Autorretrato Feminino na Pintura

O Autorretrato Feminino na Pintura é a representação de uma pessoa feminina pintada por ela mesma.

Élisabeth Vigée Le Brun, Autorretrato, 1790, Galeria Uffizi

Embora utilize técnicas pictóricas e responda às motivações do autorretrato em geral, o autorretrato feminino difere do masculino por aspectos relativos à fisionomia, à anatomia e fisiologia do sujeito representado, ou relacionados à sua psicologia.

A artista representa primeiro o rosto e os cabelos, na maioria das vezes todo o busto e os braços, geralmente com elementos de adorno e vestimenta que remetem classicamente à feminilidade; esta representação pode estar associada à das características sexuais secundárias femininas, ou mesmo à da genitália externa, ou a um estado fisiológico temporário específico do sexo feminino.

Representações como santa, Madonna, deusa, musa, alegoria, sibila, heroína da Bíblia, mitologia ou História, ninfa, bacante e odalisca, são outras áreas específicas do autorretrato feminino.

A psicologia feminina traz elementos que, sem serem específicos, são marcantes no autorretrato feminino, relativos em particular à atividade e às atitudes, ao ambiente, à escolha das cores, às mensagens e à expressão de paixões e sentimentos.

Lugar do Autorretrato Feminino

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O autorretrato feminino há muito é considerado uma variedade menor de retrato. Da famosa coleção de autorretratos exposta no Corredor Vasari em 1973, apenas 21 (5%) eram de mulheres[1]. Nos catálogos de exposições e nas obras dedicadas aos autorretratos publicados entre 1936 e 2016, na maioria das vezes assinados por autores do sexo masculino, o lugar dos autorretratos femininos na pintura é muitas vezes ainda inferior a 5% [2][3][4][5][6][7], ou de 5 a 10%[8][9][10][11][12][13][14], às vezes de 10 a menos de 20%[15][16][17][18][19][20]; entretanto, um trabalho mais recente (2021) lhe confere quase paridade[21].

Dependendo da época e do género dos autores ou curadores das exposições, a participação do autorretrato feminino na pintura é avaliada de forma muito variável; o aumento recente não é consequência de uma atividade renovada dos artistas em causa, mas de uma reavaliação positiva, a partir da década de 1970, do contributo das mulheres na pintura. No entanto, tendo em conta o fato de o autorretrato feminino ter surgido mais de um século depois do autorretrato masculino, e de que durante muito tempo houve menos artistas femininas, pareceria bastante razoável situar a proporção num máximo de 15 a 20%. Este valor dificilmente deverá variar no futuro próximo, porque o autorretrato na pintura diminuiu acentuadamente durante o século XX, marcado por novos movimentos pictóricos que conduziram ao que se tem chamado de “desaparecimento da figura”, ou “crise da representação mimética”, e pela ascensão da fotografia e depois da arte digital[22][23][24][25][26][27].

As Artistas

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Celebridades

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As artistas que aparecem no “Top 5” das obras acima referenciadas são Sofonisba Anguissola, Artemisia Gentileschi, Frida Kahlo, Angelica Kauffmann e Élisabeth Vigée Le Brun, seguidas de Rosalba Carriera, Lavinia Fontana, Paula Modersohn-Becker, Helene Schjerfbeck e Suzanne Valadon. Embora tenham produzido poucos autorretratos, as impressionistas Berthe Morisot e Mary Cassatt são frequentemente citadas, assim como a pioneira Catarina van Hemessen e a icônica Tamara de Lempicka.

As Aristocratas

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Uma singularidade do autorretrato feminino é o encontro de artistas provenientes de famílias principescas, reais e imperiais, principalmente nos séculos XVII e XVIII. Enquanto os filhos destas famílias nobres eram treinados para a guerra ou ao clero, as meninas recebiam uma educação artística completa, na música, nas letras e belas artes. Equipadas com essa formação, algumas se tornaram pintoras talentosas. É nomeadamente o caso de Ulrica Leonor da Dinamarca, Ana de Hanôver, Condessa Ludovika von Thürheim, Leonor de Almeida Portugal, Marquesa de Alorna, Carolina Luísa de Hesse-Darmestádio, Condessa Julie von Egloffstein, Princesa Carlota Bonaparte, Ernestine Charlotte von Nassau-Siegen, que se retrata como Santa Cacilda, Isabel Cristina de Brunsvique-Volfembutel-Bevern como jardineira, Lady Diana Beauclerk como Terpsícore, Luísa Holandina do Palatinado como uma alegoria da pintura, Amalia Wilhelmina von Königsmarck e Maria Antónia da Baviera com paleta e pincéis.

Ver também

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Referências

  1. «Self-portraits of women in the Uffizi collection
  2. Frédéric Birr et Jean Diez (préf. Roger Garaudy), Les Peintres par eux-mêmes : de Giotto à Miró, Nouvelle Librairie de France, 1986, 207 p.
  3. Ludwig Goldscheider, Fünfhundert Selbstporträts : Von der Antike bis zu Gegenwart, Vienne, Phaidon, 1936, 528 p.
  4. Stéphane Guégan, Laurence Madeline, Thomas Schlesser et Henri Soldani, L'autoportrait dans l'histoire de l'art : de Rembrandt à Warhol, l'intimité révélée de 50 artistes, Beaux Arts, 2009, 255 p. (ISBN 978-2-84278-689-2)
  5. Michelangelo Masciotta, Portraits d'artistes par eux-mêmes : xive – xxe siècle, Milan, Electa, coll. « Sphæra », 1955, 319 p.
  6. Joëlle Moulin, L'autoportrait au XXe siècle : dans la peinture, du lendemain de la Grande Guerre jusqu'à nos jours, Adam Biro, 1999, 143 p.
  7. Marie-Paule Vial, Claire Bernardi, Guillaume Ambroise et Guy Cogeval, Autoportraits, Paris, Flammarion/Musée d'Orsay, 2015, 128 p. (ISBN 978-2081370388)
  8. Julian Bell (trad. Pierre Clertant et Erol Ok), 500 autoportraits, Paris, Phaidon, 2005, 548 p. (ISBN 978-0714893907)
  9. Pascal Bonafoux, Les peintres et l'autoportrait, Genève, Skira, coll. « Le métier de l'artiste », 1984, 157 p. (ISBN 978-2605000395)
  10. Pascal Bonafoux et Caroline Laroche, Autoportraits du XXe siècle, Paris, Gallimard, coll. « Hors série Découvertes », 2004, np (ISBN 978-2070313662)
  11. Michael Koortbojian, Autoportraits, Paris, RMN, 1992, 64 p. (ISBN 2-7118-2533-7)
  12. Sylvie Ramond et Stéphane Paccoud, Autoportraits : de Rembrandt au selfie, Cologne, Snoeck, 2016, 288 p. (ISBN 978-3-86442-140-2)
  13. Ernst Rebel et Norbert Wolf (dir.), Autoportraits, Paris, Taschen, 2008, 96 p. (ISBN 978-3-8228-5461-7)
  14. Agnès Rosenstiehl, Peintres : autoportraits, Paris, Autrement, 1997, 45 p. (ISBN 978-2862607344)
  15. Anthony Bond, Joanna Woodall (en), T. J. Clark, Ludmilla Jordanova et Joseph Leo Koerner (en), Self Portrait : Renaissance to Contemporary, Londres, National Portrait Gallery Publications, 2005, 224 p. (ISBN 978-1-85514-357-9)
  16. Pascal Bonafoux (dir.) et David Rosenberg, Moi ! Autoportraits du XXe siècle, Paris, Skira, 2004, 294 p. (ISBN 978-8884918543)
  17. Yves Calméjane, Histoire de moi : histoire des autoportraits, Paris, Thalia, 2006, 251 p. (ISBN 978-2352780144)
  18. Christian Demilly, Autoportraits, Palette, 2010, 72 p. (ISBN 9782358320153)
  19. Philippe Renard, Portraits et autoportraits d'artistes au XVIIIe siècle, Tournai, La Renaissance du Livre, coll. « Références », 2003, 189 p. (ISBN 978-2804608163)
  20. Liz Rideal (en) et Julian Bell (trad. Pierre Clertant, Jean-Bernard Gouillier et Erol Ok), 500 autoportraits, Paris, Phaidon, 2018, 587 p. (ISBN 978-0714876214)
  21. Natalie Rudd (trad. Camille Fort), L'autoportrait, Paris, Flammarion, coll. « L'art en poche », 2021, 171 p. (ISBN 978-2-08-023691-3)
  22. Linda Nochlin, « Why Have There Been No Great Women Artists [archive] » [« Pourquoi n'y a-t-il pas eu de grandes artistes femmes ? »], ARTnews, janvier 1971 (consulté le 4 octobre 2022), p. 22
  23. Anne Sutherland Harris et Linda Nochlin (trad. Claude Bourguignon, Pascale Germain, Julie Pavesi et Florence Verne), Femmes peintres 1550-1950, Paris, des femmes, 1981, 366 p. (ISBN 9782721002082)
  24. Marie-Jo Bonnet, Les Femmes dans l'art : Qu'est-ce que les femmes ont apporté à l'art, Paris, La Martinière, coll. « Patrimoine », 2004, 256 p. (ISBN 978-2732430874)
  25. Laure Adler et Camille Viéville, Les femmes artistes sont dangereuses, Paris, Flammarion, 2018, 159 p. (ISBN 978-2-0814-1628-4)
  26. Lucinda Gosling, Hilary Robinson et Amy Tobin (trad. Caroline de Hugo), L'Art du féminisme : les images qui ont façonné le combat pour l'égalité, 1857-2017, Paris, Hugo Image, 2019, 272 p. (ISBN 978-2755641189)
  27. Katy Hessel (trad. Anna Souillac et Aurélien Blanchard), Histoire de l'art sans les hommes, Paris, Michel Lafon, 2022, 512 p. (ISBN 978-2-7499-5138-6) « Lady Diana Spencer, autoportrait en muse Terpsichore