Nota: Se procura a banda homônima, veja Banda Black Rio.

Black Rio ou Movimento Black Rio é um movimento e contracultura que surgiu nos anos 1970 no Rio de Janeiro. Inicialmente inspirado pela revolução do funk norte-americana, o movimento mistura ritmos da chamada "black music brasileira", como funk, soul, jazz, samba e forró.[1] Segundo o jornalista Luiz Felipe de Lima Peixoto, co-autor, ao lado de Zé Octavio Sebadelhe, do livro 1976 – Movimento Black Rio" (Editora: José Olympio) "o Black Rio adentrou no cenário carioca e brasileiro como um movimento de anseio musical, mas também político, cultural e intelectual".[2]

Os chamados bailes funk têm origem no início da década de 1970, quando surgiram os chamados bailes da pesada, realizados no Canecão pelos DJs Big Boy e Ademir Lemos, nesses bailes os ritmos predominantes eram soul e funk[3] Com o tempo, surgem outros bailes, chamados de black ou shaft,[4] nome inspirado no filme Shaft (1971), um blaxploitation, nome dados aos filmes destinados a comunidade afro-americana, estrelado por Richard Roundtree que teve trilha sonora de soul e funk composta por Isaac Hayes.[5] Em 1973, surge a equipe de som Furacão 2000,[6] outras equipes surgem nesse período como Black Power e Soul Grand Prix, esse último fundado por Dom Filó[7] Em 1976, o artigo Black Rio – O orgulho (importado) de ser negro no Brasil de Lena Frias, publicada no Jornal do Brasil, serviu para batizar o movimento de Black Rio,[8] que inclusive foi usado para nomear a uma banda.[5][9]

À época, o Brasil vivia sob o regime da Ditadura Militar. Os órgãos de censura da repressão estavam preocupados com o possível direcionamento político do movimento black no país, e que isso disseminasse um movimento semelhante ao dos Panteras Negras. Os militares tinham medo da subversão nas favelas. Eles acreditavam que, se um dia a favela fosse se politizar, isso seria a revolução social no Brasil.[10]

Considera-se o marco zero do movimento o dia 11 de novembro de 1969, quando aconteceu, no Clube Astória do Rio de Janeiro, o primeiro baile em que o discotecário tocou apenas músicas cantadas por artistas negros.[11]

São exemplos de representantes deste movimento Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Macau, Sandra de Sá, Gerson King Combo, Dom Filó, Luizinho Disc Jockey e Tony Tornado.

Os frequentadores destas festas eram vistos como um enorme mercado em potencial. Inicialmente, foram lançadas coletâneas com os principais sucessos dos bailes (muitas delas eram assinadas pelas equipes de som e pelos DJs de maior prestígio como Tony Hits)[12] e novos artistas nacionais que cantavam soul music começaram a surgir, como a Banda Black Rio, formada por membros do grupo Abolição, a banda foi criada por encomenda pela gravadora WEA em 77, que aprofundou as experimentações sonoras em torno de um som instrumental que mesclava o samba ao funk americano.[13][14]

Em 2018, o Movimento Black Rio tornou-se "Patrimônio Cultural Imaterial do Rio".[11]

Ver também editar

  1. Movimento Black Rio: o The Get Down brasileiro
  2. Movimento Black Rio continua lindo
  3. José Raphael Berrêdo (9 de agosto de 2012). «Musical conta história de 4 décadas do funk no Brasil; relembre 40 hits». G1 
  4. Sandra Almada (2013). «O dom de ser negro». Editora Escala. Raça Brasil (175). Arquivado do original em 5 de fevereiro de 2016 
  5. a b Silvio Essinger. Editora Record, ed. Batidão: uma história do funk. 2005. [S.l.: s.n.] ISBN 9788501071651 
  6. Lúcio Ribeiro (09 de fevereiro de 2001). Furação 2001. Folha de S.Paulo
  7. Flávia Oliveira (11 de julho de 2015). «Ditadura perseguiu até bailes black no Rio de Janeiro». O Globo 
  8. Sandra C. A. Pelegrini e Amanda Palomo Alves (13 de abril de 2011). «Tornado 'black' e musical». Revista de História da Biblioteca Nacional 
  9. Referência para funk carioca, movimento Black Rio se renova aos 40 anos
  10. Luciano Marsiglia. «Rock Brasileiro 1976 - 1977 - O movimento Black Rio: Desarmado e perigoso». Super Interessante 
  11. a b eurio.com.br Movimento Black Rio torna-se "Patrimônio Cultural Imaterial do Rio
  12. «Garimpeiro de hits». SuperInteressante. Consultado em 4 de março de 2022 
  13. Silvio Essinger. «Soul Brasil». CliqueMusic. Consultado em 18 de outubro de 2023 
  14. Essinger, Silvio (2005). Batidão: uma historia do funk. [S.l.]: Editora Record 

Bibliografia editar

  • 2016 - Livro "1976 – Movimento Black Rio" (Autores: Zé Octavio Sebadelhe, Luiz Felipe de Lima Peixoto. Editora: José Olympio)