Alexandre Elói Portelli
Alexandre Elói Portelli (Lisboa, Mercês, ? – Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1838) foi um engenheiro militar português que serviu à Coroa lusitana durante várias décadas no Brasil, onde participou dos processos de demarcação das fronteiras na Capitania de Rio Grande de São Pedro e ocupou diversos postos militares.
Alexandre Elói Portelli | |
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Dados pessoais | |
Morte | 21 de fevereiro de 1838, Rio de Janeiro, Brasil |
Nacionalidade | Português |
Cônjuge | Joaquina Marques de Azevedo |
Progenitores | Pai: José Portelli |
Alma mater | Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho |
Vida militar | |
Hierarquia | Tenente-general |
Honrarias | Ordem de São Bento de Avis |
Biografia
editarOrigens e família
editarNasceu em Lisboa, freguesia de Nossa Senhora das Mercês, filho de José Portelli e irmão de Engrácia Rita Portelli, Ana Rita Portelli, Maria Rita Portelli[1], Joaquim José Portelli[2] e João Carlos Portelli, que foi Sargento-mor de artilharia com exercício de secretário da Academia Real de Fortificação.[3] Casou-se com Joaquina Marques de Azevedo, filha do tenente-coronel Manuel Marques de Souza, em 12 de fevereiro de 1793, época em que já tinha uma filha, Flora Maria Alexandrina.[4]
Carreira militar, ascensão social e condecorações
editarApós ter concluído seus estudos no curso matemático da Real Academia de Marinha e da Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho,[5] Portelli assentou praça em 14 de novembro de 1767, exercendo diversos postos e funções tanto em Brasil quanto em Portugal no decorrer dos 14 anos seguintes, até 1781,[1] quando partiu para o Brasil já ocupando o posto de Capitão do Corpo de Engenheiros. Entre os anos de 1767 e 1774, foi nomeado Lente do curso preparatório da Academia do Rio de Janeiro, onde lecionou matemática conforme os planos de aula baseados nas lições editadas nos compêndios de José Fernandes Alpoim.[6]
No referido ano de 1781, Alexandre Elói Portelli ingressou no Brasil, mais especificamente na Capitania de Rio Grande de São Pedro (atual estado do Rio Grande do Sul), compondo a Comissão de demarcação de limites fronteiriços com os domínios hispânicos. No mesmo ano, elaborou o "Plano do terreno em que actualmente se fazem as experiencias da sementeira de Linha Cânhamo por ordem do Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Vice Rey de Estado [...]", mapa que abrange desde a serra dos Tapes até a Lagoa dos Patos.[7] Nesta localidade, foi promovido ao posto de Coronel de engenheiros e designado comandante do batalhão de infantaria e artilharia da dita capitania.[5]
Em solo brasileiro, Portelli escreveu diversos documentos que trazem informações importantes e detalhadas acerca dos serviços que prestou à Coroa Lusitana no País. Entre esses manuscritos está o "Diário de demarcação dos limites entre Portugal e Espanha na América [...]" de 8 de janeiro de 1788, cidade de São João Batista[8]; uma carta destinada a seu irmão, o sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros e lente da Academia Real de Fortificação, Joaquim José Portelli, em 19 de fevereiro de 1802, capitania de Rio Grande de São Pedro, cujo conteúdo diz respeito à conquista do Forte de Cerro Largo e Sete Povos das Missões[2] e uma carta em que Portelli narra fatos a respeito da guerra contra os espanhóis e elogia demasiadamente as virtudes do brigadeiro Francisco João Roscio,[9] a quem ele havia trabalhado na função de ajudante.
Nas décadas seguintes a sua chegada ao Brasil, Portelli galgou consideravelmente na hierarquia militar: subiu para o posto de Sargento-mor em 1790; tenente-coronel no ano seguinte; coronel em 1800; brigadeiro em 1808; marechal-de-campo graduado em 13 de maio de 1811 e efetivo no mesmo dia e mês de 1813; vogal do Conselho Supremo Militar em 1814; tenente-general graduado e conselheiro de guerra em 1818;[10] chefe do comissariado das fortificações do Brasil em 1820 e tenente-general no ano seguinte.[5]
Foi condecorado, ainda, com o hábito de Avis em 13 de julho de 1803 e com o título de comendador da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa em 18 de maio de 1818 por meio de um decreto. Jurou a Constituição Política do Império ao assinar a ata referente a esse fato em 30 de março de 1824 no quartel-general do governo das armas da Corte.[11]
Às margens da lei
editarRepetindo as práticas de outros militares da época, Alexandre Elói Portelli apropriou-se ilegalmente de sesmarias, tendo em vista que a posição social ocupada por esses sujeitos lhes conferia a possibilidade de monopolizar as terras alheias em benefício próprio. Assim o fez Portelli, quando em 1803 tentou obter uma sesmaria em Rio Grande que, além de exceder a extensão permitida pela lei, estava localizada em "campos indecisos", ou seja, em disputa, não podendo ser ocupados tanto por Portugal quanto por Espanha, conforme informa o Governador Paulo Silva da Gama. O último ainda informa, no mesmo documento, que Portelli já havia obtido outras duas sesmarias, uma em Rio Pardo que logo em seguida a vendeu e outra em Rio Grande, as quais ocultou do requerimento, alegando viver apenas do soldo.[12]
Ainda às margens da lei, Portelli também manteve vínculos estreitos com famílias envolvidas no contrabando, sendo exemplar o já referido matrimônio firmado com Joaquina Marques de Azevedo, cujo pai, Marques de Souza, era comandante de fronteira e aparentado da família Pinto Bandeira, fortemente ligada ao contrabando na região de Lagoa Mirim.[4]
Falecimento
editarFaleceu em 21 de fevereiro de 1838 no Rio de Janeiro, sendo sepultado no dia seguinte nas catacumbas da Igreja de São Francisco de Paula.[7]
Referências
- ↑ a b Viterbo 1964, p. 58.
- ↑ a b Portelli 19 de fevereiro de 1802.
- ↑ Portelli 1810.
- ↑ a b Gil 2005, p. 4.
- ↑ a b c Lago 1938, p. 6.
- ↑ Silva 2022, p. 44.
- ↑ a b Barreto 1976, p. 1081.
- ↑ Portelli 8 de janeiro de 1788.
- ↑ Portelli 13 de fevereiro de 1802.
- ↑ Barreto 1976, p. 1082.
- ↑ Lago 1938, p. 7.
- ↑ Osório 2008, pp. 43-62.
Bibliografia
editar- Barreto, Abeillard (1976). Bibliografia Sul-Riograndense: a contribuição portuguesa e estrangeira para o conhecimento e a integração do Rio Grande do Sul. Volume 2. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura
- Gil, Tiago (2005). «Sobre o comércio ilícito: A visão dos demarcadores de limites sobre o contrabando terrestre na fronteira entre os domínios lusos e espanhóis no Rio da Prata (1774-1801)» (PDF). II Jornadas de História Regional Comparada
- Lago, Laurêncio (1938). Brigadeiros e generais de d. João VI e d. Pedro I no Brasil: dados biográficos, 1808-1831. Rio de Janeiro: Imprensa militar
- Osório, Helen (2008). «Capítulo 2: Formas de vida e resistência dos lavradores-pastores do Rio Grande no período colonial». In: Motta, Márcia; Zarth, Paulo. Formas de resistência camponesa Visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história. São Paulo: Editora UNESP. pp. 43–62
- Portelli, Alexandre (8 de janeiro de 1788). «Diário da Demarcação dos Limites entre Portugal e Espanha na América, de autoria capitão engenheiro Alexandre Eloi Portelli, correspondendo ao trecho entre Monte Grande até a entrada da partida portuguesa, em São João Batista, descrevendo as operações de colocação dos marcos». Arquivo Histórico Ultramarino - Biblioteca Nacional Digital
- Portelli, Alexandre (19 de fevereiro de 1802). «Carta (extracto) do comandante do Batalhão de Infantaria e Artilharia do Rio Grande de São Pedro, coronel Alexandre Elói Portelli, a seu irmão, o sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros e lente da Academia Real de Fortificação, Joaquim José Portelli, sobre a conquista do Forte de Cerro Largo e Sete Povos das Missões». Arquivo Histórico Ultramarino - Biblioteca Nacional Digital
- Portelli, Alexandre (13 de fevereiro de 1802). «Extrato de uma carta narrando-lhe fatos da guerra contra os espanhóis e elogiando o brigadeiro Rocio por habilidade e acerto». Rede Memória
- Portelli, Alexandre (1810). «Requerimento do brigadeiro do exército real na capitania do Rio Grande de São Pedro, Alexandre Eloy Portelli [...]». Arquivo Histórico Ultramarino
- Silva, Luiz (2022). A presença da Matemática nos colégios militares: entre os cursos preparatórios e o colégio militar do Imperador Pedro II (Dissertação de Mestrado). Rio Claro: UNESP
- Viterbo, Sousa (1964). Expedições científico-militares enviadas ao Brasil. Lisboa: Edições Panorama. pp. 58–62