Banda Black Rio é uma banda de funk, soul, samba-funk, samba jazz e jazz fusion formada em 1976 pelo saxofonista Oberdan Magalhães, durante a efervescência cultural do movimento Black Rio. Em sua primeira fase, sob o comando de Oberdan, a banda lançou 3 álbuns de estúdio: o influente Maria Fumaça, de 1977 - eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o 38º maior álbum da música brasileira; Gafieira Universal, de 1978; e Saci Pererê, de 1980. A banda dissolveu-se por conta da morte de Oberdan, em janeiro de 1984. Em 1999, William Magalhães, filho de Oberdan, reformou a banda com novos músicos, tendo lançado, até o momento, 2 álbuns de estúdio: Movimento, de 2001 - lançado internacionalmente com o título de Rebirth; e Super Nova Samba Funk, de 2011.

Banda Black Rio
Informações gerais
Origem Rio de Janeiro
País Brasil
Gênero(s)
Período em atividade 1976 - 1984
1999 - presente
Gravadora(s)
Afiliação(ões)
Integrantes
  • William Magalhães
Ex-integrantes
Página oficial «Sítio oficial» 

Antecedentes

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 Ver artigo principal: Black Rio

História

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Formação da banda

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No contexto deste movimento musical, Oberdan Magalhães - um multi-instrumentista carioca com formação acadêmica em música e muita experiência em bandas de baile - foi participando de diversos grupos nos quais conheceu músicos que viriam a formar a sua banda. No final dos anos 1960, participou do grupo Impacto 8 que acompanhava o trombonista Raul de Souza - juntamente com o baterista Robertinho Silva e o guitarrista Frederyko, que viriam a integrar o grupo Som Imaginário, nos anos seguintes - na gravação do disco International Hot em 1968, pela gravadora Equipe.[1] Também no fim desta década, participou da banda Cry Babies - juntamente com Luiz Carlos Batera e Rosanah Fienngo - que chegou a lançar um disco autointitulado em 1969, pela gravadora CID Entertainment.[2]

Mas o grande projeto desta fase, o que viria a trazer maior conhecimento de outros músicos que pudessem fazer o som que Oberdan buscava, foi a banda Abolição que Dom Salvador montou para defender a música Abolição 1860-1960 no V Festival Internacional da Canção, tendo ficado na 5ª colocação da etapa nacional. A banda era formada por diversos músicos, entre eles Luiz Carlos Batera, Carlos Darcy - que tocava trombone - e Barrosinho, trompetista.[3] Após o festival, o grupo conseguiu um contrato com a gravadora Discos CBS e lançou Som, Sangue e Raça, em 1971.[4] Com a ida de Dom Salvador para os Estados Unidos a banda se dissolveu.[5][6] Oberdan resolveu dar um passo a frente e reuniu um grupo de músicos para tocar na boate Black Horse, em Ipanema. Assim, além de Barrosinho, chamou o pianista Cristovão Bastos e o baixista Jamil Joanes - que tocava com o Som Imaginário[7] -, além dos vocalistas Carlos Dafé e Sandra Sá - ainda desconhecidos -, dando o nome de Senzala para o grupo, continuando no tema da escravidão como o conjunto anterior.[5] Após algum tempo tocando naquela boate, chamam a atenção dos irmãos Nana e Dori Caymmi que se apresentavam na boate Preto 22, de Flávio Cavalcanti, e convenceram o apresentador a levar aquele grupo para tocar lá.[8]

Tudo mudou quando Dom Filó, radialista carioca contratado pela gravadora recém-estabelecida no Brasil, a WEA, para contratar novos talentos, resolveu contratar as equipes de som que faziam os bailes black para lançarem coletâneas com as músicas que tocavam nas apresentações. André Midani havia ido a bailes na quadra de basquete do Olaria Atlético Clube e queria contratar grupos e bandas que pudessem tocar para aquele público. Dom Filó trabalhava com Alcione Magalhães, irmão de Oberdan, e resolveu ousar no lançamento do segundo LP da equipe de som Soul Grand Prix - o primeiro a sair pela WEA, selo Atlantic - incluindo uma faixa realizada por um grupo brasileiro. Assim, montou um grupo às pressas ao qual deu o nome de Hot Stuff Band - composto por Oberdan, Darcy, Márcio Montarroyos, Wilson das Neves e mais o Azymuth, com José Roberto Bertrami, Alex Malheiros e Mamão - e fizeram um cover de "Ju-Ju-Man", da banda alemã Passport.[9] Com o sucesso da canção nos bailes, o passo seguinte foi Midani dar carta branca para que Oberdan montasse um grupo brasileiro para gravar um disco para aquele público.[10][8]

Estava aberto o caminho para a criação da Banda Black Rio - nome que a imprensa utilizou para batizar o movimento na época. Logo, Oberdan chamou os músicos que formavam o grupo Senzala - Barrosinho (trompete), Cristovão Bastos (piano), Jamil Joanes (baixo) e Luiz Carlos (bateria e percussão) - mais dois músicos de estúdio e bandas de baile da época - Lucio J. da Silva (trombone) e Cláudio Stevenson (guitarra). A ideia era fazer música instrumental e, por isso, os vocalistas não foram utilizados, sendo que Carlos Dafé ganhou um contrato com a WEA e também lançaria um álbum em 1977, Pra Que Vou Recordar, acompanhando pela banda de Oberdan.[5]

Primeira fase

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Em 1977, a banda gravou e lançou seu primeiro disco, Maria Fumaça, produzido por Marco Mazzola.[11] No mesmo ano, a canção que dá nome ao álbum foi o tema de abertura da telenovela Locomotivas, da Rede Globo.[12] Participaram, também, da gravação do primeiro disco de Raul Seixas na WEA, O Dia em que a Terra Parou, nas faixas 1 e 10;[13] e, ainda, da gravação do primeiro disco de Tim Maia na WEA, Tim Maia Disco Club.[14] Neste ano, participam como banda de apoio de uma temporada de Caetano Veloso no teatro Teatro Carlos Gomes. O show era baseado no repertório do álbum Bicho e seria lançado em CD apenas em 2002, na caixa Todo Caetano.[15]

Gafieira Universal, o segundo, foi produzido por Durval Ferreira e lançado em 1978. Esse álbum marcou a estreia do grupo na RCA Victor.[16]

O terceiro álbum, Saci Pererê, foi lançado em 1980 e marcou a despedida da primeira fase da banda em disco. O grupo foi desfeito após a morte de Oberdan Magalhães, em janeiro de 1984.[16]

Reformulação

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Em 2001, a banda foi reeditada, com nova formação, e lançou o álbum Movimento.[17][18] Em 2009, Barrosinho, membro fundador, morreu também.[19]

Em 2011, a banda apresenta Super Nova Samba Funk, lançada pelo gravadora inglesa Far Out Recordings. O álbum mostra a unificação da música negra numa variedade de ritmos desde o jazz ao rap. É a união dos estilos, artistas e gerações. O álbum busca mostrar ao seu público que o conceito original está vivo, e, além disso, modernizado. O álbum tem a honra de contar com importantes ícones da música negra como Gilberto Gil, Elza Soares e muitos outros.[20]

Legado

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O grupo é considerado uma grande referência para o mundo da música, devido a sua fusão musical original. Artistas renomados como Mos Def e a banda Incognito têm gravado suas músicas.[21][22]

Estilo musical

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A banda é conhecida por tocar nos estilos funk, samba-funk, soul, jazz fusion[11] e samba jazz.[23][24]

Membros

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Maria Fumaça
Gafieira Universal
  • Oberdan Magalhães: saxofone e flauta
  • Lúcio J. da Silva, o Lúcio Trombone: trombone
  • Barrosinho: trompete
  • Cláudio Stevenson: guitarra e violão
  • Jorge Barreto (Jorjão): teclados e vocal
  • Valdecir Nei Machado: baixo e cuíca
  • Luiz Carlos Batera: bateria, percussão e vocal
Saci Pererê
  • Gerson e Abóbora: vocal
  • Oberdan Magalhães: saxofone
  • Carlos Darcy: trombone
  • Barrosinho: trompete
  • Cláudio Stevenson: guitarra
  • Jorge Barreto (Jorjão): teclados e vocal
  • Décio Cardoso: baixo
  • Paulinho Braga: bateria
Movimento
  • William Magalhães: vocal, piano e teclados
  • Lúcio J. da Silva, o Lúcio Trombone: trombone
  • L. F. Trick: trompete e voz
  • Cláudio Rosa: baixo
  • José Nilton da Silva, o Chocolate: bateria
  • Wanderlei Silva: percussão
Super Nova Samba Funk
  • William Magalhães: vocal, guitarra, teclados e baixo
  • Josué dos Santos: saxofone e flauta
  • Will Bone: trombone
  • Otávio Nestares: trompete
  • Marquinho Osócio: guitarra e vocal
  • Sidney Linhares: guitarra
  • Claudio Rosa: baixo e vocal
  • Bruno Silveira: bateria
  • Thiago Silva: bateria e percussão
  • Mafran do Maracanã e Ricardo Brasil: percussão

Discografia

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Discografia dada pelo Discogs[25] e pelo CliqueMusic.[23]

Álbuns de estúdio

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Ano Título Gravadora Observações
1977 Maria Fumaça Atlantic Records
1978 Gafieira Universal RCA Victor
1980 Saci Pererê RCA Victor
2001 Movimento Universal Music Group Lançado internacionalmente com o título Rebirth pelo selo Mr Bongo Records
2011 Super Nova Samba Funk Far Out Recordings
2019 O Som das Américas Universal Music Group

Compactos

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Simples

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Ano Lado A Lado B Gravadora Álbum Observações
1977 Maria Fumaça Mr. Funky Samba Atlantic Records Maria Fumaça
1977 Na Baixa do Sapateiro Mr. Funky Samba Atlantic Records Maria Fumaça
1980 Saci Pererê Amor Natural RCA Victor Saci Pererê
2002 Magia do Prazer Tomorrow Mr Bongo Records Movimento
2003 Carrossel Regata Música É um CD single, não possuindo Lado B
2016 Maria Fumaça Mr. Funky Samba Mr Bongo Records
2016 Miss Cheryl Melô do Tagarela (Rapper's Delight) Mr Bongo Records O Lado B é uma versão de Miele

Duplos

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Ano Lado A Lado B Gravadora Observações
1977 Coração Selvagem / Maria Fumaça Tudo Era Lindo / Chorinho para Ele WEA Com Belchior, Carlos Dafé e Hermeto Pascoal
1980 Miss Cheryl / Melissa Subindo o Morro / Amor Natural RCA Victor

Coletâneas

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Ano Título Gravadora Observações
1996 Banda Black Rio BMG (lançado como parte da Série Aplauso)
1996 The Best Of Banda Black Rio Universal Sound

Participações

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Ano Artista Título Faixas Gravadora Observações
1977 Raul Seixas O Dia em que a Terra Parou WEA
1977 Vários Artistas Locomotivas 7 Som Livre Trilha sonora da novela homônima
1977 Carlos Dafé Pra Que Vou Recordar WEA
1978 Tim Maia Tim Maia Disco Club WEA
1979 Vários Artistas Sábado Alucinante 1, 4, 7 e 11 Philips Records Trilha sonora do filme homônimo
1995 Vários Artistas Global Brazilians 14 e 15 Metalimbo Records Coletânea alemã de música brasileira
2002 Caetano Veloso Bicho Baile Show Universal Music Group Show baseado no álbum Bicho, gravado em 1978 a partir de uma temporada no Teatro Carlos Gomes e lançado em CD na caixa Todo Caetano

Referências

  1. «Raulzinho & Impacto 8 - International Hot». Discogs. N.d. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  2. «Cry Babies - Cry Babies». Discogs. N.d. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  3. «Morre no Rio de Janeiro Barrosinho, o inventor da 'maracatamba'». G1. 5 de março de 2009. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  4. «Dom Salvador e Abolição ‎– Som, Sangue e Raça». Discogs. N.d. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  5. a b c Gonçalves, 2011, p. 55.
  6. Dom Salvador, o pianista que inventou o samba funk e o Brasil esqueceu
  7. Antônio do Amaral Rocha (22 de janeiro de 2012). «A volta do Som Imaginário». Rolling Stone Brasil. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  8. a b Zimbauê Ferreira (n.d.). «Carlos Dafé - Lenda viva do soul samba carioca». Inverta. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  9. «Various - Soul Grand Prix». Discogs. N.d. Consultado em 5 de outubro de 2018 
  10. Gonçalves, 2011, pp. 52-55.
  11. a b Silvio Essinger. Editora Record, ed. Batidão: uma história do funk. 2005. [S.l.: s.n.] ISBN 9788501071651 
  12. «Samba». Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. N.d. Consultado em 20 de outubro de 2023 
  13. Essinger et al., 2005, p. 116.
  14. Tim Maia Disco Club. Publicado por Editora Abril, em Revista Veja, seção Veja Recomenda, edição nº 1.728, de 28 de novembro de 2001, p. 168.
  15. «40 lições de como querer caetanear». O Estado de S. Paulo. 19 de dezembro de 2002. Consultado em 25 de maio de 2011 
  16. a b Manuel Alves Filho (30 de outubro de 2011). «Soul à brasileira». Jornal da UNICAMP. Consultado em 6 de outubro de 2018 
  17. Marco Antonio Barbosa (3 de dezembro de 2001). «Cultuado grupo, reformado por William - filho do fundador Oberdan Magalhães - lança agora o álbum Movimento». CliqueMusic. Consultado em 7 de abril de 2016 
  18. Pedro Alexandre Sanches (3 de dezembro de 2001). «Banda Black Rio volta com nova formação». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de outubro de 2018 
  19. n.d. (5 de março de 2009). «Morre o trompetista Barrosinho, fundador da Banda Black Rio». Jornal Extra. Consultado em 2 de outubro de 2018 
  20. Marcelo Monteiro (31 de agosto de 2012). «Black Rio prepara trilogia 'SuperNovaSambaFunk'». O Globo. Consultado em 24 de janeiro de 2016 
  21. Thiago Ney (5 de dezembro de 2009). «Mos Def vai além dos clichês do rap». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de outubro de 2018 
  22. Fernanda Talarico (12 de maio de 2018). «"O Incognito e a música fizeram um pacto: até que a morte nos separe", diz Bluey, líder da veterana banda». Rolling Stone Brasil. Consultado em 6 de outubro de 2018 
  23. a b «Banda Black Rio». CliqueMusic. N.d. Consultado em 25 de maio de 2011 
  24. Tárik de Souza (n.d.). «Som, Sangue e Raça - Dom Salvador e Abolição». CliqueMusic. Consultado em 26 de janeiro de 2015 
  25. «Banda Black Rio - Discografia». Discogs. N.d. Consultado em 3 de outubro de 2018 

Bibliografia

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  • GONÇALVES, Eloá Gabriele. Banda Black Rio: o soul no Brasil da década de 1970. Dissertação de mestrado. Campinas: UNICAMP, 2011.
  • ZAN, José Roberto. A Sonoridade da Banda Black Rio. Tese de Doutorado. Campinas: Unicamp, 2005.
  • ESSINGER, Silvio; SEIXAS, Raul; e SEIXAS, Kika. O baú do Raul revirado. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2005. ISBN:9788500017872.

Ligações externas

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