Nina Abreu
Nina Abreu (Abaetetuba, 1935 - Abaetetuba, ?),[1] também conhecida como Tia Nina, foi uma artesã paraense, conhecida pela produção de brinquedo de Miriti, também conhecido como brinquedo do Círio de Belém. Foi homenageada pelo IPHAN durante o lançamento do livro "Miriti: mãos que tecem sonhos".[2][3][4]
Nina Abreu | |
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Nascimento | 11 de setembro de 1935 Abaetetuba |
Cidadania | Brasil |
Etnia | afro-brasileiros |
Ocupação | artesã |
Biografia editar
Nascida em 11 de setembro de 1935, no município de Abaetetuba, recebeu o nome de Nina Mary Abreu da Silva, e tinha 9 irmãos e irmãs. Por insistência de sua mãe (já que seu pai não queria que as filhas estudassem), Nina estudou até a 5ª série (o máximo que era oferecido em sua cidade). Ela continuou residindo em sua cidade natal até seu falecimento.[1]
Brinquedos de miriti editar
Nina foi uma importante artesã, criadora de brinquedos de Miriti, produzidos no município de Abaetetuba, interior do Pará, e vendidos durante o Círio de Nazaré, na capital Belém. São feitos de bucha natural da árvore do Buriti,[5] cortada com facas bem afiadas.[6] Ela é admirada pelos moradores do município de Abaetetuba e pelos outros artesãos.[7] É reconhecida e respeitada em nível municipal e estadual como mestra popular da arte de fazer brinquedos de miriti, há mais de meio século.[1]
A conexão de Nina com a criação dos brinquedos estava em sua infância. Aos 12 anos, ela criava personagens do cotidiano e do folclore amazônico para si mesma, porque sua família não tinha dinheiro para comprar brinquedos para ela.[1][8][9][10] A arte ela aprendeu em casa e não na escola.[1]
Dentre as criações de Dona Nina estão os casais de noivos,[7] a dança da garrafa, o pato do círio, um peru com penas de miriti adicionadas individualmente, o pinduca, um porta caneta em formato de abelha, e o ribeirinho.[1][8]
Banhos de cheiro editar
Nina Abreu também era conhecida em Abaetetuba pelo “banho de cheiro da Tia Nina Abreu” preparado com cuidado todos os anos desde 1960, e oferecido a quem quiser se banhar e receber bênçãos. A prática tradicional na cidade é realizada como parte das festividades em devoção a São João, no dia 24 de junho, e, por isso, é chamado de modo geral de "banho de cheiro de São João".[11]
Na infância, Nina ajudava sua mãe comprando as ervas para o banho de cheiro e, assim, aprendeu a fazê-lo. Nina usava trinta ervas: oito aromática, cinco místicas e 17 aromáticas e místicas. Ela parou de ofereceu os banhos enquanto esteve casada. Mas, quando se divorciou, fez promesa para São João de voltar a oferecê-los se ele a ajudasse a criar seus filhos com dignidade. O que ela fez pelo restante de sua vida.[11]
Ativismo cultural editar
Desde a infância participava e ajudava a organizar festas, despachos, cordões de pássaro, e grupos folclóricos.[1] Ela também promovia pássaros (desde os 15 anos, quando sua mãe parou de organizá-los) e bois juninos nos anos de 1940 e 1950, contribuindo para manter essas tradições vivas.[12][13][14] Recebeu o título de “rainha do folclore” em sua cidade, justamente por sua atuação em prol da valorização da arte e cultura locais.[11] Foi sócia-fundadora da “Associação dos Artesãos de Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba” (ASAMAB),[1] além disso, no final da década de 1980, criou o Centro Cultural e Artesanal de Abaetetuba e o clube do Pedrinho.[11][14]
Vida pessoal editar
Nina Abreu foi casada e teve três filhos biológicos (dois trabalhavam com ela) e cinco filhos adotivos.[1] Divorciou-se e criou os filhos sozinha.[11]
Reconhecimentos editar
- 2011 - participou do documentário "Miriti-Miri", de Andrei Miralha,[15][16]
- 2017 - foi homenageada pelo IPHAN durante o lançamento do livro "Miriti: mãos que tecem sonhos",[2][4]
- 2021 - passou pela Câmara Municipal de Abaetetuba projeto de Lei com seu nome, que visava conceder incentivos fiscais para projetos culturais no município,[17]
- Ester Sá criou uma peça infantil em sua homenagem, intitulada "Nina Brincadeira de Menina.”[5][18][19][20]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i Claudete do Socorro Quaresma da Silva. Brinquedos de miriti: educação, identidade e saberes cotidianos. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará. Belém, 2012.
- ↑ a b «Notícia: CNFCP e Sítio Roberto Burle Marx entregam medalha Mário de Andrade - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional». portal.iphan.gov.br. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ Adriana Camarão. Miriti- Mãos Que Tecem Sonhos: Livro fala sobre uma de nossas maiores riquezas. Rede Globo. 24-03-2017
- ↑ a b «15/12/2017 - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e Sítio Burle Marx entregam Medalha Mário de Andrade». www.revistamuseu.com.br. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ a b «Espetáculo conta a história da artista popular Nina Abreu». Folha de Boa Vista. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ Jumara Soares das Chagas. Os brinquedos artesanais de miriti confeccionados na Amazônia: a produção no Pará.
- ↑ a b Domingues, Bruno Rodrigo Carvalho; Gontijo, Fabiano de Souza; Barros, Flávio Bezerra (12 de setembro de 2016). «"Namoradas ou Dançarinas?": etnografia das concepções sobre a diversidade sexual e de gênero de artesãos de brinquedos de miriti no Pará, Amazônia». ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste (5). ISSN 2358-5587. doi:10.48074/aceno.v3i5.3769. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ a b Silva, Claudete Do Socorro Quaresma da; Carvalho, Nazaré Cristina (28 de junho de 2012). «A cultura e a educação amazônica na arte dos brinquedos de miriti». EccoS – Revista Científica (27): 17–32. ISSN 1983-9278. doi:10.5585/eccos.n27.3521. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ «Ester Sá lança 'Nina Brincadeira de Menina' com a história real de Nina Abreu». O Liberal. 24 de maio de 2023. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ figueiredofilho (19 de outubro de 2011). «nina abreu». figueiredofilho. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ a b c d e Dyana Joy dos Santos Fonseca; José Pompeu de Araújo Neto; Jeferson Miranda Costa. Banho de cheiro de São João em Abaetetuba. Ananindeua: Itacaúnas, 2020.
- ↑ Museu do Baixo Tocantins. Relatório de atividades do Triênio 2018-2021. Abaetetuba: 2021.
- ↑ Rocha, Blog Do Ademir (1 de janeiro de 2016). «PALAVRA DE VIDA - FOCOLARES - ABAETETUBA/PA: Famílias A - Matriz Genealógica Abaetetubense». PALAVRA DE VIDA - FOCOLARES - ABAETETUBA/PA. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ a b «NOVA EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA PZZ ABAETETUBA by RESISTENCIA EDITORA - Issuu». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ «A artesã Nina Abreu, de Abaetetuba, participa do documentário Miriti-Miri, de Andrei Miralha». Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ «Festival Sesc Junino em Castanhal». Durante os dias 5 a 16 de Junho, o Serviço Social do Comércio (Sesc) em Castanhal realiza um dos eventos mais esperados e tradicionai. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ Câmara Municipal de Abaetetuba. ATA N°. 047 DA SESSÃO ORDINÁRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE ABAETETUBA, REALIZADA EM 13.10.2021.
- ↑ «Contação de história resgata trabalho de artesãos do miriti | Sesc no Maranhão». Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ «"Nina brincadeira de menina" estreia domingo (18) no teatrinho do Mangal das Garças». Agência Pará de Notícias. Consultado em 10 de junho de 2023
- ↑ Virtual, Holofote (9 de julho de 2019). «Holofote Virtual - Jornalismo Cultural: Histórias de Ester Sá no Teatro Waldemar Henrique». Holofote Virtual - Jornalismo Cultural. Consultado em 10 de junho de 2023