A "Causa Perdida" (em inglês chamado de Lost Cause, ou ainda Lost Cause of the Confederacy) é uma ideologia negacionista e pseudo-histórica,[1][2] que defende que a causa dos Estados Confederados durante a Guerra Civil Americana foi heroica, justa e não foi centrada na questão da escravidão.[3] Também é chamada de "mito" ou "mitologia".[4][5][6][7]

George Custis Lee (1832–1913) em frente ao monumento em homenagem a Jefferson Davis, em Richmond, Virgínia, em 3 de junho de 1907.
Membras da United Daughters of the Confederacy perto de um monumento confederado em Lakeland, Flórida, em 1915.

Essa ideologia inicialmente propagou a ideia de que a escravidão era algo "moral", porque os escravizados eram "felizes", às vezes até "gratos", e que essa instituição garantiu a prosperidade econômica da nação. Esta noção era baseada em ideais racistas durante a "era Jim Crow" na região sul dos Estados Unidos.[8] Ela enfatiza as supostas virtudes cavalheirescas do sul antes da guerra civil. Portanto, a guerra em si é vista como uma luta travada principalmente para salvar o modo de vida sulista[9] e os "direitos dos estados", especialmente o de se separar da União caso assim desejassem. Para os defensores da Lost Cause, a guerra foi então mais uma tentativa do sul de se "defender da agressão nortista". Essa ideologia minimiza ou completamente nega o papel que a escravidão e a supremacia branca permeada na sociedade influenciaram os eventos que levaram a guerra civil.[8] Essa visão é completamente oposta ao que acadêmicos e historiadores têm a respeito do que levou ao conflito, que foi resultado de décadas de uma crise política em volta da expansão e manutenção da escravidão nos Estados Unidos.[10][11]

Uma onda particularmente intensa de atividades de defensores da "Causa Perdida" ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, quando os últimos veteranos da Confederação começaram a morrer e um esforço foi feito para preservar suas memórias. Uma segunda onda ocorreu como uma reação ao crescente apoio público à igualdade racial durante o Movimento dos Direitos Civis nas décadas de 1950 e 60. Por meio de atividades como a construção de proeminentes monumentos e estátuas honrando militares confederados e livros de história escolares, o movimento da "Causa Perdida" buscou garantir que as gerações futuras de brancos sulistas saberiam sobre as "verdadeiras" razões do Sul para ter lutado na guerra e, portanto, deveriam continuar a apoiar políticas de supremacia branca. Assim, de fato, é notável que as ideias de superioridade branca é uma peça central da narrativa da "Causa Perdida".[12]

As narrativas da "Causa Perdida" normalmente representam a causa da Confederação como sendo nobre e seus líderes e exércitos como símbolo de cavalheirismo de tempos antigos, com o Sul só sendo derrotado pelas forças da União por causa da indústria e da população exponencialmente maior do Norte, que teria sobrepujado a "superioridade militar, genialidade tática e coragem" dos confederados. Proponentes do movimento da "Causa Perdida" também condenam o período conhecido como Reconstrução, que veio após a guerra civil, alegando que foi uma estratégia deliberada de políticos e especuladores do Norte para explorar o Sul economicamente e ganhar poder político. O tema da "Causa Perdida" evoluiu ao longo do tempo, englobando questões como a defesa de valores tradicionalistas e conservadores, não só em termos de raça mas também em papel de gênero, em termos de preservação da honra da família e tradições cavalheirescas,[13] inspirando a construção de inúmeros memoriais no sul e na formação de atitudes religiosas.[14]

Referências

  1. Duggan, Paul (28 de novembro de 2018). «The Confederacy Was Built on Slavery. How Can So Many Southern Whites Think Otherwise?». The Washington Post. Consultado em 2 de março de 2020 
  2. «The Black and the Gray: An Interview with Tony Horwitz». Southern Cultures. 4: 5–15. 1998. doi:10.1353/scu.1998.0065 
  3. «Confederate Symbols Are Making Way for Better Things». Los Angeles Times. Associated Press. 27 de fevereiro de 2021. p. A-2. Consultado em 23 de maio de 2021 
  4. "American Battlefield Trust", 30 de outubro de 2020. Acessado em 25 de março de 2021.
  5. Molly Ball, "Stonewalled," Time, June7-14, 2021, page 54, column 2
  6. Karen L. Cox, "Five Myths About the Lost Cause". The Washington Post, 26 de junho de 2021.
  7. Duggan, Paul (28 de novembro de 2018). «Sins of the Fathers». Washington Post Magazine 
  8. a b Domby, Adam H. (11 de fevereiro de 2020). The False Cause: Fraud, Fabrication, and White Supremacy In Confederate Memory. [S.l.]: University of Virginia Press. ISBN 978-0-8139-4376-3. OCLC 1151896244 
  9. Gallagher, Gary W.; Nolan, Alan T., eds. (2000). The Myth of the Lost Cause and Civil War History. [S.l.]: Indiana UP. ISBN 978-0-253-33822-8 
  10. Osterweis, Rollin G. The Myth of the Lost Cause, 1865–1900 (1973) online
  11. Ulbrich, David, "Lost Cause", Encyclopedia of the American Civil War: A Political, Social, and Military History, Heidler, David S. e Heidler, Jeanne T., eds., W. W. Norton & Company, 2000, ISBN 0-393-04758-X.
  12. David W. Blight (2001). Race and Reunion: The Civil War in American Memory. [S.l.]: Harvard University Press. p. 259. ISBN 978-0-674-00332-3 
  13. Karen L. Cox, Dixie's Daughters: The United Daughters of the Confederacy and the Preservation of Confederate Culture (University Press of Florida, 2003)
  14. Charles Reagan Wilson, Baptized in Blood: The Religion of the Lost Cause, 1865–1920 (University of Georgia Press, 2011)