Wikipédia:Esplanada/geral/Português angolano (13fev2023)

Português angolano (13fev2023)

Boas,

Gostaria de fazer uma consulta em relação ao uso do chamado português angolano, que sendo facilmente perceptível na linguagem oral, como o próprio artigo diz é tudo menos óbvio na linguagem escrita. Neste momento, creio que predefinições como as {{PBPE}} e {{PBPE2}} somente referenciam:

  1. palavras alternativas em português, que com toda a probabilidade nem são de uso nacional, se é que não são mesmo de uso residual. Por exemplo, quem acha que em Angola só se usa machimbombo para autocarro, desengane-se, pois não podia estar mais enganado. O mesmo ocorre com Moçambique. Curiosamente, e usando como medida o conteúdo indexado pelo Google, em qualquer dos dois países o uso de machimbombo é nada menos que residual. De resto, este está longe de ser caso único.
  2. Termos crioulos, patoás, tomados de empréstimo de diversas línguas nativas e gírias que de facto não pertencem à língua portuguesa ou a sua norma culta, como os referidos aqui.

Eu próprio não noto qualquer diferença no português em textos publicados em Angola e Moçambique, excluindo as habituais liberdades literárias. Venho, então, consultar a comunidade sobre a pertinência de se continuar a usar pt-AO em predefinições como se realmente existisse enquanto versão escrita de português, e propôr a sua exclusão das ditas, já que o seu uso para referenciar palavras que não são características do português falado nesses países acaba sendo um desserviço a todos, e em particular aos editores e leitores dessas nações. Ou, sendo para manter, que seja com uma fundamentação sólida para o seu uso, que até agora não existe. Ping @Manuel de Sousa. Darwin Ahoy! 19h47min de 13 de fevereiro de 2023 (UTC)[responder]

  Comentário Finalmente alguém chama à atenção para o problema. Todas essas supostas variantes parecem-me invenções e fantasias que se foram enraizando na Wikipédia. Só existem duas variantes da língua portuguesa: uma que é falada em Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e tem estatuto de língua oficial em Macau e Timor. E outra, que é falada no Brasil.
O Português falado no Brasil tem efetivamente regras ortográficas e gramaticais diferentes de todos os restantes países lusófonos. No entanto, a variante falada em Portugal, nos PALOPs, Timor e Macau é igual e rege-se exatamente pelas mesmas normas. Pegue-se num jornal escrito em Luanda e não há diferença nenhuma para um jornal escrito em Lisboa ou Maputo. Mas há para um escrito em São Paulo.
A razão disso acontecer é manifestamente óbvia: o Brasil é independente há 200 anos, e foi-o numa época em que a fixação de regras e a literacia eram ainda incipientes. Portanto, é mais do que natural que a língua tenha divergido significativamente. Mas isso não aconteceu nos restantes territórios, que só foram independentes entre 1975 e 1999, numa época contemporânea.
Essa fantasia e invenção de não sei quantas variantes parece ter origem na existência de pronúncias diferentes e de alguns regionalismos. No entanto, nada disso é suficiente para determinar uma variante. Qualquer variante tem pronúncias diferentes conforme a região do país. A pronúncia do norte de Portugal é diferente da do Sul. Da mesma forma, qualquer variante de qualquer língua tem regionalismos dentro do próprio país; isto é, palavras que são comuns numa região para descrever qualquer coisa, mas que são estranhas noutra região, e isso acontece frequentemente entre o norte e sul de Portugal e o norte e sul do Brasil, por exemplo. JMagalhães (discussão) 10h37min de 14 de fevereiro de 2023 (UTC)[responder]

  Comentário Concordo com o que diz o Darwin em relação ao chamado português angolano. Por regra, num registo formal, não são percetíveis diferenças em relação ao português europeu. Não estou aqui a considerar a questão do uso do AO1945 ou do AO1990.

No entanto, não podemos afirmar que não exista uma variante angolana da língua portuguesa. Há particularidades locais que, já há muitos anos, aparecem refletidas na literatura angolana, nos romances de Luandino Vieira, Agualusa ou Ondjaki. Ou seja, há uma forma angolana de falar português que não é provável que se desvaneça. Neste momento, são particularidades mais percetíveis na oralidade do que na escrita, que é, por regra, mais formal. Mas não se limitam a pronúncias locais e a meia dúzia de regionalismos.

Em 2014, a língua portuguesa era já o primeiro idioma falado em casa por 71% dos angolanos. Atualmente, serão ainda mais. É verdade que faltam ainda estudos aprofundados, faltam gramáticas e dicionários feitos em Angola que reflitam a realidade local, mas é indesmentível que existe uma variante angolana do português, muito moldada pelo contacto com as línguas africanas. O facto do uso língua portuguesa se estar a massificar em Angola, torna-a invariavelmente uma língua nacional angolana, com tudo o que isso possa implicar. Manuel de Sousa (discussão) 15h57min de 19 de fevereiro de 2023 (UTC)[responder]

@Manuel de Sousa Também não tenho dúvidas que exista uma forma de falar angolana. De escrever, é que já me parece que não é bem assim. Não noto qualquer diferença entre a norma culta angolana e a de Portugal ou outros países lusófonos, com a excepção do Brasil. Darwin Ahoy! 11h39min de 6 de março de 2023 (UTC)[responder]
Sim, Darwin. Como eu comecei por escrever acima «Por regra, num registo formal, não são percetíveis diferenças em relação ao português europeu». No entanto, os estudiosos são unânimes em reconhecer que os angolanos usam o português de uma forma própria que já não é (se calhar, nunca foi) igual à de Portugal, desde logo na oralidade. Ou seja, o português angolano não é uma invenção da Wikipédia.
Se virmos no caso do inglês, para além do inglês britânico e do inglês americano (que poderiam ser comparáveis ao português europeu e ao português do Brasil), existe uma miríade de dialetos e pronúncias pelo mundo fora, reunidos neste quadro. E, às vezes, as diferenças não são muito pronunciadas. Por exemplo, no caso do inglês da Irlanda. No artigo respetivo na wiki-EN escreve-se «Irish English's writing standards, such as its spelling, align with British English. However, Irish English's diverse accents and some of its grammatical structures and vocabulary are unique, with some influences deriving from the Irish language...». Será um pouco isto que também se passa em relação ao português angolano.
Seja como for, concordo que o uso da predefinição pt-AO deva ser feito com muita parcimónia, para que não se confundam usos populares – caso do machimbombo – com a norma culta. Mas, por exemplo, a palavra candongueiro que, em Portugal, geralmente significa contrabandista, em Angola geralmente refere-se a «veículo privado de transporte coletivo de passageiros» (como se indica na Infopédia - Dicionários Porto Editora). Este é um exemplo em que a predefinição pt-AO é apropriada, já que a palavra candongueiro é amplamente usada em todos os contextos, incluindo o formal. Abraço, Manuel de Sousa (discussão) 01h13min de 12 de março de 2023 (UTC)[responder]
@Manuel de Sousa Olá Manuel, muito obrigado pelas valiosas explicações. Darwin Ahoy! 01h30min de 12 de março de 2023 (UTC)[responder]