Rouxinol-do-japão

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O rouxinol-do-japão (Leiothrix lutea) é uma espécie de ave da família dos leiotriquídeos, nativo do sul da China e do Himalaia. Os adultos têm bicos vermelhos e um anel perioftálmico amarelo opaco ao redor dos olhos. Suas costas são verde-oliva fosco, e possuem um papo amarelo-laranja brilhante com uma garganta amarela; as fêmeas são um pouco mais discretas que os machos, e os juvenis têm bicos pretos. Também foi introduzido em várias partes do mundo, com pequenas populações ferais existindo no Japão desde a década de 1980 e no Havaí desde o início do século XX.[2] Tornou-se um pássaro de gaiola comum e entre os avicultores acabou se popularizando como rouxinol-do-japão, mesmo não sendo nativo do Japão (embora tenha sido introduzido e naturalizado lá) e tampouco é um rouxinol.[1]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaRouxinol-do-japão

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Leiothrichidae
Género: Leiothrix
Espécie: L. lutea
Nome binomial
Leiothrix lutea
Scopoli, 1786

Taxonomia editar

O rouxinol-do-japão foi formalmente descrito em 1786 pelo naturalista austríaco Giovanni Antonio Scopoli sob o nome binomial Sylvia lutea.[3] A espécie é agora colocada justamente ao rouxinol-de-faces-prateadas (L. argentauris) no gênero Leiothrix, que foi introduzido em 1832 pelo naturalista inglês William John Swainson.[4][5] O nome genérico combina o grego antigo leios que significa "liso" e thrix que significa "cabelo". O epíteto específico lutea vem do latim luteus que significa "amarelo açafrão".[6] Scopoli especificou a localização-tipo como China, mas isso foi posteriormente restrito às regiões montanhosas da província chinesa de Anhui.[3][7]

Cinco subespécies são reconhecidas:[5]

  • L.l. kumaiensis (Whistler, 1943) – noroeste do Himalaia.
  • L.l. calipyga (Hodgson, 1837) – Himalaia central ao noroeste de Mianmar.
  • L.l. yunnanensis (Rothschild, 1921) – nordeste de Mianmar e sul da China.
  • L.l. kwangtungensis (Stresemann, 1923) – sudeste da China e norte do Vietnã.
  • L.l. lutea (Scopoli, 1786) – centro-sul, leste da China.

Descrição editar

 
Indivíduo em Maui, Havaí
 
Casal no Zoológico de Chester na Inglaterra
 
Macho no Zoológico de Chester na Inglaterra

Mede cerca de 15 centímetros de comprimento, geralmente verde-oliva, e tem uma garganta amarela com sombreamento laranja no peito. Também tem um anel amarelado opaco ao redor do olho que se estende até o bico.[2] As penas das asas são amarelas, laranjas e vermelhas com a cauda bifurcada sendo marrom-oliva e enegrecida na ponta. As orelhas e a lateral do pescoço são de uma cor cinza azulada.[8] A fêmea é muito mais pálida que o macho e não tem a mancha vermelha nas asas.[2] Este pássaro é muito ativo e um excelente cantor, mas muito discreto e difícil de ser observado. Não voa com frequência, exceto em habitats abertos.[9]

Distribuição e habitat editar

O rouxinol-do-japão é encontrado naturalmente na Índia, Butão, Nepal, Birmânia e partes do Tibete.[10] Esta espécie é uma ave das florestas montanhosas, encontrada em todos os tipos de florestas, embora prefira florestas de pinheiros com arbustos. Também foi encontrado em elevações que variam desde o nível do mar até cerca de 2.280 metros de altitude.[11] No Japão prefere florestas de Abies e Tsuga com um denso sub-bosque de bambu.

Espécie invasora editar

Em 2022, estudos demonstram que sua expansão, que tem passado quase despercebida, está a acontecer em 10 países europeus, incluindo Portugal, onde deverão existir entre 500 a 700 casais só na região Centro, revela um artigo científico publicado a 1 de Novembro de 2021 na revista Biological Invasions.[12]

No final do século XIX o rouxinol-do-japão foi levado para várias regiões do mundo, sendo para exposições zoológicas ou para ser mantido como animal de estimação. Mais tarde, no final do século XX, deu-se outro grande período de introdução desta espécie exótica especialmente na Europa.[12]

Em ilhas editar

A espécie foi introduzida nas ilhas havaianas em 1918 e se espalhou para todas as outras ilhas, exceto Lanai. Sua população em Oahu caiu na década de 1960 e desapareceu de Kauai, mas agora é comum e está aumentando em Oahu.[13] Foi introduzido na Austrália Ocidental, mas não conseguiu se estabelecer. Também está estabelecido nas ilhas Mascarenhas da Reunião.[14][15] No Japão, as populações naturalizadas do que é provavelmente a subespécie nominal desta espécie foram registradas desde a década de 1980 e se estabeleceram no centro e no sudoeste do país, onde a espécie acabou sendo naturalizada.

Na Europa editar

Esta espécie foi introduzida na Grã-Bretanha, mas o estabelecimento permanente foi considerado mal sucedido, embora um conjunto de avistamentos entre 2020-2022 no sul da Inglaterra sugira que algumas colônias podem ter sido estabelecidas.[16][17] Em Portugal houve solturas no início da década de 2000, e possui populações ferais conhecidas em Coimbra, Lisboa e Setúbal, onde a espécie já colonizou o Parque Natural de Sintra-Cascais.[18] Foi introduzido na França, onde agora está estabelecido em várias áreas, e na Espanha, onde está aumentando e se espalhando a partir do Parque Collserola, em Barcelona.[19] A espécie também foi introduzida na Itália, onde três populações principais podem ser identificadas nas regiões de Toscana, Ligúria, Lácio e Colinas Eugâneas. Além de existirem várias outras áreas com alto risco de invasão.[20]

Comportamento e ecologia editar

A espécie é, comportamentalmente, dominante sobre outros passeriformes menores. Por um lado, é maior do que os seus competidores mais diretos – como o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla). Por outro, tem maior robustez de bico e patas, vencendo as aves nativas nos confrontos por alimento. A nível mundial, esta espécie é considerada uma das aves invasoras mais perigosas porque, além de competir com as espécies nativas, dispersa plantas exóticas e alberga a resistência à malária aviária.[8]

Alimentação editar

Possui alimentação onívora. Alimenta-se de frutas como morangosmamãogoiabas e também várias espécies de DipteraMolluscaLepidoptera e Hymenoptera. Geralmente apanha sua comida em folhagens e árvores mortas nos estratos mais baixos da vegetação.[9]

Reprodução editar

 
Ovo de Leiothrix lutea calipyga MHNT

O rouxinol-do-japão pode ser encontrado em grupos de dez a trinta indivíduos durante a estação não-reprodutiva; no entanto, durante a época de reprodução, as aves se separam em pares e tornam-se territoriais.[2] Estas aves têm um canto que consiste em notas curtas que se repetem continuamente ao longo do ano, porém é mais constante durante a época de reprodução.[9] Este período geralmente dura do início de abril até setembro. Os machos vocalizam cantos longos e complexos para tentar atrair a fêmea.[9]

Os ninhos do rouxinol-do-japão são compostos de folhas secas, musgo e líquen.[21] Vários ninhos são encontrados entre abril e junho e são colocados a três metros do solo. Os ninhos são muito bem escondidos na folhagem. A vegetação densa e fechada protege as aves de predadores.[21]

As ninhadas podem conter de dois a quatro ovos com uma média de três.[8] Os ovos possuem uma cor creme pálida com manchas marrons. As aves recém-nascidas têm a pele vermelha e uma grande boca alaranjada.[8]

Referências

  1. a b BirdLife International (2017). Leiothrix lutea (em inglês). IUCN 2017. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2017​: e.T22716522A111107050. doi:10.2305/IUCN.UK.2017-1.RLTS.T22716522A111107050.en Página visitada em 28-10-2021.
  2. a b c d Long, John L. Introduced Birds Of The World. 1981
  3. a b Scopoli, Giovanni Antonio (1786). Deliciae florae faunae insubricae, seu Novae, aut minus cognitae species plantarum et animalium quas in Insubica austriaca tam spontaneas, quam exoticas vidit (em Latin). 2. Ticini [Pavia]: Typographia Reg. & Imp. Monasterii S. Salvatoris. p. 96 
  4. Swainson, William John; Richardson, J. (1831). Fauna Boreali-Americana, or, The Zoology of the Northern Parts of British America. 2: The Birds. London: J. Murray. pp. 233, 490  The title page bears the year 1831 but the volume was not published until 1832.
  5. a b Donsker, David; Rasmussen, Pamela (Janeiro de 2022). «Laughingthrushes and allies». IOC World Bird List Version 12.1. International Ornithologists' Union. Consultado em 6 de junho de 2022 
  6. Jobling, James A. (2010). The Helm Dictionary of Scientific Bird Names. London: Christopher Helm. pp. 221, 233. ISBN 978-1-4081-2501-4 
  7. Mayr, Ernst; Paynter, Raymond A. Jr, eds. (1964). Check-List of Birds of the World. 10. Cambridge, Massachusetts : Museum of Comparative Zoology . pp. 383–384 
  8. a b c d Whistler, Hugh . Popular Handbook Of Indian Birds. 4th ed. 1963.
  9. a b c d Male, T.D., Fancy, S.G, and Ralph, C.J. "Red- Billed Leiothrix." The birds of North America (1998)
  10. Hvass, Hans. Birds of the World In Color. 1964.
  11. Berger, Andrew. Hawaiian Birdlife. 1972.
  12. a b «Rouxinol-do-Japão, a ave exótica invasora que poucos sabiam que tínhamos» 
  13. Hawaii's Birds . Honolulu : Hawaii Audubon Society . 2005. pp. 104 . ISBN 1-889708-00-3 
  14. Christopher Lever (2005). Naturalised Birds of the World. [S.l.]: T & A D Poyser. pp. 174–176. ISBN 0713670061 
  15. IUCN Invasive Species Specialist Group (14 de março de 2008). «Global Invasive Species Database: Leiothrix lutea» 
  16. Broughton, R.K.; Ramellini, S.; Maziarz, M.; Pereira, P.F. (6 de junho de 2022). «The Red-billed Leiothrix (Leiothrix lutea): a new invasive species for Britain?». Ibis. ISSN 0019-1019. doi:10.1111/ibi.13090  
  17. Weston, Phoebe (6 de junho de 2022). «'The next parakeet': Britain's dawn chorus at risk from Asian songbird». The Guardian. Consultado em 24 de junho de 2022 
  18. Pereira, P.F.; Barbosa, A.M.; Godinho, C.; Salgueiro, P.A.; Silva, R.R.; Lourenço, R. (2020). «The spread of the red-billed leiothrix (Leiothrix lutea) in Europe: The conquest by an overlooked invader?». Biological Invasions. 22 (2): 709–722. doi:10.1007/s10530-019-02123-5 
  19. Herrando, S.; Llimona, F.; Brotons, L.; Quesada, J. (2010). «A new exotic bird in Europe: recent spread and potential range of Red‐billed Leiothrix Leiothrix lutea in Catalonia (northeast Iberian Peninsula)». Bird Study. 57 (2): 226–235. doi:10.1080/00063651003610551  
  20. Ramellini, S.; Simoncini, A.; Ficetola, G.F.; Falaschi, M. (2019). «Modelling the potential spread of the Red-billed Leiothrix Leiothrix lutea in Italy». Bird Study. 66 (4): 550–560. doi:10.1080/00063657.2020.1732864. hdl:2434/732844 
  21. a b Amano, Hitoha E.; Eguchi, Kazuhiro (2002). «Nest-site selection of the Red-billed Leiothrix and Japanese Bush Warbler in Japan». Ornithological Science. 1 (1): 101–110. doi:10.2326/osj.1.101  

Ligações externas editar

 
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