Poliandria (grego: poly- muitos, andros- homem) é a união em que uma só fêmea é ligada a dois ou mais machos ao mesmo tempo, podendo garantir uma maior chance de descendentes, entre outras vantagens. É um sistema de acasalamento que é o oposto da poliginia, forma de poligamia em que um macho possui duas ou mais parceiras.

Draupadi com seus cinco maridos.
Foto de dois primatas pequenos, listrados com tufos de pêlo branco na cabeça. Um deles faz catação no corpo do outro e ambos estão sob um tronco.
Sagui-de-tufo-branco (Callithrix jacchus) é um primata que apresenta comportamento sexual monogâmico, poliândrico ou poliginiândrico (poliginia+poliandria).[1]

É crença comum de muitos antropólogos que a forma mais comum de poliandria é aquela em que dois ou mais irmãos desposam a mesma mulher. É notável que a poliandria é um tipo de poligamia menos frequente na história da humanidade que o é a poliginia, por motivos vários.

O historiador estadunidense Edward McNall Burns observa que: "(a poliandria) parece desenvolver-se sob condições de extrema pobreza, em que vários homens precisam reunir os seus recursos para comprar ou sustentar uma esposa, ou em que o infanticídio feminino é praticado como meio de controlar o crescimento da população. Este último costume não tarda a produzir um excesso de indivíduos masculinos [2]."

A fisiologia reprodutiva humana indica que a competição entre espermatozoides de dois machos diferentes em uma única cópula não é comum em humanos, principalmente em comparação com outras espécies de primatas.[3][4][5]

Poliandria e religião

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A poliandria é expressamente proibida na Bíblia hebraica, pois é considerada adultério, o que acarreta pesados ônus para as mulheres praticantes e os nascidos de tais relações. O Islamismo também veta esse tipo de poligamia, apesar de aceitar a poliginia.

Ocorrências

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Há ou houve ocorrências de poliandria no Tibete, no Ártico Canadense, no Nepal, Butão e Sri Lanka. Não se conhece comunidades indígenas contemporâneas que pratiquem a poliandria envolvendo machos não-aparentados.

No território onde hoje chamam de Brasil, no estado de Santa Catarina, o povo Xócleng pratica a poliandria (além da poliginandria).[6]

Em animais

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Jacana jacana

A poliandria ainda é um quebra cabeça que tenta ser montado por diversos etólogos, levando em consideração o custo-benefício de tal comportamento e suas implicações. A maioria dos exemplos estudados e encontrados de poliandria na natureza são de aves e mamíferos. Um deles é a espécie de pássaro Actitis macularius (Maçarico-maculado), que em uma mesma estação reprodutiva as fêmeas copulam com dois a três machos[7]

Vantagens

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Algumas possíveis vantagens da poliandria para as fêmeas são[8]:

Apesar de existirem diversas vantagens para a espécie, na poliandria há uma balança que é levada em consideração. No caso de fêmeas que possuem um parceiro social, ou seja “fixo”, e um parceiro extra-par, elas acabam por ter muitos gastos. O macho não sabe dessas atividades, o que leva a um custo de tempo e energia da fêmea, que sai a procura de outros para acasalar, se arriscando até a contrair doenças sexualmente transmissíveis. Fora isso, ainda há o risco de se perder o cuidado parental do parceiro fixo caso ele descubra, e do mesmo ainda matar a prole em algumas situações. (consultar infanticídio ao final da página)

Formação de haréns

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Além da poliandria ser comum, é benéfica para ambos em alguns casos. Em algumas espécies as fêmeas tentam monopolizar seus parceiros, através da formação de harém de machos, como é o exemplo da ave Jaçanã (Jacana jacana), mas praticado por toda a família Jacanidae. Nessa espécie a fêmea domina o harém, que contém em sua maioria 4 machos, e defende agressivamente o território de qualquer possível ameaça, em particular, de outras fêmeas. O macho por sua vez cuida da prole e do ninho, sendo que cada indivíduo é provido de uma postura da parceira. Com machos monogâmicos e fêmeas poliândricas, há uma chance deles estarem cuidando da prole de outro macho, pois 75% das posturas têm a paternidade misturada. [9] Apesar do macho fazer a corte da fêmea, em Buteo galapagoensis, o falcão-dos-galápagos, o acasalamento ocorre com parceiros diferentes. Isso permite o revezamento na proteção e incubação dos ovos, e posteriormente na alimentação dos filhotes. Sua fêmea poliândrica, utiliza da maior quantidade de machos monogâmicos (até sete) ao seu redor para proteção territorial, garantindo assim o cuidado da prole.[10]

 
Suricata suricatta

Já em mamíferos, é possível encontrar os suricatos (Suricata suricatta), onde as fêmeas dessa espécie também possuem harém nos quais acasalam com machos dominantes. Eles vivem em grupos onde há fêmeas subordinadas, machos subordinados e machos dominantes; no entanto, a fêmea dominante acasala com os machos dominantes. Se em algum momento a fêmea dominante sente-se ameaçada por alguma fêmea subordinada, ela expulsa a fêmea subordinada para não correr o risco de perder o domínio do seu harém. [11]

Há também o abandono do parceiro, como no borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus). Nesse espécie não é formado de um grupo seleto/harém. Primeiramente, o casal é formado por um macho e fêmea exclusivos, mas após a primeira ninhada um dos parceiros pode abandonar seu atual companheiro, o deixando tomar conta de sua prole já nascida, indo atrás de outro indivíduo para conquistar e reproduzir novamente. Tanto o macho quanto a fêmea podem apresentar tal comportamento, sendo mais comum neste primeiro.

Benefícios genéticos/indiretos

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Algumas fêmeas são voluntariamente poliândricas, e podem até mesmo forçar seu machos a serem monogâmicos. Através desse comportamento elas podem obter retornos positivos a curto e longo prazo, como em Apis Mellifera. [12] (ver exemplo em Sistemas de Acasalamento). Algumas hipóteses foram levantadas para tentar responder porquê essas fêmeas realizam acasalamento extra-par[13]

  • Hipótese do seguro-fertilidade: há uma maior chance dos óvulos serem fecundados ao acasalar, visto que as chances da eficácia quando praticada a monogamia são menores devido à quantidade de esperma.
  • Hipótese dos bons genes: ao acasalar com vários machos a probabilidade que a qualidade genética vinda de parceiros não-sociais aumente, o que acarretará no possível melhoramento genético da prole e no seu cortejo sexual.
 
As Leoas (Panthera Leo) usam como estratégia o acasalamento com machos de fora do seu bando. Dessa forma elas têm crias de diversos indivíduos, e caso o macho alfa seja destronado, o novo líder não mata toda a prole, não correndo o risco de matar seu próprio descendente (infanticídio). [14]
  • Hipótese da compatibilidade genética: no mesmo ramo da hipótese dos bons genes, o acasalamento com mais machos aumentará a probabilidade de que a variabilidade genética seja maior, assim resultando numa compatibilidade mais próxima entre o DNA vindo da fêmea e do macho.  

Benefícios materiais/diretos

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  • Hipótese de mais recursos: mais machos significa mais recursos recebidos de parceiros sexuais para uma fêmea, acarretando em por exemplo, menor necessidade de busca por alimentos ou de materiais para nidificação.[13]
  • Hipótese de mais cuidado: com maior quantidade de machos envolvidos na criação da prole, desde a nidificação até a alimentação, maiores e mais bem divididos são os cuidados.
  • Hipótese da melhor proteção: mais machos permitem maior proteção do território e das fêmeas, evitando ataques de outros indivíduos.
  • Hipótese da redução do infanticídio: com o acasalamento extra-par e a presença de diversos machos no mesmo ambiente, há a incerteza da paternidade de cada indivíduo. Isso gera uma perda menor de filhotes, pois os machos preferem não cometer infanticídio a fim de não perder sua possível prole.

Veja também

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Referências

  1. «Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade». www.icmbio.gov.br. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  2. BURNS, Edward McNall, "História da Civilização Ocidental", traduzido por Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallando (1974), Porto Alegre: Editora Globo.
  3. Anderson, M. J.; Dixson, A. F. (2002). «Sperm competition: motility and the midpiece in primates». Nature. 416 (6880): 496. PMID 11932733. doi:10.1038/416496a 
  4. Dixson, A. L.; Anderson, M. J. (2002). «Sexual selection, seminal coagulation and copulatory plug formation in primates». Folia Primatol. 73 (2–3): 63–69. PMID 12207054. doi:10.1159/000064784 
  5. Harcourt, A. H.; Harvey, P. H.; Larson, S. G.; Short, RV (1981). «Testis weight, body weight and breeding system in primates». Nature. 293 (5827): 55–57. doi:10.1038/293055a0 
  6. MELLATI. «Amor e Casamento» (PDF) 
  7. ORING, LEWIS W.; MAXSON, STEPHEN J. (28 de junho de 2008). «INSTANCES OF SIMULTANEOUS POLYANDRY BY A SPOTTED SANDPIPER ACTITIS MACULARIA». Ibis (3): 349–353. ISSN 0019-1019. doi:10.1111/j.1474-919x.1978.tb06798.x. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  8. García-González, Francisco; Simmons, Leigh W. (janeiro de 2007). «Paternal Indirect Genetic Effects on Offspring Viability and the Benefits of Polyandry». Current Biology (1): 32–36. ISSN 0960-9822. doi:10.1016/j.cub.2006.10.054. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  9. Santos, Thiago Moura; Leite, Gabriel Augusto; Monteiro, Alberto Resende (29 de junho de 2012). «COMPORTAMENTO DE DEFESA DA JACANA JACANA (LINNAEUS, 1766) (CHARADRIIFORMES, JACANIDAE), EM ÁREA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SÃO PAULO, BRASIL». Revista Univap (31). 102 páginas. ISSN 2237-1753. doi:10.18066/revunivap.v18i31.79. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  10. «Falcão das Galápagos». pt.hrvwiki.net. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  11. Clutton-Brock, T. H.; Hodge, S. J.; Spong, G.; Russell, A. F.; Jordan, N. R.; Bennett, N. C.; Sharpe, L. L.; Manser, M. B. (dezembro de 2006). «Intrasexual competition and sexual selection in cooperative mammals». Nature (7122): 1065–1068. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/nature05386. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  12. Woyciechowski, Michał; Kabat, Lidia; Król, Elzbieta (março de 1994). «The function of the mating sign in honey bees, Apis mellifera L.: new evidence». Animal Behaviour (3): 733–735. ISSN 0003-3472. doi:10.1006/anbe.1994.1101. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  13. a b Rubenstein, Dustin R. (2019). Animal behavior. John Alcock Eleventh edition ed. Sunderland, MA: [s.n.] OCLC 1022077347 
  14. Parmigiani, Stefano; vom Saal, Frederick, eds. (5 de dezembro de 2016). «Infanticide And Parental Care». doi:10.4324/9781315539133. Consultado em 2 de novembro de 2021