Usuário(a):Agroelle/Moniliophthora roreri

Moniliophthora roreri
Classificação científica edit
Reino: Fungi
Filo: Basidiomycota
Classe: Agaricomycetes
Ordem: Agaricales
Família: Marasmiaceae
Gênero: Moniliophthora
Espécie:
M. roreri
Nome binominal
Moniliophthora roreri

(Cif.) H.C. Evans, Stalpers, Samson & Benny, (1978)
Sinônimos
  • Crinipellis roreri (Cif.) H.C. Evans, (2002)
  • Monilia roreri Cif., (1933)

Moniliophthora roreri é um fungo basidiomiceto que causa a podridão parda, um dos problemas mais sérios para a produção de cacau (Theobroma cacao — a fonte do chocolate) na América Latina. Esta doença, juntamente com a vassoura-de-bruxa (causada por M. perniciosa) e podridão da vagem preta (causada por Phytophthora sp.) constituem a trilogia da doença do cacaueiro.[1] Causa sérias perdas em partes do sudoeste da América do Sul; os esporos são secos e pulverulentos e se espalham facilmente pelo movimento da água, vento ou movimento das vagens. A propagação da doença é maior durante os períodos de alta pluviosidade.[2]

O fungo editar

Taxonomia editar

Originalmente, M. roreri foi descrito como um ascomiceto anamórfico, Monilia roreri Cif., devido à ausência de um corpo de frutificação reconhecível ou um estágio sexual e outras semelhanças com espécies de Monilia.[3] Mais tarde, notou-se que os septos do patógeno continham doliporos e tampas de poros septais, que são características de fungos basidiomicetos. Consequentemente, Monilia roreri foi reclassificada e recebeu o nome atual, Moniliophthora roreri (Cif.) HC Evans, Stalpers, Samson & Benny.[4] Mais recentemente, foi demonstrado que M. roreri e o agente causal da vassoura-de-bruxa do cacau, M. perniciosa, são espécies irmãs dentro da família de cogumelos Marasmiaceae.[5]

Hospedeiros editar

Os principais hospedeiros de M. roreri são plantas das Malvaceae que pertencem ao gênero Theobroma, como T. cacao, T. gileri, T. bicolor e T. grandiflorum, bem como plantas do gênero Herrania, intimamente relacionado. [6] Em contraste, a espécie irmã M. perniciosa tem uma gama de hospedeiros muito mais ampla, incluindo hospedeiros nas Solanaceae, Malpighiaceae e Bignoniaceae.[7]

Processo de infecção e sintomatologia editar

M. roreri é um fungo hemibiotrófico que forma micélios intercelulares inchados e de formato irregular.[8] O processo de infecção começa quando os conídios de M. roreri pousam na superfície das vagens. Em seguida, eles germinam e penetram na vagem diretamente através da epiderme, [9] causando danos internos nos estágios iniciais da doença. O início da fase necrotrófica começa quando massas de esporos assexuados são produzidas na superfície da vagem.[10] Sintomas externos como manchas escuras na superfície das vagens podem ser vistos somente após 40 a 80 dias após a infecção, assim, vagens infectadas durante os estágios iniciais parecem assintomáticas, o que é um fator que levou ao movimento involuntário de vagens infectadas por humanos. Uma semana após o aparecimento de lesões escuras, o pó branco característico da doença aparece na superfície das vagens infectadas. A aparência pulverulenta se deve à presença de milhões de conídios que podem atingir até 44 milhões por centímetro quadrado com uma vagem infectada madura capaz de produzir mais de sete bilhões de esporos. [11]

História da doença editar

Primeiro relato editar

O primeiro relato verificado da monilíase é do Equador em 1895, alguns anos depois, na região de Quevedo, Equador, em 1918, foi registrado o surto mais famoso da história da doença, causando o abandono da maioria das plantações de cacau em um período de três anos. No entanto, uma doença anterior na Colômbia também pode ter sido causada por M. roreri. Em 1817, na região de Santander, Colômbia, foi relatada uma doença com sintomatologia que combina com a monilíase, portanto, muitos pesquisadores acreditam que o primeiro relato conhecido da doença foi na Colômbia há cerca de um século antes do famoso surto no Equador.[12]

No Brasil editar

No Brasil M. roreri é classificada como uma praga quarentenária ausente, embora tenha sido encontrada na região urbana na cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre.[13] Sua entrada em território brasileiro, de maneira geral, é sinônimo de profundos desequilíbrios em ambientes agrícolas, urbanos e naturais, com reflexos econômicos, sociais e ambientais causados por agravantes como o desemprego, perda de renda no meio rural, e desmatamentos, de acordo com o caráter conservacionista da cultura do cacau, semelhante, quiçá de modo mais agravante ainda, ao que ocorreu com a disseminação da vassoura-de-bruxa.[14] Nos dias seguintes à detecção da doença no Brasil, organizações como o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), adotaram medidas fitossanitárias a fim de erradicar o foco e de prospecção na região para prevenção da disseminação do fungo na região e demais localidades do país. [13]

Em situações como esta, onde a detecção do foco não foi em área de produção, mas sim em área residencial, o recomendado de acordo com o manual de procedimentos do plano de contingência para M. roreri, a adoção de medidas de contenção se baseia na eliminação do foco e no estabelecimento de uma zona tampão entre esta área e as demais áreas produtoras. Em caso de detecção em áreas de produção, o recomendado de acordo com o manual é a adoção de medidas fitossanitárias visando à contenção da praga para o estabelecimento de sistema de redução de risco possibilitando ao produtor a manutenção de sua atividade e comercialização do seu produto nos estados brasileiros.[14]

Além disso, a Comissão Executiva do plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) tem sido essencial com ações voltadas para o controle regional da doença e estabelecimento de medidas que visam diminuir riscos o máximo possível, desenvolvendo pesquisas voltadas para a obtenção de variedades de cacaueiros resistentes à monilíase, assim como também para estabelecimento de medidas de manejo para controle da doença. O principal foco são as ações de defesa fitossanitária e manejo da doença. No que se refere a fitopatologia, voltando-se para a praga em questão, a CEPLAC tem avançado nas possíveis rotas de entrada do fungo no Brasil, além de modelos biomatemáticos de disseminação da doença, epidemiologia e biologia do patógeno. Essas ações são de acordo com Programa Preventivo à Monilíase do Cacaueiro, liderado pela CEPLAC, cujo foco consiste no manejo integrado de pragas (controles químicos, cultural, biológico e genético) e ações no âmbito da fitopatologia (epidemiologia e biologia do patógeno), genômica e melhoramento preventivo. A CEPLAC foi e tem sido muito importante no que se refere ao melhoramento genético do cacaueiro para obtenção de cultivares resistentes a vassoura-de-bruxa, e tem embasamento e potencial científico para o desenvolvimento de variedades resistentes a monilíase.[13]

Caso M. roreri se espalhe no Brasil e tenha uma interação entre patógeno, hospedeiro e ambiente semelhante com o ocorrido em outros países norte e sul americanos afetados pela doença o Brasil terá grandes prejuízos. Diante disto, o ideal é que as medidas de prevenção e controle sejam mantidas, assim como os estudos voltados para o manejo e controle da doença, uma vez que a disseminação em território brasileiro é um risco iminente. [15]

Dispersão editar

Antes da década de 1950, M. roreri estava confinado ao Equador, Colômbia e oeste da Venezuela. No entanto, durante os últimos 50 anos, a doença se espalhou para o sul no Peru (em 1988) e para o norte em todas as áreas de cultivo de cacau da América Central (Costa Rica, 1978; Nicarágua, 1979; Honduras, 1997; Guatemala, 2002; Belize, 2004 e México, 2005),[12] [16] resultando em muitos casos no abandono de toda a plantação pelos agricultores. A presença da doença foi confirmada em El Salvador e Bolívia em 2009 e 2012, respectivamente, onde o fungo provavelmente chegou alguns anos antes.[17] Esse comportamento invasivo da doença representa uma ameaça para os cacauicultores do Brasil e também para áreas fora da América Latina, onde a maior parte do cacau mundial é produzida atualmente.[12] [18]

Impacto econômico da doença editar

Na Colômbia, especificamente na região de Santander, as perdas médias anuais são de 40% de cacau seco equivalente a US$ 33 milhões devido à doença.[12] No Equador, durante o surto de 1918, a exportação de cacau foi reduzida de 46.000 para 37.700 toneladas devido à podridão.[12] No Peru, cerca de 16.500 ha de cacau foram abandonados principalmente como resultado da podridão das vagens, com o resultado final que o Peru passou de exportador de chocolate a importador líquido.[19] No México, no estado de Tabasco, o primeiro relato da doença foi em abril de 2005,[20] e em 2007 a podridão invadiu todas as áreas cacaueiras do estado, tornando-se o principal fator limitante da produção de cacau ali, bem como na Nicarágua e em Honduras.[12] [21]

Referências editar

  1. Fulton, RH (1989). «The Cacao Disease Trilogy : Black Pod, Monilia Pod Rot, and Witches' Broom». Plant Disease. 73 (7): 601–603. doi:10.1094/pd-73-0601 
  2. «Cocoa (cacao) - Diseases and Pests, Description, Uses, Propagation». www.plantvillage.org. Consultado em 5 January 2018  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  3. Ciferri, R.; Parodi, E. (1933). «Descrizione del fungo che causa la "Moniliasi" del cacao.». Phytopathologische Zeitschrift. 5: 539–542 
  4. Evans, HC; Satlpers, JA; Samson, RA; Benny, GL (1978). «On the taxonomy of Monilia roreri, an iomportant pathogen of Theobroma cacao in South America». Canadian Journal of Botany. 56 (20): 2528–2532. doi:10.1139/b78-305 
  5. Aime, M.C.; Phillips-Mora, W. (2005). «The causal agents of witches' and frosty pod rot of cacao (chocolate, Theobroma cacao) form a new lineage of Marasmiaceae». Mycologia. 97 (5): 1012–1022. PMID 16596953. doi:10.3852/mycologia.97.5.1012 
  6. Evans, HC (1986). «A reassessment of Moniliophthora (Monilia) pod rot of cocoa.». Cocoa Growers' Bulletin. 37: 34–43 
  7. Meinhardt, Lyndel; Rincones, J; Bailey, B; Aime, MC; Griffith, GW; Zhang, D; Pereira, G (2008). «Moniliophthora perniciosa, the causal agent of witches' broom disease of cacao: what's new from this old foe?». Molecular Plant Pathology. 9 (5): 577–588. PMC 6640444 . PMID 19018989. doi:10.1111/j.1364-3703.2008.00496.x 
  8. Griffith, GW; Nicholson, J; Nenninger, A; Birch, RN; Hedger, JN (2003). «Witches' broom and frosty pods: two major pathogens of cacao». New Zealand Journal of Botany. 41 (3): 423–435. doi:10.1080/0028825x.2003.9512860  
  9. Suárez, C (1971). Estudio del mecanismo de penetración y del proceso de infección de Monilia roreri Cif. Par. en frutos de cacao (Theobroma cacao). Guayaquil, Ecuador: Universidad de Guayaquil 
  10. Bailey, Bryan A.; Evans, Harry C.; Phillips‐Mora, Wilbert; Ali, Shahin S.; Meinhardt, Lyndel W. (2018). «Moniliophthora roreri, causal agent of cacao frosty pod rot». Molecular Plant Pathology (em inglês). 19 (7): 1580–1594. ISSN 1364-3703. PMC 6638017 . PMID 29194910. doi:10.1111/mpp.12648 
  11. Campuzano, H (1971). Proceedings of the Eighth International Cocoa Research Conference, 1981, Cartagena, Colombia. Cartagena, Colombia: Cocoa Producer’s Alliance. pp. 425–428 
  12. a b c d e f Phillips-Mora, Wilbert (2003). Origin, Biogeography, Genetic Diversity and Taxonomic Affinities of the Cacao Fungus Moniliophthora roreri as determined using Molecular, Phytopathological and Morpho-Physiological Evidence. Reading, UK: The University of Reading 
  13. a b c CHIARI, L.; PEREIRA, J. M.; NIELLA, G. R.; GRAMACHO, K. P. (2021). NOTA TÉCNICA: CONSTATAÇÃO DA MONILÍASE DO CACAUEIRO NO ACRE (PDF). [S.l.]: CEPLAC 
  14. a b Manual de procedimentos do plano de contingência para Moniliophthora roreri. (PDF). [S.l.]: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 2021 
  15. NASCIMENTO, T.A (2014). Valoração do potencial de impacto econômico com a introdução de Moniliophthora roreri no Brasil. (PDF). [S.l.: s.n.] p. 44 
  16. Phillips-Mora, Wilbert; Aime, M. C.; Wilkinson, M. J. (2007). «Biodiversity and biogeography of the cacao (Theobroma cacao) pathogen Moniliophthora roreri in tropical America». Plant Pathology. 56 (6): 911–922. doi:10.1111/j.1365-3059.2007.01646.x  
  17. Phillips-Mora, Wilbert; Arciniegas-Leal, A.; Mata-Quiros, A.; Motamayor-Arias, J.C. (2013). «Catalogue of cacao clones selected by CATIE for commercial plantings; CATIE Technical series. Technical manual #105/». 1. 68 páginas 
  18. Food and Agricultural Organization of the United Nations. «FAOSTAT» 
  19. Krauss, U; Soberanis, W (2001). «Rehabilitation of diseased cacao fields in Peru through shade regulation and timing of biocontrol measures». Agroforestry Systems. 53 (2): 179–184. doi:10.1023/A:1013376504268 
  20. Phillips-Mora, W; Coutiño, A; Ortiz, C; López, A; Hernández, J; Aime, MC (2006). «First report of Moniliophthora roreri causing frosty pod rot (moniliasis disease) of cocoa in México». Plant Pathology. 55 (4): 584. doi:10.1111/j.1365-3059.2006.01418.x 
  21. Ramirez-Gonzalez, S.I. (2008). «Moniliasis a challenge to achieve the sustainability of cacao in Mexico». Technol. Marcha. 21: 97–110 

Ligações externas editar

[[Categoria:Fungos descritos em 1933]] [[Categoria:Tricholomataceae]]