Filaríase linfática

Condição médica

Filaríase linfática é uma doença humana causada por vermes parasitas denominados filárias transmitidos pela picada de mosquitos.[1][2] Na maior parte dos casos não se manifestam sintomas.[1] No entanto, algumas pessoas desenvolvem uma síndrome denominada elefantíase, caracterizada por tumefação significativa dos braços, pernas, mamas ou órgãos genitais.[1][5] Em alguns casos, a pele torna-se mais espessa e a condição pode ser acompanhada de dor.[1] As alterações no corpo têm o potencial de prejudicar a situação social e económica do portador.[1] É uma das quatro principais infeções causadas por vermes.[6]

Filaríase linfática
Filaríase linfática
Mulher com elefantíase
Sinónimos Filarose linfática, elefantíase tropical
Especialidade infecciologia
Sintomas Nenhuns, tumefação dos braços, pernas ou órgãos genitais[1]
Causas Vermes nematoides (filárias) transmitidos por mosquitos[2]
Método de diagnóstico Análise microscópica do sangue[3]
Prevenção Redes mosquiteiras, desparasitação[1]
Medicação Albendazol com ivermectina ou dietilcarbamazina[1]
Frequência 38,5 milhões (2015)[4]
Classificação e recursos externos
CID-10 B74.0, B74.1, B74.2
CID-9 374.83
CID-11 247221550
DiseasesDB 4824
eMedicine 1109642
MeSH D004605
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Os parasitas são transmitidos pela picada de mosquitos infetados.[1] São conhecidos três tipos de vermes que causam a doença: Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori, sendo a Wuchereria bancrofti o mais comum.[1] Estes vermes atacam o sistema linfático.[1] A doença é diagnosticada através do exame microscópico de uma amostra de sangue recolhida durante a noite.[3] O sangue é geralmente examinado numa lamela com coloração de Giemsa.[3] O diagnóstico pode ainda ser complementado com deteção no sangue de anticorpos contra a doença.[3] Outros parasitas da mesma família são causadores de oncocercose.[6]

Entre as medidas de prevenção está a desparasitação preventiva em massa da população das regiões onde a doença existe.[1] A desparasitação é feita anualmente durante cerca de seis anos, com o objetivo de erradicar completamente a doença desse grupo populacional.[1] Estão também recomendadas medidas para prevenir a picada dos mosquitos, incluindo medidas para diminuir o número de mosquitos e a utilização de redes mosquiteiras.[1] O tratamento consiste na administração de medicamentos antiparasitários como o albendazol com ivermectina, ou albendazol com dietilcarbamazina.[1] Embora os medicamentos não matem os vermes adultos, impedem que a doença progrida até que os vermes morram por si mesmos.[1]

Em 2015, cerca de 38,5 milhões de pessoas encontravam-se infetadas com os parasitas.[4] Atualmente estão em risco cerca de 950 milhões de pessoas em 54 países.[1] A doença é mais comum na Ásia e nas regiões tropicais de África.[1] A filaríase linfática está classificada como doença tropical negligenciada.[6] A doença causa milhares de milhões de dólares de prejuízos por ano.[1]

Sinais e sintomas editar

A sintomatologia da FL depende de uma variedade de fatores, como o agente etiológico e sua fase de desenvolvimento, o período e forma da infecção ou doença. Por conta disso, o quadro clínico varia desde pacientes assintomáticos até a exposição de manifestações graves.[7]

Por conseguinte, os principais sinais apresentados na FL são a hidrocele, a elefantíase e a adenolinfangite. A hidrocele é o sinal mais comum e se desenvolve na ausência de reações inflamatórias prévia[8], consistindo no acúmulo de líquido seroso na túnica vaginal. Por conta disso, pode haver aumento da bolsa escrotal, além do espessamento e da calcificação da túnica vaginal[9]. Enquanto isso, a elefantíase é definida como o edema, geralmente, nos membros inferiores, especialmente na perna, por conta da obstrução dos vasos linfáticos[10]. Essa manifestação é estimulada pela infecção secundária por bactérias e fungos[11]. A aparência típica da elefantíase baseia-se no aumento exagerado do volume do órgão e queratinização e rugosidade da pele[10]. Por fim, a adenolinfangite é caracterizada por um quadro de febre alta, linfadenite, linfangite e edema local transitório.

Fisiopatologia editar

O comprometimento do sistema linfático pela filariose é insidioso, e somente após os parasitas adultos colonizarem as vias e causarem reações inflamatórias em um estágio avançado de microfilaremia, que o indivíduo apresentará manifestações clínicas. O mecanismo fisiopatológico da FL é a estase linfática associada à obstrução do sistema linfático, por granulomas e calcificação dos vermes. A produção de granulomas é resultado da resposta inflamatória nos vasos gerada pela invasão de vermes adultos aos gânglios, gerando tecido cicatricial.[7]

A inflamação e dilatação dos vasos linfáticos (linfangites) formam varizes e a inflamação dos linfonodos os torna hipertrofiados e muito sensíveis ou até mesmo dolorosos (adenite) e podem evoluir para a formação de abcessos, principalmente para região inguinal[7]. Tais linfangites e adenites são processos localizados e não apresentam repercussões sistêmicas, dificilmente causam um linfedema agudo ou crônico e, quando este ocorre, é reversível.[12]

A etiologia da filariose crônica e de suas manifestações sistêmicas é a infecção bacteriana secundária e repetitiva, a qual o indivíduo com a circulação linfática fica suscetível, provocando o linfedema crônico, inicialmente reversível, e a reação do sistema imune adaptativo e a fibrose progressiva evoluem até a elefantíase, que é o espessamento e endurecimento massivos da pele dos membros e/ou escroto acometidos, irreversível.[12][13]

O edema constitui-se então pelo acúmulo da linfa, pois a obstrução dos vasos linfáticos gerou a estase e acúmulo local desse líquido. Quando essa obstrução crônica à drenagem linfática ocorre em territórios vizinhos a cavidades serosas (pleura, peritônio e, principalmente túnica vaginal do testículo) o líquido intersticial extravasa dos vasos para o respectivo espaço seroso, configurando um derrame linfático. Esse sinal é conhecido como linfocele ou, quando na túnica vaginal, de hidrocele[7]. Caso o derramamento linfático ocorra nas vias urinárias é chamado de quiluria.[8]

Diagnóstico editar

Durante o período pré-patente, onde o paciente se encontra entre a penetração do agente etiológico e o aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente etiológico, o diagnóstico se baseia na anamnese relacionada aos dados epidemiológicos principalmente, devido à possibilidade de infecção em áreas endêmicas, do uso de drogas injetáveis e de outros agentes químicos que possam causar linfangites, e no quadro clínico[14]. As microfilárias podem ser encontradas no sangue ou em outros fluidos corporais[15]. Durante o exame físico, deve-se rastrear linfonodomegalias, dolorosas ou não, além de outros achados inflamatórios no trajeto do sistema linfático[14].

A coleta do sangue deve ser feita de acordo com a periodicidade do parasito, normalmente entre às 10 da noite até às 4 da manhã. Ademais, possui quatro técnicas de busca de microfilárias: 1) Exame de sangue em câmara de contagem (possui dificuldade em identificação, contudo é o mais acessível); 2) Métodos de concentração por filtragem do sangue em membrana de policarbonato de nucleopore ou de milipore; 3) Pesquisa ao microscópio em gota espessa de sangue colhido da polpa digital, fixado e corado com Giemsa; 4) Pesquisa pelo método Knott. A detecção de microfilárias é pouco documentada, mas exame de esfregaço sanguíneo corado é o melhor método de diagnóstico[10].

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s «Lymphatic filariasis Fact sheet N°102». World Health Organization. Março de 2014. Consultado em 20 de março de 2014. Cópia arquivada em 25 de março de 2014 
  2. a b «Lymphatic filariasis». World Health Organization (em inglês). Consultado em 7 de maio de 2016. Cópia arquivada em 5 de maio de 2016 
  3. a b c d «Parasites - Lymphatic Filariasis Diagnosis». CDC. 14 de junho de 2013. Consultado em 21 de março de 2014. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2014 
  4. a b GBD 2015 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators (outubro de 2016). «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 310 diseases and injuries, 1990–2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015». Lancet. 388 (10053): 1545–1602. PMC 5055577 . PMID 27733282. doi:10.1016/S0140-6736(16)31678-6 
  5. «CDC - Lymphatic Filariasis». www.cdc.gov (em inglês). Consultado em 7 de maio de 2016. Cópia arquivada em 11 de maio de 2016 
  6. a b c «Working to overcome the global impact of neglected tropical diseases – Summary» (PDF). Releve Epidemiologique Hebdomadaire. 86 (13): 113–20. Março de 2011. PMID 21438440. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2016 
  7. a b c d REY, L. Bases da PARASITOLOGIA MÉDICA. 3ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2010.
  8. a b NEVES, David P. Parasitologia Humana, 11a edição. São Paulo: Atheneu, 2005.
  9. KUMAR, V., ABBAS, A. e ASTER, J. Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas das Doenças. 9a Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
  10. a b c ZEIBIG, E. Parasitologia Clínica - Uma Abordagem Clínico-Laboratorial. 2ª Ed,, Editora Elsevier, 2014.
  11. GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew. Goldman-Cecil Medicine. ed. 26. Philadelphia, PA: Elsevier, p.2084-2089, 2019
  12. a b CARLI, G. A. Parasitologia Clínica: Seleção de Métodos e Técnicas de Laboratório para o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. São Paulo: Atheneu, 2001.
  13. MOHAN, Harsh. Textbook of Pathology, 7a ed. India: Jaypee Brothers Medical Publisher Ltd., 2015
  14. a b MAFFEI, F. H. D. A. et al. Doenças vasculares periféricas. 5ª Ed., Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2016.
  15. JAMESON, Larry J. Medicina interna de Harrison. 20ª  Ed., Porto Alegre: AMGH Editora, 2020. 2 v.