La Macorina
María Calvo Nodarse (1892 em Guanajay - 15 de junho de 1977, em Havana, Cuba), mais conhecida como La Macorina, foi uma mulher cubana, de origem afro-chinesa, que trabalhava como prostituta e foi protegida do ex-presidente de Cuba, José Miguel Gómez, durante a Guerra de Chambelona. Ela foi a primeira mulher a ter carteira de motorista nas Américas.[1]
La Macorina | |
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Nascimento | 1892 Guanajay |
Morte | 15 de junho de 1977 Havana |
Cidadania | Cuba |
Ocupação | prostituta |
Biografia
editarLa Macorina nasceu María Constancia Caraza Valdés,[2] em 1892,[3] em Guanajay, Cuba, então província de Pinar del Río. Ela era de ascendência afro-chinesa, todavia sua carteira de motorista dizia que ela era branca.[2] Aos 15 anos ela saiu de casa e se mudou para Havana com o namorado. Embora seus pais tentassem fazer com que ela voltasse, ela permaneceu em Havana. Enfrentando dificuldades financeiras, La Macorina voltou-se para a prostituição. [2] Ela assumiu o nome de María Calvo Nodarse e mudou-se para a Rua Galiano,[4] um local popular em Havana na época, inclusive para prostituição.[5]
Sua beleza, elegância e personalidade ajudaram La Macorina a entrar nos círculos mais seletos da sociedade cubana da época. Ela era seletiva com seus clientes. Em entrevista a Guillermo Villarronda,[6] para a revista Bohemia em 1958, ela disse: "mais de uma dúzia de homens estavam aos meus pés, cheios de dinheiro e implorando por amor".[2] Ela usava o cabelo curto no estilo Garçon, considerado escandaloso na época, e fumava charutos.[7] Quando se aposentou em 1934, ela havia acumulado uma fortuna. Ela possuía mansões em Havana, Calzada, Linea e San Miguel,[7] cavalos de corrida, vestuário luxuoso e uma grande coleção de joias valiosas, além de 9 carros. [2]
Guerra de Chambelona
editarO general, depois presidente, cubano José Miguel Gómez foi um de seus protetores. La Macorina o apoiou durante a Guerra de Chambelona. Quando Gómez foi preso no Castillo del Príncipe, La Macorina manteve sua lealdade.[8] Ela o visitou e fez campanha por sua libertação e transportou seus apoiadores em seus carros. A própria La Macorina ficou presa por 25 dias na prisão de Havana durante o período de oposição ao presidente Mario García Menocal. Embora Menocal tenha ordenado que ela fosse tratada com severidade na prisão, o diretor Andrés Hernández providenciou para que ela tivesse aposentos separados e, em suas palavras, "me tratou como uma rainha".[9]
Declínio e morte
editarLa Macorina se aposentou em 1934, quando a economia do país entrou em crise e, aos 42 anos. Embora tivesse acumulado uma fortuna, ela gastava dois mil pesos por mês e, posteriormente, teve que começar a vender seus bens. Seus amigos anteriores se distanciaram dela e ela acabou vivendo na pobreza em um quarto alugado em Havana. La Macorina morreu em Havana em 15 de junho de 1977.[2][10]
Na cultura popular
editarO asturiano Alfonso Camín escreveu um poema sobre ela, chamado "Macorina ", que mais tarde foi gravado em canção por Chavela Vargas,[12] uma das canções mais conhecidas de sua carreira. O refrão é um sugestivo “Põe sua mão aqui, Macorina...". Vargas conheceu La Macorina em Havana "saindo de um carro branco" e ficou impressionada com seus "olhos puxados e cabelos ferozes". Mais tarde, ela disse sobre La Macrorina “Ela era uma mulher bonita. Preta misturada com China. Eu a vi e fiquei sem palavras.”[13] A canção tornou-se o "hino lésbico"[12] e foi proibida na Espanha durante o Franquismo.[7]
La Macorina frequentemente dirigia por Havana em um conversível vermelho Hispano-Suiza.[3] O artista Cundo Bermúdez a retratou naquele cenário em uma pintura de memória,[2] em 1978, um ano após sua morte. O carro vermelho também apareceu na letra modificada da gravação da década de 1950 de "Macorina ", de Abelardo Barroso. [3]
O poeta Vigil Díaz escreveu com entusiasmo sobre La Macorina em sua coluna "Fatamorgana" para o jornal dominicano Listín Diario. [3]
Em seu romance Las Impuras, Miguel de Carrion baseou a personagem principal La Aviadora em La Macorina.[7]
No desfile das fanfarras durante a festa anual das Charangas de Bejucal, La Macorina foi homenageada como uma das personagens do desfile por uma boneca com máscara no rosto. A boneca foi preservada. [4] La Macorina ainda é uma das personagens das Charangas, estando habitualmente presente nos carros alegóricos de "La Espina de Oro" e no "La Ceiba de Plata".[14]
Origem de "La Macorina"
editarO apelido de La Macorina teria vindo de um jovem bêbado. Ao passar pela Acera del Louvre[15] (o terraço do café Louvre onde os literatos e jogadores de beisebol de Cuba se encontravam),[16] o jovem ao ver sua beleza disse "lá vai La Macorina!". Ele pretendia dizer "La Fornarina", confundindo-a com a famosa cupletista espanhola Consuelo Bello, comumente chamada de La Fornarina, devido à famosa pintura de mesmo nome do mestre italiano Raphael, sobre sua amante Margarita Luti.[15]
Carros e direção
editarO primeiro carro de La Macorina, um Ford,[17] foi-lhe apresentado como compensação por um político influente que a atropelou com o seu carro.[9] De posse do carro, ela se inscreveu e obteve a carteira de motorista de Havana em 1917 com o nome de María Calvo Nodarse,[18] sendo assim a primeira mulher nas Américas a obter uma carteira.[19]
Na época, as licenças podiam ser negadas, caso o requerente fosse de "caráter imoral". Especula-se que La Macorina tenha utilizado sua prática profissional para obter sua licença. Há relatos anedóticos de que La Macorina teve problemas com a polícia logo após obter sua carteira de habilitação por dirigir mal.[20]
Na época de sua aposentadoria em 1934, ela possuía 9 carros, a maioria de marcas europeias,[2] [3] incluindo uma Mercedes vermelha[9] e dois da Hispano-Suiza, um branco e um conversível vermelho. Ela era frequentemente vista dirigindo por Havana em uma das Hispano-Suizas com música popular da época tocando alto.[2] [3] Os atuais proprietários de seus carros às vezes os reúnem como o "La Macorina Club" [21] para exposições em Havana.[22]
Ver também
editarReferências
- ↑ «"LA MACORINA" y su picaresca Guaracha.. Ponme la mano! ..» ["THE MACORINA" and her picaresca Guaracha..Ponme your hand here!..]. The History, Culture and Legacy of the People of Cuba (em espanhol). 23 de fevereiro de 2017. Consultado em 11 de maio de 2020
- ↑ a b c d e f g h i Alfonso 2016.
- ↑ a b c d e f g del Castillo Pichardo 2017.
- ↑ a b Ortega 2008.
- ↑ Cooke 2014.
- ↑ «Macorina». www.enricophil.it. Consultado em 16 de abril de 2020
- ↑ a b c d «Personajes Celebres La Macorina». Hello Foros - La Comunidad en Español más Popular de los Latinos (em espanhol). 3 de junho de 2017. Consultado em 16 de abril de 2020
- ↑ Ross 2017.
- ↑ a b c «Conoce la historia de la primera mujer cubana que condujo un automóvil» [Learn about the story of the first Cuban woman to drive a car]. TodoCuba (em espanhol). 6 de fevereiro de 2018. Consultado em 16 de abril de 2020
- ↑ Iglesias 2008.
- ↑ «La Macorina Maria Calvo Nodarse». www.futurodecuba.org (em espanhol). Consultado em 15 de abril de 2020
- ↑ a b Ramos-Kittrell 2019, p. 50.
- ↑ Bono 2013.
- ↑ «La Habana, Cuba...La Macorina: Personaje de Bejucal». www.angerona.cult.cu. Consultado em 16 de abril de 2020. Arquivado do original em 7 de agosto de 2007
- ↑ a b Nodal 2019.
- ↑ Echevarria 2001, p. 85.
- ↑ «La Macorina - Curiosidades». www.tvavila.icrt.cu (em espanhol). 23 de setembro de 2008. Consultado em 16 de abril de 2020. Arquivado do original em 30 de dezembro de 2008
- ↑ Schweid 2009, p. 60.
- ↑ «MARIA Calvo Nodarse "La Macorina Cubana", First Women Chofer of America. VIDEO. | The History, Culture and Legacy of the People of Cuba». www.thecubanhistory.com. 1 de novembro de 2019. Consultado em 16 de abril de 2020
- ↑ Schweid 2009, p. 62.
- ↑ Schweid 2009, p. 211.
- ↑ Valenzuela 2004.
Bibliografia
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- Bono, Ferran (8 de outubro de 2013). «Chavela Vargas y la deslumbrante belleza de Macorina» [Chavela Vargas and the dazzling beauty of Macorina]. El País (em espanhol). Consultado em 15 de abril de 2020
- del Castillo Pichardo, José (18 de novembro de 2017). «Ponme la mano aquí Macorina» [Put your hand here Macorina]. www.diariolibre.com (em espanhol). Consultado em 15 de abril de 2020
- Cooke, Julia (2014). The Other Side of Paradise: Life in the New Cuba (em inglês). [S.l.]: Basic Books. ISBN 978-1-58005-532-1
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- Nodal, Leonel (24 de fevereiro de 2019). «Macorina, el nombre de una leyenda» [Macorina, the name of a legend]. Excelencias del Motor (em espanhol). Consultado em 15 de abril de 2020
- Ortega, Josefina (2008). «La Macorina». La Jiribilla (em espanhol). Consultado em 16 de abril de 2020
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- Ross, Ciro Bianchi (2017). Cuba: A different Story (em inglês). [S.l.]: RUTH. ISBN 978-959-211-427-2
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- Valenzuela, Lídice (2004). «Los almendrones: museo rodante de La Habana» [Los almendrones: rolling museum of Havana]. www.cmbfradio.cu. Consultado em 16 de abril de 2020. Cópia arquivada em 31 de maio de 2009