Sonia Guimarães

física brasileira

Sonia Guimarães (São Paulo[1], 20 de junho de 1957) é uma física, pesquisadora e professora universitária brasileira.

Sonia Guimarães
Sonia Guimarães
Conhecido(a) por
  • primeira mulher negra brasileira doutora em Física
  • primeira mulher negra brasileira a lecionar no ITA
Nascimento 26 de junho de 1957 (66 anos)
São Paulo, SP, Brasil
Residência Brasil
Nacionalidade brasileira
Alma mater Universidade Federal de São Carlos e Universidade de Manchester
Orientador(es)(as) Antony Robert Peaker
Instituições Instituto Tecnológico de Aeronáutica
Campo(s) Física e química
Tese Enhanced Diffusion and the Evolution of Point Defects Species during Annealing of Boron Implanted in Silicon (1989)

Professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi a primeira mulher negra brasileira doutora em Física e primeira mulher negra brasileira a lecionar no ITA, tendo ingressado em 1993, quando a instituição ainda não aceitava mulheres como estudantes.[2][3] Em maio de 2023, Sonia recebeu a Medalha Santos Dumont de Honra ao Mérito[4] como uma celebração dos seus 30 anos de atuação no ITA. Em novembro de 2023, foi eleita uma das 100 pessoas mais inovadoras da América Latina[5] pela Bloomberg Línea.

Biografia editar

Guimarães nasceu em São Paulo, capital do Estado, em 1957, filha de pai tapeceiro e uma comerciante, dona de um buffet. Estudante de escola pública, era uma aluna bastante aplicada e uma das melhores da classe, com notas altas, especialmente em matemática.[6] Na adolescência, trabalhava para poder pagar um cursinho e prestar vestibular para engenharia civil. Quando não conseguia pagar integralmente o valor do cursinho, sua mãe ajudava.[7]

Um de seus professores, porém, a orientou a buscar os cursos menos concorridos, o que a levou a escolher a física. Quando já estava cursando Física na Universidade Federal de São Carlos, Guimarães chegou a prestar vestibular para engenharia, mas as aulas sobre materiais sólidos acabaram agradando a estudante, que permaneceu na Física.[2] De 50 alunos em sua sala, apenas cinco eram mulheres.[6] Guimarães foi a primeira pessoa da família a entrar para a faculdade.[6][8]

Carreira editar

Graduou-se com licenciatura plena em ciências em 1979[3] e de 1980 a 1983, fez mestrado em Física Aplicada pela Universidade Federal de São Carlos, com a dissertação Desenvolvimento da Técnica Elipsométrica para Caracterização Ótica de Filmes Finos. Em 1986 especializou-se em Química e Tecnologia dos Materiais e dos Componentes[9][10].[carece de fontes?] Em 1986, após um breve período de pesquisa[11][12] no Istituto LAMEL do CNR em Bologna, na Itália, ingressou no doutorado em materiais eletrônicos pelo Instituto de Ciência e Tecnologia, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, trabalhando com microscopia eletrônica de varredura[10].[carece de fontes?] Especialista na área de semicondutores, Guimarães liderava em 2016 uma pesquisa nacional sobre o desenvolvimento de sensores de calor.[6]

Em 1993, ingressou como docente do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), sendo a primeira negra da instituição, que contava e ainda conta com um reduzido quadro de mulheres docentes.[2][8] A instituição só passou a aceitar mulheres no vestibular nos anos 1990. Defensora da presença de mulheres na área de Exatas e no próprio ITA, as mulheres ainda são minoria na instituição.[7] Dos 700 alunos que ingressaram no ITA entre 2013 e 2018, apenas 60 eram mulheres.[6][13]

Mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares, Guimarães trabalha com projetos que envolvem estudantes de áreas carentes e marginalizadas e em projetos feministas, que visem à maior inclusão de mulheres e negros no ambiente acadêmico a fim de reduzir a disparidade racial e de gênero na pesquisa brasileira.[6][13] Dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de 2015 apontam que apenas 12 mil mulheres estavam em pesquisa acadêmica nas áreas de tecnologia, engenharia e exata, contra quase 23 mil homens. Dados do mesmo ano apontam que as mulheres negras são apenas 26% das mulheres pesquisadoras do Brasil.[6]

Em 2017 foi criado dentro do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, o Coletivo Negro Sonia Guimarães, que visa ser um ambiente de acolhimento a estudantes negros da instituição.[14]

Ciência e racismo editar

Para uma mulher entrar no mundo da ciência, onde tem sua maioria homens brancos, já tem certa dificuldade, ainda mais se for uma mulher negra. A história de Sônia Guimarães teve muitos obstáculos. Estudou em escola estadual e sempre gostou de matemática, onde sofreu com o racismo, isso à prejudicou no seu primeiro ano do ginásio, e uma professora de física disse à ela que jamais ia aprender física. Mesmo com esses fatores, ela passou em segundo lugar para o colegial.

Passou no vestibular e foi estudar Física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em período integral. Durante a graduação teve uma bolsa de iniciação científica recusada porque a professora responsável pela pesquisa disse que ela nunca usaria Física na vida. Sônia disse em uma entrevista dada a MT ciências circuito intinerância ciência de mato grosso em 20 de novembro de 2019: “Eu queria tanto que ela visse o que eu ‘não fiz com Física’, porque realmente ela se negou a me dar a bolsa. Será que ela ficou sabendo do que aconteceu comigo depois? Eu mesma gostaria de ir lá e contar pra ela!”.[15]

Ainda em relação as dificuldades encontradas no mercado de trabalho pelas mulheres negras, Sônia afirma: “elas têm que estudar, se especializar, se tornar altamente qualificadas, pois por serem negras, tudo será muito difícil, portanto, têm que ser as melhores. O investimento em formação pode incentivar a participação das mulheres em variados espaços de poder. Necessitamos de mais mulheres negras escolhendo, fazendo a seleção de pessoal. Não adianta ser a única. “Se formos muitas e em várias posições hierárquicas, isso vai melhorar”.[15]

A minha interseccionalidade é terrível, eu sou interseccional em tudo quanto é lugar, e não aceita de todos os lados. Um grupo fala ‘ah, mas ela não é preta o suficiente’, o outro grupo ‘ah, mas ela não é branca o suficiente, quer dizer, o que eu faço? Se eu me incomodar com tudo isso, eu enlouqueço”. Ela conta sobre o que é ser mulher num instituto tecnológico militar, onde majoritariamente a comunidade é masculina, branca e homofóbica, por mais que os preconceitos não sejam declarados da parte deles. Porém, como no ITA “não existe raça ou gênero”, Sônia sempre foi julgada como “incapaz”, afinal, é como ela diz: “Eles dizem que não sou inteligente o suficiente, porque se fizerem um comentário sobre eu ser mulher, posso processá-los. Se falarem que é porque sou negra, racismo é crime. Mas se o problema é eu ser burra, não dá pra fazer nada. A todo momento eu tenho que provar que sou o bastante”.[15]

A professora conta que nunca imaginou que chegaria onde chegou. “Nunca houve um plano exato disso ou daquilo, se você percebeu as coisas foram acontecendo e eu nunca disse não”, afirma. Ela dá a dica para as mulheres que querem superar os obstáculos pelos quais passou: “Faça o melhor que você puder. Prove. Mostre. Estude sempre. Não dê chance para que a injustiça se engaje e fique presa em você. Esteja preparada. Se for necessário, processe. Para as pessoas saberem que você tem direitos!”[1]

Linhas de pesquisa editar

  • Propriedade Eletróticas de Ligas Semicondutoras Crescidas Epitaxialmente
  • Estruturas Eletrônicas e Propriedades Elétricas de Superfícies
  • Química Teórica
  • Estrutura de Camadas Epitaxiais
  • Caracterização de Detetores de Radiação Infravermelha
  • Tratamento Químico de Superfícies
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Referências

  1. a b «Conheça Sonia Guimarães - a primeira negra doutora em física no Brasil». iric.com.br (em inglês). Consultado em 28 de novembro de 2022 
  2. a b c Beatriz Sanz (ed.). «Quem são as cientistas negras brasileiras?». El País. Consultado em 18 de julho de 2018 
  3. a b «As nossas cientistas negras». Bayer Jovemns. Consultado em 18 de julho de 2018 
  4. «Primeira professora negra no ITA, Sonia Guimarães recebe medalha Santos Dumont: 'Reconhecimento fantástico'». G1. 19 de maio de 2023. Consultado em 29 de janeiro de 2024 
  5. «As 100 pessoas mais inovadoras da América Latina em 2023». Bloomberg Línea Brasil. Consultado em 29 de janeiro de 2024 
  6. a b c d e f g h i Poliana Casemiro (ed.). «Primeira professora negra no ITA, Sônia Guimarães cobra igualdade para mulheres: 'conservadorismo já não é mais capaz de nos parar'». G1. Consultado em 18 de julho de 2018 
  7. a b «Sonia Guimarães: first black Brazilian woman with a Ph.D in Physics». Black Women of Brazil. Consultado em 18 de julho de 2018. Arquivado do original em 19 de julho de 2018 
  8. a b Norma Odara (ed.). «8 mulheres negras cientistas brasileiras que você precisa conhecer». Brasil de Fato. Consultado em 18 de julho de 2018 
  9. Guimarães, S.; Kögler, R.; Landi, E.; Solmi, S.; Wieser, E. (1986). «Anomalous Enhanced Diffusion and Electrical Activation of Boron in Silicon After Rapid Isothermal Annealing». physica status solidi (a) (em inglês). 93 (2): 549–557. ISSN 1521-396X. doi:10.1002/pssa.2210930219 
  10. a b Guimarães, S.; Landi, E.; Solmi, S. (1986). «Enhanced diffusion phenomena during rapid thermal annealing of preamorphized boron-implanted silicon». physica status solidi (a) (em inglês). 95 (2): 589–598. ISSN 1521-396X. doi:10.1002/pssa.2210950228 
  11. Landi, E.; Guimaraes, S.; Solmi, S. (1 de outubro de 1987). «Influence of nucleation on the kinetics of boron precipitation in silicon». Applied Physics A (em inglês). 44 (2): 135–141. ISSN 1432-0630. doi:10.1007/BF00626414 
  12. Armigliato, A.; Guimaraes, S.; Solmi, S.; Kögler, R.; Wieser, E. (1 de janeiro de 1987). «Comparison of boron diffusivity during rapid thermal annealing in predamaged, preamorphized and crystalline silicon». Nuclear Instruments and Methods in Physics Research Section B: Beam Interactions with Materials and Atoms. Proceedings of the Fifth International Conference on Ion Beam Modification of Materials (em inglês). 19-20: 512–515. ISSN 0168-583X. doi:10.1016/S0168-583X(87)80102-7 
  13. a b «Mulher e tecnologia, tudo a ver». Revista TRIP. Consultado em 18 de julho de 2018 
  14. «Organização estudantil». Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Consultado em 21 de novembro de 2019 
  15. a b c By (20 de novembro de 2019). «Sônia Guimarães». MT Ciências. Consultado em 28 de novembro de 2023