Palazzo De Torres-Lancellotti

Palazzo De Torres-Lancellotti, conhecido também como Palazzo De Torres e Palazzo Massimo-Lancellotti, é um palácio localizado no lado sul da Piazza Navona, no rione Parione de Roma. Suas outras fachadas estão de frente para a Via della Cuccagna, ao lado do Palazzo Braschi, na Via della Posta Vecchia, no Vicolo della Cuccagna e na Piazza de' Massimo.

Fachada do palácio de frente para a Piazza Navona.

Família De Torres editar

Os De Torres foram uma família convertida famosa por sua preciosa coleção de antigas cartas náuticas. Um dos membros foi intérprete de Cristóvão Colombo em sua primeira viagem às Américas. Ele colocou a família sob a proteção de Hernandez de Córdoba, um grande comerciante de carne de Málaga obcecado por construir casas. Nascido em Portugal com o nome de Yosef ben HaLevi HaIvri (יוסף בן הלוי העברי), converteu-se ao catolicismo e morador de Málaga. Depois de morrer na América, foi acusado de vilipêndio e absolvido, o que permitiu que sua família recebesse, em 1508, o tesouro à que tinha direito. Além de falar várias línguas, possuía cartas náuticas que indicavam a rota marítima para o ocidente.

 
Brasão da família Torres.

O construtor do edifício foi o protonotário apostólico Luís (Ludovico I) de Torres (Málaga, 1495 – Roma, 13 de agosto de 1553). Em 1513, ele mudou-se de Málaga para a Itália juntamente com o imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico e encomendou a construção. Em 19 de dezembro de 1548, ele foi eleito arcebispo de Salerno e deixou o palácio para seus sobrinhos Fernando e Luís Fernando[1]. Ao falecer, ele foi sepultado na igreja de Santa Caterina della Rosa e mais tarde seu corpo foi levado para Málaga. No salão de baile ainda se pode admirar uma porta afrescada com um grupo de pessoas viajando no lombo de burros. Acredita-se que esta seria a porta da frente do apartamento no qual o primeiro Luís viveu durante as obras de construção, o piso nobre de um edifício anterior que tinha uma torre contígua, chamada "della vedova" ("da viúva"), possivelmente do século IV e que servia como casa dos guardas das obras romanas vizinhas, o Odeão e o Estádio de Domiciano. Por conta disto, o afresco pode ser datado em 1548. Luís Fernando de Torres (Ludovico II) tornou-se príncipe dos Sanguini por matrimônio e se mudou para a o palácio deles.

A família, que gozava das graças de Carlos V, conseguiu, nos anos seguintes (1575), o marquesado de Pizzoli, no condado de L'Aquila[2] estabelecendo lá sua residência definitiva no mesmo palácio romano, graças à influência de vários altos membros do clero católico, entre eles os cardeais Ludovico II e Cosimo.

O palácio passou por herança para a família Lancellotti no século XVII, que foram sucedidos pelos Massimo-Lancellotti no século XIX, os atuais proprietários. O principal palácio da família é o Palazzo Lancellotti, na Via dei Coronari[3].

Palácio editar

 
Detalhe da decoração interna atribuído a Agostino Tassi.

A construção do palácio teve início nas primeiras décadas do século XVI, mas passou inúmeros problemas e só foi terminada com a chegada do arquiteto napolitano Pirro Ligorio[a]. Ele foi construído com base em algumas técnicas de estilo andaluz e mourisco — exemplos ainda existem na cidade de Málaga — que determinam a construção de uma "torre coletora de ventos" ou "torre de ventos" que permitem que, através de um sistema de túneis e canaletas, permitem que, no verão, se crie uma corrente de ar nos dois pátios descendente no verão e ascendente no inverno. No lado sul do palácio, num local conhecido no passado como uma área in pede Agonis[b], edifícios foram incorporados, entre os quais a casa de uma família chamada Muti[7], na qual viveu, no piso nobre, o Luís de Torres (Ludovico I) durante as obras. No interior, uma inscrição na porta deste piso testemunha a conclusão das obras em 1553.

Ao contrário dos demais palácios da Piazza Navona, que tinham suas fachadas principais de frente para ela, o Palazzo De Torres originalmente tinha sua fachada principal na Via della Cuccagna. De arquitetura tardo-renascentista, o edifício tem uma planta irregular disposta à volta de dois pátios internos e uma fachada disposta em quatro pisos com janelas emolduradas e encimada por um beiral. Na fachada na Piazza Navona está um portal arqueado de silhares radiais, um motivo decorativo repetido nas esquinas. No piso nobre se abrem janelas emolduradas e nos dois outros pisos estão cornijas mais simples. Coroa o edifício um beiral ornado com cabeças de leão, rosas e torres, emblemas da família Torres.

Decoração editar

 
Vista do palácio à partir da Piazza Navona. À esquerda, a igreja de Nostra Signora del Sacro Cuore, antiga San Giacomo degli Spagnoli.

No piso nobre ainda se conservam importantes afrescos, iniciados já na primeira fase da construção e levadas adiante pelos sucessores do arcebispo. A família teve um papel importante em Roma durante a Contrarreforma, o que se revela no estilo antagônico do próprio edifício e do seu interior.

A decoração é composta por refinados frisos e abóbadas grotescas com temas clássicos ou bíblicos. A data inscrita numa faixa pintada num friso afrescado na sala nordeste do piso nobre na esquina da Piazza Navona) é 1625, o que permite inferir que a obra foi encomendada pelo príncipe Lancellotti para agradar sua mulher, que recebeu palácio como dote, ao pintor Agostino Tassi. A decoração do grande salão de baile, de pé-direito duplo, com cenas da Batalha de Lepanto (1571), foi encomendada pelo monsenhor Luís de Torres (Ludovico I) e é obra de pintores romanos de nome desconhecido. O teto, em refinados caixotões de madeira decorados com brasão da família, é do século XVI.

Notas editar

  1. A atribuição do projeto arquitetônico do Palazzo Torres-Lancellotti à Pirro Ligorio foi sugerida a partir dos primeiros anos da década de 1650 com a publicação de uma gravura de Pietro Ferrerio. Somente através de um exame estilístico é possível confirmar a autoria do artista napolitano, já que a pesquisa documental ainda não foi realizada. Apesar disto, parece plausível, pela comparação estilística através da seleção recorrente e refinada do aspecto em cantaria da fachada do palácio, que relembra a Casina di Pio IV, nos Jardins Vaticanos, e a Cortile del Belvedere de Bramante. Tal atribuição foi novamente confirmada em 2014 pelo arquiteto Enzo Pinci, responsável pela restauração do palácio[4]. Assim sendo o Palazzo De Torres é a primeira obra realizada por Pirro Ligorio.
  2. Esta área era conhecida nesta época por ser frequentada por famílias da nobreza romana e por pessoas de nacionalidade espanhola que erigiram nas imediações a igreja de San Giacomo degli Spagnoli[5][6].

Referências

  1. «Famiglia Torres» (em italiano). Nobili-napoletani.it 
  2. Giustiniani, Lorenzo (1804). Dizionario geografico ragionato del Regno di Napoli (em italiano). VII. Napoli: [s.n.] p. 212 
  3. (em inglês). Rome Art Lover https://www.romeartlover.it/Vasi26.htm#Lancellotti  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  4. Palazzi storici a Roma - Cortili Aperti 2015. Palazzo Massimo Lancellotti (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 33 
  5. Lanciani, Rodolfo. Storia degli scavi di Roma e notizie intorno le collezioni romane di antichità (em italiano). Vol. II (a. 1531-1549). [S.l.: s.n.] p. 229-230 
  6. Esposito, Anna (2014). Bernard, J. F., ed. Piazza Navona, ou Place Navone, la plus belle et la plus grande": Du stade de Domitien à la place moderne. Histoire d'une évolution urbaine. L'area di piazza Navona tra medioevo e rinascimento: istituzioni, famiglie, personalità (em italiano). Rome: [s.n.] p. 471-480 
  7. Adinolfi, Pasquale. La via Sacra o del Papa (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 25 

Bibliografia editar

  • Palazzi storici a Roma - Cortili Aperti 2015. Palazzo Massimo Lancellotti (em italiano). [S.l.]: Associazione Dimore Storiche Italiane. p. 30-33 
  • Bevilacqua, Mario (ed.). Palazzo Torres Lancellotti a piazza Navona (em italiano). [S.l.]: Sede di Aspen Institute Italia a Roma 
  • Schiavo, Armando (1966). «I vicini di palazzo Braschi». Capitolium (em italiano) (8-9) 
  • Schiavo, Armando. Pietrangeli, C., ed. Palazzo Braschi e il suo ambiente (em italiano). Roma 1969: [s.n.] p. 151-158 
  • Salerno, Luigi (1970). Piazza Navona isola dei Pamphili. Palazzo de Torres Lancellotti (em italiano). Roma: [s.n.] p. 271-276 
  • Ridolfini, Cecilia Pericoli (1973). Guide Rionali di Roma. Rione VI, Parione (em italiano). I. Roma: [s.n.] p. 64-70 
  • Abbate, Vincenzo (2007). Storia dell'arte. Torres adest': i segni di un arcivescovo tra Roma e Monreale (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 19-66