O Reino Duláfida foi um Estado medieval centrado na região de Jibal, à época controlada pela autônoma dinastia duláfida, que no século IX inicialmente governava a região como governadores do Califado Abássida. Durante o enfraquecimento da autoridade dos califas após 861, os governantes de Jibal tornaram-se consideravelmente independentes do governo central em Samarra. Na década final do século IX, contudo, os duláfidas foram derrotados pelos abássidas que conseguiram reincorporar Jibal no Estado deles.

Reino Duláfida
século IX — 896 
Região Planalto iraniano
Capital Caraje
Países atuais Irã

Línguas árabe e turco
Religiões islã
Moeda dinar e dirrã

Forma de governo Monarquia
Emir
• até c. 840  Abu Dulafe Alcácime
• 896–897  Abu Laila Harite

Período histórico Idade Média
• século IX  Secessão do Califado Abássida
• 896  Reconquista pelo califado

História

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Origens familiares

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Dracma do califa omíada Abedal Maleque ibne Maruane (r. 724–743)

Os duláfidas pertenceram a tribo árabe de Ejel ibne Lojaim, que estava na vanguarda da conquista muçulmana do Iraque. A linha exata de descendentes da família é disputada entre as várias fontes, mas os primeiros membros que podem ser confiavelmente datados são o comerciante Idris e seu irmão Issa, filhos de Maquel (Ma'qel), que residiram em Cufa no reinado do califa omíada Abedal Maleque ibne Maruane (r. 724–743). Os irmãos foram presos pelas autoridades omíadas, mas a razão exata é incerta: uma disputa comercial, ou, segundo Baladuri, apoio à causa abássida. Várias fontes inclusive relatam que Abu Muslim, o posterior líder da Revolução Abássida, foi originalmente um servo dos duláfidas até ser comprado pela família abássida, mas estas alegações podem ter sido invenções posterior para engrandecer a posição deles.[1]

Idris posteriormente acumulou alguma riqueza, e mais tarde mudou-se para a região da Cordilheira do Zagros, comprando terras em Mass, próximo a Hamadã, e assentando ali. Seu filho Issa, contudo, mudou-se com seus filhos para Ispaã, onde recorreram a latrocínio rodoviário segundo Samani. Posteriormente, em algum momento durante o reinado de Almadi (r. 775–785), eles adotaram um estilo de vida mais legítimo e assentaram-se em Caraje. Com o tempo suas posses em torno de Caraje tornar-se-iam extensivas, e pelo século IX eles possuíam grandes extensões de terras cultiváveis, palácios e fortalezas.[1][2]

O primeiro duláfida a tornar-se governador de Jibal foi o filho de Issa, Abu Dulafe Alcácime, que foi nomeado para a posição pelo califa Harune Arraxide (r. 786–809). Abu Dulafe distinguiu-se por sua erudição, competência e integridade, de modo que manteve-se ao lado do sucessor de Harune Arraxide, Alamim (r. 809–813), na guerra civil contra o irmão do último, Almamune (r. 813–832), e apesar de suas crenças bem-conhecidas no xiismo, ele foi perdoado após a derrota de Alamim e reteve sua posição.[2] Ele manteve relações especialmente boas com o sucessor de Almamune, Almotácime (r. 832–842), servindo-o como comandante militar contra os curramitas e como governador (com uma possível nomeação para Damasco), e mesmo tornar-se-ia companheiro de bebida do califa, vindo a morrer em Bagdá em 839/840. Seu irmão Maquel também era um membro da corte abássida, servindo como um comandante militar e adquirindo alguma distinção como poeta.[1]

História

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Dirrã de Harune Arraxide (r. 786–809)
 
Dinar de ouro de Almutadide (r. 892–902)
 
Dinar de ouro de Almoctafi (r. 902–908)

O longo governo de Abu Dulafe firmemente estabeleceu a autoridade de sua família em Jibal; os duláfidas receberam possessão hereditária de seus domínios - conhecidos como al-Igharayn, "os dois feudos" - em perpetuidade, governando quase independentemente do governo califal, exceto por um tributo anual, e com o direito para cunhar seu próprio dinheiro. Após a morte de Abu Dulafe, seu filho Abedalazize sucedeu-o em sua posição como governador de Jibal, enquanto outro irmão, Hixame, serviu na corte califal como general em ca. 865/866. Como a autoridade abássida nas províncias periféricas colapsou nos anos 860 durante a "Anarquia de Samarra", os duláfidas começaram a atuar consideravelmente como governantes independentes, instigando o governo abássida a lançar duas campanhas punitivas em 867, um das quais saqueando a fortaleza duláfida de Caraje. O destino de Abedalazize é incerto, mas ele provavelmente permaneceu em sua posição até sua morte em 873/874, após o que os abássidas reconheceram o filho de Abedalazize, Dulafe, e, após a morte de Dulafe em Ispaã em 878/879, seu irmão Amade, como governadores.[1][2]

Amade teve uma relação precária e ambivalente com o governo central abássida, e desempenhou um importante papel na relação da corte com o ascendente poderio do Império Safárida. Um subordinado do governante safárida Anre (r. 879–901) desde 879, Amade voltou-se para os abássidas após a cisão entre os safáridas e o regente abássida, Almuafaque, em 884/885. Foi nomeado para o governo de Pérsis e Carmânia e sofreu uma pesada derrota para Anre em 886, mas então enfrentou uma invasão de seu território por Almuafaque em 889/890, e foi derrotado por Anre no ano seguinte.[1][3] Depois, o novo califa abássida, Almutadide (r. 892–902) acusou-o de tomar Ragas do general renegado Rafi ibne Hartama.[4]

Após a morte de Amade em 893, contudo, Almutadide rapidamente interveio na disputa de sucessão entre os filhos de Amade, Becre e Omar, e restabeleceu a autoridade califal: em 894, o califa visitou Jibal em pessoal, e dividiu os territórios duláfidas, dando o governo de Ragas, Caspim, Qom e Hamadã para seu próprio filho Almoctafi (r. 902–908), enquanto confinou Omar a região sede dos duláfidas em torno de Caraje e Ispaã. Finalmente, em 896, os duláfidas foram completamente depostos e um governador califal, Issa de Nuxar, foi instalado em Ispaã. Os irmãos de Omar lançaram uma guerra de guerrilha contra os abássida por algum tempo, mas sem-sucesso.[1][5] O último duláfida, Abu Laila Harite, foi morto acidentalmente com sua própria espada em uma batalha em 897/898, levando ao fim da dinastia.[2]

Governantes

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Fonte: C. E. Bosworth, As Novas Dinastias Islâmicas:[6]

Referências

  1. a b c d e f Donner 1995, p. 476–477.
  2. a b c d Marin 1991, p. 623.
  3. Bosworth 1975, p. 118–120.
  4. Bosworth 1975, p. 120.
  5. Kennedy 2004, p. 182–183.
  6. Bosworth 1996, p. 153.

Bibliografia

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  • Bosworth, C.E. (1975). «The Ṭāhirids and Ṣaffārids». In: Frye, R.N. The Cambridge History of Iran, Volume 4: From the Arab Invasion to the Saljuqs. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Bosworth, C.E. (1996). The New Islamic Dynasties: A Chronological and Genealogical Manual. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. ISBN 0-231-10714-5 
  • Donner, Fred M. (1995). «DOLAFIDS». Enciclopédia Irânica, Vol. VII, Fasc. 5. Nova Iorque: Universidade de Colúmbia. pp. 476–477 
  • Kennedy, Hugh N. (2004). The Prophet and the Age of the Caliphates: The Islamic Near East from the 6th to the 11th Century (Second ed.). Harlow, RU: Pearson Education Ltd. ISBN 0-582-40525-4 
  • Marin, E. (1991). «Dulafids». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume II: C–G. Leida e Nova Iorque: BRILL. ISBN 90-04-07026-5