Otto Bier
Otto Guilherme Bier (Rio de Janeiro, 26 de março de 1906 – São Paulo, 22 de novembro de 1985) foi um pioneiro imunologista e bacteriologista brasileiro, umas das principais autoridades em ambas as áreas no país.
Otto Bier | |
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Nascimento | 26 de março de 1906 Rio de Janeiro, RJ, Brasil |
Morte | 22 de novembro de 1985 (79 anos) São Paulo, SP, Brasil |
Residência | Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro |
Instituições | |
Campo(s) | Imunologia e bacteriologia |
Patrono da cadeira 104 da Academia de Medicina do Estado de São Paulo, foi também um dos membros fundadores, em 8 de novembro de 1948, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), fez parte do grupo que fundou a Escola Paulista de Medicina (EPM), e é autor de obras de referência em imunologia e bacteriologia, formando os principais profissionais do país. Descobriu as reações antígeno-anticorpo, particularmente em fixação do complemento como método de diagnóstico de doenças infecciosas.[1]
Biografia
editarOtto nasceu em 26 de março de 1906 na cidade do Rio de Janeiro em uma família humilde. Cursou o Colégio Pedro II e ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1922, com apenas 16 anos, formando-se em 1928. Para conseguir se manter no curso, tocava violino junto do irmão, que tocava piano, nos Cine-Theatros da então Avenida Central, hoje a Avenida Rio Branco na Cinelândia, e na Tijuca e em Copacabana. O trabalho rendia 2$000 réis por mês e garantia seu sustento enquanto cursava a faculdade.[1][2]
Tocar violino para o público garantiu a convivência com compositores como Pixinguinha, a quem ele mais tarde chamou de "gênio do chorinho", e seu irmão Otávio Vianna, o “China”; Benedito Lacerda, Cândido Pereira da Silva, o Candinho Trombone; Anacleto de Medeiros, Catulo da Paixão Cearense, Joaquim Antônio da Silva Callado e Ernesto Nazareth.[1][2]
Em 1925, ainda estudante, Otto fez um curso de aperfeiçoamento em bacteriologia e imunologia no Instituto Oswaldo Cruz com Antônio Cardoso Fontes, momento em que pode conviver e trabalhar com Carlos Chagas, Henrique Aragão, Thales Martins e Evandro Chagas. Sua inclinação não era para a medicina prática, mas sim para a experimental, o que o levou aos laboratórios.[2] Foi bastante influenciado pelo médico sanitarista, patologista e bacteriologista Henrique da Rocha Lima que, em 1928, viria de Manguinhos para São Paulo para dirigir a Divisão de Biologia Animal do Instituto Biológico, criado em 27 de dezembro de 1927. O Instituto Biológico se tornaria o centro da biomedicina brasileira entre as décadas de 1930 e 1950.[1][3]
Carreira
editarA convite de seu ex-professor na faculdade, Genésio Pacheco, Otto viria a trabalhar com Adolfo Martins Penha, Celso Rodrigues e José Reis no Instituto Biológico de São Paulo, onde organizou a Seção de Bacteriologia da instituição. Em 1934 Otto passou a dirigir o Serviço de Sorologia, transformando-se mais tarde na Secção de Imunologia.
Em 1933, Otto fez parte do grupo que fundou a Escola Paulista de Medicina (EPM), a atual Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tornando-se então professor catedrático de microbiologia e imunologia até 1968. Por três meses, durante o ano de 1936, Otto estagiou em laboratórios na Alemanha e na Suíça, recebendo em seguida a Bolsa Guggenheim para estagiar na Universidade de Columbia (1941-1942 e 1946-1947) por duas vezes, e em Nova Iorque, onde trabalhou no laboratório de imunologia de Michael Heidelberger, onde um grupo de cientistas desenvolvia a técnica da imunoquímica.[2][3] Nesse período, ele desenvolveu pesquisas sobre o complemento e aspectos quantitativos da fixação desse sistema.[1]
Otto trabalhou como imunologista do Instituto Biológico de 1929 a 1955, ano em que se aposentou. Em em 8 de novembro de 1948, foi um dos membros fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sendo um de seus conselheiros já na primeira gestão, Jorge Americano como presidente e Maurício Rocha e Silva como vice-presidente. Em 1951 esteve no laboratório do professor Pierre Grabar, no Instituto Pasteur de Paris.[2][3]
Além de suas pesquisas em imunoquímica, Otto também se destacou nos estudos sobre anafilaxia cutânea passiva. Em 1951 tornou-se um dos conselheiros do recém-criado Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Junto de outros nomes de referência nas ciências básicas brasileiras, Otto foi membro fundador da Sociedade Brasileira de Fisiologia, em 10 de agosto de 1957.[1][3]
Otto foi autor de importantes contribuições em reações antígeno-anticorpo, particularmente em fixação do complemento como método de diagnóstico de doenças infecciosas. Nos anos 1960 notou a importância que conhecimentos de imunologia teriam entre as ciências biomédicas. Junto de Ivan Mota, foi fundamental para a formação das primeiras gerações de imunologistas brasileiros. Juntos eles desenvolveram o centro de formação de imunologistas onde orientaram projetos e teses de estudantes que participavam dos cursos por eles ministrados. Os alunos com melhor desempenho recebiam bolsas para estagiar em laboratórios no exterior.[1][3]
Com recursos obtidos junto à Capes e à Fundação Ford, Otto criou o primeiro curso de treinamento em imunologia no Departamento de Microbiologia e Imunologia da EPM, cujos objetivos eram preparar seis novos imunologistas por ano e desenvolver pesquisas básicas em imunologia, grupo que foi o núcleo responsável pelo estabelecimento do Centro de Imunologia da Organização Mundial da Saúde sediado na EPM. O centro foi estabelecido em 1965 e após a aposentadoria de Otto da Escola Paulista de Medicina, em 1969, o curso foi transferido para o Instituto Butantan até seu encerramento em 1983.[1][3]
Otto foi diretor do Instituto Butantan[4], diretor do Instituto Biológico e coordenador dos Institutos de Pesquisa da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo. Foi diretor da Sociedade Brasileira de Imunologia nos dois primeiros mandatos, 1972-1977 e 1978-1980.[1][3]
Foi o autor de cerca de 140 artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais junto de outros renomados cientístas brasileiros. Mesmo aposentado, em 1978, ainda trabalhando no Instituto Butantan, Otto tomou posse na Academia de Ciências do Vaticano, onde apresentou o artigo Immunological and Epidemiological Speculations on Leprosy, em coautoria com Osvaldo Augusto Sant’Anna.
Morte
editarOtto morreu em 22 de novembro de 1985, na cidade de São Paulo, aos 79 anos.[1] O Laboratório de Análises Clínicas Otto Bier, no Rio de Janeiro, leva seu nome em sua homenagem. A Biblioteca Virtual Otto Bier da Sociedade Brasileira de Imunologia foi estabelecida em 2008. Otto também é o patrono da cadeira 104 da Academia de Medicina de São Paulo.[1][2][3]
Publicações selecionadas
editar- Bacteriologia e Imunologia – Em Suas Aplicações à Medicina e à Higiene (1941);
- Noções Básicas de Imunoterapia e Quimioterapia (1944);
- Imunologia Básica e Aplicada, com Ivan Mota, Wilmar Dias da Silva e Nelson Monteiro Vaz (1963);
- Microbiologia e Imunologia (1990).
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k Helio Begliomini (ed.). «Otto Guilherme Bier» (PDF). Academia de Medicina do Estado de São Paulo. Consultado em 9 de dezembro de 2014
- ↑ a b c d e f Márcia Bandeira de Mello Leite Ariela (ed.). «Entrevista com Otto Bier» (PDF). Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 2 de dezembro de 2020
- ↑ a b c d e f g h Magalhães, Luiz Edmundo de (2015). «Otto Bier». Humanistas e Cientistas do Brasil - Ciências da Vida. São Paulo: Edusp. ISBN 978-8531415289
- ↑ «Galeria de Diretores - Otto Bier». Instituto Butantan. Consultado em 2 de dezembro de 2020