Sovistrema

antiga sociedade comercial de comercialização de vinhos

A Sovistrema - Sociedade Vinícola da Estremadura, Lda. foi uma empresa vinícola com sede no Bombarral, Portugal, fundada em 1972 por António Moreira Gomes dos Santos e Fernando de Sá Alves. A Sovistrema exercia os seguintes tipos de atividade: armazenista, exportador (incluindo EUA e Bélgica), engarrafador e distribuidor.

Sovistrema - Sociedade Vinícola da Estremadura, Lda. (Bombarral)
Chalet "Villa Palmira" de Júlio Tornelli, Bombarral (1910's)

História editar

 
Membros do Centro Escolar Republicano João Chagas, 1909, "Villa Palmira", Bombarral. Júlio Tornelli (fila da frente, 2º)
 
Armazéns "SADIAS", anos 60, Rua Júlio Tornelli, Bombarral[1]

O Chalet na Rua Júlio Tornelli, inicialmente denominado de "Villa Palmira"[1], e propriedade envolvente, localiza-se no Bombarral, na proximidade da Estação de Caminho de Ferro, e teve como primeiro proprietário Júlio César Tornelli (? - Lisboa, Março de 1928).

Júlio Tornelli editar

Este importante empresário de vinhos e aguardentes, fez fortuna no Brasil e regressou a Portugal no final do século XIX, edificando uma das melhores destilarias da região e o chalet romântico "Villa Palmira". Era proprietário, em sociedade com António Ferreira dos Santos, do estabelecimento comercial "Armazéns de Santo António", inaugurado em 1902, na atual Rua Luís de Camões, Bombarral. Republicano, era próximo de figuras proeminentes, incluindo Afonso Costa ou António José de Almeida. Foi membro dos Órgãos Sociais do Centro Escolar Republicano João Chagas, inaugurado em 1908 no Bombarral, com a presença de Bernardinho Machado, Sebastião de Magalhães Lima, entre outros. Esta entidade esteve também envolvida na fundação do Sport Clube Escolar Bombarralense, em 1911. Júlio Tornelli foi o presidente da primeira Comissão Municipal Republicana que se instalou em Óbidos, a 10 de Outubro de 1910, tendo mantido o cargo na Câmara Municipal até 1914.[2] Em 1911, foi o sócio fundador nº 1 da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Bombarral.[3] Em Junho de 1914, com a criação do concelho do Bombarral, viria a tornar-se o presidente da Comissão Executiva da primeira Câmara Municipal do Bombarral, até 1917. Foi também sócio do comerciante portuense José Ramiro de Magalhães, conhecido como o "Rei da Aguardente", dono da firma Ramiro de Magalhães & Companhia, fundada em 1875, que chegou a ser a maior produtora e fornecedora de aguardente do país. Em 1920, ambos constroem na atual Rua Manuel do Nascimento (Bombarral), uma adega, vinagreira e casa de habitação, entretanto demolidas. Os antigos armazéns da firma Ramiro de Magalhães e Cª comportavam 1,5 milhões de litros de aguardente. Em 1923, constroem outra casa de habitação, de porte regionalista, no "Arneiro", entre o Teatro Eduardo Brazão e a Quinta de Santa Maria, esta também propriedade de Ramiro de Magalhães, onde operou a Mala-Posta.[1] Nos anos 20, Júlio Tornelli vende o seu património, passando a residir em Lisboa, onde falece em 1928.

António Rodrigo Batista - Vinhos e Aguardentes editar

Nos anos 1930s, a propriedade pertence à empresa "António Rodrigo Batista - Vinhos e Aguardentes", armazenista e exportador, que efetua várias alterações arquitetónicas. Em 1936, é construído novo armazém, de orientação modernista, albergando vários depósitos de elevada capacidade de armazenamento. Em 1944, é construído armazém adjacente, assinado pelo arquitecto J. Pereira da Silva, de Lisboa, alterando a configuração traseira da moradia oitocentista, agora denominada "Vila Batista”.[1] Nos anos 1950s, numa altura de crise no negócio vinícola, António Batista recorre aos serviços de António Moreira Gomes dos Santos, que desempenhou os cargos de analista de vinho e contabilista.

Sá, Dias & Filho editar

No início dos anos 1960s, a propriedade, entretanto arrestada, é adquirida pela empresa "Sá, Dias & Filho", com sede em Valadares, armazenistas e exportadores, nomeadamente para o Brasil. António Moreira Gomes dos Santos, que entretanto prestava serviços em Salvaterra de Magos, foi novamente contratado por esta empresa. A empresa procedeu a diversas transformações logísticas e laborais, incluindo construção de novos depósitos. É também neste período que são realizadas alterações ao rés-do-chão da moradia. Tinham como marcas: "Campo Velho" (garrafeira reserva), "Sadias" (vinho maduro), "Monte Real" (rosé) ou "Sadio" (vinho verde). Em 1972, é criada a Sovistrema - Sociedade Vinícola da Estremadura, Lda., tendo como sócios a "Sá, Dias & Filho" e António Moreira Gomes dos Santos.

António Moreira Gomes dos Santos editar

 
António Moreira Gomes dos Santos

António Moreira Gomes dos Santos (Bombarral, 17 de Fevereiro de 1932 - Lisboa, 10 de Março de 2001) foi um empresário português, primeiro filho de Salustiano Gomes dos Santos (proprietário de tanoaria na atual Av. Casimiro da Silva Marques, Bombarral) e Adelaide Moreira Gomes dos Santos. Respeitado enólogo, iniciou a sua vida profissional em grandes firmas vinícolas nas décadas de 50 e 60, incluindo a "Sociedade Comercial Pereira Bernardino, Lda.", "António Rodrigo Batista - Vinhos e Aguardentes", como analista e contabilista, e mais tarde, a "Sá, Dias & Filho", enquanto sócio e gestor. Em 1972, torna-se sócio da Sovistrema. Nos anos 1980s, a empresa registava um comércio médio anual de 3M de litros.[4] No final da década, António Moreira Gomes dos Santos, e família, tornam-se os únicos proprietários da empresa. António Moreira vem a falecer em Março de 2001, sendo a gestão da empresa assumida pelo seu filho, António Augusto Moreira Gomes dos Santos, até 2006, ano de fim de actividade.[1]

Em Abril de 1992, fez parte da assinatura, em representação do comércio, da escritura pública de criação da Comissão Vitivinícola Regional de Óbidos, três anos após a aprovação dos estatutos da Zona Vitivinícola de Óbidos, em Outubro de 1989 (DL n.º 342/1989). Pertenceu também à Confraria dos Enófilos da Estremadura, desde 22 de Julho de 1995, na qualidade de Confrade Fundador.

Foi presidente do Sport Clube Escolar Bombarralense, nos anos 70, e Sócio Honorário do mesmo, desde 1984. Integrou a comissão Pró-Sede do SCEB (1978/83), que contribuiu para a construção da sua atual sede, inaugurada em 1983. Foi sócio-fundador do Hotel Comendador, inaugurado em 1998, no Bombarral. Militante do PSD, foi também tesoureiro da Junta de Freguesia do Bombarral (1980-1982), vogal da assembleia de freguesia (1983-1985) e vereador da Câmara Municipal do Bombarral (1990-1992 e 1993-1994).[5]

Marcas editar

 
Garrafa Estalagem tinto (Sovistrema)

A Sovistrema teve como principais marcas de vinho: Estalagem; Sovistrema; Costa Nova.[4]

Comercializava também aguardente, vinho licoroso e brandy.

Em 1985, o vinho Estalagem tinto (Garrafeira 1981), de castas selecionadas das regiões de Pegões e Estremadura, foi premiado com a placa de prata (2º Prémio) de "Vinho Tinto - Estagiado", do 5º Festival do Vinho Português.

Referências

  1. a b c d e RODRIGUES DOS SANTOS, Joaquim; SANTOS, Dóris (2017). Arte Por Terras Do Bombarral. [S.l.]: CALEIDOSCÓPIO 
  2. «Cronologia Histórica de Óbidos». www.cm-obidos.pt. Consultado em 14 de maio de 2023 
  3. «Corria o mês de Abril do ano de 1911... | Caixa Agrícola Bombarral». www.ccambombarral.pt. Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  4. a b Ferreira, Américo (1985–1986). «Vinhos e Aguardentes de Portugal». Eurostand - Castel Branco & Rocha. Lda. Vinhos e Aguardentes de Portugal: 150 
  5. «Na brisa do Tempo». nabrisadotempo.blogspot.com. Consultado em 17 de novembro de 2018