Georgina Ribas

pianista, feminista e activista pelos direitos dos negros em Portugal na 1ª metade do século XX

Georgina de Carvalho Ribas (Ambriz, 22 de abril de 1882Lisboa, 4 de maio de 1951), foi uma pianista, musicóloga, professora de música e líder de várias organizações do movimento negro e do movimento feminista do século XX em Portugal, tais como o Partido Nacional Africano, o Grémio Ké-Aflikana, também conhecido como Grémio Africano e o Movimento Mulheres Africanas. Foi uma das pioneiras da libertação feminina em Portugal.

Georgina Ribas
Georgina Ribas
Nascimento Georgina de Carvalho
22 de abril de 1882
Ambriz
Morte 4 de maio de 1951
Lisboa
Sepultamento Cemitério do Alto de São João
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Filho(a)(s) Tomás Ribas
Ocupação pianista, musicólogo, professor de música, ativista pelos direitos das mulheres, civil rights advocate

Biografia

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Nascida Georgina de Carvalho a 22 de abril de 1882 na vila de Ambriz, em Angola, era filha ilegítima de Frederico Leopoldo de Carvalho Júnior, comerciante e negociante lisboeta e neta paterna de avô brasileiro, Frederico Leopoldo de Carvalho e de avó portuguesa, Maria Eugénia da Silva. Veio viver para Portugal aos três anos de idade, tendo sido batizada aos quatro, a 27 de outubro de 1886, na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, sendo registada como filha de mãe incógnita. Teve por padrinhos um primo do pai, João Lino de Carvalho e uma tia paterna, Eugénia Maria de Carvalho. No mesmo ato é batizado o seu único irmão, Jorge de Carvalho, nascido no mesmo local a 5 de janeiro de 1884. A mãe, Culema, angolana e descendente do Barão de Cabinda, só a reconheceu legalmente já adulta.[1][2][3][4]

Diplomou-se pelo Conservatório Nacional de Lisboa, como pianista, e foi professora de música num espaço no Rossio. Casou a 28 de novembro de 1909, aos 27 anos, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa, com Tomás Emídio de Sousa Schiappa Pietra Ribas, funcionário público, natural da Figueira da Foz e cinco anos mais novo. Teve um filho, Tomás Ribas, que seguiu os seu passos nas artes, tornando-se um reconhecido musicólogo, escritor, crítico de dança e de teatro.[1][2][5][6]                 

Em 1929, envolve-se na direcção da Liga das Mulheres Africanas, ou Movimento Mulheres Africanas, organização que fazia parte do Partido Nacional Africano.[1][3][7][8][9] Fez parte igualmente deste Partido Nacional Africano, que em 1932, segundo o periódico Tribuna D'África, tinha cerca de cinco mil filiados distribuídos pelos diferentes bairros de Lisboa.[2][7][8][9]

 
Georgina Ribas referida em duas páginas do jornal do movimento negro português A Voz D'África (1912-1913 e 1927-1930)

Fez também parte do Grémio Ké-Aflikana, também conhecido como Grémio Africano.[10]

O Grémio Africano, fundado a 28 de Agosto de 1929, e que se evidenciou na defesa da independência dos territórios colonizados por Portugal, tinha como principais objectivos “concorrer para o prestígio social e mental dos africanos, congregar e estreitar os laços de uma união e solidariedade entre os naturais d’África e as raças nacionais e promover o levantamento do nível intelectual e revigoramento físico dos indígenas da África Portuguesa”, de acordo com os seus estatutos.[5][7][8][11]                        

Tornou-se vice-presidente do Grémio Ké-Aflikana dos Africanos. Juntamente com Maria Dias d’Alva Teixeira, Vice-Presidente da Liga das Mulheres Africanas, e Maria Nazareth Ascenso, então Secretária da Assistência do Partido Nacional Africano, formam a liderança do Grémio Ké-Aflikana dos Africanos.[2][8]

Georgina Ribas exerceu grande influência social e moral junto da intelectualidade africana então residente na capital portuguesa.[11]

Faleceu a 4 de maio de 1951, no IPO, freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, vítima de cancro da vesícula biliar e do fígado, aos 69 anos de idade. Encontra-se sepultada no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. À data residia na Praceta das Amoreiras, número 5, 4.ºA, também em Lisboa.[12]

O seu nome foi um dos pseudónimos usados para as jovens entrevistadas em Portugal, no âmbito da tese de Doutoramento Experiências de jovens afrodescendentes/negras na educação profissional: contribuições ao Serviço Social em Portugal e Brasil, de Heide de Jesus Damasceno (Escola de Sociologia e Políticas Públicas, ISCTE-IUL 2021).[13]

Reconhecimentos

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Em 2023 a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a inserção do seu nome na toponímia da cidade.[14]

Referências

  1. a b c Roldão, Cristina. «Feminismo negro em Portugal: falta contar-nos». PÚBLICO. Consultado em 5 de abril de 2021 
  2. a b c d Varela, Pedro; Pereira, José Augusto; Varela, Pedro; Pereira, José Augusto (23 de outubro de 2020). «AS ORIGENS DO MOVIMENTO NEGRO EM PORTUGAL (1911-1933): UMA GERAÇÃO PAN-AFRICANISTA E ANTIRRACISTA». Revista de História (São Paulo) (179). ISSN 0034-8309. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.2020.159242. Consultado em 5 de abril de 2021 
  3. a b «Georgina Ribas: musicóloga, feminista e força da intelectualidade africana». Afrolink. 13 de setembro de 2020. Consultado em 5 de abril de 2021 
  4. «Livro de registo de batismos da paróquia de Santa Isabel (1883 a 1887)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 244 verso, reg. 49 
  5. a b Soares, Francisco M. A. «O Boletim da Liga Nacional Africana» (em inglês). Consultado em 5 de abril de 2021 
  6. «Livro de registo de casamentos da paróquia da Ajuda (1909)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 72 verso, reg. 72 
  7. a b c «A Marcha do Tempo». Consultado em 5 de abril de 2021 
  8. a b c d Roldão, Cristina. «Uma semente de um movimento negro silenciado». Falas Afrikanas. Jornal O Negro - Edição comemorativa do 110º aniversário 
  9. a b «As origens do movimento negro e da luta antirracista em Portugal no século XX: a geração de 1911-1933 | BUALA». www.buala.org. Consultado em 5 de abril de 2021 
  10. Palma, Ana; Falcão, José (2021). Dicionário da Invisibilidade. [S.l.]: SOS Racismo. p. 444. ISBN 978-989-33-1830-0 
  11. a b grxnet.com. «Jornal de Angola - Notícias - A emergência do associativismo de cariz africano». Jornal de Angola. Consultado em 5 de abril de 2021 
  12. «Livro de registo de óbitos da 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (13-03-1951 a 14-07-1951)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 323, reg. 644 
  13. Damasceno, Heide de Jesus (2021). Experiências de jovens afrodescendentes/negras na educação profissional: contribuições ao Serviço Social em Portugal e Brasil. [S.l.]: Escola de Sociologia e Políticas Públicas, ISCTE-IUL 
  14. Lusa, Agência. «Lisboa homenageia Madre Teresa de Calcutá e mais seis personalidades na toponimia da cidade». Observador. Consultado em 23 de novembro de 2023