A Transformada Z é um método operacional útil no tratamento de sistemas (de tempo) discretos. É também de grande importância na análise de sinais digitais e no projeto de sistemas de controle digital. Sabe-se que a transformada de Laplace (1749-1827) tem sido usada desde longa data na solução de equações diferenciais contínuas e invariantes no tempo.

História da transformada Z editar

Em engenharia, a ideia por trás do nome “Transformada” consiste, basicamente, em uma operação matemática que tem por finalidade promove algum tipo de simplificação. Dessa forma, o logaritmo consiste, provavelmente, na ferramenta mais antiga de que se tem notı́cia cujo conceito se aproxima da ideia de transformada, uma vez que transforma multiplicações e divisões em somas e subtrações, além de ser útil na resolução de equações cujos expoentes são desconhecidos (Boyer, 1974).[1] Em verdade, o conceito das transformadas vai muito além dos logaritmos no contexto da engenharia, em que desempenham papel importante. Entre as mais conhecidas (e com certeza mais utilizadas) figura a Transformada Z.

Entretanto, métodos para o tratamento de problemas de tempo discreto são relativamente recentes. Um método para a resolução de equações de diferenças lineares e invariantes no tempo foi apresentado por Gardner e Barnes aos seus alunos de engenharia no início da década de 1940.[2] Eles aplicaram tal procedimento, que era baseado principalmente em jump functions (funções usadas para representar uma sequência de dados amostrados), na resolução de linhas de transmissão e aplicações envolvendo funções de Bessel. Tal abordagem era bastante complexa, e, na tentativa de "dividir para simplificar", uma transformação de um sinal amostrado foi proposta em 1947 por Witold Hurewicz (1904-1956).[3] Tal transformação era escrita como função da sequência amostrada f (no domı́nio do tempo) ao invés do número complexo z da notação moderna:[3]

Definição 1 (transformada z bilateral) editar

Seja   definida para  . A Transformada Z bilateral da função   é dada por:

 

Em 1952, cinco anos após a tentativa de Hurewicz, a transformação foi batizada de Transformada Z pelo Sampled-data control group, liderada por John Ralph Raggazini (1912-1988), com Eliahu Ibrahim Jury (que, na época, era aluno de doutorado de Raggazini, mas que acabou sendo um dos principais desenvolvedores da teoria), Lotfi Zadeh (famoso pela criação da lógica Fuzzy) e colaboradores da Columbia University, com o artigo “The Analysis of sampled-Data Systems” (1952),[4] considerado um dos pioneiros trabalhos sobre a transformada Z. Ao que tudo indica, o termo “Z" foi provavelmente utilizado porque ser relativamente incomum contexto da Engenharia Elétrica (na década de 1950), ainda que remonte ao nome do próprio Zadeh.

Transformada Z Inversa editar

  onde   é qualquer curva fechada contendo a origem de forma que a integral indicada converge.

 
Região de convergência da tranformada Z

Região de convergência (RDC) editar

A região de convergência é a parte do plano complexo onde a Transformada converge:

 

No caso em que  , para  , a série converge para valores de   em módulo, maiores que o raio de convergência  :

   

Portanto, a série converge absolutamente para todos os pontos do plano   que se encontram fora do círculo de raio  , centrado na origem. Esta região é denominada região de convergência (RDC ou ROC, da sigla em inglês Region of Convergence).

Propriedades da Transformada Z bilateral editar

Se um par de sinais quaisquer formam o par de transformadas z bilaterais:

 

então as seguintes propriedades são conservadas pela Transformada Z.

Linearidade editar

 

Teorema do valor inicial editar

 

Teorema do valor final editar

 

Deslocamento temporal editar

Atraso editar

Se   é um sinal discreto, então

 

Definindo  

 

Mudança de Escala editar

 

Derivada da Transformada Z editar

 

Transformadas das sucessões de senos e co-senos editar

Consideremos uma função discreta

 

onde   e   são constantes reais. Usando o resultado da (Equação), o qual é também válido para números reais já que a série geométrica também converge no plano complexo, obtemos

 

multiplicando o numerador e o denominador pelo complexo conjugado do denominador, podemos separar as partes real e imaginária

 

Por outro lado, se usarmos a representação polar do número complexo   e a linearidade da transformada Z, podemos escrever

 

onde   e   são o módulo e ângulo polar do número complexo. Comparando as partes reais e imaginárias das duas últimas equações, obtemos as transformadas de duas sucessões com senos e co-senos

 

onde as constantes   e   são definidas por

 

Multiplicação por exponencial editar

A multiplicação da sequência   por uma sequência exponencial da forma   corresponde a uma dilatação no domínio de  :

 

Reversão temporal editar

 

Convolução em Tempo Discreto editar

 

Transformada da Derivada editar

 

Significado Físico da transformada Z editar

Seja  

 
Função de Transferência

 

Assim, a função transferência   significa o sinal de entrada atrasado por um período de amostragem, como mostra a figura ao lado

Relação com a Transformada de Laplace editar

A Transformada Z é, para sinais em tempo discreto, o mesmo que a Transformada de Laplace é, para sinais contínuos.
Seja um sinal,   amostrado da forma:

 

onde   é o tempo de amostragem. A Transformada de Laplace   do sinal   é:

 

Obtemos assim a definição de Transformada Z como a Transformada de Laplace com a mudança de variável  .[5]

 

Definição (transformada z unilateral) editar

Seja   definida para  . A Transformada Z uniateral da função   é dada por:

 

Propriedades da Transformada Z unilateral editar

Se um par de funções quaisquer formam o par de transformadas z unilaterais:

 

então, as propriedades anteriores da transformada bilateral são satisfeitas, exceto a que segue:

Deslocamento temporal editar

 

 

Aplicações da Transformada Z editar

Resolução de equações de diferenças lineares não homogêneas editar

A propriedade de deslocamento no tempo (atraso ou avanço) da transformada z unilateral é empregada para resolução de equações de diferenças lineares com coeficientes constantes. Converte-se equações de diferenças em equações algébricas e encontram-se as soluções no domínio-z. A transformada inversa determina a solução no domínio do tempo.

 

Usando a expressão que obtivemos para a transformada de  , podemos escrever

 

vemos que

 

Assim, a transformada da equação de diferenças será

 

e daí obtemos

 

O cálculo da transformada inversa é feito em forma análoga as transformadas inversas de Laplace, usando expansão em frações parciais, mas deixando de fora um fator   no numerador, que será necessário manter em todas as frações parciais.[6]

Consequentemente, as frações que deverão ser expandidas são:

 

multiplicando cada fração parcial pelo fator   que deixamos de fora, obtemos o lado direito da (Equação)

 

assi,, encontramos a solução do problema de valores iniciais

 

Circuito elétrico editar

 
Circuito escada simétrico de (k+1) malhas

Considerando um circuito elétrico de forma escada, conforme figura ao lado, constituído por (k+1) malhas fechadas.

Sendo todas as resistências iguais,  , onde   represente a tensão elétrica medida sobre a resistência e  , a intensidade de corrente que passa nessa resistência.

Analisando a primeira malha, tem-se que:

 , ou ainda,

 
Primeira malha do circuito

 

Da segunda malha segue:

 , ou seja

 

Assim percebe-se que, não é preciso conhecer   para obter  , pois

 

 
k_ésima malha do circuito

Tem-se ainda, uma série:  

, que é uma equação de diferenças de segunda ordem, cuja solução da o valor de   para qualquer elemento   do circuito.

Aplicando a Transformada  , obtém-se:

 ou seja,

 

Assim,  

Consequentemente,  

Aplicando a Transformada inversa

 

Sendo a solução desta equação de diferenças dada por

 

Tabela de Transformadas Z selecionadas editar

A tabela a seguir provê as transformadas Z para as funções mais comuns de uma variável.[7] Para definições e exemplos, veja a nota explicatória no fim da tabela.

Função    
impulso unitário    
impulso atrasado    
degrau unitário    
rampa    


rampa quadrática    


rampa cúbica    


exponencial    


exponencial atrasada    


rampa exponencial    


rampa quadrática exponencial    


rampa quadrática exponencial    


Seno exponencial    
Cosseno exponencial (I)    
Cosseno exponencial (II)    


Cosseno exponencial (III)    


Cosseno exponencial (IV)    

 

 

 
Nota explicatória:

Referências

  1. Boyer, C. B. (1974). História da Matemática. São Paulo: Edgar Blucher. ISBN 8521206410 
  2. Strum, R. S.; Kirk, D. E. (1994). Contemporary Linear Systems using MATLAB. [S.l.]: PWS publishing company. ISBN 0534371728 
  3. a b Kuperberg, K., ed. (1996). «Collected works of Witold Hurewicz». Am. Math. Soc. v. 4 
  4. Ragazzini, J. R.; Zadeh, L. A. (1952). «The analysis of sampled-data systems». AIEE Trans. v. 7: p. 225-234. Consultado em 22 de maio de 2022 
  5. Jury, Eliahu Ibrahim (1964). Theory and Application of the z-Transform Method. [S.l.]: John Wiley & Sons. 
  6. Villate, Jaime E. (2011). Equações Diferenciais e Equações de Diferenças (PDF). Porto: [s.n.] 120 páginas. Consultado em 22 de julho de 2013 
  7. P. Lathi, Bhagawandas (1998). Signal Processing and Linear Systems (em inglês) primeira ed. Carmichael: Berkeley-Cambridge Press. 674 páginas. ISBN 0-941413-35-7 
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