Caso Elídia Geraldo

Caso de homicídio

O Caso Elídia Geraldo foi um assassinato ocorrido em Ubá no dia 2 de julho de 2019, onde Elídia foi estrangulada por sua amiga, Caroline de Paula Dini, enquanto seu ex-namorado e namorado de Caroline, Igor, assistia. Caroline era uma moderadora do imageboard Dogolachan e o casal foi acusado de satanismo.

Caso Elídia Geraldo

Elídia Geraldo foi assassinada por sua amiga enquanto seu ex-namorado assistia
Local do crime Ubá, Minas Gerais, Brasil
Data 2 de julho de 2019
entre 23h30 e 2h00 (UTC−3)
Tipo de crime homicídio
Vítimas Elídia Geraldo
Réu(s)
  • Caroline de Paula Dini
  • Igor
Situação em andamento sob sigilo

O julgamento segue em secreto e foi adiado por causa da pandemia de COVID-19.

Antecedentes editar

Elídia Geraldo era a filha mais nova de Adeir José Geraldo e Maria Aparecida Geraldo, e tinha três irmãos. Ela sofria de depressão e já havia tentado cometer suicídio, por isso usava remédio controlado. Também, não costumava contar para os pais os locais que frequentava e quem eram seus amigos, e teve diversos namorados. Na época, ela tinha 19 anos e trabalhava auxiliando uma idosa no prédio onde morava.[1]

Caroline de Paula Dini se envolveu com chans desde criança e era uma moderadora do Dogolachan, imageboard envolvido em diversos assassinatos e intimidações. Ela chegou a gravar um vídeo nua onde dizia ter sido estuprada por Gustavo Guerra, outro membro do fórum, e gostado.[2] O imageboard havia sido alvo de duas grandes operações da Polícia Federal, a Operação Bravata e a Operação Illuminate, que resultou na prisão do criador do fórum, Marcelo Valle Silveira Mello e outros seis moderadores.[3][4] Além disso, em junho de 2018, outro moderador deu um tiro na nuca de uma mulher em Penápolis após ela tê-lo rejeitado e cometeu suicídio após ser encurralado pela polícia,[5] e em março de 2019, dois usuários do fórum entraram armados em uma escola em Suzano, mataram dez pessoas e cometeram suicídio.[6]

O garoto, Igor, era ex-namorado de Elídia. Ambos eram amigos da garota.[7] O casal tinha 20 anos na época do assassinato.[8]

Crime editar

Desaparecimento editar

No dia 2 de julho de 2019, Elídia Geraldo voltou do trabalho e saiu de casa no Bairro Peluso por volta das 18h30 para ir encontrar seus amigos na Praça das Merces e ir na festa de aniversário da cidade no Horto Florestal.[1][9] Elídia disse a sua mãe que não ficaria na festa mais do que algumas horas, e não levou seu remédio para depressão, alegando que tomaria o medicamento quando voltasse. Também disse que voltaria cedo pois precisava acordar no dia seguinte às nove da manhã para ir trabalhar.[1] Lá, foi vista com um casal de amigos na frente da Praça dos Esportes, onde foram para a festa de Uber.[10] No dia seguinte, o casal visitou a família às 17h00 e disse que Elídia teria ficado com o celular da garota, pois ela não estava com sua bolsa na ocasião.[1][9] Os pais chegaram a procurá-la na casa de amigas, em hospitais e em seu trabalho, então fizeram boletim de ocorrência na Polícia Judiciária Civil. Ela foi oficialmente dada como desaparecida no dia 6. Foram realizadas várias buscas nos municípios próximos da região de Ubá, mas Elídia não foi encontrada.[11] Até então, a polícia suspeitava que Elídia poderia ter cometido suicídio.[10]

Descoberta do corpo editar

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  O corpo de Elídia foi descoberto no próximo à MGT-265 por seu tio, Adílio José Geraldo

No dia 22 de julho, seu tio, Adílio José Geraldo, buscava por ela quando sentiu mau cheiro perto de um supermercado próximo à MGT-265 e encontrou o corpo da sobrinha coberto pela vegetação. Ele acionou a Polícia Militar, que compareceu ao local do crime junto com a perícia técnica da Polícia Civil. O corpo foi identificado pela família e liberado para a funerária, e foi registrado um boletim de ocorrência.[11][12][13] O corpo estava de barriga para baixo com a calça arriada.[14]

No dia 23, a Delegacia de Homicídios da 2ª Regional de Ubá abriu um inquérito para investigar o caso. No mesmo dia, o delegado Alexandrino Rosa de Souza ouviu depoimentos de familiares e outras testemunhas.[13]

Desdobramentos editar

Acusação de satanismo editar

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  A Rádio Educadora recebeu denúncia anônima com os nomes dos envolvidos e a acusação de satanismo dois dias após a entrevista concedida pela família

No dia 12 de julho, a família cedeu uma entrevista para o jornalista Amarildo Oliveira Netto da Rádio Educadora. Dois dias depois, Amarildo recebeu uma denúncia anônima que revelou os nomes dos suspeitos do assassinato ao público, Caroline e Igor, e acusava Caroline de ser uma sádica psicopata que era fã de casos de sequestro, tortura e abusos. Também a acusava de ser moderadora do Dogolachan e do jogo Baleia Azul e já ter torturado e matado animais de pequeno porte, como cães e gatos. "Em último caso, ela sempre quis chegar a matar e comer carne humana, principalmente de mulheres com o perfil da Elídia ou outras pessoas indefesas, como crianças e bebês".[15] Ambos chegaram a prestar queixa de calúnia e difamação na polícia por conta das acusações.[10]

As fotos do casal circularam as redes sociais, e eles foram acusados de satanismo. Também circulou um vídeo onde Caroline estrangulava um cachorro. Foi aberto um inquérito policial para averiguar a veracidade do vídeo.[16] O jornal Ubá News acusou o assassinato como sendo parte de um ritual satânico.[17] A polícia, porém, disse que não há evidências que apontem para a hipótese.[7]

Prisões editar

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  Anúncio da prisão dos suspeitos pela Polícia Civil

As investigações seguiram em sigilo, sob o comando do delegado Bruno Salles. No dia 12 de agosto, a Polícia Civil deflagrou a operação "Quem É Como Deus", realizada junto com as delegacias de Crimes contra a Vida, Tóxicos, Agência de Inteligência e apoio da Delegacia de Polícia Civil de Tocantins.[18] A operação foi batizada em dedicação ao arcanjo São Miguel, padroeiro da Polícia Civil.[10] Foram cumpridos dois mandatos de prisão temporária e cinco de busca e apreensão nos bairros São Domingos, Xangrilá e Centro. A polícia anunciou a prisão de um casal de vinte anos, sem dar mais esclarecimentos.[18] A prisão foi decretada após a polícia encontrar mentiras e contradições no depoimento do casal durante as investigações.[10] Os réus voltaram ao local do crime dez dias depois, dizendo que iriam comprar bebidas alcoólicas.[16]

Confissão editar

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  Coletiva de imprensa da Polícia Civil com detalhes do crime

A reconstrução do crime foi feita com imagens de segurança dos arredores e a confissão do casal. Elídia e Caroline saíram para a festa no Horto Florestal. Lá, Caroline guiou Elídia para o local do crime, onde Igor estaria esperando por elas para que ele e Caroline pudessem usar cocaína. Eles permaneceram no local das 23h30 até às 2h00, e em certo momento Caroline teria tido um surto psicótico e estrangulou Elídia. Igor teria tentado interferir, mas foi repreendido por Caroline e assistiu ao assassinato passivamente. Depois, Caroline retirou a calcinha de Elídia para parecer que foi um caso de estupro e atrapalhar as investigações.[7][10][19] Apesar disso, a polícia não descartou outras possibilidades sobre como o assassinato de fato ocorreu na cena do crime por essa parte da reconstrução ter sido feita apenas com o relato dos réus, e há a possibilidade do crime ter sido premeditado.[10]

Julgamento editar

O processo corre em segredo na justiça. Há a possibilidade que o casal seja julgado em juri popular com pena de 12 a 30 anos por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.[20] Em 13 de setembro de 2019, a prisão do casal foi prorrogada.[21] A defesa entrou com recurso para a revogação da prisão cautelar de Caroline ou a implementação de outras medidas cautelares por ela estar presa por mais tempo do que o admitido pela lei. O pedido foi negado sob o argumento que o julgamento foi adiado pelas restrições causadas pela pandemia de COVID-19.[22]

Foi notificado que o julgamento aconteceria em julho de 2022, porém a notícia é falsa.[23]

Referências editar

  1. a b c d Amarildo Oliveira Netto (2 de julho de 2020). «UBÁ> UM ANO SEM ELIDIA GERALDO.JOVEM FOI ASSASSINADA PRÓXIMA AO HORTO FLORESTAL». Jornal Ubaense Online. Consultado em 3 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 4 de janeiro de 2023 
  2. Lola Aronovich (1 de junho de 2020). «MASCUS, O CRIME NÃO COMPENSA». Escreva Lola Escreva. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  3. Carlos Carone (20 de dezembro de 2018). «Ex-aluno da UnB é condenado a 41 anos de prisão por racismo no Paraná». Metrópoles. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  4. Chico Alves (9 de dezembro de 2020). «Ameaças a vereadoras negras e trans são perigo real, diz ativista Lola». Uol. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  5. «Troll misógino de internet atira nas costas de uma jovem e depois se mata no interior de SP». Vice. 19 de junho de 2018. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  6. Filipe Siqueira e Caíque Guimarães (13 de março de 2019). «Em fórum extremista, atiradores pediram 'dicas' para atacar escola». R7. Consultado em 9 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2022 
  7. a b c «Ubá: PC dá detalhes da investigação do caso Elídia Geraldo». TV Alterosa. 15 de agosto de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  8. «Dupla suspeita de matar Elidia Geraldo é presa pela Polícia Civil». Ubá News. 13 de agosto de 2019. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  9. a b Amarildo Oliveira Netto (11 de julho de 2019). «MÃE FAZ APELO EMOCIONADO PARA FILHA QUE ESTÁ DESAPARECIDA> QUALQUER INFORMAÇÃO LIGUE 190». Jornal Ubaense online. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  10. a b c d e f g «UAI NA REDE - COLETIVA SOBRE O CASO ELIDIA GERALDO». Web TV Uai. 16 de agosto de 2019. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  11. a b Sandra Zanella (24 de julho de 2019). «Polícia Civil apura morte de jovem de 19 anos em Ubá». Tribuna de Minas. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  12. «Jovem que estava desaparecida é encontrada morta em Ubá». G1 Zona da Mata. 22 de julho de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  13. a b «Polícia Civil de Ubá abre inquérito para apurar morte de jovem desaparecida». G1 Zona da Mata. 24 de julho de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  14. «Corpo da jovem desaparecida Elídia Geraldo é encontrado sem vida». Web TV Minas. 23 de julho de 2019. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  15. «UBÁ> ACUSADOS DE CRIME CONTRA ELÍDIA PODEM SER JULGADOS AINDA EM 2022». Jornal Ubaense online. 12 de julho de 2022. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  16. a b «Polícia Civil dá detalhes de investigação do caso Elídia Geraldo». TV Alterosa. 15 de agosto de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  17. Felipe Oliveira de Souza (13 de agosto de 2019). «DUPLA SUSPEITA DE MATAR ELIDIA GERALDO É PRESA PELA POLÍCIA CIVIL». Ubá News. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  18. a b «Casal é preso por suspeita de envolvimento na morte de jovem que estava desaparecida em Ubá». G1 Zona da Mata. 13 de agosto de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  19. «Polícia Civil esclarece autoria de assassinato de jovem que estava desaparecida em Ubá». G1 Zona da Mata. 15 de agosto de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  20. «UBÁ> ACUSADOS DE CRIME CONTRA ELÍDIA PODEM SER JULGADOS AINDA EM 2022». Jornal Ubaense online. 12 de julho de 2022. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  21. «Prorrogada prisão de suspeitos de assassinato de jovem desaparecida em Ubá». G1 Zona da Mata. 13 de setembro de 2019. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022 
  22. «Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Habeas Corpus Criminal: HC XXXXX-37.2020.8.13.0000 MG - Inteiro Teor». Consultado em 11 de outubro de 2022 
  23. «"Caso Elídia": informações sobre julgamento marcado para julho são falsas». O Noticiário. 15 de julho de 2022. Consultado em 11 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 11 de outubro de 2022