Tucanos
Em etnologia, o termo Tucano (também usa-se Tukano), além de designar os grupos indígenas cujas línguas pertencem à família linguística tucano, remete ainda a uma etnia indígena específica que habita o Noroeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente as Terras Indígenas Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II e Balaio, bem como a Colômbia.
Tucanos | ||||||
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Dança tukana de boas vindas (2014) | ||||||
População total | ||||||
c. 10 000 | ||||||
Regiões com população significativa | ||||||
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Línguas | ||||||
Tucano, português, nheengatu, espanhol | ||||||
Religiões | ||||||
Protestantismo[4][5] | ||||||
Etnia | ||||||
Nativo Americanos | ||||||
Grupos étnicos relacionados | ||||||
Sirianos, Tuiúcas, Tarianas, Desanos |
Os nomes dos diversos povos tucanos foram dados por outros povos, indígenas ou não, sendo usados somente em determinados contextos. Os povos Tucano dividem-se em dois ramos linguísticos: o Tucano Oriental e o Ocidental. Os povos falantes do ramo oriental habitam desde Colômbia até o Brasil, enquanto os povos do ramo ocidental habitam o Peru, a Bolívia e o Equador na região do rio Napo, a exemplo dos Siona e Secoya.
Existem pelo menos dezesseis diferentes línguas classificadas como Tukano Oriental, todas elas faladas por povos que habitam o noroeste do estado brasileiro do Amazonas e o departamento colombiano do Vaupés. No Brasil, os tukano habitam toda a bacia do rio Uapés e o trecho do rio Negro entre a foz daquele rio e as imediações da cidade de Santa Isabel do Rio Negro, incluindo a cidade de São Gabriel da Cachoeira.[6]
Tucano oriental
editarEntre os grupos do ramo Tucano Oriental, a identidade do povo fundamenta-se na língua. Em sua cultura, o casamento é sempre realizado com uma mulher de outro povo, e, portanto, de língua diferente, num sistema de casamento baseado em normas de exogamia linguística. Graças a isso, os grupos Tucano estão numa situação de multilinguismo que não tem paralelo em nenhum outro lugar do mundo, pois cada indivíduo fala no mínimo três línguas, e é comum que fale cinco ou mais.[7]
Após o casamento, a mulher deve ir viver com o povo de seu marido no qual passa a fazer parte deste. Por isso, a identidade étnica do indivíduo é definida pela língua do povo paterno. Além disso, este aprende sempre, desde a infância, a língua do povo original de sua mãe, a língua tucano, que é considerada língua franca entre os povos tucanos da sub-região do Uaupés, onde também se aprende o português. O nheengatu é também falado pelos habitantes dos arredores de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel e nas comunidades do Alto Rio Negro até a fronteira com a Venezuela. Além disso, muitos costumam aprender também línguas das famílias Aruák e Maku, presentes na região, e o espanhol, pela proximidade com a Colômbia.[8]
Segundo estimativas de 2005 compiladas pela DSEI - Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, a população da etnia Tucano no Brasil era de 6.241 pessoas. Segundo a mesma fonte, o número total de indivíduos das etnias da família linguística Tucano no Brasil era cerca de 12.650.[9]
Povos do ramo tucano oriental (e suas línguas)
editar- Arapaso
- Bará (Autodenominam-se Waípinõmakã)
- Barasana (Autodenominam-se Hanera)
- Desana (Autodenominam-se Ūmūkomasã)
- Karapanã (Autodenominam-se Mūteamasa, Ūkopinõpõna)
- Kubeo (ou Kubewa) (Autodenominam-se Kubêwa ou Pamíwa)
- Makuna (Autodenominam-se Yeba-masã)
- Miriti-tapuya ou Buia-tapuya
- Siriano (Autodenominam-se Siria-masã)
- Taiwano, Eduria ou Erulia (Autodenominam-se Ūkohinomasã)
- Tatuyo, Tuyuka (Autodenominam-se Ūmerekopinõ)
- Tariana (Autodenominam-se Taliaseri)
- Tucano (propriamente dito) / (Autodenominam-se Daséa ou Ye’pâ-masa; no masculino singular: Ye’pâ-masi; no feminino singular: Ye’pâmaso; no plural: Ye’pâ-masa[10]:3)
- Wanana ou Wanano (Autodenominam-se Kotiria)
- Waikhana (ou Pirá-tapuya)
- Yurutí (Autodenominam-se Yūtabopinõ)
- Tuiúcas (Autodenominam-se Dokapuara, Utapinõmakãphõná)
Referências
- ↑ Siasi/Sesai (2014). «Tukano». Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 13 de dezembro de 2021
- ↑ DANE (16 de setembro de 2019). Población Indígena de Colombia (PDF). Censo 2018. Bogotá: Departamento Nacional de Estadística. Consultado em 10 de setembro de 2021
- ↑ «Tukano - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ a b Project, Joshua. «Tukano in Brazil». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ a b Project, Joshua. «Tukano, Tariano in Colombia». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ Cabalzar, Aloísio; Ricardo, Carlos Alberto. (editores). Povos indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira (mapa-livro). SP, ISA - Instituto Socioambiental; AM, FOIRN -Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, 2006.
- ↑ Azevedo, Marta Maria. (2005). Povos indígenas no Alto Rio Negro: um estudo de caso de nupcialidade, in Pagliaro, Heloísa, Azevedo, Marta Maria, e Santos, Ricardo Ventura (Eds.). Demografia dos povos indígenas no Brasil. Rio de Janeiro. Fiocruz/Abep.
- ↑ Jackson, Jean E. The Fish People: Linguistic exogamy and Tukanoan identity in Northwest Amazonia. Cambridge, Reino Unido. Cambridge University Press. 1983.
- ↑ Equipe de editores do ISA (Ricardo, Beto, e Ricardo, Fany) Tukanos Povos Indígenas no Brasil. . São Paulo. Instituto Sócio-Ambiental. 2006
- ↑ Ramirez, Henri (2019). A Fala Tukano dos Ye’pâ-Masa, Tomo I: Gramática (versão atualizada, 2019). Manaus: Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia, CEDEM. Consultado em 22 de agosto de 2021.
Bibliografia
editar- Epps, Patience; Stenzel, Kristine (eds). Upper Rio Negro, cultural and linguistic interaction in northwestern Amazonia.RJ, Museu Nacional, Museu do Índio/FUNAI, 2013. PDF Jun. 2013
- Garnelo, Luiza; Buchillet, Dominique. Taxonomias das doenças entre os índios Baniwa (arawak) e Desana (tukano oriental) do alto Rio Negro (Brasil). Horiz. antropol. vol.12 no.26 Porto Alegre July/Dec. 2006 PDF Jan, 2011
- Gentil, Gabriel dos Santos. Povo Tukano - cultura, história e valores. Manaus. EDUA, 2005
- Grande Enciclopédia Larousse.
- Lagório, pe. Eduardo (coord.). 1983. 100 kixti (estórias) tukano. Rio de Janeiro: Funai. 162 p., il. (Prefácio de Câmara Cascudo; capa e ilustrações de Darlan)
- Reichel - Dolmatoff Gerardo, Correa Francois (editor). La selva humanizada. Bogotá, Instituto Colombiano de Antropologia; FEN; CEREC. 1990 Disponível on-line Jan.2011
- Ribeiro, Berta. Os Índios das Águas Pretas: Modo de Produção e Equipamento Produtivo. SP. Edusp / Companhia das Letras, 1995
- Silva, Alcionilio Brüzzi A. A civilização do Uapés, observações antropológicas, etnográficas e sociológicas. Roma, It. Centro Studi di Storia delle Missioni Salesiane - Las-Roma, 1977
- Sorensen, Arthur P. Jr. (1967). Multilinguism in the Northwest Amazon. American Anthropologist 69, 670-684.
- Stenzel, Kristine. Traços laringais em Kotiria e Waikhana (Tukano Oriental) USP (Apresentação PPS) 13 de novembro de 2009
- Lagório, pe. Eduardo (coord.). 1983. 100 kixti (estórias) tukano. Rio de Janeiro: Funai. 162 p., il. (Prefácio de Câmara Cascudo; capa e ilustrações de Darlan)