Usuário(a):Mariana Medeiros de Sousa/Testes

Buriato

буряад хэлэн, burjaad xèlèn,

ᠪᠤᠷᠢᠶᠠᠳ ᠮᠣᠩᠭᠣᠯ

ᠬᠡᠯᠡᠨ

Falado(a) em:  Buriácia
Mongólia Mongólia
 Rússia
 China
Região: Ásia Central
Total de falantes: 300,000 - 330,000[1][2]
Família: Línguas Altaicas
 Mongólicas
  Mongólicas Não-Arcaicas
   Buriato
Escrita: Escrita mongol (Pré-1931)
Alfabeto cirílico (Pós-1939)
Estatuto oficial
Língua oficial de:  Buriácia
Regulado por: Министерство образования и науки Республики Бурятия
(Ministério da Educação e da Ciência da República da Buriácia)
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: bua
ISO 639-3: bua
República da Buriácia e regiões circunvizinhas

O buriato ( círilico: буряад хэлэн, romanizado: buryād xelen[3]), também conhecido como bargu-buriat(nome antigo), buriate, buriat, buriato-mongólico ou buriato-mongol[4] é uma língua mongólica comum (não-arcaica)[5] da família altaica, falada pelos buriatos, grupo étnico indígena do sudeste Sibéria, que compõem uma das mais populosas minorias da região[6].

Natural dos distritos russos (okrugs) da Aga Buriácia, Urst-Orda Buriácia, República da Buriácia, bem como da norte da Mongólia e das províncias chinesas da Mongólia Interior e Manchúria[7], onde seus falantes recebe a denominação de new buriats (šenexen buryād)[7], a articulação da língua buriate ao redor do Lago Baical permitiu a vasta influência das tradições russa e mongol-tibetanos na expressão de aspectos culturais e linguísticos[5][8], como na adesão ao alfabeto cirílico, que deram origem às variantes conhecidas como Buriate Ocidental (Cis-Baikalian[nota 1]) e Buriate Oriental (Trans-Baikalian[nota 2])[9], respectivamente.

Atualmente, entretanto, a preponderância das tradições orais, principalmente ligadas ao folclore[10], a ausência de iniciativas do ensino da língua nativa[11] e o intenso processo de russificação[4] da localidade tornam complexa a manutenção da língua Buriate[12]. De acordo com o censo russo de 2010, na Rússia vivem 461,389 buriatos e apenas 218,557 são falantes do idioma[13] (número atualizado para aproxidamente 300,000 no censo de 2021[14]), sendo a etnia responsável por apenas 30% da população em seu território de origem[15], a República da Buriácia. Assim, segundo os parâmetros da UNESCO, classificando o buriato como uma língua vulnerável[16].

Etimologia editar

A falta de escritos que datam antes do século XVII, período em que os russos entraram em contato com os povos buriates não permitem uma precisão quanto a origem do endônimo - buryād - da língua[17]. Contudo, a vasta mitologia mongol, possibilita a criação de hipóteses quanto as possíveis matrizes do termo[18].

Inicialmente denominados bargu-buriate[nota 3], os povos mongólicos de que se desenvolveram ao redor do Lago Baical, na região que viria a ser chamada de Bargujin Thukum - "o fim da terra" ou "vale dos bargu"[18][19], conferiram a este uma posição relevante em suas lendas e contos[20]. Em sua língua nativa, por exemplo, "bargu" significa "periferia"; "deserto"[19].

É apenas durante a Dinastia Ming, no século XIII, no entanto, que as origens do nome buriato tornam-se um pouco mais claras, visto que primeira menção do nome no livro "A História Secreta dos Mongóis", estabelece uma associação entre variações do termo "buri" e um possível antepassado de Genghis Khan, um dos filhos do chefe de guerra Barga-baatar, Buryadai.[21][22]

A partir do século XVII, a mistura de etnias na região da sudeste da Sibéria, deu origem a versões difusas do significado original da palavra buriato, sendo seu exônimo (буряад хэлэн - Brats) fruto da assimilação russa de palavras estrangeiras usadas para se referir aos buriates, durante seu período de invasão da Transbaicalia[nota 4][21]. A preservação majoritária do sentido semântico e ortográfico ocorreu devido a presença da variante fonética de buri: pyrat-purat[21] nos termos utilizados para denominar os falantes do buriato nas línguas Turco-Altaicas, já que a expressão pode significar lobo[23], como acontece na língua mongol, animal considerado pelos povos da região como místico[24] e muitas vezes relacionado aos ancestrais de Genghis Khan (tal qual ao lobo Borte-Chino[24]).

Atualmente, as variações da designação da língua baseiam-se no exônimo russo, e, consequentemente, ainda mantém parte do significado original.

Distribuição editar

Distribuição geográfica editar

 
Buriates da região da Transbaicália

Caçadores e coletores, os primeiros buriatos se estabeleceram nas regiões ao redor do Lago Baical, buscando fugir das perseguições do lamaismo (budismo tibetano) por volta do século X[9], e atualmente encontram-se dispostos entre os territórios administrativos da Rússia, da Mongólia e da China.

A maioria dos falantes encontra-se nos territórios da Rússia, na República da Buriácia, com uma população de 272,910 habitantes, no distrito da Aga-Buriácia, na província Tchita, situada no oeste da Buriácia, com uma população de cerca de 45,150 e no distrito Ust-Orda Buriácia, na província de Irkutsk, com aproximadamente 53,600 habitantes[7][9].

Também na Mongólia é possível encontrar uma população étnica com números próximos a 40,600. Por fim, os buriatos compõem uma comunidade na China, principalmente na região da Mongólia Interior, onde contam com cerca de 20,000 habitantes[7][9].

Devido às influências russas e mongólico-tibetanas, principalmente no que tange a religião: a adesão do cristianismo ortodoxo e do budismo em certas regiões, respectivamente, os buriatos passaram a ser divididos entre orientais e ocidentais:

  • Orientais, os situados a leste do Lago Baical, que por influência mongol, são praticantes do budismo e seguem suas práticas culturais[9].
  • Ocidentais, aqueles habitantes do oeste do Lago Baical, majoritariamente cristãos, e influenciados pela cultura russa[9].

Dialetos editar

O Buriato pode ser dividido em múltiplos dialetos que se diferenciam de forma em geral nos aspectos fonéticos e culturais, preservando quase uniformemente a morfologia e sintaxe[25].

  • Khori: O maior grupo étnico dentre os buriates, falado a leste do Lago Baical, o Khori também compreende os dialetos Aga, Tugnui, e Selenga do Norte. Os seus falantes habitam a Mongólia, bem como, algumas regiões da China (Mongólia Interior).[26][27]
  • Tsongul e Sartul: Considerados uma transição entre o buriato e o Khalkha, dialeto mongol, os falantes do Tsongul e Sartul vivem na região ao sul do Lago Baical.[26][27]
  • Ekhirit–Bulagat: Dominantes nas regiões do distrito Ust-Orda e nas localidades adjacentes situados a oeste do Lago Baical, o grupo dos dialetos Ekhirit–Bulagat compreende também os dialetos Bokhan, Ol’khon, Barguzin, and Baikal–Kudara.[26][27]
  • Alar–Tunka: Falado pelos habitantes do sudoeste do Lago Baical, o grupo dos dialetos Alar-Tunka compreende também membros dos dialetos Alar, Tunka–Oka, Zakamna, and Unga. Estes estão recentemente transicionando para o lado mongol da fronteira.[26][27]
  • Lower Uda: Moradores da periferia oeste do território da Buriácia, o dialeto Lower Uda é considerado a mais isolada variação dentro da árvore do buriate, dado a presença de elementos provenientes das línguas turcas, além de adstratos e substratos de outras línguas possivelmente não mongólicas.[26][27]
  • Bargu: Falado desde os séculos XVII e XVIII, o Bargu (composto por sua variações velha - Chibchin - e nova) é o dialeto comum dos habitantes da região da Liga Hulunbuir, que inclue localidades como a Manchúria.[26][27]

Dentre estes, é relevante destacar o papel desempenhado pelas variações Tsongul-Sartul e Khori, já que, a primeira, por motivos políticos, foi a primeira língua literária oficial dos buriates, sendo eventualmente trocada pela variação Khori, mais numerosa.[26]

Línguas relacionadas editar

Khalkha editar

Fonte para criação do alfabeto cirílico mongol[28] o Khalkha, um dos possíveis ancestrais do buriato, nativo da região da Mongólia, compõe o tronco dos dialetos do mongol central e o grupo das línguas mongólicas não-arcaicas, sendo esse um dos motivos de ambos apresentarem diversas similaridades linguísticas, tais quais[5]:

  • A ausência da inicial h, em palavras que apresentam esse aspecto nas variações arcaicas, como pode ser visto em:
H em línguas mongólicas
Mongol-médio (arcaico) Khalkha Buriato Significado
hodun odun odon Estrela
  • A fricatização (mudança de plosiva para fricativa) do q no grupo não-arcaico:
Fricatização do q
Mongol-médio (arcaico) Khalkha Buriato Significado
yaqai gaxai gaxai Porco

Essas similaridades tornam se ainda mais predominantes em variações do buriato mais próximas à Mongólia, como o Congol e o Tsongol-Sartul[nota 5][29], alguns exemplos são[30][29]:

  • No Congol, assim como no Khalkha, algumas palavras permaneceram com s, apesar de não manterem essa característica no buriato
S no Khalha e Congol
Khalkha/Congol Buriato Significado
sara hara Lua
  • No Congol e no Khalkha, os grafemas či/ ǰi permanecem, sendo susbtituídos no buriato
či/ ǰi no Khalkha e Congol
Khalkha/Congol Buriato Significado
ǰoro žoro Esquipador
  • A perda de vogais solitárias em sílabas não iniciais, comum no Tsongol-Sartul, podia ser encontrada em algumas variações do Khalkha
Vogais solitárias
Original (mongol) Tsongol-Sartul Significado
tala tal Estepe

As semelhanças culturais e linguísticas influenciaram o estabelecimento da primeira língua literária oficial da Buriácia, baseada no dialeto Tsongol-Sartul, para que a comunicação entre o povo mongol e os buriatos fosse mais fluida e sua conexão mais próxima[26].

Evenki e Iacuto editar

Também o Evenki e o Iacuto, línguas altaicas túrquicas da região da Sibéria, apresentam similaridades com o buriato, em virtude do provável contato entre estas durante o processo de formação dessas línguas, comprovados pelos empréstimos linguísticos observados pelo pesquisador Larry V. Clark.[31] Ainda atualmente, grande quantidade de evenkis residem na região da Buríácia.

Fonologia editar

Vogais editar

Consoantes editar

Tons editar

Ortografia editar

Sistemas de escrita editar

Gramática editar

Pronomes editar

Pessoais editar

Possesivos editar

Substantivos editar

Verbos editar

Conjugação editar

Partículas editar

Sentença editar

Ordem da frase e alinhamento editar

Sentenças complexas (construções com foco) editar

Vocabulário editar

Poemas editar

Aqui está um poema escrito pelo poeta buriato Namzhil Shirabovich Nimbuev (Нимбуев Ширабай Намжал):

ЧЕЛОВЕК И МОРЕ[32] - Нимбуев Ширабай Намжал

Являлся на берег
поплакаться морю в жилетку.
Но море сердито молчало,
и ветер высушивал слезы. 

...Домой возвращался стыдливо,
мурлыкая что-то под нос.

O HOMEM E O MAR - Namzhil Shirabovich Nimbuev

Desembarquei
chorei para o mar em meu colete.
Mas o mar estava furiosamente silencioso,
e o vento secou as lágrimas.

...voltei para casa timidamente,
cantarolando algo baixinho.

Expressões do dia-a-dia editar

Aqui estão algumas expressões cotidianas[10] em buriato:

Expressões
Buriato Pronúncia Português
Сайн байна! [saɪn baɪna] Oi! (Como você está?)
Сайн! [saɪn] Oi! (Estou bem)
Би Эмили гэжэ нэрэтэйб. [bi ɛmili gɛʒɛ nɛrɛtɛɪb] Meu nome é Emily
Ши хэн гэжэ нэрэтэйбши? [ʃi χɛn gɛʒɛ nɛrɛtɛɪbʃi] Qual é o seu nome?
Ши хаана түрѳѳбши? [ʃi χaːna tyrɵːbʃi] Onde você nasceu?
Ши моритой гүш? [ʃi moritɔɪ gyʃ] Você tem um carro?
Би шамда дуратайб. [bi ʃamda durataɪb] Eu te amo.
Һайн даа. [haɪn daː] Obrigada.
Баяртай! [bajartaɪ] Tchau.

Menções editar

Referências

  1. «Buryat». Center for Language Technology (em inglês). Consultado em 21 de março de 2024 
  2. Latypova, Leyla (13 de março de 2023). «Languages in Russia Disappearing Faster than Data Suggests, Activists Warn». The Moscow Times (em inglês). Consultado em 21 de março de 2024 
  3. Bauer 2007, pp. 242.
  4. a b «Você sabia que o Eastern Buryat está vulnerável?». Idiomas em risco. Consultado em 22 de março de 2024 
  5. a b c Khabtagaeva 2013, pp. 158.
  6. «Strengthening Buryat Pride Through Shatar | Cultural Survival». www.culturalsurvival.org (em inglês). 15 de junho de 2023. Consultado em 23 de março de 2024 
  7. a b c d Khabtagaeva 2013, pp. 155.
  8. V. Clark 1979, pp. 15.
  9. a b c d e f Skribnik 2003, pp. 102.
  10. a b «Buryat pamphlet» (PDF). Center for Languages of the Central Asian Region - Indiana University. Consultado em 22 de março de 2024 
  11. T. Sodnomov, Sonombal (2020). «On The Question of Teaching Buryat Language in Modern Conditions». UERN. Grupo de Pesquisas em Lazer, Turismo e Trabalho (GEPLAT). 2316-1493: 1. Consultado em 22 de março de 2024 
  12. Batorova, Dulma (2 de março de 2022). «The Troubled State of Buryat Language Today». Culture Survival. Consultado em 22 de março de 2024 
  13. «Язык и культура современных бурят: Information about the Buryat Language». Язык и культура современных бурят (em inglês). Consultado em 23 de março de 2024 
  14. Latypova, Leyla (13 de março de 2023). «Languages in Russia Disappearing Faster than Data Suggests, Activists Warn». The Moscow Times (em inglês). Consultado em 21 de março de 2024 
  15. «Russia's federal constituent entities». Federation Council of the Federal Assembly of the Russian Federation (em inglês). Consultado em 23 de março de 2024 
  16. «Buryats in the Russian Federation». Minority Rights Group (em inglês). Consultado em 23 de março de 2024 
  17. V. Clark 1979, pp. 14.
  18. a b «LAKE BAIKAL IN THE BURYAT FOLKLORE». Baikal-Lake. Consultado em 22 de março de 2024 
  19. a b «Центральноазиатский исторический сервер». web.archive.org. 1 de novembro de 2010. Consultado em 23 de março de 2024 
  20. Boronoyeva, Darima (2006). «Buryat Chronicles as Historical Sources of Buryat Ethnicity: A Reconstruction of a Hierarchical Structure of Ethnic Identity». Mongolian Studies: 1–40. ISSN 0190-3667. Consultado em 23 de março de 2024 
  21. a b c Nanzatov, Bair Z. (2016). «К ВОПРОСУ О РАННЕЙ ЭТНИЧЕСКОЙ ИСТОРИИ БАРГУ-БУРЯТСКОЙ ОБЩНОСТИ». Bulletin of the Kalmyk Institute for Humanities of the Russian Academy of Sciences (1). 99 páginas. ISSN 2075-7794. Consultado em 23 de março de 2024 
  22. «Буряад юртэмсэ». buryadxelen.com. Consultado em 23 de março de 2024 
  23. LeGrys, Samuel (2009). «Grey to Green: The Wolf as Culture and Profit in Mongolia and the Importance of Its Survival». SIT Graduate Institute/SIT Study Abroad: 14. Consultado em 23 de março de 2024 
  24. a b de Rachewiltz, Igor (1970). «The Secret History of the Mongols». The Mongolia Society Bulletin (1 (16)): 55–69. ISSN 0026-9654. Consultado em 24 de março de 2024 
  25. N. Poppe 1960, pp. 2.
  26. a b c d e f g h Skribnik 2003, pp. 104.
  27. a b c d e f Khabtagaeva 2013, pp. 159.
  28. Claude H. Potts, Curator (13 de junho de 2021). «Mongolian Cyrillic (Khalkha)» (em inglês). Consultado em 30 de março de 2024 
  29. a b V. Clark 1979, pp. 17.
  30. Janhunen 2003, pp. 183.
  31. V. Clark 1979, pp. 18.
  32. «Намжил Нимбуев. Его стихи». web.archive.org. 14 de novembro de 2018. Consultado em 24 de março de 2024 

Notas

  1. Tradução livre: Cis-Baicaliano.
  2. Tradução livre: Trans-Baicaliano.
  3. 1. Grupo étnico ligado aos buriates, moradores das proximidades do Rio Selenga. 2. Como ainda é conhecida a variante do idioma buriato utilizado na China
  4. Tradução livre de Transbaikalia
  5. No século XVII e XVIII, esses dialetos já foram considerado uma variante do Khalkha, falados no lado russo da fronteira

Bibliografia editar