Manuel dos Santos (toureiro)
Manuel dos Santos ComM (Lisboa, 11 de fevereiro de 1925 — Lisboa, 18 de fevereiro de 1973) foi um matador de touros português.
Manuel dos Santos (toureiro) | |
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Nascimento | 11 de fevereiro de 1925 Lisboa, Portugal |
Morte | 18 de fevereiro de 1973 (48 anos) Lisboa |
Profissão | Matador de Touros |
Serviço militar | |
País | Portugal |
O mais consagrado toureiro a pé português[1], recebeu o nome do avô, o antigo bandarilheiro Manuel dos Santos «Passarito»[2].
O ambiente da terra, a influência de familiares ligados à arte de tourear e a existência de várias ganadarias na sua região natal, fizeram com que se apresentasse em público quando tinha apenas 13 anos, na Chamusca, em 1941[3]. Tratava-se apenas de uma vacada, mas despertou a atenção do bandarilheiro amador Patrício Cecílio, que instou o jovem a vir aprender a arte em sua casa[3]. Com o passar do tempo Patrício Cecílio tornar-se-ia o seu mestre e o jovem aprendiz de toureiro o mais destacado elemento da chamada Escola de Toureio da Golegã[1].
Embora alimentasse o sonho de se tornar matador de toiros, começou por tomar a alternativa de bandarilheiro, que lhe concedeu Alfredo dos Santos, na Monumental do Campo Pequeno, a 26 de julho de 1944.
Ao mesmo tempo que iniciava a sua carreira nas arenas, foi aprendiz de barbeiro e ajudante numa mercearia, na Golegã, além de estudante de comércio e contabilidade, em Tomar[2]. Para não deixar os estudos na Escola Comercial de Tomar, só em 1946 cruzaria a fronteira rumo a Espanha, à procura de concretizar o seu sonho e, um dia, tornar-se matador de touros. Nesse ano estabeleceu-se em Sevilha, onde se dedicou de forma intensiva à prática do toureio a pé.
Um ano depois, mais precisamente em 26 de junho de 1947, debutava como novilheiro na praça de Badajoz. Com um desempenho notável nas suas lides, obteve três orelhas e um rabo, e saiu levado em ombros. Torna-se uma promessa evidente e a ascensão será fulgurante. Na mesma temporada, apresentou-se também em Portugal, já na qualidade de novilheiro. Depois de ser contratado para atuar em cinco tardes seguidas na Monumental de Barcelona, onde saiu duas vezes em ombros, chega o momento de passar à profissionalização.
No dia 14 de dezembro de 1947 está na Cidade do México, para tomar a alternativa de matador de toiros na El Toreo. Integra um cartaz de luxo, sendo seu padrinho de alternativa Fermín Espinosa "Armillita"[1] e Carlos Arruza testemunha. Porém, o toiro de Pastejé que lhe foi cedido, Vanidoso de nome, pregou-lhe uma violenta cornada, atingindo-lhe a veia femoral[4]. A experiência foi aziaga o suficiente para decidir renunciar à condição de profissional[1].
Voltaria a submeter-se à alternativa no ano seguinte. Na tarde de 15 de agosto, na Real Maestranza de Sevilha, tendo como padrinho Manuel Jiménez Moreno "Chicuelo" e como testemunha Manuel Álvarez Pruaño "El Andaluz"[4], lidará o touro Verdón, da ganadaria Marquês de Villamarta[5].
Apresentou-se para a confirmação em Las Ventas, Madrid, em 9 de junho de 1949, com Pepín Martín Vázquez de padrinho e Agustín Parra Dueñas "Parrita" como testemunha, lidando o Rosuelo, de Arturo Sánchez Cobaleda[4].
Nos anos seguintes, atuou sobretudo em Portugal, Espanha, França e México, mas também noutros países da América Latina, como a Colômbia e a Venezuela. Ainda no México, país onde gozou de enorme popularidade e lhe chamavam de El lobo Portugués, recebeu o prestigiado prémio Rosa Guadalupana, a 29 de janeiro de 1950, na Plaza México.
No ano de 1950, é o mais solicitado matador do mundo, liderando o escalafón dessa temporada. Chega a um patamar até hoje nunca alcançado por outro toureiro a pé de nacionalidade portuguesa.
Por essa altura, a imprensa e o público consagra o matador como uma figura tão popular como Amália Rodrigues e Eusébio Ferreira[6]. A corrida de touros era, nesta altura, um dos cartões de visita do país no estrangeiro. «Touros e só/ Não há nada/ Que uma toirada com mais emoção!/ Não há festa com mais cor/ Que mais fale ao coração!», cantava Amália Rodrigues no filme Sangue Toureiro, onde fazia par romântico com Diamantino Viseu[6].
Viseu era rival de arenas de Manuel dos Santos e foi com ele quem formou o cartel mais disputado de sempre do toureio a pé em Portugal[7] [8]. O próprio Manuel dos Santos fora também protagonista de um filme inspirado na sua vida, Sol e toiros[9], realizado em 1949 pelo espanhol José Buchs, e que contou igualmente com a participação de Amália na interpretação do Fado do Silêncio, de Raul Ferrão.
A popularidade de que gozava não impediu, no entanto, de ser preso em 1951, ao exercer, a 3 de junho desse ano, a função de matador no Campo Pequeno. Nessa noturna, encerrou a estoque a lide do Ribatejano, da ganadaria Assunção Coimbra, tendo sido o primeiro matador português a fazê-lo numa praça portuguesa, sem autorização legal, depois de ser legalmente decretada a proibição de matar o touro em público. Passou a noite na prisão, de onde saiu mediante o pagamento de uma caução, e acabou por ser absolvido no julgamento que se seguiu[10].
Toureiro raçudo, mas com estilo, inventou a dossantina, um novo passo de muleta. Do seu admirável percurso constaria ainda a atuação, no México em três corridas no mesmo dia, nas praças de Morelia, Cidade do México e Acapulco[11], em mano-a-mano com o mítico Carlos Arruza; e a assistência de mais de 88 mil espetadores, numa corrida realizada no Estádio Gelora Bung Karno, em Jacarta, Indonésia.
Algumas cornadas violentas e duas operações a meniscos provocaram, em 1953, a sua retirada das arenas. A 25 de fevereiro de 1954 casou, no México, com Dª Gloria Elena Díez, de quem teve um filho, o dr. Manuel Jorge Díez dos Santos, médico veterinário na região de Tomar e empresário agrícola, de serviços e eventos, que lhe viria a dar duas lindas netas (Madalena e Diana) e um neto, mais outro Manuel Jorge dos Santos, os quais o matador porém nunca chegou a conhecer, por ter morrido demasiado cedo.
Sendo o amor aos touros inevitável, regressou em 1960. Embora com menor frequência, atou até 1972 em algumas corridas e em festivais de beneficência. Nunca deixou de estar ligado à festa: explorou a Sociedade Campo Pequeno e outras praças do país; criou a Ganadaria Porto Alto, no distrito de Santarém.
Em Espanha foi distinguido como cavaleiro da Ordem de Isabel a Católica. Em Portugal seria agraciado, a título póstumo, com a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas[6].
Sofreu em 17 de fevereiro de 1973 um acidente de viação na reta do Bombel, em Vendas Novas, quando regressava de uma visita à sua ganadaria. Viajavam no mesmo automóvel o filho do toureiro, Manuel Jorge; o moço de estoques, Manolo Escudero; e o maioral da ganadaria, Manuel Francisco Piteira Dias. Manolo Escudero teve morte imediata[12]. O matador viria a falecer um dia depois do acidente, em 18 de fevereiro de 1973, no quarto n.º 36 do Hospital Particular de Lisboa.
Condecorações
editar- A 1 de julho de 1983, foi, a título póstumo, agraciado pela Presidência da Republica (Ramalho Eanes), com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.[13]
Referências
- ↑ a b c d http://www.cm-golega.pt/concelho/historia/item/175-manuel_santos
- ↑ a b Observador
- ↑ a b Arquivo RTP
- ↑ a b c MCN
- ↑ http://www.taurodromo.com/noticia/2013-outubro/8744-manuel-dos-santos-figura-emblematica-da-tauromaquia-portuguesa-do-sec-xx
- ↑ a b c rtp.pt. «Manuel dos Santos - Grandes Portugueses». Consultado em 21 de setembro de 2010. Arquivado do original em 2 de julho de 2011
- ↑ «A rivalidade entre Diamantino e Manuel». Toureio.no.sapo.pt. Consultado em 12 de março de 2015. Arquivado do original em 16 de abril de 2015
- ↑ «Toureiros: el matador». Correio da Manhã. Consultado em 12 de março de 2015
- ↑ Jorge Leitão Ramos, Dicionário do Cinema Português - 1895-1961
- ↑ http://www.taurodromo.com/phistoria/2012-agosto/6551-manuel-dos-santos-estoqueia-o-toiro-ribatejanoem-lisboa
- ↑ http://afestamaisculta.blogspot.pt/2010/02/manuel-dos-santos-nasceu-ha-85-anos.html
- ↑ O Observador
- ↑ «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Manuel dos Santos". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 30 de outubro de 2021