Madalena Schwartz

Fotógrafa húngaro-brasileira

Madalena Schwartz (Budapeste, 9 de outubro de 1921- São Paulo, 25 de março de 1993) foi uma fotógrafa brasileira de origem húngara, membro do Foto Cinema Clube Bandeirante, onde se formou como fotógrafa, e da denominada Escola Paulista, junto a outros fotógrafos como Marcel Girou, José Yalenti e Gaspar Gasparian, entre outros.[1][2][3]

Madalena Schwartz
Nascimento 9 de outubro de 1923
Budapeste
Morte 25 de março de 1993 (69 anos)
Cidadania Brasil
Ocupação fotógrafa

O fotógrafo brasileiro Pedro Karp Vásquez batizou-a como “a grande dama do retrato de nosso país”.[4] Madalena ficou conhecida por retratar artistas transformistas, andróginos e travestis na década de 1970 em São Paulo, incluindo Ney Matogrosso e integrantes do grupo de teatro e dança Dzi Croquettes.[5]

Trabalhou para publicações brasileiras de grande circulação, como Íris, Planeta e Status, entre outras.[6]

Biografia editar

A família de Madalena Schwartz emigrou da Hungria a Buenos Aires em 1934, fugindo do regime nazista instaurado na época. Madalena chega ao Brasil em 1960, instalando-se na cidade de São Paulo. Durante o começo da década de 1960, Madalena administrou uma lavanderia e tinturaria na Rua Nestor Pestana, na região central de São Paulo. [1]

Em 1966, aos 45 anos, Madalena Schwartz começou a estudar fotografia no Foto Cine Clube Bandeirante. O interesse pela fotografia surgiu após um de seus filhos ganhar uma câmera fotográfica em um concurso. [7][8]

Carreira editar

Madalena era moradora do 30º andar do Edifício Copan, no centro de São Paulo. Sua proximidade com a Praça Roosevelt e outros cenários ligados à classe teatral e boêmia paulistana influenciaram sua obra, marcada por retratos artísticos da população alternativa nos anos 1960 e 1970.[4][9]

Em 1967, ganhou menção honrosa no 1º Salão Nacional de Arte Fotográfica de São Carlos, apenas um ano após começar seus estudos em fotografia no Foto Cine Clube Bandeirante.[9] Criou em seu apartamento no Edifício Copan um estúdio improvisado com uma lona. Madalena fazia com que os personagens retratados se sentissem acolhidos e dispostos a expressar suas identidades livremente, em um momento de opressão pela Ditadura Militar.[8][10] Também fotografava em teatros undergrounds, tendo acesso aos bastidores, onde podia retratar os artistas se produzindo para os espetáculos.[8]

Durante os anos 1970, publicou retratos em publicações de grande circulação como Íris, Planeta, Claudia, Status, Vogue e Time[9][11]

Em 1974, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) abrigou a primeira exposição individual de Madalena. A fotógrafa expôs individualmente também na Pinacoteca do Estado e no Museu da Imagem e do Som. Teve seu trabalho reconhecido também em exposições internacionais na Argentina, EUA, Hungria e Japão.[12]

Em 1983, recebeu o prêmio de fotografia da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).[7]

Dentre as figuras retratadas por Madalena Schwartz, destacam-se personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque, Clarice Lispector, Elke Maravilha, Jorge Amado, Ney Matogrosso, Patrício Bisso e Sérgio Buarque de Holanda, além dos integrantes do grupo teatral Dzi Croquettes.[9][12] Madalena também retratou pessoas anônimas do Norte e Nordeste do Brasil e dedicou-se aos retratos de artistas transformistas, andróginos e travestis de São Paulo.[12][7]

A sua série Crisálidas, com fotografias tiradas entre 1973 e 1976, publicada em 2012, retratava travestis e transformistas do teatro underground de São Paulo. A obra revela a sintonia com outros exilados: a fotógrafa, uma imigrante judia, enquanto exilada espacial, e os sujeitos retratados, transitando entre o binarismo de gênero e entre identidades híbridas.[13]

Dedicou-se também à escultura em seus últimos anos de vida.[9]

O Instituto Moreira Salles adquiriu em 1998 16 mil negativos em preto e branco e 450 cromos da fotógrafa. Em 2021, o IMS organizou a mostra As Metamorfoses: Travestis e transformistas na São Paulo dos anos 70 com 112 fotografias em homenagem ao centenário de Madalena Schwartz. A mostra contou ainda com a exibição de trabalhos de outros fotógrafos que registraram as culturas transformistas e travestis na América do Sul.[8][5]

Prêmios (seleção) editar

  • 1967. Menção honrosa no I Salão Nacional de Arte Fotográfica de São Carlos[12]
  • 1969. Medalha de bronze no I Salão Nacional de Arte Fotográfica Liberdade (São Paulo)[12]
  • 1971. Medalha de ouro na II Exposição Internacional de Arte Fotográfica de Cingapura[12]
  • 1972. Medalha de outro na IV Exposição Internacional de Fotografia de Ceilão[12]
  • 1973. Medalha de bronze no II Salão Internacional de Arte Fotográfica Liberdade (São Paulo)[12]
  • 1973. Menção honrosa no II Salão Nacional de Arte Fotográfica de Nimes[12]
  • 1983. Prêmio de melhor fotógrafo. APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte)[14]

Publicações editar

  • Crisálidas (Editorial IMS)[15]
  • Personae: fotos e faces do Brasil, Companhia das Letras, 1997[16]

Exposições, trabalhos, prêmios (seleção) editar

  • 2006. O contraluz na Escola Paulista, Foto Cinema Clube Bandeirante, São Paulo
  • 2007. Fragmentos: Modernismo na fotografia brasileira. Galeria Bergamin, São Paulo e Rio de Janeiro

Individuais nacionais editar

Individuais internacionais editar

  • 1983 - Frick Fine Arts Gallery, Pittsburgh, EUA.
  • 1983 - The Photo Center Gallery, New York University Tisch School of Arts, Nova York, EUA.
  • 1984 - Stanford Museum of Art. Standford, Califórnia, EUA.
  • 1984 - Martin Luter King Memorial Library. Washington, DC, EUA.
  • 1984 - Art Gallery. University of Florida. Gainesville, Flórida, EUA.
  • 1984 - Museo Nacional de Arte Decorativo. Palacio Errazuri. Buenos Aires, Argentina.
  • 1988 - Brazil Arcok, Pataky Korgaléria. Budapeste, Hungria.
  • 1990 - Brazilian Faces, Expo 90, Pavilhão do Brasil. Osaka, Japão.
  • 1993 - Paseo de la Recoleta. Buenos Aires, Argentina.

Referências

  1. a b http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa12984/madalena-schwartz
  2. http://gaspargasparian.com/biografiarubens.html
  3. http://www.fotoclub.art.br/
  4. a b http://www.ims.com.br/ims/explore/artista/madalena-schwartz
  5. a b «Exposição 'Madalena Schwartz: as metamorfoses'». Instituto Moreira Salles. Consultado em 27 de março de 2021 
  6. https://www.escritoriodearte.com/artista/madalena-schwartz/
  7. a b c «Sobre Madalena Schwartz». Instituto Moreira Salles. 1 de junho de 2017. Consultado em 27 de março de 2021 
  8. a b c d «Centenário de Madalena Schwartz é celebrado pelo Instituto Moreira Salles». Arte Que Acontece. 9 de fevereiro de 2021. Consultado em 27 de março de 2021 
  9. a b c d e Cultural, Instituto Itaú. «Madalena Schwartz». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 27 de março de 2021 
  10. «"Madalena Schwartz fazia do ato fotográfico um gesto existencial e político"». Jornal da USP. 10 de fevereiro de 2021. Consultado em 27 de março de 2021 
  11. http://www.ef5.com.br, F5-Web Design e Tecnologia Atualizada-. «Madalena Schwartz». www.museuafrobrasil.org.br. Consultado em 27 de março de 2021 
  12. a b c d e f g h i http://www.ef5.com.br, F5-Web Design e Tecnologia Atualizada-. «Madalena Schwartz». www.museuafrobrasil.org.br. Consultado em 27 de março de 2021 
  13. Feder, Leonardo (29 de maio de 2013). «Em busca de um olhar judaico: análise das séries fotográficas Histórias Bíblicas, de Adi Nes, Marcados, de Cláudia Andujar, e Crisálidas, de Madalena Schwartz». Consultado em 19 de junho de 2021 
  14. http://www.blogdoims.com.br/ims/tag/madalena-schwartz
  15. http://www.pontofrio.com.br/livros/biografiascartasmemorias/biografias/crisalidas-madalena-schwartz-1657407.html
  16. Schwartz, Madalena (1997). Personae : fotos e faces do Brasil = Photos and faces of Brazil. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 8571647208. OCLC 39361003