Segunda Batalha de Dongola

A Segunda Batalha de Dongola também conhecida como Cerco de Dongola foi uma disputa militar entre as forças árabes-egípcias do Califado Ortodoxo e as forças núbio-cristãs do reino de Macúria em 652. A batalha pôs fim a expansão islâmica na Núbia, estabelecendo um tratado e uma paz história entre o mundo muçulmano e uma nação cristã. Como resultado, Macúria foi capaz de se transformar em uma potência regional que dominaria a Núbia pelos próximos 500 anos. [1]

Segunda Batalha de Dongola
Expansão islâmica
Data 652
Local Norte da Núbia, atual Sudão
Desfecho
Vitória da Macúria, após a qual foi assinado o Baqt
(Tratado de não agressão)
Beligerantes
Califado Ortodoxo Reino da Macúria
Comandantes
Abedalá ibne Saade [1] Rei Qalidurut [2]
Forças
50 000 homens incluindo cavalaria e 1 catapulta [1] vários arqueiros nas muralhas
Baixas
desconhecido (mas tiveram mais baixas do que o inimigo) desconhecido (poucas baixas)

Antecedentes

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As relações entre a Macúria e o Egito califal tinham começado de forma ríspida em 642 quando ocorreu a Primeira Batalha de Dongola. Após a derrota, os árabes se retiraram da Núbia e uma espécie de paz foi estabelecida em 645.[3] De acordo com o historiador árabe-egípcio do século XIV Almacrizi, Macúria fez algo para violar a trégua. [4] Foi então que Abedalá ibne Sade o segundo Governador califal do Egito, e sucessor de Anre ibne Alas, invadiu a Macúria em uma tentativa de trazer os macúrios para o seu controle. [3] Nessa época, o norte (o antigo Reino da Nobácia) e o centro (a Macúria, propriamente dita) da Núbia estavam unidos sob o rei Calidurute. [2]

Descobertas arqueológicas mostram que Dongola era uma cidade bem fortificada no século VII. Tinham muros de pelo menos 6 metros de altura e 4 metros de largura na base entre as torres. Esta muralha foi construída de tijolos de barro com argamassa e revestida e lajotas de pedra. As torres de canto redondo tinham 6 metros de largura e projetavam-se a 8 metros acima dos muros. Haviam mais duas torres na muralha do norte. As torres, no entanto, podem ter sido adicionadas depois e possivelmente em resposta ao cerco de 652.[5]

A Batalha

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Abedalá marchou com uma força de 5 000 homens para a capital de Macúria, atualmente chamada de Velha Dongola em 651. [6] Seu exército era constituído de cavalaria pesada e uma catapulta (manjanique), provavelmente uma manganela, [7] a qual, de acordo com Almacrizi, os macúrios nunca tinham visto antes. [7] Ele então sitiou a cidade, [8] colocando em risco sua cavalaria ao tentar invadir uma cidade murada defendida pelos habilidosos arqueiros núbios. Durante o cerco, a catedral da cidade foi danificada pelo fogo da catapulta. [9]

O cerco terminou em uma batalha campal. As baixas sofridas pelas forças de Abedalá foram pesadas. No final, Abedalá cancelou o cerco e negociou um pacto (o Baqt). De acordo com o historiador egípcio ibne Abde Aláqueme, do século IX, isso ocorreu porque ele não conseguiu derrotá-los. [1] O historiador xiita do século X, Amade de Cufa, que não tinha simpatia pelas forças do califa, tinha uma opinião ainda mais forte: Os muçulmanos nunca sofreram uma perda como a que tiveram na Núbia. [10] Nos séculos que se seguiram, no entanto, o cerco e a segunda batalha de Dongola foram transformados pelos historiadores muçulmanos em uma vitória. Almacrizi chegou a afirmar que Calidurute no final da batalha saiu da cidade submisso buscando um acordo. [7] Pode ser que esta versão dos eventos tenha acabado misturando os eventos de 652 com o conflito do final do século XIII entre a Núbia e os Mamelucos. [5]

Conseqüências

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Os detalhes da Segunda Batalha de Dongola são escassos, mas sabemos que as forças do califado sofreram baixas suficientes para que seu objetivo - a conquista da cidade de Dongola - não fosse mais possível. Uma trégua negociada conhecida como Baqt foi acordada por ambos os lados e durou seis séculos. Estabeleceu relações comerciais entre o Egito muçulmano e a Núbia Cristã. Envolvia a troca de trigo, cevada, vinho, cavalos e linho do Egito por 360 escravos por ano da Núbia. [1]

O Baqt foi um tratado sem precedentes no início da história do Islã. Outra novidade no paradigma das relações muçulmano-não-muçulmanas era o status da Núbia como uma terra livre de conquistas. Tradicionalmente, a Núbia foi a exceção. Era uma região cristã onde seus governantes faziam negócios com governantes muçulmanos em termos de iguais até o século XII, quando o poder da Núbia começou a declinar. Como resultado da batalha e do Baqt, a Nubia Cristã teve espaço para florescer pelos próximos 600 anos. [11]

Referências

  1. a b c d e Martin, J. P. (2016). African Empires:. Volume 1 (em inglês). [S.l.]: Trafford Publishing, pp. 47-48. ISBN 9781490777993 
  2. a b Hrbek, Ivan; El Fasi, ‎M. (1992). UNESCO General History of Africa, Vol. III Africa from the Seventh to the Eleventh Century (em inglês). [S.l.]: University of California Press, p. 103. ISBN 9780520066984 
  3. a b W. Y. Adams (1977) Nubia, Corridor to Africa, Princeton University Press pp. 531–536
  4. The International Journal of African Historical Studies (em inglês). [S.l.]: Africana Publishing Corporation, p. 594. 1995 
  5. a b Purton, Peter Fraser (2009). A History of the Early Medieval Siege,. C. 450-1220 (em inglês). [S.l.]: Boydell & Brewer Ltd, pp. 45-46. ISBN 9781843834489 
  6. Eltahir, Eltigani Gaafar (2003). Comparing the Incomparable:. Religion, Chanting, and Healing in the Sudan, the Case of Zār and Zikr (em inglês). [S.l.]: University of Wisconsin--Madison, p. 45 
  7. a b c Jay Spaulding, Medieval Christian Nubia and the Islamic World: A Reconsideration of the Baqt Treaty in The International Journal of African Historical Studies Vol. 28, No. 3 (1995), pp. 577-594
  8. Meredith, Martin (2014). Fortunes of Africa:. A 5,000 Year History of Wealth, Greed and Endeavour (em inglês). [S.l.]: Simon and Schuster, p. 63. ISBN 9781471135460 
  9. The History of Northern Africa (em inglês). [S.l.]: Britannica Educational Publishing, p. 131. 2010. ISBN 9781615303977 
  10. Loimeier, Roman (2013). Muslim Societies in Africa: A Historical Anthropology (em inglês). [S.l.]: Indiana University Press, p. 137. ISBN 9780253007971 
  11. Idris, A. (2013). Identity, Citizenship, and Violence in Two Sudans:. Reimagining a Common Future (em inglês). [S.l.]: Springer, p. 49. ISBN 9781137371799