Centro de Instrução de Guerra na Selva

escola militar do exército brasileiro instalada na cidade de Manaus, Amazonas

O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) é uma organização militar do Exército Brasileiro destinada a qualificar militares líderes de pequenas frações como guerreiros da selva, combatentes aptos a cumprir missões de natureza militar nas áreas mais inóspitas da Floresta Amazônica brasileira, bem como em ambientes da mesma natureza.[2][3][4][5] Sediado em Manaus, o CIGS é subordinado ao Comando Militar da Amazônia, com vínculo técnico à Diretoria de Ensino Técnico Militar.[6]

Centro de Instrução de Guerra na Selva

Brasão
País  Brasil
Corporação Exército Brasileiro
Subordinação Comando Militar da Amazônia
Denominação Centro Coronel Jorge Teixeira
Sigla CIGS
Criação 2 de março de 1964 (60 anos)
Comando
Comandante Coronel Glauco Corbari Corrêa[1]
Sede
Guarnição Manaus -  Amazonas
Página oficial Página oficial

Cabe ao CIGS a pesquisa e experimentação de táticas, armamentos e equipamentos para a guerra na selva,[7] formando uma doutrina que ele difunde através dos cursos.[8] Parte dos militares servindo na região especializa-se ali; os demais são adestrados na guerra na selva dentro de suas próprias organizações militares.[7]

Desde 1959, o Curso de Operações Especiais, à época organizado pelos paraquedistas, já tinha um estágio de guerra na selva. O pensamento militar da época via esse ambiente como propício para um inimigo guerrilheiro.[9] O CIGS foi criado em 2 de março de 1964, tendo como primeiro comandante o major Jorge Teixeira de Oliveira (“Teixeirão”), origem da denominação histórica de “Centro Coronel Jorge Teixeira”. O corpo docente inicial foi instruído no Jungle Operations Training Center, instituição americana no Panamá.[6] A hipótese de uma insurgência na selva ocorreu na época com a Guerrilha do Araguaia, e militares formados no CIGS participaram de sua eliminação. De 1970 a 1978 o CIGS o curso de comandos, apesar da ambição dos paraquedistas de ter a prerrogativa de formar as tropas especiais.[9]

Outros países com parte do território na Amazônia, como a Bolívia, Colômbia, Equador, França (via a Guiana Francesa), Guiana, Peru e Venezuela também têm “Escolas de Selva” para a especialização de seus militares. Seu objetivo comum é a dissuasão contra um possível invasor, pois as condições naturais da região limitam as forças militares convencionais e exigem forças especializadas.[10] No Brasil, grande parte desse esforço é voltado à “estratégia de resistência”, pela qual um invasor com plena superioridade militar seria derrotado através da guerra irregular.[7]

Organização

editar

O Centro é organizado numa Companhia de Comando e Serviço, um Campo de Instrução e Divisões de Ensino, de Doutrina e Pesquisa, de Alunos, Administrativa, de Saúde e de Veterinária.[8] O treinamento ocorre no Campo de Instrução General Sampaio Maia (CIGSM), uma área de 1 152 quilômetros quadrados de mata fechada, delimitada pela rodovia AM-010 e os rios Amazonas, Preto da Eva e Puraquequara. Outras manobras são realizadas nesse Campo, mas é pelo treinamento do CIGS que ele ganhou o apelido de “Quadrado Maldito”.[11][12]

A sede em Manaus, tem um zoológico, o único do mundo administrado por militares. Originalmente criado para apresentar a fauna da região aos militares, ele é hoje aberto ao público.[13] O zoológico, a área conservada e a relação entre os militares formados ali, a mata e seus habitantes tornam o CIGS uma unidade peculiar para atividades ambientais.[14]

O Curso de Operações na Selva

editar

O CIGS ministra Cursos de Operações na Selva, em sete categorias diferentes, além de estágios destinados a militares e também para instituições civis. Seu símbolo é a onça-pintada. O curso é dividido em três fases: vida na selva, técnicas especiais e operações, e tem a duração de 12 semanas.[12] As vagas são muito disputadas,[7][15] com o ingresso sendo restrito por uma avaliação médica e psicológica e um teste físico exigente.[16]

Os aprovados são submetidos, num clima quente e úmido, a forte pressão psicológica, fadiga, sono e fome. Eles dormem em média quatro horas por dia, realizam atividades físicas extenuantes de dia e de noite e passam por longas provas de resistência.[16][17] Ao longo do curso, realizam longas caminhadas na mata, dormem na chuva, caçam e colhem seu próprio alimento e lutam corpo a corpo uns com os outros. Os que exibem fadiga são insultados pelos instrutores.[15] Muitos dos ingressantes não chegam ao final. Psicologicamente, o sucesso no curso está associado ao autocontrole e à reavaliação positiva.[16]

Por esse motivo, o curso é considerado o “mais difícil e controverso” do Exército. Já ocorreram mortes no treinamento, mas menos de dez.[12] Médicos e psicólogos acompanham o processo e podem pedir o desligamento dos que estiverem fatigados demais ou doentes.[15] Acusações de cárcere privado e excessos no CIGS já foram investigadas pelo Ministério Público Federal, que arquivou o caso.[12] Mesmo internacionalmente, o curso é conhecido como um dos mais completos e difíceis.[16]

Os guerreiros de selva

editar
 
Combatentes de Selva do 2º Pelotão Especial de Fronteira - Ipiranga

Até junho de 2023, o CIGS formou 7 161 guerreiros de selva,[6] a maioria do Exército, mas alguns também da Marinha, Força Aérea, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Duas mulheres concluíram o curso, ambas em 2010.[12] O universo dos 7 161 inclui 636 estrangeiros,[6] formados pelo Curso Internacional de Operações na Selva (CIOS).[18] Os estrangeiros só têm acesso à parte não sigilosa dos conhecimentos do CIGS.[11] Eles tipicamente vêm de países vizinhos, além de alguns serem franceses e americanos. A oferta de vagas a países em desenvolvimento na América Latina e África é uma forma do Brasil aumentar sua influência internacional.[15]

Os formandos do curso têm prestígio[7] e capital simbólico dentro do Exército, cultivando uma “mística” de guerreiro da selva, uma identidade à parte dos demais militares, definida pela autoconfiança e a conexão com a Amazônia. Vários símbolos os identificam, como o chapéu bandeirante e o Facão do Guerreiro de Selva.[19]

Ligações externas

editar

Referências

  1. «Comandante do CIGS». Visitado em 17 de junho de 2024 
  2. «O CIGS». www.cigs.eb.mil.br. Consultado em 16 de agosto de 2018 
  3. Galante, Alexandre (10 de novembro de 2014). «O Centro de Instrução de Guerra na Selva». Forças Terrestres - Exércitos, Indústria de Defesa e Segurança, Geopolítica e Geoestratégia. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  4. «Armas». www.eb.mil.br. Consultado em 18 de setembro de 2023. especializa militares para o combate na selva 
  5. «Em Manaus, Cigs homenageia Teixeirão e guerreiros de selva». BNC Amazonas, o site de política!. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  6. a b c d «A História do Centro de Instrução de Guerra na Selva». Centro de Instrução de Guerra na Selva. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  7. a b c d e Piletti, Felipe José (2008). Segurança e defesa da Amazônia: o exército brasileiro e as ameaças não-tradicionais (PDF) (Dissertação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul . p. 52, 78.
  8. a b Fan, Ricardo (10 de novembro de 2014). «Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) completa 50 anos». DefesaNet. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  9. a b Viana, Claudius Gomes de Aragão (2020). A Brigada de Infantaria Paraquedista: história institucional e cultura organizacional da tropa aeroterrestre brasileira (PDF) (Tese). Rio de Janeiro: FGV . p. 253-254, 257, 259, 278.
  10. Souto, Juan Carlos Flores; Paim, Rodrigo de Almeida; Franchi, Tássio (julho–dezembro de 2015). «As escolas de selva como fator de dissuasão na Pan-Amazônia: análise de caso dos exércitos equatoriano e brasileiro». Revista Brasileira de Estudos de Defesa. 5 (2) 
  11. a b Kawaguti, Luis (25 de dezembro de 2021). «Conheça o "quadrado maldito", onde o Exército dispara foguetes na selva amazônica». Gazeta do Povo. Cópia arquivada em 25 de dezembro de 2021 
  12. a b c d e «Especial: GUERRA NA SELVA». G1 Amazonas. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  13. Carvalho, Francinete Bandeira; Terán, Augusto Fachín; Silva, Maria Francisca Gomes da (julho–dezembro de 2019). «O uso do jardim zoológico do CIGS para o ensino de ciências». Instituto Federal de Mato Grosso. Revista Prática Docente. 4 (2) . p. 689.
  14. Andrade Júnior, Hermes de (2005). Limites e desafios aos militares brasileiros em relação à questão ambiental (PDF) (Tese). Fundação Oswaldo Cruz . p. 107-114.
  15. a b c d Romero, Simon (7 de maio de 2013). «From jungle, Brazil aims to extend its reach». The New York Times. Cópia arquivada em 7 de maio de 2013 
  16. a b c d Souza, Yonel Ricardo de; Feitosa, Fabio Biasotto (2015). «The impact of coping strategies on the operations in the Jungle Course of the Brazilian Army». Military Psychology. 27 (6). doi:10.1037/mil0000084 
  17. Bacha, Thiago de Jesus (2016). Polimorfismos genéticos e marcadores bioquímicos associados à rabdomiólise em militares do Exército Brasileiro submetidos à intensa atividade física (PDF) (Dissertação). Universidade Federal do Amazonas . p. 23.
  18. «Curso Internacional de Operações na Selva». Centro de Instrução de Guerra na Selva. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  19. Sant'ana Junior, Tigernaque Pergentino de (julho de 2023). «Guerreiros de selva: o processo de construção da identidade». Boa Vista: IOLES. Boletim de Conjuntura 
  Este artigo sobre o Exército Brasileiro é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.