Lalibela (negus)

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Lalibela (em ge'ez: ላሊበላ), cujo nome real era Gebra Mascal[2] (em ge'ez: ገብረ መስቀል; romaniz.:Gebre Mesqel; lit. "Servente da Cruz"; 1162 – 1221) foi negus do Reino Zagué de 1181 a 1221.[3][4] Segundo Taddesse Tamrat, era filho de Zã Seium e irmão de Harbé. É conhecido como fundador das igrejas de Lalibela e é celebrado como santo pela Igreja Ortodoxa Etíope.[1]

Lalibela
Lalibela (negus)
Afresco do século XV de Lalibela
Negus do Reino Zagué
Reinado 1181 – 1221
Antecessor(a) Harbé
Sucessor(a) Neacueto-Leabe
 
Cônjuge Mascal Quibra
Pai Zã Seium
Mãe Queruerna[1]

Vida editar

Lalibela nasceu em Adefa ou Roa (mais tarde nomeada Lalibela em sua honra) em Bugna em 1162. Recebeu seu nome, que significa "as abelhas reconhecem sua soberania" em velho agau, devido a um enxame de abelhas que o cercavam quando nasceu, o que sua mãe tomou como sinal de seu futuro reinado como negus. A tradição afirma que foi exilado devido à hostilidade de Tentauidim e Harbé, seu tio e irmão respectivamente, e quase foi envenenado por sua meia-irmã. Como chegou ao poder durante a vida de Harbé, Tamrat suspeita que chegou ao poder pela força das armas.[5]

Diz-se que Lalibela viu Jerusalém numa visão e depois tentou construir uma Nova Jerusalém como sua capital em resposta à captura da antiga cidade pelo sultão Saladino (r. 1174–1193) em 1187. Como tal, muitos sítios de Lalibela têm nomes bíblicos, incluindo o rio da cidade, conhecido como Jordão (em amárico: ዮርዳኖስ ወንዝ; romaniz.:Yordanos Wenz).[1] A posterior Gadla Lalibela, uma hagiografia do negus, afirma que esculpiu as igrejas de Lalibela apenas com a ajuda de anjos.[1] Segundo a narrativa da embaixada portuguesa na Etiópia em 1520-6, escrita pelo padre Francisco Álvares e publicada em 1540, os padres lalibelianos alegavam que as igrejas levavam 24 anos para serem construídas e que foram feitas por homens brancos.[6]

Sua rainha principal era Mascal Quibra, sobre quem algumas tradições sobreviveram. Induziu o abuna Micael a fazer seu irmão Hirum bispo, e alguns anos depois o abuna deixou o Reino Zagué rumo ao ao Egito, reclamando que Hirum usurpou sua autoridade.[7] Outra tradição afirma que convenceu Lalibela a abdicar em favor de seu sobrinho Neacueto-Leabe, mas após 18 meses do desgoverno, fez Lalibela retomar o trono. Taddesse Tamrat suspeita que o fim de seu reinado não foi muito pacífico e diz que a tradição mascara uma breve usurpação de Neacueto-Leabe, cujo reinado foi encerrado pelo filho de Lalibela, Ietbaraque.[8]

Embora pouco material escrito sobre os outros reis zagués sobreviva, há uma quantidade considerável do reinado de Lalibela, além do Gadla Lalibela. Uma embaixada do patriarca de Alexandria João VI (r. 1189–1216) visitou a corte por volta de 1210 e deixou um relato dele, de Neacueto-Leabe e Ietbaraque.[9] O estudioso italiano Carlo Conti Rossini também editou e publicou as várias concessões de terras que sobrevivem de seu reinado.[a]

Notas editar

[a] ^ Bibliografia sobre isso pode ser encontrada em Tamrat 1972, p. 59

Referências

  1. a b c d Sobania 2012, p. 462.
  2. Silva 1992, p. 185.
  3. Tamrat 1972, p. 56n.
  4. Hasen 1992, p. 22.
  5. Tamrat 1972, p. 61.
  6. Beckingham 1961, p. 227.
  7. Tamrat 1972, p. 59f.
  8. Tamrat 1972, p. 62f.
  9. Tamrat 1972, p. 62.

Bibliografia editar

  • Beckingham, C. F.; Huntingford, G. W. B. (1961). The Prester John of the Indies: A True Relation of the Lands of Prester John, being the Narrative of the Portuguese Embassy to Ethiopia in 1520 written by Father Francisco Alvares. I. Cambrígia: Sociedade Hakluyt 
  • Hasen, Getachew Mekonnen (1992). Wollo, Yager Dibab. Adis Ababa: Nigd Matemiya Bet 
  • Silva, Alberto da Costa (1992). «10. Etiópia, a Alta». A Enxada e a Lança - A África Antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira Participações S.A. ISBN 978-85-209-3947-5 
  • Sobania, Neal W. (2012). «Lalibela». In: Akyeampong, Emmanuel Kwaku; Gates, Henry Louis, Niven, Steven J. Dictionary of African Biography, Volumes 1-6. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia 
  • Tamrat, Taddesse (1972). Church and State in Ethiopia. Oxônia: Imprensa Clarendon. ISBN 0-19-821671-8