Verbete é um texto escrito, de caráter informativo, destinado a explicar um conceito segundo padrões descritivos sistemáticos, determinados pela obra de referência; mais comumente, um dicionário ou uma enciclopédia.[1] O verbete é essencialmente destinado a consulta, o que lhe impõe uma construção discursiva sucinta e de acesso imediato, embora isso não incorra necessariamente em curta extensão. Geralmente, os verbetes abordam conceitos bem estabelecidos em algum paradigma acadêmico-científico, ao invés de entrar em polêmicas referentes a categorias teóricas.

Contexto editar

De circulação editar

Originalmente, as obras de referência compostas de verbetes eram publicadas como tomos. Atualmente, esse formato tem sido largamente superado pela publicação digital, cujas vantagens refletem-se principalmente em sua estrutura.

De interlocução editar

Desde a sua origem, o verbete, como componente de uma obra de referência, é predominantemente destinado a um leitor universal. Ainda que existam muitos dicionários técnicos e enciclopédias especializadas em diversas áreas do conhecimento; e ainda que a tendência à síntese que é característica do gênero muitas vezes dificulte para os leigos a compreensão de verbetes referentes a assuntos mais obscuros ou complexos; ainda assim, o princípio que norteia a própria existência do verbete professa que o conhecimento sistemático é acessível a qualquer indivíduo dotado de razão lógica.

O perfil dos autores de verbetes, contudo, tem-se modificado bastante no século XXI. Até então, o produtor prioritário de um verbete seria um especialista na área do conhecimento responsável por estudar o conceito a ser explicado. Armado de um cabedal teórico aprovado pela comunidade acadêmica como relevante para compreender o assunto em questão, o especialista, e apenas ele, estaria autorizado a transmitir os conhecimentos necessários à sua compreensão a qualquer interlocutor. Recentemente, porém, o sucesso de enciclopédias livres vem alterando esse paradigma em favor de uma relação imediata e fluida entre a sociedade em larga escala e o conhecimento: o controle das informações relevantes à explicação de conceitos é coletivamente exercido, e os valores de verdade antes determinados pela comunidade acadêmica passam a ser influenciados por um espectro mais amplo da sociedade.

Sócio-histórico editar

As obras de referência em geral, e os dicionários em particular, têm origens históricas difusas e de difícil determinação. A Encyclopédie, contudo, é um marco do Iluminismo do século XVIII, e pode ser considerada matriz das enciclopédias e da maioria das outras obras de referência posteriores. Logo, o verbete é um gênero discursivo derivado da cultura racionalista, cientificista e tecnocrática que, tendo suas raízes na filosofia iluminista, domina a Idade Contemporânea.

Dessa cultura emergem as noções de: leitor universal, a quem se destina o texto (vide acima); autor especialista, que através do exercício individual e soberano da razão, legitima-se como esclarecedor das massas (vide acima); e atomização estrutural do conhecimento, que justifica a criação de obras de referência compostas de tópicos explicativos sistematicamente construídos, mas que podem ser consultados em total isolamento uns dos outros, em analogia com a divisão do saber filosófico em disciplinas acadêmico-científicas. Essa última consequência do paradigma iluminista vem sendo reformulada pelo advento do hipertexto (vide abaixo).

Linguagem editar

Por sua pretensão universalista e pela posição respeitável que ocupa no sistema de valores da cultura racionalista, espera-se que todo verbete siga as normas padrão de uso da língua escrita, em um nível elevado de formalidade.

Por sua natureza sistemática e por ser destinado a consulta, espera-se que a linguagem do verbete seja também o mais objetiva possível. As consequências gramaticais desse princípio são: no nível lexical, precisão na escolha dos termos e ausência de palavras que expressem subjetividade (opiniões, impressões e sensações); no nível sintático, simplificação das construções; e no nível estilístico, denotação (ausência de ornamentos e figuras de linguagem).

É comum a presença de terminologia especializada na construção do verbete, embora sua frequência varie conforme o público consumidor da obra de referência em que se insere o texto.

Elementos de linguagens não-verbais (especialmente pictóricos) são tradicionalmente agregados ao verbete com função de esclarecimento.

Estratégias comunicativas editar

O verbete é as funções da linguagem propostas por Roman Jakobson, a referencial é francamente dominante no âmbito do verbete.

A elaboração do verbete reflete o conflito seminal que define a elegância científica: a negociação constante entre síntese e exaustividade. Os padrões do gênero valorizam tanto a brevidade e a abordagem direta dos temas quanto o detalhamento e a completude da informação.

Estrutura editar

Microestrutura editar

O verbete é sempre iniciado por uma entrada. Embora o termo "entrada" seja às vezes usado como sinônimo de "verbete", é mais apropriado considerar que a entrada seria o "título" do verbete - a palavra que denomina o conceito a ser explicado, encabeçando o verbete e permitindo sua indexação. Uma lista telefônica e um índice remissivo, por exemplo, têm entradas, mas não são verbetes: cada um dos tópicos dessas obras de referência é associado a um número, e não a uma explicação. No caso de um dicionário, as entradas serão palavras individuais. No caso de uma enciclopédia, uma entrada pode compor-se de várias palavras, formando uma expressão coesiva e reconhecível que denomine um conceito a ser individualmente explicado.

A entrada do verbete é seguida de sua definição, o mais resumida e completa possível. A definição se estabelece como uma relação de igualdade entre o termo que serve de entrada ao verbete e um outro termo mais complexo, formado por descrição abstrata do conceito trabalhado. As abstrações movidas para construir esse segundo termo comumente fazem referência a uma disciplina acadêmico-científica específica, uma área do conhecimento que forneça categorias teóricas capazes de caracterizar o assunto do verbete.

Desenvolvimentos posteriores do verbete serão aprofundamentos da definição, considerados, pelo autor, necessários à compreensão sólida do conceito trabalhado. No caso de um dicionário, essa etapa de aprofundamento quase sempre será formada por exemplos concretos de construções linguísticas em que a palavra explicada pode ser utilizada. No caso de uma enciclopédia, a contextualização (especialmente histórica, ou em termos do campo de conhecimento científico que fornece instrumentos à compreensão do tema) e o detalhamento do conceito abordado podem gerar longas descrições, muitas vezes organizadas por subtítulos.

Macroestrutura editar

Diversos verbetes são reunidos de maneira ordenada para formar uma obra de referência. Considerando-se que as obras de referência são destinadas a consulta, a indexação dos verbetes que as compõem deve ser o mais eficaz possível, de maneira a facilitar ao máximo a busca das entradas relevantes a cada situação de leitura.

As obras publicadas em tomo quase sempre seguem o critério alfabético de indexação, que mostra-se altamente eficiente para dicionários, mas nem tanto no caso de enciclopédias (pois as muitas possibilidades de sinonímia diminuem a previsibilidade das entradas). As obras publicadas digitalmente beneficiam-se em larga escala de ferramentas de busca e do recurso ao hipertexto. A abundância de hiperlinks que se apresenta ao leitor de uma obra de referência digital permite a leitura pluridirecional dos verbetes e a seleção particular de informações relevantes.

Ver também editar

Referências

  1. verbete in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2018. [consult. 2018-02-08 14:15:48]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/verbete