Fumaça (podcast)
O Fumaça é um podcast português de jornalismo de investigação fundado em 2016. O grupo produz conteúdos multimédia, distribuídos principalmente como grandes reportagens episódicas em áudio.
Fumaça | |
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Formato | Podcast |
Sede | Lisboa |
País | Portugal |
Fundação | 22 de junho de 2016 (6 anos) |
Fundador(es) | Diana Pereira, Bernardo Afonso, Maria Almeida, Pedro Zuzarte, Pedro Cardoso, Ricardo Esteves Ribeiro e Tomás Pereira |
Proprietário | Verdes Memórias - Associação |
Conselho de redação | Bernardo Afonso, Danilo Thomaz, Fred Rocha, Joana Batista, Margarida David Cardoso, Maria Almeida, Nuno Viegas, Pedro Miguel Santos, Ricardo Esteves Ribeiro, Luís Marquez |
Idioma | Português, Inglês |
Página oficial | https://fumaca.pt/ |
A publicação assume uma tendência "contra-poder", "progressista e dissidente" em defesa da liberdade e da igualdade, que vê como "princípios fundamentais da vida democrática".[1] As entrevistas, séries, reportagens e debates que publica evitam temas de atualidade.[2]
HistóriaEditar
Inicialmente intitulado É Apenas Fumaça, o projeto foi lançado em 2016 como uma série de entrevistas semanais sobre política, sociedade e direitos humanos. Da equipa fundadora, faziam parte Diana Pereira, Bernardo Afonso, Maria Almeida, Pedro Zuzarte, Pedro Cardoso, Ricardo Esteves Ribeiro e Tomás Pereira. O nome do grupo é uma citação do primeiro-ministro José Baptista Pinheiro de Azevedo[3]. A música original do genérico foi criada pelos Lotus Fever, banda a que pertencem João Bernardo Afonso e Pedro Zuzarte.
O primeiro episódio, uma entrevista ao fundador do LIVRE, Rui Tavares, foi lançado a 22 de junho de 2016[4]. Meses depois, o coletivo lançaria a série "Na Rua",[5] que cobre pontualmente manifestações públicas, começando com a Manifestação “Salvar o Clima, Parar o Petróleo”[6]. Só em 2017 se juntaria à redação o primeiro membro com experiência num órgão de comunicação social, Pedro Miguel Santos, antigo jornalista da Visão[7]..
O É Apenas Fumaça profissionalizou-se em 2018, ano em que se registou como um periódico e passou a designar-se Fumaça. Para deter a publicação foi formada a Verdes Memórias - Associação, uma associação sem fins lucrativos. Bernardo Afonso, Ricardo Esteves Ribeiro, Tomás Pereira, Pedro Miguel Santos e Frederico Raposo ficarem empregues na nova redação. Sofia Rocha, Ana Freitas e Tomás Pinho passaram a desenvolver imagem e website da publicação. Atualmente, não constam como trabalhadores[8], sendo Fred Rocha responsável pelo website desde 2022[9]. Frederico Raposo deixou a equipa em 2019[10], tal como Tomás Pereira, este para assessorar os deputados do LIVRE à Câmara Municipal de Lisboa[11].
Margarida David Cardoso, vencedora de um Prémio Gazeta Revelação[12] e então jornalista do Público, juntou-se aí à equipa. Tal como Joana Batista, hoje responsavél de produção multimédia, e Mo Tafech[13], que seria responsável pelo Marketing do podcast até à contratação de Maria Almeida, em 2020[14]. Integram ainda a redação Nuno Viegas, parte da equipa fundadora da Rádio Observador[15], e o jornalista brasileiro Danilo Thomaz[16].
Após a profissionalização, o Fumaça lançou, em parceria com o Portal Hemiciclo, um programa de entrevistas políticas de curta vida[17]. "Passos Perdidos" terminou meses depois para prevenir um potencial conflito de interesses.[18] Sem continuidade na nomenclatura do atual arquivo do podcast, existiu ainda o programa de grande reportagem "Dois Pontos"[19].
O coletivo define-se hoje como um "podcast de jornalismo de investigação", focando-se na produção de séries audio-documentais serializadas[20], começando com "Palestina: Histórias de um país ocupado"[21], a que se seguiram "Dá-lhe Gás", "Aquilo é a Europa", "A Serpente, o Leão e o Caçador", "Exército de Precários" e "Desassossego"[22].
FinanciamentoEditar
A profissionalização do Fumaça foi financiada largamente pela Open Society Foundation. A rede filantrópica fez entre 2018 e 2021 quatro doações ao projeto, totalizando 509 mil euros[23][24][25][26]. Outras instituições, incluindo a Fundação Calouste Gulbenkian[27] e a Fundação Rosa-Luxemburg[15], deram bolsas de apoio ao jornalismo ao podcast. Em 2021, conclui um três campanhas de crowdunfing simultâneas, totalizando mais de 21 mil euros, a maior recolha alguma vez feita em Portugal para financiar trabalhos jornalísticos[28].
O projeto recusa distribuir publicidade ou fechar conteúdos através de paywalls, e incentiva a republicação gratuita dos seus trabalhos. Sublinhando a sua organização horizontal e respeito por direitos laborais, propõem-se a ser totalmente financiado por doações mensais voluntárias do público. No início de 2022, após um grande crescimento associado à publicação da sua série mais ouvida de sempre, "Segurança Privada: Exército de Precários", mais de 1500 pessoas faziam parte da Comunidade Fumaça, cobrindo 40% do orçamento da equipa[29].
O Fumaça é único órgão de comunicação social português a divulgar publicamente orçamentos anuais, mapas de pessoal e fontes de receitas[30]. Integra desde 2022 a rede Reference - The European Media Circle[31], que defende junto de decisores políticos europeus a criação de modelos de financiamento público do jornalismo independente.[32]
PrémiosEditar
O primeiro e principal galardão conquistado pelo projeto chegou com a conquista do Prémio Gazeta Revelação 2018 com a série "Palestina: Histórias de um país ocupado", assinada por Ricardo Esteves Ribeiro e Maria Almeida.[33]. Esse mesmo trabalho recebeu os prémios do júri e do público na categoria “Narrativa Sonora Digital” da 11.ª edição dos Prémios de Ciberjornalismo do Obciber[34]. O projeto recebeu o Maze Runner Award 2020[35], o Tributo de Jornalismo das Jornadas de Comunicação do Instituto Politécnico de Portalegre, no ano seguinte[36], e uma menção honrosa na categoria de jornalismo dos 8.º Prémios Corações Capazes de Construir[37].
Muitas outras séries e reportagem do Fumaça receberam distinções nos anos seguintes. "Dá-lhe Gás", assinado por Pedro Miguel Santos, recebeu a Menção Honrosa de Melhor Podcast nos Prémios Sapo 2020[38]. "Aquilo é a Europa", de Pedro Miguel Santos e Ricardo Esteves Ribeiro, recebeu o prémio do júri para “Narrativa Sonora Digital” nos Prémios de Ciberjornalismo, e foi nomeada para o Prémio de Jornalismo, Direitos Humanos e Integração da Comissão Nacional da UNESCO na categoria de rádio[39]. Na edição seguinte desse galardão, em 2021, "A Serpente, o Leão e o Caçador", de Margarida David Cardoso, recebeu uma menção honrosa na mesma categoria[40]. Seria "Exército de Precários", escrito por Nuno Viegas, a vencer o prémio, em 2022.[41] A reportagem em duas partes "“Yazidis, o genocídio esquecido”, produzida pela freelancer Marta Vidal, recebeu uma menção honrosa na 22.ª edição do Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença[42].
O Fumaça é o podcast mais premiado de sempre nos Prémios Podes, entregues pela rede Portcasts e o Público. Foi considerado em 2019 o Podcast do Ano e venceu a categoria de Entrevista[43], sendo nomeado também em Sociedade e em Storytelling. No ano seguinte venceu de novo a categoria de entrevista e ainda a de Informação e Educação[44], contando com nomeações para Storytelling e também Política e Questões Sociais[45]. Na terceira edição, em 2021, recebeu o prémio para Narrativa, estando nomeado ainda nas categorias de Política, Economia e Informação, e de Questões Sociais[46]. Foi nomeado nas categorias de Questões Sociais e de Política, Economia e Informação na edição de 2022[47].
Referências
- ↑ Fumaça (2020). «Sobre Nós». Fumaça. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Marinho, Luisa (7 de abril de 2020). «Apetece ouvir: histórias do mundo e da vida real». Evasões. Jornal de Notícias. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Flor, Aline (20 de junho de 2018). «Quem Pode, Pod: "É Apenas Fumaça"». Público. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Pinho, Tomás (22 de junho de 2016). «Rui Tavares: "O euro é uma ideia desnecessária, arriscada, mal concretizada. É feito pela metade"». Fumaça. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Esteves Ribeiro, Ricardo (14 de novembro de 2016). «Na Rua - Manifestação "Salvar o Clima, Parar o Petróleo"». Fumaça. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Esteves Ribeiro, Ricardo; Pereira, Tomás (14 de novembro de 2016). «Na Rua - Manifestação "Salvar o Clima, Parar o Petróleo"». Fumaça. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ Domingues, Nuno (13 de fevereiro de 2020). «Não é uma rádio. É podcast e mais do que ″apenas fumaça″». TSF. TSF. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «Equipa». Fumaça. Fumaça. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ Rocha, Frederico. «Fred Rocha». Fumaça. Fumaça. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ «Mudanças na redação». Fumaça. 21 de janeiro de 2019. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ «Tomás Pereira: obrigado e até já!». Fumaça. 27 de junho de 2019. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «″Tão longe, tão perto.″ Reportagem da TSF vence Prémio Gazeta de Rádio». TSF. TSF. 19 de junho de 2018. Consultado em 9 de abril de 2020
- ↑ «Fumaça anuncia três novas contratações». Fumaça. 22 de março de 2019. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Almeida, Maria (20 de novembro de 2020). «Amor à camisola». us13.campaign-archive.com. Fumaça. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ a b Viegas, Nuno (8 de abril de 2020). «O jornalismo, como a democracia, é belo e horrendo». Fumaça. Consultado em 27 de abril de 2020
- ↑ Thomaz, Danilo (19 de fevereiro de 2022). «Tweet - Terceiro Aniversário». Twitter. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ «Arquivo: Passos Perdidos». Fumaça. 2018. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «Passos Perdidos chega ao fim». Fumaça. 8 de novembro de 2018. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «Arquivo: Dois Pontos». Fumaça. 2018. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «Visão | 11 ideias para fazer em casa – sozinho ou com a família». Visão. Visão. 12 de março de 2020. Consultado em 9 de abril de 2020 [ligação inativa]
- ↑ Almeida, Maria (15 de maio de 2018). «Série Palestina (1/6) - Ramallah, a cidade artificial». Fumaça. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ «"Desassossego". Nova série do Fumaça abordará a saúde e doença mental, terá 13 episódios e estreia este mês». Comunidade Cultura e Arte. 3 de novembro de 2022. Consultado em 24 de novembro de 2022
- ↑ «É Apenas Fumaça. Jornalismo independente vale 80 mil euros da fundação Soros». Dinheiro Vivo. Dinheiro Vivo. 19 de abril de 2018. Consultado em 18 de abril de 2020
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- ↑ André, Mário Rui (18 de novembro de 2021). «Fumaça já arrecadou meio milhão de euros da Open Society». Média Alternativos. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ «Bolsas de Investigação Jornalísticas já têm vencedores». Fundação Calouste Gulbenkian. 31 de outubro de 2018. Consultado em 9 de abril de 2020
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- ↑ «Reportagem TSF distinguida pela representação nacional da UNESCO». TSF Rádio Notícias. 12 de dezembro de 2022. Consultado em 17 de dezembro de 2022
- ↑ «Atribuídos dois primeiros prémios ex-aequo e cinco menções honrosas do "Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença"». AMI. 10 de janeiro de 2021. Consultado em 17 de dezembro de 2022
- ↑ Martins, Ruben (10 de novembro de 2019). «"Fumaça" venceu prémio de "podcast" do ano». Fumaça. Consultado em 10 de abril de 2020
- ↑ Martins, Ruben (8 de novembro de 2020). «"Brandos Costumes" vence prémio de "podcast" do ano». Público. Público. Consultado em 9 de novembro de 2020
- ↑ «Fumaça nomeado nos Podes 2020». Twitter. Fumaça. 2 de novembro de 2020. Consultado em 2 de novembro de 2020
- ↑ «Podes - Nomeados». Portcasts, Público. Consultado em 2 de junho de 2022
- ↑ «Já se conhecem os nomeados para os prémios Podes, o festival que premeia os melhores podcasts do país». Comunidade Cultura e Arte. 8 de novembro de 2022. Consultado em 24 de novembro de 2022