Jardins da Esperança Antiga

Jardins da Esperança Antiga (em latim: Horti Spei Veteris), conhecido mais tarde como Jardins Varianos (em latim: Horti Variani), era um jardim e villa imperial localizado no rione Esquilino de Roma, numa área que corresponde à encosta ocidental do monte Esquilino.

Vista a partir do Sessório na direção de San Giovanni in Laterano. Em primeiro plano, as ruínas do Anfiteatro Castrense, que continua pela Muralha Aureliana. O terreno de ambos os lados dela eram parte dos Horti Variani.

História editar

A região conhecida como ad spem veterem ficava perto da Porta Prenestina (moderna Porta Maggiore), onde se bifurcavam a Via Labicana e a Via Prenestina. O topônimo deriva seu nome de um templo do período republicano dedicado à deusa Esperança ("Spes") construído em 447 a.C. depois da vitória sobre Veios na Batalha do Crêmera. A qualificação "vetus" servia para distingui-lo do templo mais moderno, construído na época da Primeira Guerra Púnica (meados do século III a.C.) no Fórum Holitório e conhecido apenas como Templo da Esperança.

A região, suburbana, mas ainda próxima do Fórum e bem servida de água graças aos aquedutos que convergem na Porta Prenestina, tornou-se, na primeira metade do século I a.C., uma zona residencial de muito prestígio, uma característica que se acentuou ainda mais conforme Roma crescia e se tornava cada vez mais apinhada. Restos de várias casas romanas do período até o século IV foram descobertas na região.

Os Horti Spei Veteris foram incorporados aos domínios do imperador romano Sétimo Severo no século III, que mandou construir ali a primeira residência imperial da região. A denominação subsequente como Horti Variani se deve à ampliação destes domínios com a incorporação dos terrenos pertencentes a Sexto Vário Marcelo, pai do futuro imperador Heliogábalo. Caracala mandou construir na propriedade o seu circo, conhecido como Circo Variano, e o próprio Heliogábalo foi responsável por dar à villa sua forma final, projetada, como havia sido a Casa Dourada de Nero séculos antes, como uma vasta propriedade suburbana articulada em diversos núcleos edificados e paisagísticos conhecido já na época como Palácio Sessoriano (ou "Sessório"), com destaque para o já citado circo, que Maxêncio copiou mais tarde na chamada Villa de Maxêncio.

 
Mapa da região no final do século XIX.

Heliogábalo morreu em 222 e a vila permaneceu como domínio imperial, mas sua aparência foi profundamente alterada por causa dos sucessivos tumultos que se sucederam até a ascensão de Aureliano. Ele determinou a construção da Muralha Aureliana, que atravessou a propriedade e arruinou o seu projeto paisagístico, deixando de fora da cidade, por exemplo, o Circo Variano e o Anfiteatro Castrense.

Em 330, Constantino inaugurou em Bizâncio a sua nova capital, Constantinopla. Em Roma, o imperador era representado por sua mãe, Helena, que deu início à última fase de expansão dos jardins, que se transformaram no próprio palácio imperial e o foco (por causa de sua vizinhança com o Palácio de Latrão) da reorganização cristã de Roma, a capital do novo Império Romano do Ocidente. Neste período foi construída a basílica civil destinada a funções de representação imperial, um edifício chamado por um longo tempo de "Templo de Vênus e Cupido", o que já era considerado incorreto no século XIX[1]:

No próprio vinhedo [la Vigna Conti, no qual se reconhecem os Horti Variani] está uma abside, que, por sua construção, revela ter sido parte de um grandioso edifício do qual não resta nada além deste grande nicho e duas paredes de muros laterais, pois o restante foi demolido para empregar seus materiais na fachada da já citada basílica [Santa Croce in Gerusalemme]. Foi atribuída a um templo dedicado a Vênus e Cupido por ter sido descoberta nas imediações uma estátua de Vênus com Cupido aos seus pés, que hoje pode ser admirada nos Museus Vaticanos: mas tendo se reconhecido ser esta um retrato da esposa de Alexandre Severo na forma de Vênus, segue que não há mais argumentos suficientes para denominá-lo como um templo de Vênus e Cupido. Por outro lado, os restos desta construção são tudo menos parte de um templo e sim, digamos, um salão ou basílica, talvez o tal Sessório que os escritores eclesiásticos e o escólio de Horácio localizaram nesta vizinhança.
 
Itinerario di Roma e delle sue Vicinanze, Antonio Nibby.

As obras incluíram ainda a transformação de um átrio dos Horti Variani em local de culto cristão (a partir do qual se desenvolveu a basílica de Santa Croce in Gerusalemme), a reconstrução de um complexo termal preexistente, rebatizado como Termas de Helena, e a construção, aproveitando o aqueduto, de uma zona residencial destinada a membros da corte (a chamada Domus Constantiniane escavada entre 1996 e 2008)[2].

Com o final do império, a região, absolutamente periférica na época, passou por séculos de abandono e espoliação, até que a construção da basílica e do convento de Santa Croce levaram ao aterramento das ruínas antigas sob vinhedos ou plantações, como se percebe no mapa de Leonardo Bufalini (1551).

Ruínas arqueológicas editar

Referências

  1. Nibby, p. 188
  2. «La residenza imperiale degli Horti Spei Veteris» (em italiano). Bisanzio 

Bibliografia editar