Hibiscus sabdariffa

espécie de planta

A Hibiscus sabdariffa, comummente conhecida como caruru-azedo[1], é uma espécie de planta arbustiva, pertencente à família das Malváceas.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaHibiscus sabdariffa
Detalhe de uma flor, frequentemente usada como planta ornamental
Detalhe de uma flor, frequentemente usada como planta ornamental
Frutos de H. sabdariffa
Frutos de H. sabdariffa
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malvales
Família: Malvaceae
Género: Hibiscus
Espécie: H. sabdariffa
Nome binomial
Hibiscus sabdariffa
L.

Nomes comuns editar

Dá ainda pelos seguintes nomes comuns: caruru-da-guiné[2], uce,[3] baguiche[4], quiabo-azedo[5], quiabo-róseo[6], quiabo-roxo,[7] rosélia[8] e vinagreira[9][10] (não confundir com as espécies Rumex acetosa[11] e Phytolacca americana[12], que consigo partilham este nome comum).

Descrição editar

Trata-se de uma planta erecta, anual ou perene, que pode ascender aos 4,5 metros de altura.[13] Os caules tendem a volver-se lenhosos, pelo menos na base.[14]

No que toca às folhas, são folhas lobadas. Conta, ainda, com flores brancas ou amarelas com o centro escuro, dotadas de sépalas carnosas e vermelhas, rodeadas por uma camada de brácteas (epicálice).[15] É polinizada por insectos.[16]

Dispersas ao ano, são solitárias, sésseis, axilares, de cor rosa ou purpúrea, com máculas escuras e cálice muito carnoso.[17]

Distribuição editar

É endémica da África Ocidental.[18]

Ecologia editar

Medra em savanas e clareiras de bosques.[19]

Sinonímia editar

A espécie Hibiscus sabdariffa conta com seis sinónimos reconhecidos:[20]

  • Abelmoschus cruentus (Bertol.) Walp.
  • Furcaria sabdariffa Ulbr.
  • Hibiscus cruentus Bertol.
  • Hibiscus fraternus L.
  • Hibiscus palmatilobus Baill.
  • Sabdariffa rubra Kostel.

Origem editar

Nativa da África, crê-se que já era cultivada no Sudão há cerca de 6 mil anos.[13] Foi introduzida na Ásia e nas Américas no século XVII atualmente ocorrendo em todas as regiões quentes do mundo. Os maiores produtores são Sudão e Egito seguidos da Tailândia e China.[15]

O caruru-azedo é cultivado para consumo local em muitas regiões da África, Ásia (Índia, Indonésia e Filipinas) e nas Américas (México, Brasil e Índias Ocidentais). As folhas são um vegetal popular em Burma e as fibras são um produto importante na Índia e Tailândia.[15]

Uso culinário editar

É, às vezes, usada como condimento para temperar carne vermelha e peixes mas principalmente para colorir e dar sabor agridoce a chás e bebidas alcoólicas e não-alcoólicas. Chá e bebidas geladas como karkadé, da bilenni, Agua de flor de Jamaica são comuns em países africanos e latino-americanos. Por conter pectina naturalmente é ideal para geleias, chutneys, molhos e conservas. As folhas jovens são importantes como erva culinária por exemplo em Burma para o prato de curry chin baung kyaw e para o prato senegalês thiéboudieune (peixe acompanhado de arroz).[15]

Na Guiné-Bissau as folhas jovens desta planta são usadas para confeccionar o baguiche, que é uma espécie de esparregado, que, além das folhas do baguiche, ainda leva quiabo e beringela[4].[21]

É cultivada no Brasil na região da Amazônia onde suas folhas compõem a receita do arroz de cuxá da culinária do Maranhão.[22]

As sépalas curtidas em água e sal foi uma adaptação dos imigrantes japoneses no Brasil para substituir o umeboshi da culinária japonesa, o hanaume (do japonês, hana, "flor" e ume, "ameixa") é uma invenção dos imigrantes e não existe no Japão.[23]

Composição nutricional editar

O sabor azedo é devido a ácidos orgânicos como o ácido de hibisco (ácido hidrocítrico), ácido ascórbico, ácido cítrico, ácido málico e ácido tartárico.[15]

O composto aromático mais intenso são 1-octeno-3-1 e nonanal. No hibisco fresco o aroma intenso e os aromas florais e cítricos são devidos aos Linalol e Octanal.A cor vermelha intensa provém de antocianinas (0.15%) dos quais os principais componentes são 3-sambubiosides de cianidina e delfinidina. Também é rico em mucilagem polissacarídeo (15%).[15]

O Hibiscus sabdariffa possui altos valores de minerais e nutricionais, próximos de 3,97g/100g para proteína, 0,63g/100g de lipídeos, 6,94g/100g de carboidratos, 5,3g/100g para fibras alimentares, 5,95mg/100g de sódio, 531,46mg/100g de potássio, 231,96mg/100g de calcio, 138,23mg/100g de fósforo, 2,39mg/100g de zinco, 108,19mg/100g de magnésio e 1,47mg/100g de ferro. Alguns desses valores podem ser comparados com os de hortaliças folhosas convencionais, com seus teores nutritivos já bem documentados,  como couve e espinafre (no caso do potássio) e espinafre e agrião (para o fósforo), por exemplo.[24]

Propriedades medicinais editar

O chá é expectorante, laxativo e diurético.[15] As folhas têm propriedades antiescorbúticas, emolientes, diuréticas e sedativas.[19] As folhas podem ser usadas para fazer pomadas, aplicadas a abcessos, ulceras e hematomas.[16] O sumo do fruto desta planta pode ser usado no tratamento da conjuntivite.[16]

Observou-se que a Hibiscus sabdariffa possui propriedades que atuam na digestão, no apetite, em funções antioxidantes, antibacteriana e antifúngicas, além de pouca toxicidade.[25]

A utilização do Hibiscus sabdariffa em extratos e chás possuem efeitos antibactericidas, assim como um possível conservante natural de comidas. Em um estudo realizado sobre a proliferação de E. coli[26], observou-se o controle e até diminuição de sua presença em carne crua.

ABDELMONEM e col. (2022) demonstraram a eficácia da utilização da hortaliça na redução da pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD). A revisão contendo 1205 participantes demonstrou que a Hibiscus sabdariffa provocou uma redução de 6,67 mmHg na PAS (p=0,004) e redução de 4,35 mmHg na PAD (p=0,02), em comparação com o placebo. Desta forma, torna-se uma oportunidade terapêutica alternativa à utilização de medicamentos para o controle da hipertensão.[27]

Após estudos com a utilização de Hibiscus sabdariffa em ratos Wistar, obesos ou eutróficos, expostos ou não ao treinamento aeróbico intervalado e suplementados ou não com Hibiscus sabdariffa, em um total de 8 grupos experimentais. Nos grupos suplementados, a administração do extrato da hortaliça foi feito por 60 dias, em uma dose de 150mg/kg. A suplementação reduziu a adiposidade tanto nos ratos eutróficos quanto nos obesos. Além disso, a suplementação combinada com o treinamento aeróbico reduziu o peso corporal e aumentou a capacidade funcional de ambos os grupos. Com isso, verificou-se que o exercício aeróbico é um importante potencializador dos efeitos da hortaliça, indicando que a suplementação atrelada a um estilo de vida saudável parece oferecer resultados mais satisfatórios.[28]

Galeria editar

Referências

  1. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de caruru-azedo». aulete.com.br. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  2. «Caruru-da-guiné». Michaelis On-Line. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  3. T. K. Lim (2014). Edible Medicinal and Non Medicinal Plants: Volume 8, Flowers. Springer Science & Business. p. 324. ISBN 978-94-017-8748-2.
  4. a b Infopédia. «baguiche | Definição ou significado de baguiche no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 9 de agosto de 2021 
  5. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de quiabo-azedo». aulete.com.br. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  6. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de quiabo-róseo». aulete.com.br. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  7. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de quiabo-roxo». aulete.com.br. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  8. «Rosélia». Michaelis On-Line. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  9. «Vinagreira» (PDF). Embrapa. Consultado em 20 de abril de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 17 de junho de 2022 
  10. «Caracterização e estudo da vida útil de vinagreira cultivada em Seropédica-RJ» (PDF). UFRRJ. Consultado em 20 de abril de 2023 
  11. Infopédia. «vinagreira | Definição ou significado de vinagreira no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  12. «Phytolacca americana». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 17 de março de 2020 
  13. a b Huxley, A. (1992). The New Royal Horticultural Society Dictionary of Gardening (em inglês). Ithaca, NY, USA: Macmillan Press. 3200 páginas. ISBN 0-333-47494-5 
  14. Facciola, S. (1998). Cornucopia II - a source of edible plants. San Francisco, USA: Kampong Publications. 713 páginas. ISBN 0-9628087-2-5 
  15. a b c d e f g Ben-Erik van Wyk (2014). Culinary Herbs and Spices of the World. University of Chicago Press. p. 146. ISBN 978-0-226-09183-9.
  16. a b c «Hibiscus sabdariffa - Useful Tropical Plants». tropical.theferns.info. Consultado em 17 de janeiro de 2022 
  17. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 361.
  18. «Hibiscus sabdariffa - Useful Tropical Plants». tropical.theferns.info. Consultado em 9 de agosto de 2021 
  19. a b Bown, Deni (1995). Encyclopedia of Herbs & Their Uses (em inglês). Ann Arbor, Michigan, USA: Dorling Kindersley. 424 páginas. ISBN 0-7513-020-31 
  20. «Hibiscus sabdariffa» (em inglês). The Plant List. 2010. Consultado em 21 de abril de 2017 
  21. Mourão, Isabel (2018). «Livro de Resumos: Congresso de Horticultura – O futuro nas nossas mãos» (PDF). VIDA (ONGD). Consultado em 17 de maio de 2021 
  22. Corrêa, Myrna. Dicionário de Gastronomia. Matrix Editora. p. 266. ISBN 978-85-8230-251-4.
  23. Karin Kimura, Hanaume: uma criação da culinária nipo-brasileira , Hashitag, 12 de novembro de 2013
  24. Botrel, N; Freitas, S; Fonseca, MJO; Melo, RAC; Madeira, N (2020). «Valor nutricional de hortaliças folhosas não convencionais cultivadas no Bioma Cerrado». Brazilian Journal of Food Technology. ISSN 1981-6723. doi:10.1590/1981-6723.17418. Consultado em 3 de julho de 2023 
  25. Da-Costa-Rocha, I; Bonnlaender, B; Sievers, H; Pischel, I; Heinrich, M (dezembro de 2014). «Hibiscus sabdariffa L. – A phytochemical and pharmacological review». Food Chemistry (em inglês): 424–443. doi:10.1016/j.foodchem.2014.05.002. Consultado em 3 de julho de 2023 
  26. Paim, MP; Maciel, MJ; Weschenfelder, S; Bergmann, GP; Avancini, CAM (2017). «Anti-Escherichia coli effect of Hibiscus sabdariffa L. in a meat model». Food Sci. Technol (SBCTA, Impr.) (em inglês): 647–650. Consultado em 3 de julho de 2023 
  27. Abdelmonem, M; et al. (1 de janeiro de 2022). «Efficacy of Hibiscus sabdariffa on Reducing Blood Pressure in Patients With Mild-to-Moderate Hypertension: A Systematic Review and Meta-Analysis of Published Randomized Controlled Trials». Journal of Cardiovascular Pharmacology (1): e64–e74. ISSN 1533-4023. PMID 34694241. doi:10.1097/FJC.0000000000001161. Consultado em 3 de julho de 2023 
  28. Oliveira, DBO; Cunha, GA; Giandoni, MA; Carvalho, PCJ; Bonfim, GF; Leopoldo, APL; Leopoldo, AS; Sugizaki, MM (2023). «HIBISCUS INCREASES FUNCTIONAL CAPACITY AND THE ANTI-OBESITY EFFECT IN TRAINED OBESE RATS». Revista Brasileira de Medicina do Esporte. ISSN 1806-9940. doi:10.1590/1517-8692202329012022_0119. Consultado em 3 de julho de 2023