Forte do Espírito Santo (Lajes das Flores)

O Forte do Espírito Santo localizava-se na vila e freguesia de Lajes das Flores, concelho de mesmo nome, na costa sudeste da ilha das Flores, nos Açores.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, tinha como função a defesa do ancoradouro da vila contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico.

História editar

Remonta a um fortim, sob a invocação do mesmo orago, erguido no século XVI junto ao porto, sobre as ruínas da primitiva Ermida do Espírito Santo. De acordo com frei Diogo das Chagas, essa ermida erguia-se "ao sahir do Porto, que he hua calheta em que abiquão barcos" e fora "antigamente parochia da Villa que ahi estaua, que depois de queimada se mudou pera cima, aonde hoje está, e na mesma Igreja se fez esta hermida do mesmo orago, que antes tinha".[1]

O padre António Cordeiro, no início do século XVIII, remonta a fortificação de Lajes das Flores ao período da Dinastia Filipina, após o saque de corsários ingleses em 1587, no contexto da Guerra Anglo-Espanhola (1585-1604), ocasião em que a ermida foi incendiada:

"Daqui para o Norte, está a nobre, & fecunda Villa das Lajes, & já em nada sujeita à Villa de Santa Cruz: consta de muito mais de trezentos fogos, & de duas grandes Companhias, & dous Capitães de ordenança, & hum Capitão mor da Villa, & seu termo; e consta de hua grande rua, & muytas travessas; & tem diante de si para o mar alguns bayxos perigosos aos que quiseram acometer a Villa, & fica já mais de duas legoas do sobredito lugar de São Pedro. A Matriz desta Villa he da invocação de Nossa Senhora do Rosário, com Vigario, & algumas familias nobres, como em seu lugar diremos. (…) Já houve comtudo ocasição (em 25 de julho de 1587, há quasi cento & trinta annos) que cinco navios Inglezes enganadamente entrarão na Villa das Lajes, & a saquearão, fugindo os moradores para os matos; mas atèagora lhes não succedeo outra, pela vigia que sempre ao diante tiverão: & nem se sabe de fogo, terramoto, peste ou guerra que houvesse nesta Ilha atègora."[2]

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Forte do Espirito Santo." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[3]

Uma nova tentativa de assalto, por duas embarcações de corsários ingleses da América do Norte, registou-se no ano de 1770.

O padre José António Camões, na primeira década do século XIX, também referiu as defesas de Lajes das Flores:

"(...) tem aquella Villa o porto a susueste; tem para fora uma baia com ancoradouro de areia. (...) Seo Orago é Nossa Senhora do Rozario, (...) Tem 2 companhias de ordenança. A 1ª formada na Villa, Monte e Morros, com 1 capitão, 1 alferes, 2 tenentes, que foram de fortes, dois sargentos e 170 soldados, a 2ª formada na Fazenda, Lajedo e Mosteiro, com 1 capitão, 1 alferes, 1 tenente, 3 sargentos e 147 soldados, a saber, 77 na Fazenda, 36 no Lajedo e Costa, e 34 no Mosteiro e Caldeira. Tem um castello no porto da Villa com casa e guarda e 9 peças, e mais 2 fortes, um delles em um cerrado sobre uma rocha, sem casa, e 1 peça.".[4]

A estrutura não chegou até aos nossos dias.

Referências

  1. CHAGAS, 1989:541.
  2. CORDEIRO, 1981:484.
  3. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 181. Consultado em 8 dez 2011.
  4. CAMÕES, José António (Pe.). "Roteiro Exacto da Costa da Ilha". apud TRIGUEIRO, 2006.

Bibliografia editar

  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • CHAGAS, Frei Diogo das (OFM). Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores (direcção e prefácio de Artur Teodoro de Matos, colaboração de Avelino de Freitas Meneses e Vítor Luís Gaspar Rodrigues), Angra do Heroísmo (Açores), Secretaria Regional da Educação e Cultura; Universidade dos Açores, 1989 (Coleção Fontes para a História dos Açores), 732p.
  • CORDEIRO, António (Pe.). História Insulana das Ilhas a Portugal Sujeytas no Oceano Occidental (reimpr. da ed. de 1717). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1981.
  • GOMES, Francisco António Nunes Pimentel. A Ilha das Flores: Da redescoberta à actualidade (subsídios para a sua história). Lajes das Flores (Açores): Câmara Municipal de Lajes das Flores, 1997. 608p., mapas.
  • TRIGUEIRO. José Arlindo Armas (ed.). Padre José António Camões: Obras. Lajes das Flores (Açores): Câmara Municipal das Lajes das Flores, 2006.

Ver também editar

Ligações externas editar