) é um sindicato fundado em 13 de janeiro de 1907, localizado na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no interior do estado do Espírito Santo.[1][2][3]

Centro Operário e de Proteção Mútua
Inauguração 1907
Função inicial sindicato
Função atual sindicato, centro cultural
Património nacional
Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano de Cachoeiro de Itapemirim
Data 1996
Geografia
País  Brasil
Cidade Cachoeiro de Itapemirim
Coordenadas 20° 51' 11" S 41° 06' 34" O

História

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Fundado em 13 de janeiro de 1907, na região central do município de Cachoeiro de Itapemirim, no interior do estado do Espírito Santo, o Centro Operário e de Proteção Mútua (COPM) é uma entidade de proteção aos trabalhadores da cidade idealizada por Athanagildo Francisco Araujo, com o intuito de ser uma sede trabalhista que visasse reivindicar direitos, garantias trabalhistas e realizar atividades para os operários e seus familiares que envolvessem cuidado com a saúde e a educação dos mesmos.[1][2][4] Pesquisadores apontam que a ideia de fundação por Athanagildo decorreu de após ver um companheiro de trabalho - um ferroviário - sofrer maus tratos de um policial e posteriormente ao ato iniciou o ato de fundação da entidade trabalhista, apoiado por outros operários da região.[5][6]

A ideia de centros de auxílio mútuo surgiram em várias localidades do Brasil, com intuito de ajudar os trabalhadores em momentos difíceis, criando fundos a partir de contribuições dos associados e precede a ideia de sindicatos, que posteriormente na década de 1930, principalmente por influência de Getúlio Vargas, iriam vir a disseminar-se pelo país.[7][8][9][10]

A sede serviu de palco para diversas articulações trabalhistas ao longo dos seus mais cem anos de existência.[1] Casa de intensas discussões políticas, um de seus principais membros foi o Coronel Francisco de Carvalho Braga, primeiro prefeito de Cachoeiro do Itapemirim e pai dos escritores Newton e Rubem Braga.[11][12] O espaço ainda abriga o Centro Cultural Nelson Sylvan, espaço destinado a oficinais artísticas e formação na cidade, chegando a receber mais de duzentas pessoas por dia.[13][14] Para além das atividades sindicais, entidades como os Alcoólicos Anônimos (AA) e outras entidades civis já realizaram encontros no Centro.[6][15]

Desde de sua fundação, a sede vem sendo testemunha da história do Brasil, como períodos de repressão política, como a Ditadura Militar e momentos de esvaziamento e questionamento das entidades sindicais, como o momento da Reforma trabalhista aprovada no ano de 2017 no governo de Michel Temer (MDB) que acabou com o imposto sindical obrigatório.[11][16][17][18]

Em 2019, o Centro Cultural recebeu uma série de melhorias incluindo uma pintura interna, substituição dos pisos e melhoras visando acessibilidade, adquirindo uma construção de rampa na entrada e adição de um banheiro para pessoas com deficiência.[19]

No ano de 2020, a centenária sede, localizada próxima ao Rio Itapemirim, sofreu com uma enchente, em um forte período de chuvas registrado na cidade - segundo dados da Prefeitura de Cachoeiro, foi a maior enchente da história da cidade, em que o Rio Itapemirim subiu doze metros acima do nível normal.[6][20][21] A água subiu mais de dois metros na sede, atingindo diversos documentos e boa parte da mobília do Centro Operário.[6] Uma biblioteca com mais de dois mil itens, incluindo do começo do século XX, também foi perdida pela chuva.[6]

Em maio de 2020, já em meio à Pandemia de COVID-19 no Brasil, foi lançado um documentário sobre o Centro que foi produzido no ano anterior - antes dos documentos serem perdidos na enchente.[11][22][23] O orçamento para a realização do documentário foi disponibilizado pela Lei Rubem Braga junto à Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), e realizada por Fábio Souza junto ao Cineclube Jece Valadão.[11] O documentário foi lançado gratuitamente na Internet e ganhou uma versão física em DVD.[11][23]

Tombamento

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No ano de 1996, o imóvel passou pelo processo de tombamento junto ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano de Cachoeiro de Itapemirim (COMDUR).[24][25]

Ver também

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Ligações externas

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Referências

  1. a b c «Cachoeiro de Itapemirim – Centro Operário de Proteção Mútua». iPatrimônio. Consultado em 20 de abril de 2022 
  2. a b «Cachoeiro de Itapemirim (ES) | Cidades e Estados | IBGE». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 20 de abril de 2022 
  3. «Roteiros turísticos atraem visitantes e revelam Cachoeiro para o mundo». Guia A. 6 de outubro de 2021. Consultado em 20 de abril de 2022 
  4. «Criação da CCBFE e a organização da categoria». Sindicato dos Trabalhadores em Energia - Sinergia (ES). Consultado em 19 de abril de 2022 
  5. «Quem idealizou». Revista Cineclube Jece Valadão (em inglês). Consultado em 20 de abril de 2022 
  6. a b c d e Taveira, Vitor (15 de julho de 2020). «Centro Operário: uma entidade centenária dos trabalhadores». Século Diário. Consultado em 20 de abril de 2022 
  7. Júnior, Antônio (9 de junho de 2010). «Associações de Socorro Mútuo: estratégias dos trabalhadores imigrantes na Primeira República» (PDF). Universidade Estadual de Santa Cruz. Consultado em 19 de abril de 2022 
  8. Viscardi, Cláudia Maria Ribeiro (dezembro de 2009). «Estratégias populares de sobrevivência: o mutualismo no Rio de Janeiro republicano». Revista Brasileira de História: 291–315. ISSN 0102-0188. doi:10.1590/S0102-01882009000200003. Consultado em 20 de abril de 2022 
  9. Júnior, Armando Boito (1991). O sindicalismo de estado no Brasil: uma análise crítica da estrutura sindical. [S.l.]: Editora Hucitec 
  10. Boito, Armando (29 de agosto de 2004). «Vargas e a herança populista». Jornal da Universidade Estadual de Campinas. Consultado em 20 de abril de 2022 
  11. a b c d e «Documentário sobre Centro Operário é disponibilizado na internet». Jornal Fato. 15 de maio de 2020. Consultado em 20 de abril de 2022 
  12. «Casa dos Braga: um casarão repleto de história». ES Brasil. 17 de outubro de 2019. Consultado em 20 de abril de 2022 
  13. «Centro Cultural Nelson Sylvan, em Cachoeiro, recebe melhorias». A Gazeta. 21 de agosto de 2019. Consultado em 20 de abril de 2022 
  14. «VII Facci: Centro Cultural Nelson Sylvan recebe peça nesta terça (23)». Jornal Espírito Santo Notícias. 22 de outubro de 2018. Consultado em 20 de abril de 2022 
  15. «Cachoeiro de Itapemirim e região recebem atendimento jurídico do Sindicato». Sindipublicos. 21 de agosto de 2017. Consultado em 20 de abril de 2022 
  16. Lobo, Valéria Marques (2016). «Resistência sindical a mudanças nos marcos regulatórios das relações de trabalho no Brasil e em países selecionados». Sociedade e Estado: 325–348. ISSN 0102-6992. doi:10.1590/S0102-69922016000200003. Consultado em 20 de abril de 2022 
  17. Peroni, Guilherme Gustavo Holz; Martins-Silva, Priscilla De Oliveira; Silva Junior, Annor da (6 de dezembro de 2018). «Sentidos do sindicalismo na Veja durante a ditadura militar». Revista Pensamento Contemporâneo em Administração (4). 91 páginas. ISSN 1982-2596. doi:10.12712/rpca.v12i4.22926. Consultado em 20 de abril de 2022 
  18. Brasileiro, Ana Clara Matias; Brasileiro, Carol Matias (10 de dezembro de 2021). «Fim da contribuição sindical obrigatória: liberdade cínica». Revista Direito e Práxis: 2393–2418. ISSN 2179-8966. doi:10.1590/2179-8966/2020/48918. Consultado em 20 de abril de 2022 
  19. «Centro Cultural recebe melhorias para atender artistas de Cachoeiro». R7.com. 22 de agosto de 2019. Consultado em 20 de abril de 2022 
  20. «Um ano após enchente, moradores e comerciantes do Sul do ES lutam para se reerguer». G1. 26 de janeiro de 2021. Consultado em 20 de abril de 2022 
  21. «Maior enchente da história de Cachoeiro completa 1 ano». Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim. 25 de janeiro de 2021. Consultado em 20 de abril de 2022 
  22. Número de infectados pela Covid no ES é quase 9 vezes maior do que o oficial, diz pesquisa online | Globoplay, Jornal Nacional, consultado em 20 de abril de 2022 
  23. a b «Cachoeiro: documentário sobre Centro Operário é disponibilizado na internet». Aqui Notícias. 15 de maio de 2020. Consultado em 20 de abril de 2022 
  24. Oliveira, Ilauro de (5 de julho de 2012). «Centro Operário, prédio histórico de Cachoeiro, ganha novas cores». Atenas Notícias e Opinião. Consultado em 20 de abril de 2022 
  25. «Uma rua de muitas histórias» (PDF). A Gazeta. 14 de março de 2005. Consultado em 19 de abril de 2022