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Maria Alice segurando seu bolo de aniversário, 2017
Nome completo Maria Alice da Silva Costa
Nascimento 14 de julho de 1959 Mombaça, Ceará
Nacionalidade Brasileira
Cônjuge Antonio Francisco Mendes Costa
Ocupação Camelô
Filhos Michel Silva Costa Wallace da Silva Costa
Religião Evangélica

Maria Alice da Silva Costa (Mombaça, Ceará, 14 de Julho de 1959) É uma mulher, mãe e trabalhadora Brasileira.

Vida editar

Maria Alice da Silva Costa (Mombaça, Ceará, 14 de Julho de 1959) filha de Maria Severina Isidorio e Antonio Francisco da Silva, ambos trabalhadores rurais. Irmã de Maria Aldeni, Francisca Iraides, Dé Moura e Antonio Gentil. Mãe de Michel Silva Costa e Wallace da Silva Costa.

Infância e adolescência editar

Seus primeiros anos de vida foram na roça, cercada de muitas brincadeiras e do trabalho precoce. Sua família vivia nos fundos de um sitio, a sub-existência se dava pelo cuidado da roça e dos animais, em troca tinham parte da colheita e a moradia, sem nenhuma remuneração em dinheiro pelo trabalho, o que se entende como Meeiros[1] (Adjetivo substantivo masculino. que ou aquele que planta a meias com o dono do terreno, a quem tem de dar parte do rendimento da plantação).

Naquele tempo sua cidade natal vivia longos períodos de seca extrema, o que dificultava e muito a vida por lá.

Devido a escassez, e falta de opções, sua mãe Maria Severina, a mandou para trabalhar em casas de família, ainda adolescente, para o cuidado da casa, de outras crianças e até de idosos, em troca de alimentação e estadia. O que também aconteceu com suas irmãs Maria Aldeni e Francisca Iraides.

Maria e o Landuá editar

(Landuá: 1.Pequena rede presa a uma armação de madeira, redonda ou triangular, usada em pescarias. Em diferentes localidades do Brasil pode ser chamado de: Jereré e Passaguá).

Nos anos 60 quando Maria Alice ainda era criança, na sua terra natal, durante um longo período de seca extrema, houve um fato um tanto curioso que a própria conta somente para seus íntimos, trata de um "milagre dos peixes".

Maria Alice relata da seguinte forma: "A gente estava em casa, todos ao redor da mesa, lembro que a Di estava chorando de fome e meu pai lá na frente, na ponta da mesa, bem abatido e fraco, ninguém sabia o que fazer. Minha mãe viu aquilo e saiu caminhando devagar até a porta, foi até o terreiro, eu fiquei olhando tudo aquilo de longe, da visão que tinha, via ela bem no centro da porta, vi ela lá fora levantando os braços, não escutei o que disse, parecia rogar, rezar aos céus. em seguida ela voltou para dentro.

Era um dia quente e de muito sol, que de repente mudou, o céu começou a escurecer e relampear avisando a chegada da chuva.

Fui até minha mãe e falei para ela colocar a panela no fogo, que eu iria pescar, ela ficou sem reação, mas mesmo assim fez o que pedi. Peguei o landuá e chamei a Irá para ir pescar no açude comigo, Irá não queria vir, achava que eu estava louca, mas insisti e ela veio. A chuva estava forte e fazia muito tempo que não chovia lá.

Cheguei até o açude e coloquei o landuá na água e ele voltou cheio de peixes, não podia acreditar, falei para Irá ir correndo avisar o Dé para ele chamar os vizinhos para virem pescar também. Ele foi, mas ninguém acreditou, eles disseram: "Oxente[2] como pode ter peixe, se começou a chover agora, faz ano que não chove aqui".

Quando cheguei em casa com aqueles peixes, meus pais não podiam acreditar no que viam, eles só conseguiam dar risada.

Naquela noite todos os vizinhos comeram em casa".

 
Revista Veja, Ed 654 de 18 de Março de 1981 - Os flagelados de Mombaça, Ceará - A seca do século.
 
Maria Alice, retrato 3x4 - 1980

Partida para São Paulo editar

Na virada dos anos 70 para os anos 80, boa parte do Nordeste vivia uma seca excepcional, o que contribuiu para o grande êxodo de retirantes para o sul do Brasil.

Maria Alice também foi uma das centenas de milhares de pessoas que se viu forçada a sair da sua terra e ir atrás de uma vida melhor. Foi a primeira da família a partir para São Paulo.

Chegou em 1983 de ônibus no bairro da Baixada do Glicério, foi recebida por uma conterrânea[3], que a levou para morar no mesmo quarto em uma pensão na Rua São Joaquim[4]. Dois dias depois da sua chegada já conseguiu seu primeiro serviço em São Paulo, numa fábrica de materiais plásticos no Glicério e depois numa fábrica de fraldas no bairro do Cambuci, ficou lá até 1989, quando ficou grávida do seu primeiro filho. Durante esse tempo conciliou o cuidado do filho com vendas de cosméticos, até 1992, quando conseguiu um trabalho de ascensorista.

Brás editar

 
Maria Alice na sua banca, na esquina da Rua Maria Marcolina com a Rua Oriente, Brás. 2017

Em 1998 ela foi trabalhar como camelô no Largo da Concórdia no Brás, vendendo lanches. Ficou lá até 2006, quando houve uma operação de desapropriação da prefeitura[5] da cidade, na então gestão do prefeito Gilberto Kassab. Operação que foi feita de forma totalmente sorrateira[6], de madrugada e sem comunicar ninguém. Assim como outros trabalhadores, Maria só soube quando chegou para pela manhã, viu todo o largo em ruínas e sua banca destroçada, com todos seus utensílios dentro, como: geladeira, freezer, chapa, estufa entre outros.[7]

Sem lugar para trabalhar e com sua documentação suspensa, (TPU - Termo de Permissão de Uso - Prefeitura de SP[8]), ela foi obrigada a seguir e achar outro meio de obter renda. Enquanto não conseguia outro ponto no Brás, ela foi trabalhar de faxineira em casas de família e em uma academia.

Em 2007 conseguiu um novo ponto para trabalhar, na esquina da Rua Maria Marcolina[9] com a Rua Oriente[10], mas desta vez a prefeitura[11] não forneceu mais nenhuma licença para vender alimentos, Maria Alice teve que se reinventar e começar a vender roupas.

Ela se encontra atualmente no mesmo ponto, mas as lutas são sempre as mesmas com a polícia a guarda metropolitana e a cada mandato com as politicas higienistas do estado.

Arte Cidade 4 - Dias & Riedweg - Mera Vista Point editar

 
Página do Livro "Arte/Cidade Zona Leste" de Nelson Brissac Peixoto, que mostra o retrato em preto e branco de Maria Alice sobre as lonas.

No ano de 2000, Maria Alice foi um dos personagens no projeto intitulado "Mera Vista Point[12]" de arte e intervenção urbana, dos artistas visuais Maurício Dias e Walter Riedweg[13][14], para o Arte Cidade 4 Zona Leste.

Sobre o projeto editar

" Intervenção urbana em mercado de rua comissionado por Nelson Brissac Peixoto[15] e Sesc São Paulo para Arte Cidade 4 Zona Leste[16] 2000 - 2002.

Foram realizados 33 vídeos de um minuto com 33 camelôs do mercado popular do Largo da Concórdia, em São Paulo. Em meio às barracas, foi construída uma torre de seis metros de altura, sobre a qual foi elevada a tenda de lanches local. Por isso, essa recebeu o nome de Mera Vista Point[17]. Dali, era possível ver todo o Largo acima das outros tendas e portanto, as 33 telas fotográficas com grandes retratos em preto e branco dos vendedores que participaram do projeto que as recobriam. A intervenção completou-se com a distribuição de 33 conjuntos de monitores e aparelhos de DVD aos 33 vendedores, que, assim, puderam exibir continuamente em suas barracas os vídeos de publicidade de seus produtos, editados pelos artistas.


O Largo da Concórdia era então a maior concentração de vendedores informais do Brasil, um popular shopping center a céu aberto. Nos vídeos de Dias & Riedweg[18][19], os vendedores falam sobre os produtos que vendem, em sua maioria pelo preço de um Real. Esses vídeos foram exibidos como comerciais na TV e atraíram ao Largo pessoas de outras realidades econômicas. Distribuídos entres os vendedores, eles não podiam ser adquiridos em galerias de arte. Foram dados gratuitamente pelos camelôs, como um bônus, a qualquer um que comprasse mais do que uma determinada quantia de seus produtos, o que contribuiu para aumentar em mais de 300% as vendas locais nos meses da intervenção". (Trecho do Catálogo "Dias & Riedweg - Histórias frias e chapa quente", 2014 - Casa França-Brasil). [20] [21][22]

Curiosidades editar

 
Maria Alice tomando café, 2017.

Maria Alice gosta de café doce, de tomar chá a noite, antes de dormir, principalmente capim santo, gosta também de chocolate branco, sequilho, de plantas, de croché em cimas dos moveis da casa. Ela congrega na igreja Casa Firme unidade da Santa Cruz.

Referências

  1. «Meeiro». Dicio. Consultado em 6 de maio de 2022 
  2. «Oxente». Dicio. Consultado em 6 de maio de 2022 
  3. «Conterrâneo». Dicio. Consultado em 6 de maio de 2022 
  4. «R. São Joaquim - Liberdade · Liberdade, São Paulo - SP, 01508-001, Brasil». R. São Joaquim - Liberdade · Liberdade, São Paulo - SP, 01508-001, Brasil. Consultado em 6 de maio de 2022 
  5. «Home — Prefeitura». www.capital.sp.gov.br. Consultado em 6 de maio de 2022 
  6. «Sorrateiro». Dicio. Consultado em 6 de maio de 2022 
  7. «Após 16 anos de ocupação desordenada, Largo da Concórdia é reurbanizado | Secretaria Especial de Comunicação | Prefeitura da Cidade de São Paulo». www.prefeitura.sp.gov.br. Consultado em 2 de maio de 2022 
  8. «Tô Legal». tolegal.prefeitura.sp.gov.br. Consultado em 3 de maio de 2022 
  9. «R. Maria Marcolina - Brás · Brás, São Paulo - SP, 03011-000, Brasil». R. Maria Marcolina - Brás · Brás, São Paulo - SP, 03011-000, Brasil. Consultado em 6 de maio de 2022 
  10. «R. Oriente - Brás · Brás, São Paulo - SP, Brasil». R. Oriente - Brás · Brás, São Paulo - SP, Brasil. Consultado em 6 de maio de 2022 
  11. «Home — Prefeitura». www.capital.sp.gov.br. Consultado em 6 de maio de 2022 
  12. «arte/cidade - zona leste». www.pucsp.br. Consultado em 20 de abril de 2022 
  13. Cultural, Instituto Itaú. «Dias & Riedweg». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 20 de abril de 2022 
  14. «Galeria Vermelho - Dias & Riedweg». Galeria Vermelho. Consultado em 20 de abril de 2022 
  15. «Nelson Brissac — IEA USP». www.iea.usp.br. Consultado em 18 de abril de 2022 
  16. «arte/cidade - zona leste». www.artecidade.org.br. Consultado em 18 de abril de 2022 
  17. «arte/cidade - zona leste». www.pucsp.br. Consultado em 18 de abril de 2022 
  18. Cultural, Instituto Itaú. «Dias & Riedweg». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 14 de abril de 2022 
  19. «Galeria Vermelho - Dias & Riedweg». Galeria Vermelho. Consultado em 18 de abril de 2022 
  20. «Casa França Brasil». fcfb.hospedagemdesites.ws. Consultado em 18 de abril de 2022 
  21. «Túnel do tempo». seLecT. 7 de outubro de 2014. Consultado em 18 de abril de 2022 
  22. «Canal Contemporâneo | Blog do Canal | Dias & Riedweg na França-Brasil, Rio de Janeiro». www.canalcontemporaneo.art.br. Consultado em 18 de abril de 2022 


Ligações externas editar