Francisco Cavalcanti

Francisco de Almeida Cavalcanti (Cabrália Paulista, 23 de dezembro de 1941 - São Paulo, 1 de outubro de 2014) foi um cineasta e ator brasileiro. Foi um dos principais nomes do extinto polo cinematográfico Boca do Lixo, geralmente dirigindo e protagonizando os próprios filmes.[1][2]

Francisco Cavalcanti
Francisco Cavalcanti
Francisco Cavalcanti em 1979
Nome completo Francisco de Almeida Cavalcanti
Outros nomes Chico Cavalcanti
Nascimento 23 de dezembro de 1941
Cabrália Paulista
Morte 1 de outubro de 2014 (73 anos)
São Paulo
Ocupação Ator
Cônjuge Madalena Silva

Em sua carreira, fez mais de duas dezenas de filmes, todos de baixo orçamento e sem incentivos do Estado. Suas produções incluem longas com títulos apelativos, tendo teor sexual e de violência. Embora nunca tenha sido um sucesso de crítica, teve grande aceitação entre o público nas décadas de 1970 e 1980.[3] Seu maior êxito cinematográfico foi Ivone, a Rainha do Pecado (1984), que reuniu mais de um milhão de espectadores.[3]

Biografia

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Início

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Nasceu em Cabrália Paulista, mas passou a sua infância e adolescência nos municípios de Ferraz de Vasconcelos e Poá.[3] Quando adolescente, ficou quase dois anos internado no Juizado de Menores.[3]

Aos 13 anos, passou a se apresentar em circos de lona como o palhaço Goiabada.[3] Em sua passagem pelo circo, passou a escrever pequenas esquetes de humor e peças de teatro.[3] Depois, passou a trabalhar no radioteatro, apresentando programas na Rádio Marabá, de Mogi das Cruzes.[3]

Chegou à Rádio Tupi de São Paulo através de seu irmão, o cantor Orival Senna, que era diretor da emissora à época. Passou a trabalhar num programa chamado Caravana Buri, onde percorria os bairros de periferia ao lado de uma trupe de artistas.[3] Paralelamente ao trabalho no rádio, escrevia peças de teatro, geralmente comédias e textos policiais.[3]

Carreira no cinema

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Influenciado por seu irmão, chegou ao meio cinematográfico. Criou a Ribalta Filmes para produzir filmes e formar seus próprios atores.[3] O primeiro projeto de Francisco Cavalcanti seria o filme Deus Não Perdoa os Malditos, um faroeste que seria interpretado pelos cantores Carlos Gonzaga, Sérgio Reis e George Freedman, mas que acabou não sendo concluído.[3] Apesar do primeiro fracasso, o curso de atores passou a ser um sucesso, o que possibilitou que Francisco criasse o filme Instrumento da Máfia (1976).[3] O longa ganhou o título As Mulheres do Sexo Violento, mais viável comercialmente para os padrões da Boca do Lixo. O filme rendeu 572.963 espectadores.[3]

Seu segundo filme, Mulheres Violentadas (1977), teve 517.537 espectadores e ficou em quarto em termos de faturamento no Brasil.[4][3] Sua produtora, a Ribalta Filmes, passou a se chamar Plateia Filmes, após Chico trocar um contador que o roubava.[3] Seu terceiro filme foi O Porão das Condenadas (1979), que apropriou-se bastante dos elementos do spaghetti western ao apostar em um ambiente rural, fazendo com que o cineasta se tornasse o pioneiro no gênero policial rural.[4] Filmado no município de Avaré, o longa teve trilha sonora própria, com as participações dos cantores José Lopes, Orival Senna e da dupla Abel & Caim.[3] O filme teve 544.463 espectadores segundo dados oficiais, embora Fabrício Cavalcanti, filho do diretor, tenha afirmado que o sucesso foi muito maior.[3]

Em 1980, lançou O Filho da Prostituta, mais um filmado em Avaré, contando a história de um homem que descobre ter um gêmeo herdeiro de uma grande fortuna e que faz um plano para tentar assassiná-lo.[3] O longa foi apelidado de "pornô-policial" pelo jornal Luta Democrática.[5]

Filme lançado em 1983, O Cafetão teve problemas com a Censura Federal. Na época, o governo se incomodou com uma cena em que a esposa prepara a marmita para o engraxate, e eles só tinham um ovo para comer. Chico chegou a ir para Brasília para pedir a liberação do filme e ficou um mês detido ao ser acusado de tentar prejudicar o regime militar da época.[3] O diretor disse que não tinha intenção política alguma ao destacar que um trabalhador passasse fome e que não buscava brigar com ninguém.[3]

Em 1984, Francisco lança seu maior êxito: Ivone, a Rainha do Pecado. O filme mostra a história de Ivone (Dalma Ribas), que luta para saber o paradeiro do filho, Nelsinho (Fabrício Cavalcanti), levado pelo Juizado de Menores para não ter que viver em um ambiente de prostituição.[3] O ponto de partida é a década de 1950, usando veículos da época e os casarões do Brás.[3] O longa teve 1.671.264 de espectadores.[3]

No mesmo ano, lançou o infantil Padre Pedro e a Revolta das Crianças, estrelado por Pedro de Lara (destaque no programa do Bozo) e que teve a participação de Gugu Liberato.[3]

Com o crescimento dos filmes de sexo explícito, Francisco passou a ter dificuldades para conseguir grandes êxitos, embora os filmes continuassem se pagando. Almas Marginais, filme sobre dois amigos que viraram assaltantes, acabou ganhando o título malicioso Sexo, Sexo, Sexo.[3] Embora tenha sido vendido como um filme com cenas de sexo explícito, foi filmado com cenas softcore.[3]

Em 1985, lançou O Filho do Sexo Explícito como um "protesto" ao crescimento do formato.[3] Entretanto, a Plateia Filmes acabou entrando nesse mercado, lançando Que Delícia de Buraco naquele mesmo ano.[3] Rodou também O Garanhão Erótico (1986) e O Caipira Bom de Fumo (1987).[3]

Seus filmes anteriores receberam cenas de sexo explícito enxertadas. Ivone, a Rainha do Pecado virou Uma Mulher Provocante (1986). O Filho da Prostituta virou Aberrações de uma Prostituta (1988), enquanto que Mulheres Violentadas foi relançado como Um Homem Diabólico do Sexo Explícito (1990).[3]

Francisco ainda lançou o terror A Hora do Medo (1986), em parceria com José Mojica Marins, sobre um homem psicótico que mata moças indefesas, sendo que as vítimas são atraídas pela própria mãe do rapaz. A Revista Manchete diz que Chico só não é comparado com Edward Wood Jr. como o "pior cineasta" porque essa "honraria" pertence ao carioca Nilo Machado.[6]

Outra exceção em meio aos filmes de sexo explícito foi Horas Fatais: Cabeças Trocadas (1987), feito em parceria com Clery Cunha e com José Mojica Marins no elenco. Nele, Francisco interpreta um homem disposto a se vingar depois que criminosos matam duas mulheres após um estupro.[3] O filme chegou a ser exibido no Rio Cine Festival, em Copacabana, no Rio de Janeiro.[7]

Em 1990, filmou Os Indigentes em 16mm, mas lançado para VHS.[3] Em 1997, lançou Homem Sem Terra, dessa vez em parceria com João Amorim, nome do rádio e da música em Lages (SC) e que buscava mais uma incursão no cinema.[3] O filme trouxe nomes como Pedro de Lara e José Mojica Marins no elenco.[8]

Filmou ainda Amor Imortal (2001), longa-metragem de cunho espírita que teve Nuno Leal Maia no elenco.[3] Dirigiu também o curta Nobuko - Uma História de Amor, em 2009.[3]

Morreu no dia 1º de outubro de 2014, em São Paulo.[9] Ele estava internado no Hospital do Servidor Público, onde se tratava de um câncer no intestino.[1]

Legado

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Em 2016, Fabrício Cavalcanti, filho de Francisco e também cineasta, filmou o documentário Meu pai a 24 quadros, contando a trajetória do pai, desde o circo até o sucesso no cinema.[10]

Filmografia

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Ano Título Papel
Ator Diretor Roteirista Produtor Argumento
1976 As Mulheres do Sexo Violento      
1978 Mulheres Violentadas      
1979 O Porão das Condenadas      
1980 O Filho da Prostituta          
1983 Os Tarados        
O Cafetão        
Violentadores de Meninas Virgens        
1984 Ivone, a Rainha do Pecado        
Padre Pedro e a Revolta das Crianças    
Animais do Sexo          
Sexo, Sexo, Sexo      
1985 O Filho do Sexo Explícito      
Que Delícia de Buraco          
1986 O Garanhão Erótico        
Uma Mulher Provocante        
O Papa Tudo          
A Hora do Medo        
1987 Horas Fatais: Cabeças Trocadas      
1988 Aberrações de uma Prostituta          
1990 Um Homem Diabólico do Sexo Explícito          
Os Indigentes      
Júlio, o Rei dos Vilões  
1997 Homem Sem Terra    
2001 Amor Imortal      
2009 Nobuko - Uma História de Amor  

Fonte: Base de dados da Cinemateca Brasileira

Referências

  1. a b Folha: Morre aos 72 anos o cineasta da Boca do Lixo Francisco Cavalcanti
  2. «Fotos da carreira do cineasta Francisco Cavalcanti». cinema.uol.com.br. Consultado em 9 de dezembro de 2023 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai TRUNK, Matheus Almeida (2017). Deus não perdoa os malditos: o cinema de Francisco Cavalcanti e a Boca do Lixo (PDF). São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi 
  4. a b «Francisco Cavalcanti, o recordista de bilheteria, lança um novo filme». Diário da Noite. 25 de outubro de 1979 
  5. «O "Filho da Prostituta" é uma transa tão louca que ninguém sabe se é policial ou pornô». Luta Democrática. 20 de dezembro de 1980 
  6. «Hora de te rires». Bloch Editores. Manchete (n° 1836): p. 64. 1987 
  7. «A competição é no Cine Ricamar». Jornal do Brasil. 9 de agosto de 1987 
  8. «Rio Grande sedia mais dois filmes». O Pioneiro. 16 de março de 1996 
  9. «Francisco Cavalcanti, cineasta da Boca do Lixo, morre aos 72 anos». O Globo. 2 de outubro de 2014. Consultado em 9 de dezembro de 2023 
  10. Trunk, Matheus (16 de março de 2016). «Um documentário para um cineasta popular». Vice. Consultado em 9 de dezembro de 2023 

Ligações externas

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