Francisco Coelho da Silva

Francisco Coelho da Silva (Barra do Corda, 3 de agosto de 1846Marabá, 20 de agosto de 1906) foi um militar, comerciante e proxeneta brasileiro que se fixou nos estados do Grão-Pará e Maranhão.[1]

Francisco Coelho
Nome completo Francisco Coelho da Silva
Nascimento 3 de agosto de 1846
Maranhão Barra do Corda
Morte 20 de agosto de 1906 (60 anos)
Pará Vilarejo de Marabá, Baião
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação militar, comerciante e proxeneta
Serviço militar
Patente Sargento

Biografia editar

Ha poucas informações sobre Francisco Coelho, principalmente sobre seus primeiros anos de vida. Por falta de registros históricos não se sabe quem foram seus pais e se estudou, existindo até mesmo dúvidas acerca de sua morte. Os primeiros registros que citam Coelho, relatam sua participação em guerrilhas no estado do Maranhão.

Como seringalista editar

Francisco Coelho, já comerciante em Grajaú, partiu para a província do Rio Negro (atual Amazonas) nos fins da década de 1880 parte para trabalhar no comércio seringalista nos rios Purus, Juruá e Javari.[2][3]

Trabalhou por algum tempo entre as praças de Tabatinga, Tefé e Manaus, até decidir retornar ao Maranhão.[2]

Milícia estadual e comerciante de gado editar

Ao retornar ao Maranhão, torna-se sargento da "Milícia Estadual" (grupo paramilitar ligado a Guarda Nacional), atuando na expulsão de camponeses e peões na baixada maranhense com vistas a defender interesses de grandes latifundiários de São Luís e Alcântara.[2]

Em meados da década de 1890 deixa a "Milícia" e torna-se açougueiro[3] e comerciante de gado, mudando-se novamente para Grajaú. Passa a negociar entre as praças de Grajaú, Barra do Corda, São João dos Patos e Carolina. Levava gado de Grajaú e São João dos Patos até Carolina, trazendo desta última bens alimentícios para abastecer o sertão maranhense.[2]

Comerciante no Grão-Pará editar

Atraído pelas oportunidades comerciais no Grão-Pará, a partir de 1897 passa a negociar gado entre Carolina e a colônia militar de São João do Forte (atual São João do Araguaia). Após vários meses descendo o rio Tocantins em balsas com gado, e subindo com drogas do sertão, decide mudar-se com a família para o Grão-Pará.[2]

Primeiramente estabelece-se em São João do Forte. Após alguns dias recebe o convite de Carlos Leitão para mudar-se para a colônia do Burgo do Itacay-Una.[3] Muda-se pouco tempo depois para o Burgo, mas não permanece muito tempo nesta colônia, transferindo sua residência em 7 de junho de 1898 para a faixa de terra entre rios Tocantins e Itacay-Una.[2]

Neste local ergue uma "casa comercial" em sociedade com Francisco Casimiro de Souza.[3] A casa comercial funcionava como um barracão de aviamento, casa de preamento (casa de aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo) e prostíbulo.[4] A casa comercial é denominada por Coelho de "Casa Marabá", em homenagem a uma poesia de Gonçalves Dias, de quem era admirador.[5]

Fundação de Marabá editar

Embora a colonização do território marabaense tenha ocorrido inicialmente entre 1808 e 1810 por Teotônio Segurado[6] e desde 1894 por Carlos Leitão[6], é tradicionalmente atribuído a Francisco Coelho o surgimento da cidade. Deve-se a isto, o fato de ter estabelecido seu comércio estrategicamente na faixa de terra onde hoje é o centro histórico da cidade.[7]

Seu estabelecimento, foi montado a fim de ser um entreposto comercial para aqueles que navegavam pelos rios Tocantins e Itacaiunas á procura de caucho e castanha-do-brasil.[8] O estabelecimento também era um local destinado à prostituição.[2]

Morte editar

Não há consenso em relação a causa de sua morte.[3] Considera-se que morreu por complicações relacionadas ao tétano ou a gangrena. Disparou um tiro acidental em seu pé enquanto limpava seu rifle. Morreu em 20 de agosto de 1906 e foi sepultado em Marabá, aos 60 anos de idade.[1]

Homenagens editar

Coelho recebe diversas homenagens em Marabá:

  • O nome de Coelho é dado ao bairro mais antigo da cidade de Marabá;[9]
  • Seu nome é dado a uma escola na vila do km 15 da rodovia Paulo Fontelles. A vila acabou por assimilar o mesmo nome da para si;
  • O museu municipal no palácio Augusto Dias será nomeado a partir de sua inauguração de "Museu Francisco Coelho".

Críticas editar

Embora seja considerado um "herói" e "pioneiro" pela massa popular, Coelho é muito criticado entre o meio acadêmico e intelectual. É uma figura controversa, e é principalmente criticado em relação as suas posturas e escolhas. As principais críticas são:

  • Falta de coragem e visão geopolítica, ao fundar sua casa comercial e futura colônia de Pontal do Itacay-Una em local extremamente vulnerável a enchentes. Mesmo após a grande cheia de 1904 resolveu permanecer no local por apresentar "facilidades" nas relações comerciais;[2][10]
  • Era um proxeneta (cafetão) e sua casa comercial funcionava como um prostíbulo;[4]
  • Até 1900 sua casa comercial funcionou como uma casa de preamento, ou seja, uma casa de aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo nos cauchais e na prostituição.[4] Somente encerrou essas atividades após a intervenção de frei Gil de Villa Nova;[11]
  • Como sargento da "Milícia Estadual Maranhense" expulsou camponeses e peões pobres, defendendo interesses de grandes latifundiários;[2]
  • Embora a "Casa Marabá" tenha sido fundada por ele e seu sócio, Francisco Casimiro de Souza, por motivos escusos somente ele, Coelho, recebe os méritos por tal feito. Suspeita-se que Casimiro seja o verdadeiro autor do nome da casa comercial, sendo dessa forma, o "pai" do nome Marabá.[4]

Referências

  1. a b «Francisco Coelho da Silva». Marabá On Line - Marabá 97 Anos. 1 de Abril de 2010. Consultado em 20 de Agosto de 2010. Arquivado do original em 31 de dezembro de 2012 
  2. a b c d e f g h i DA SILVA, Idelma Santiago. (2006). «Migração e Cultura no Sudeste do Pará: Marabá (1968-1988)» (PDF). Goiânia: Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás 
  3. a b c d e MONTARROYOS, Heraldo Elias. (28 de janeiro de 2013). «História Social e Econômica da Casa Marabá: Reconstruindo o Cotidiano de um Barracão na Amazônia Oriental entre 1898 e 1906.». Revista história e-história. Consultado em 28 de novembro de 2016. Arquivado do original em 15 de maio de 2014 
  4. a b c d MONTARROYOS, Heraldo Elias. (4 de janeiro de 2013). «História do Burgo de Itacaiunas e da Casa Marabá: A Origem de Uma Cidade Amazônica - parte 2». Revista história e-história. Consultado em 28 de novembro de 2016. Arquivado do original em 29 de novembro de 2016 
  5. «Região Pólo Araguaia - Tocantins». Férias.tur 
  6. a b VELHO, Otávio Guilherme. (2009). «Frente de expansão e estrutura agrária: estudo do processo de penetração numa área da Transamazônia» (PDF). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais. p. 20 e 24. ISBN 978-85-9966-291-5. Consultado em 28 de novembro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 29 de novembro de 2016 
  7. «Marabá-Histórico». Nação Turismo [ligação inativa]
  8. «Histórico de Marabá». SEPLAN Marabá 
  9. «População ganha presente no aniversário de Marabá». PMM 
  10. «Campus de Marabá cria sistema de monitoramento de casas alagadas». UFPA [ligação inativa]
  11. GALLAIS, Étienne Marie (1942). O apóstolo do Araguáia, Frei Gil Vilanova, missionário dominicano. Conceição do Araguaia: Prelazia de Conceição do Araguaia