Arapaçu-de-garganta-amarela

O arapaçu-de-garganta-amarela[2][3] (nome científico: Xiphorhynchus guttatus) é uma ave passeriforme da família dos furnariídeos (Furnariidae) encontrada na América do Sul tropical no Escudo das Guianas e disjuntamente na Mata Atlântica setentrional. Antigamente, incluía o arapaçu-de-cacau e o arapaçu-de-lafresnaye como subespécies. Algumas autoridades mantêm a posição segundo a qual lafresnaye é uma subespécie do arapaçu-de-garganta-amarela, mas o grupo resultante é polifilético (ver Sistemática e evolução).

Como ler uma infocaixa de taxonomiaArapaçu-de-garganta-amarela
Espécime avistado no Rio Grande do Norte, Brasil
Espécime avistado no Rio Grande do Norte, Brasil

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Furnariidae
Gênero: Xiphorhynchus
Espécie: X. guttatus
Nome binomial
Xiphorhynchus guttatus
(Lichtenstein, 1820)
Distribuição geográfica
Distribuição do arapaçu-de-garganta-amarela
Distribuição do arapaçu-de-garganta-amarela
Subespécies
  • X. g. polystictus (Salvin e Goodman, 1883)
  • X. g. connectens (Todd, 1948)
  • X. g. guttatus (Lichtenstein, 1820)
Sinónimos
Dendrocolaptes guttatus (Lichtenstein, 1820)

Etimologia editar

Arapaçu, que compõe parte do seu nome popular, é uma designação comum para aves passeriformes das famílias dos dendrocolaptídeos (Dendrocolaptidae) e furnariídeos (Furnariidae). Originou-se no tupi arapa'su, que tem como sentido definido o nome destes pássaros. Seu primeiro registro ocorreu em 1949.[4]

Distribuição e habitat editar

 
Espécime registrado no Peru

O arapaçu-de-garganta-amarela está distribuído em duas grandes áreas disjuntas, desde o leste da Colômbia, passando pela Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e nordeste da Amazônia brasileira; e em uma faixa costeira do leste do Brasil.[5] Habita sobretudo florestas úmidas de várzea, embora as preferências de habitat variem geograficamente, e em algumas áreas também pode ser encontrada em florestas semidecíduas e de galeria, pântanos de palmeiras, cerrados, manguezais maduros, clareiras com árvores dispersas e plantações. É mais abundante abaixo de 900 metros, embora ocorra em pequeno número em altitudes elevadas, como na Venezuela onde pode ocorrer em até 2 400 metros de altitude.[1][6]

Ecologia editar

O arapaçu-de-garganta-amarela mede entre 22,5 e 29,5 centímetros de comprimento e pesa entre 49 e 74 gramas.[5] Alimenta-se principalmente de artrópodes, mas também de pequenos vertebrados que recolhem bicando ou sondando fendas da casca, folhas mortas, aglomerados de musgo ou buracos. É um associado regular de bandos mistos que frequentam os níveis médios e subcopa.[1]

Conservação editar

O arapaçu-de-garganta-amarela foi avaliado na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza como menos preocupante devido a sua ampla distribuição geográfica, apesar de estar com tendência de declínio populacional devido à perda de habitat.[1] No Brasil, em 2005, foi classificado como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[7] e em 2018, como pouco preocupante no Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[8][9]

Sistemática e evolução editar

A espécie X. guttatus foi descrita pela primeira vez pelo naturalista alemão Martin Lichtenstein em 1820 sob o nome científico Dendrocolaptes guttatus; sem localidade tipo definida, assume-se: "Bahia, Brasil".[5] O nome genérico masculino Xiphorhynchus é composto pelas palavras gregas ξιφος (xiphos), "espada", e ῥυγχος (rhunkhos), "bico"; que significa "com bico em forma de espada";[10] e o nome específico guttatus, vem do latim para "salpicado", "pontilhado".[11]

Taxonomia editar

A taxonomia é altamente complexa. O arapaçu-cacau (X. susurrans), uma espécie menor da América Central e do noroeste da América do Sul, foi anteriormente incluído nesta espécie, mas agora é normalmente considerado distinto.[12][13] Dos táxons restantes, o grupo guttatoides de bico claro e listras amareladas (incluindo dorbignyanus) e o grupo eytoni de bico escuro e listras esbranquiçadas (incluindo vicinalis e gracilirostris) têm sido frequentemente considerados espécies separadas, como o arapaçu-de-lafresnaye (X. guttatoides) e o arapaçu-de-bico-escuro (X. eytoni). Embora visualmente muito diferentes, esses dois grupos são agora conhecidos por formar um único clado (combinados sob um "amplo" arapaçu-de-lafresnaye, X. guttatoides) separado do grupo nominal (guttatus, polystictus e connectens) de X. guttatus, que em vez disso está mais próximo de X. susurrans. A biogeografia e dados moleculares sugerem que a relação entre as subespécies e os táxons agora incluídos em X. guttatoides e X. susurrans merece mais estudos.[14][15][16] Um estudo genético recente corrobora o exposto[17] e serve de base, juntamente com as diferenças morfológicas e de vocalização mais sutis, às classificações Birds of the World (HBW) e BirdLife International (BLI) tratando X. guttatoides (incluindo o "grupo eytoni") como uma espécie separada. Outras classificações, como o Congresso Ornitológico Internacional (IOC) e Clements checklist/eBird ainda consideram o "grupo guttatus/guttatoides/eytoni" como uma única espécie.[12][13]

Subespécies editar

De acordo com a classificação Birds of the World, três subespécies são reconhecidas, com sua distribuição geográfica correspondente:[5]

Referências

  1. a b c d BirdLife International (2016). «Xiphorhynchus guttatus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016: e.T103670045A95076630. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T103670045A95076630.en . Consultado em 15 de abril de 2022 
  2. «arapaçu-de-garganta-amarela». Infopédia. Consultado em 15 de abril de 2022 
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 192. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete arapaçu
  5. a b c d Marantz, C. A.; del Hoyo, J.; Collar, N.; Aleixo, A.; Bevier, L. R.; Kirwan, G. M.; Patten, M. A. (2020). «Buff-throated Woodcreeper (Xiphorhynchus guttatus), version 1.0». In: Billerman, S. M. Billerman; Keeney, B. K.; Rodewald, P. G.; Schulenberg, T. S. Birds of the World. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. doi:10.2173/bow.butwoo1.01. Consultado em 4 de maio de 2022 
  6. Ridgely, Robert; Tudor, Guy (2009). «Xiphorhynchus guttatus, p. 318, lámina 16(6)». Field guide to the songbirds of South America: the passerines. Col: Mildred Wyatt-World series in ornithology 1.ª ed. Austin: Imprensa da Universidade do Texas. ISBN 978-0-292-71748-0 
  7. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  8. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  9. «Xiphorhynchus guttatus (Wied-Neuwied, 1831)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
  10. Jobling, J. A. (2018). «Xiphorhynchus». In: del Hoyo; Elliott, A.; Sargatal; Christie, D. A.; de Juana, E. Handbook of the Birds of the World Alive. Barcelona: Lynx Edicions 
  11. Jobling, J. A. (2018). «guttatus». In: del Hoyo; Elliott, A.; Sargatal; Christie, D.A.; de Juana, E. Handbook of the Birds of the World Alive. Barcelona: Lynx Edicions 
  12. a b Clements, J. F.; Schulenberg, T. S.; Iliff, M. J.; Billerman, S. M.; Fredericks, T. A.; Gerbracht, J. A.; Lepage, D.; Sullivan, B. L.; Wood, C. L. (2021). «The eBird/Clements checklist of Birds of the World: v2021». Consultado em 16 de abril de 2022 
  13. a b Gill, F.; Donsker, D.; Rasmussen, P. (julho de 2021). «OC – World Bird List». Consultado em 14 de julho de 2021 
  14. Aleixo, Alexandre (2002). Molecular systematics, phylogeography, and population genetics of Xiphorhynchus (Aves: Dendrocolaptidae) in the Amazon basin (PDF). Baton Rouge, LA.: Universidade Estadual de Luisiana. Consultado em 4 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 21 de outubro de 2008 
  15. Aleixo, Alexandre (2002b). «Molecular Systematics and the Role of the "Várzea"-"Terra-Firme" Ecotone in the Diversification of Xiphorhynchus Woodcreepers (Aves: Dendrocolaptidae)». Auk. 119 (3): 621-640. doi:10.1642/0004-8038(2002)119[0621:MSATRO]2.0.CO;2 
  16. Remsen, J. Van (2003). «32. Buff-throated Woodcreeper». In: del Hoyo, Josep; Elliott, Andrew; Sargatal, Jordi. Handbook of Birds of the World, Volume 6: Broadbills to Tapaculos. Barcelona: Lynx Edicions. p. 429-430, plate 35. ISBN 84-87334-50-4 
  17. Rocha, T.; Sequeira, F.; Aleixo, A.; Rêgo, P. S.; Sampaio, I.; Schneider, H.; Vallinoto, M. (2015). «Molecular phylogeny and diversification of a widespread Neotropical rainforest bird group: The Buff-throated Woodcreeper complex, Xiphorhynchus guttatus/susurrans (Aves: Dendrocolaptidae)». Molecular Phylogenetics and Evolution. 85: 131–140. ISSN 1055-7903. doi:10.1016/j.ympev.2015.02.004