Arquidiocese de Montpellier

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A Arquidiocese de Montpellier (Archidiœcesis Montis Pessulani) é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica situada em Montpellier, França. Seu atual arcebispo é Norbert José Henri Turini. Seus arcebispos carregam também os títulos de Lodève-Béziers-Agde-Saint-Pons-de-Thomières. Sua é a Cathédrale Saint-Pierre de Montpellier.

Arquidiocese de Montpellier
Archidiœcesis Montis Pessulani
Arquidiocese de Montpellier
Localização
País França
Território
Dioceses sufragâneas Carcassonne e Narbonne, Mende, Nîmes, Perpignan-Elne
Estatísticas
População 1 130 000
864 650 católicos (2 017)
Área 6 101 km²
Paróquias 62
Sacerdotes 245
Informação
Rito romano
Criação da diocese século III
Elevação a arquidiocese 8 de dezembro de 2002
Catedral Cathédrale Saint-Pierre de Montpellier
Padroeiro São Pedro e São Paulo
Governo da arquidiocese
Arcebispo Norbert José Henri Turini
Bispo auxiliar Alain Guellec
Arcebispo emérito Guy Marie Alexandre Thomazeau
Pierre-Marie Joseph Carré
Bispo auxiliar emérito Claude-Joseph Félix Louis Azéma
Jurisdição Arquidiocese Metropolitana
Outras informações
Página oficial montpellier.catholique.fr
dados em catholic-hierarchy.org

Possui 62 paróquias servidas por 245 padres, abrangendo uma população de 1 130 000 habitantes, com 76,5% da dessa população jurisdicionada batizada (864 650 católicos).[1]

História editar

A diocese de Montpellier tem suas origens na antiga diocese de Maguelone, erigida no século III com território retirado da diocese de Nîmes. O primeiro bispo de Maguelone, de que há evidências históricas, foi Boécio, que esteve representado no Concílio de Toledo e participou no Concílio de Narbonne, ambos em 589. Originalmente era uma diocese sufragânea da Arquidiocese de Narbonne.[2]

 
Extensão da Diocese de Maguelone no século XIII

Maguelone foi completamente destruída durante as guerras entre Carlos Martel e os sarracenos. Em seguida, a sede da diocese foi transferida para Sextancião[3], mas o Bispo Arnaud no século XI trouxe de volta para Maguelone depois de ter reconstruído a cidade.

Perto de Maguelone, as duas aldeias de Montpellier e Montpellieret desenvolveram-se gradualmente. Segundo a lenda, essas aldeias eram, no século X, propriedade das duas irmãs de São Fulcran, bispo de Lodève. Por volta de 975, elas os cederam a Ricuíno, bispo de Maguelone. É certo que em cerca de 990 Ricuíno era dono dessas duas aldeias; ele manteve Montpellieret para si e deu Montpellier como feudo para a família Guillems. Em 1085, Pierre, conde de Sextancião e Melgueil, tornou-se vassalo da Santa Sé para este condado e teve o direito de eleger os bispos de Maguelone. O Papa Urbano II encarregou o bispo de Maguelone de exercer a soberania papal sobre o condado e passou cinco dias na cidade durante sua viagem à França para pregar a Primeira Cruzada. Em 1215, o Papa Inocêncio III concedeu o condado de Melgueil como feudo ao bispo de Maguelone, que então se tornou bispo-conde.[2]

A partir dessa data, os bispos de Maguelone passaram a ter o direito de cunhar moedas. O Papa Clemente IV repreendeu o bispo Bérenger de Frédol em 1266, que havia cunhado uma moeda chamada Miliarensis na qual o nome de Muhammad estava estampado; na verdade, naquela época o bispo, juntamente com o rei de Aragão e o conde de Toulouse, havia autorizado a cunhagem de moedas árabes, não para circulação em Maguelone, mas para exportação.

 
Antiga Catedral de Maguelone.

Em julho de 1204, Montpellier passou para a posse de Pedro II de Aragão, genro do último descendente dos Guillems; Jaime I de Aragão, filho de Pedro II, uniu as cidades ao reino de Maiorca. Em 1292, Bérenger de Frédol, bispo de Maguelone, cedeu Montpellier a Filipe IV da França. Jaime III de Maiorca vendeu Montpellier a Filipe VI em 1349 e a cidade, exceto no período de 1365 a 1382, desde então é francesa.

Urbano V estudou teologia e direito canônico em Montpellier e foi coroado papa pelo Cardeal Andouin Aubert, sobrinho do Papa Inocêncio VI e bispo de Maguelone de 1352 a 1354; consequentemente, os favores de Urbano V para com esta diocese aumentaram muito. Em 1364 fundou o mosteiro beneditino de São Germano em Montpellier e veio pessoalmente a Montpellier para visitar a nova igreja (9 de janeiro - 8 de março de 1367). Ele queria que a cidade fosse cercada por muralhas para que os estudantes pudessem viver em segurança e começou a trabalhar em um canal de comunicação entre Montpellier e o mar.[4]

A pedido do rei Francisco I, que se queixou das epidemias e ataques piratas que constantemente ameaçavam Maguelone, o Papa Paulo III mudou a sé para Montpellier em 27 de março de 1536 em virtude da bula In eminenti militantis.[5] A igreja do mosteiro de São Bento e São Germano, fundada em 1364, foi instituída catedral.

O calvinismo foi introduzido em Montpellier em fevereiro de 1560 pelo pastor Guillaume Mauget e as consequentes guerras de religião tiveram fortes repercussões para a cidade. Durante o reinado de Henrique III, uma espécie de república calvinista foi estabelecida. A cidade foi reconquistada por Luís XIII em outubro de 1622.[2]

O bispo Charles-Joachim Colbert (1696-1738) apoiou o oratoriano Pouget, que em 1702 compôs o famoso "Catecismo de Montpellier", condenado pela Santa Sé em 1712 e em 1721 por suas doutrinas Jansenistas.

Depois de 1789 devido à Revolução Francesa, o bispo Joseph-François de Malide teve que deixar a diocese e foi exilado na Inglaterra, de onde continuou a seguir sua diocese, que havia confiado a dois padres de confiança e os numerosos padres diocesanos espalhados por toda a Europa. Antes da concordata de 1801, o Papa Pio VII pediu aos bispos exilados que renunciassem ao governo pastoral da diocese.[6]. Embora inclinado a aderir ao pedido do Papa, o bispo de Montpellier adaptou-se à opinião dos outros doze bispos franceses exilados na Inglaterra, que não concordaram em renunciar. Apesar de manter o título, o Bispo de Malide pediu aos fiéis da diocese que obedecessem ao seu novo bispo, mas mesmo assim uma pequena minoria (les pers) não queria reconhecer ninguém além dele.[7]

Quando a concordata de 1801 redefiniu as dioceses francesas, Montpellier também recebeu o território do departamento de Tarn, que foi cedido em 1822 em benefício de ereção da Arquidiocese de Albi; e de 1802 a 1822, Montpellier foi sufragânea da Arquidiocese de Toulouse. Em 1822 tornou-se parte da província eclesiástica da Arquidiocese de Avinhão.[8]

Com a bula Qui Christi Domini do Papa Pio VII de 29 de novembro de 1801, a diocese de Béziers foi suprimida, as dioceses de Agde, Lodève e Saint-Pons-de-Thomières e seus territórios incorporados ao da diocese de Montpellier. Um escrito papal datado de 16 de junho de 1877 concedeu aos bispos de Montpellier o direito de unir os títulos dessas quatro dioceses suprimidas aos seus próprios.[9]

No dia 8 de dezembro de 2002, com a reorganização das circunscrições eclesiásticas francesas, a diocese foi elevada à categoria de arquidiocese metropolitana.

Prelados editar

Sé de Maguelone editar

Sé de Montpellier editar

Bibliografia editar

Referências

  1. Dados atualizados no Catholic Hierarchy
  2. a b c «Histoire du diocèse» (em francês). no site da Diocese 
  3. Restos desta antiga cidade estão localizados nos dias atuais em Castelnau-le-Lez.
  4. Fisquet, op. cit.
  5. Texto da bula em Gallia christiana, op. cit., Instrumenta, coll. 389 e seguintes.
  6. Claire Lesegretain (20 de maio de 2018). «En 1802, le pape exige la démission de tous les évêques français». La Croix (em francês). Consultado em 11 de dezembro de 2018 
  7. A. Coste, Vie de Mr. P.F.-X. Coustou, Vicaire-général du diocèse de Montpellier, Pézenas, 1845, pp. 45-52
  8. «The French Concordat of 1801» (em inglês). Enciclopédia Católica 
  9. Bula Qui Christi Domini, in Bullarii romani continuatio, Tomo XI, Romae, 1845, pp. 245–249 (em latim)
  10. Mencionado na Gallia christiana, é questionado por Duchesne, para quem as referências relatadas pelos Samaritanos não são sérias.
  11. Este bispo é colocado na La France pontificale antes de Ricuíno.
  12. Segundo Duchesne, o documento que menciona a existência deste bispo não se refere a nenhum dado cronológico ou mesmo a sé de pertença; o autor, porém, não exclui que possa ter sido bispo de Maguelone.
  13. Último bispo de Maguelone, antes da transferência da sé episcopal para Montpellier (1536), da qual foi o primeiro bispo.
  14. Em contraposição com as disposições do Papa Pio VII contidas na bula Qui Christi Domini, o Bispo de Malide não renunciou à sé de Montpellier e morreu no exílio em Londres em 1812.

Ligações externas editar

 
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