Chanel Miller (nascida em 1992) é uma escritora americana e artista, sediada em São Francisco, California e Nova Iorque.[1] ficou anonimamente conhecida depois de ter sido agredida sexualmente no campus da Universidade de Stanford, em janeiro de 2015, por Brock Allen Turner. No ano seguinte, o seu discurso de impacto de víctima, lido no julgamento, tornou-se viral depois de ser publicado online no BuzzFeed, tendo sido lido por 11 milhões de pessoas em apenas 4 dias.[2] Miller era referidas como "Emily Doe" nos documentos do tribunal e artigos dos mídia até setembro de 2019, quando abdicou da sua anonimidade e publicou o seu livro de memórias Know My Name: A Memoir, (em Portugal, Este é o meu Nome, Aurora Editora, 2024). O livro ganhou o prémio National Book Critics Circle Award para Autobiografias em 2019, e foi mencionado em várias listas nacionais de livros do ano. É creditada como aquela que começou a discussão nacional sobre o tratamento de casos de agressão sexual, e das suas vítimas, em campus de universidades e no sistema judicial. Também é oradora.[3]

Início de Vida editar

Chanel Miller nasceu em 1992[4][5] em Palo Alto, California,[6] a mais velha de duas filhas de uma mãe chinesa e um pai americano. A sua mãe emigrou para os EUA da China para se tornar escritora e o seu pai era um terapeuta reformado.[7][8][9] Miller frequentou a Gunn High School até 2010.[10][11] Frequentou a Universidade da California, Santa Bárbara, onde se licenciou em literatura em 2014, um ano antes da agressão ocorrer.[5][12]

Declaração de agressão e impacto da vítima editar

Na noite de 17 de janeiro de 2015 Miller, acompanhou a sua irmã a uma festa da Kappa Alpha na Universidade de Stanford; mais tarde nessa noite, dois estudantes da universidade encontraram Millher deitada no chão, atrás de uma lixeira, com outro estudante da universidade, Brock Turner, em cima dela.[13] Miller estava inconsciente,[14] sendo o seu nível de álcool no sangue perto de 0.22% na altura da agressão.[15][16] Quando Turner tentou escapar, foi apanhado pelos estudantes, que o seguraram até a polícia chegar.[17] Turner foi preso e indiciado com cinco acusações de agressão sexual, às quais declarou ser inocente.[18] Em 2016, foi condenado por três das cinco acusações e sentenciado a seis meses de prisão, provocando indignação pública devido à clemência da sentença.[19] O juiz Aaron Persky foi destituído dois anos depois.[20]

A carta, com 7,137 palavras, de impacto de víctima, escrita por Miller —que era referida nos documentos do tribunal e artigos de mídia como "Emily Doe"—foi publicado no BuzzFeed no dia 3 de junho de 2016, o dia a seguir à leitura da sentença de Turner,[14] e foi impressa noutros jornais e revistas de alcançe nacional, tal como o The New York Times.[21] Foi lido 11 milhões de vezes durante os quatro dias seguintes à sua publicação, tornando-se viral.[2]

Know My Name: A Memoir editar

No dia 9 de agosto de 2019, o programa 60 Minutes lançou uma entrevista com Miller—que decidiu sair do anonimato. Ela descreveu a sua história e as consequências do seu anonimato, e conheceu os dois estudantes que pararam Turner.[22] A autobiografia de Miller, Know My Name: A Memoir, foi publicada no dia 4 de setembro de 2019 pela Viking Books e tornou-se um best-seller.[23][24][25][26] O livro ganhou o prémio de National Book Critics Circle Award para Autobiografias em 2019[27] e foi nomeado um dos dez melhores livros do ano pelo The Washington Post.[28] The New York Times também selecionou Know My Name para a lista "100 Livros Notáveis de 2019."[29] O Dayton Literary Peace Prize selecionou o livro como o vencedor da categoria não ficção em 2020.[30]

Reconhecimento editar

O testemunho de Miller sobre a sua agressão sexual e o julgamento que se seguiu, "provocou uma discussão nacional sobre violação em campus de universidades e como os sobreviventes não estavam a ser ouvidos",[31][32] e "começou uma série de debates intensos sobre violação, sexismo e má conduta sexual nos últimos anos," incluíndo o movimento Me Too.[33]

No dia 1 de novembro de 2016, Glamour nomeou Miller, ainda apenas conhecida como Emily Doe, Mulher do Ano por "mudar a conversa entorno da agressão sexual para sempre", citando que a sua declaração de impacto da vítima tinha sido lido mais de 11 milhões de vezes.[34] Miller esteve presente na cerimónia, de forma anónima.[35] Aceitou o prémio em palco, em novembro de 2019, depois da publicação do seu livro. Miller escreveu um poema para declamar na cerimónia, no qual defendia o bem-estar das vítimas de agressão sexual.[36] Foi uma das pessoas influentes da revista Time em 2019, na 100 Next list.[37] Em 2019, a Universidade de Stanford uma colocou placa no campus, imortalizando a agressão.[38]

Obras de arte editar

Depois da sua agressão, Miller começou a frequentar aulas de arte por recomendação da sua terapeuta. No verão de 2015, Miller frequentou aulas de gravura na Escola de Design de Rhode Island em Providence, Rhode Island.[39]

Em 2020, um mural desenhado por Miller apareceu no Asian Art Museum em São Francisco.[39] Com 21 metros de comprimento e 4 metros de altura, o mural tem três vinhetas de banda desenhada e as frases "I was" (em português, "eu fui"), "I am" (em português, "eu sou"), and "I will be" (em português, "eu serei"). O museu esteve fechado ao público devido à pandemia de COVID-19, embora fosse possível ver o mural através das janelas de Hyde Street.[40]

Em 2021, o trabalho de Miller cobriu a fachada do Alimama Tea e Yin Ji Chang Fen na Bayard Street em Manhattan, Nova Iorque.[41] O mural foi um de nove criados em colaboração com o Estúdio A+A+A para o seu projeto “ASSEMBLY for CHINATOWN”.[42] O projeto foi feito para ajudar restaurantes familiares e membros da comunidade de Chinatown, Nova Iorque.[43] Durante a pandemia de COVID-19, os negócios de Americano-Asiáticos decresceram 26%, e os restaurantes de comunidades asiáticas foram vandalizados por causa de crimes de ódio contra Americano-Asiáticos.[44]

Publicações editar

  • Know My Name: A Memoir (2019)
    • Este é o meu Nome, (em Portugal, Este é o meu nome, Aurora Editora, 2024)

Referências editar

  1. «Chanel Miller». Penguin Random House. Consultado em September 6, 2019. Arquivado do original em September 5, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  2. a b «Stanford sexual assault: Chanel Miller reveals her identity». BBC. 4 September 2019. Consultado em 11 February 2020. Arquivado do original em December 3, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda) Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "BBC" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  3. «Chanel Miller». Executive Speakers Bureau. Consultado em June 27, 2020. Arquivado do original em June 28, 2020  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  4. Miller, Chanel (2019). Know My Name. [S.l.: s.n.] 
  5. a b Whitaker, Bill (September 22, 2019). «"Know My Name": Author and sexual assault survivor Chanel Miller's full "60 Minutes" interview». 60 Minutes. Consultado em October 2, 2019. Arquivado do original em October 1, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  6. Kadvany, Elena (September 23, 2019). «'Rape is not a punishment for getting drunk.' Chanel Miller speaks out during her first interview about being sexually assaulted by Brock Turner». Palo Alto Online (em inglês). Consultado em November 8, 2019. Arquivado do original em November 8, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  7. Sobieraj Westfall, Sandra; Hanlon, Greg (September 23, 2019). «Why Brock Turner's Sex Assault Victim Decided to Come Forward». People. Consultado em October 3, 2019. Arquivado do original em October 4, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  8. Weiner, Jennifer (September 24, 2019). «'Know My Name,' a Sexual Assault Survivor Tells the World». The New York Times. Consultado em October 2, 2019. Arquivado do original em September 28, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  9. Silman, Anna (September 23, 2019). «Chanel Miller's Story Needed to Be Told in Her Own Words». The Cut. Consultado em October 2, 2019. Arquivado do original em September 24, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  10. Nguyen, Madison; Yang, Joshua (October 4, 2019). «Alumna releases memoir after sexual assault case». The Oracle. Gunn High School. Consultado em February 27, 2021. Arquivado do original em March 2, 2021  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  11. Kadvany, Elena (September 4, 2019). «Anonymous no longer, Emily Doe reclaims identity in new memoir about Brock Turner sexual assault and its aftermath». Palo Alto Weekly. Consultado em February 27, 2021. Arquivado do original em October 29, 2021  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  12. «CCS Attendee Chanel Miller Announces Forthcoming Memoir, Know My Name». UC Santa Barbara College of Creative Studies. September 11, 2019. Consultado em October 3, 2019. Arquivado do original em October 4, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  13. Xu, Victor (June 2, 2016). «Brock Turner sentenced to six months in county jail, three years probation». The Stanford Daily. Stanford, California: The Stanford Daily Publishing Corporation. Consultado em October 20, 2019. Arquivado do original em May 10, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  14. a b Baker, Katie J.M. (June 3, 2016). «Here's The Powerful Letter The Stanford Victim Read To Her Attacker». BuzzFeed. New York City: Buzzfeed Media Group. Consultado em September 6, 2019. Arquivado do original em September 6, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda) Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Buzzfeed 2016" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  15. «Stanford rape case: Inside the court documents». CNN. June 10, 2016. Consultado em August 2, 2021. Arquivado do original em August 2, 2021  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  16. «Brock Turner trial continues in second week of testimony». March 22, 2016. Consultado em August 2, 2021. Arquivado do original em March 22, 2016  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  17. Herhold, Scott (March 21, 2016). «Herhold: Thanking two Stanford students who subdued campus sex assault suspect». The Mercury News. San Jose, California: MediaNews Group. Consultado em October 20, 2019. Arquivado do original em August 30, 2016  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  18. Kaplan, Tracey (February 2, 2015). «Former Stanford swimmer pleads not guilty to rape charges». The Mercury News. San Jose, California: MediaNews Group. Consultado em October 20, 2019. Arquivado do original em August 12, 2016  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  19. Stack, Liam (June 6, 2016). «Light Sentence for Brock Turner in Stanford Rape Case Draws Outrage». The New York Times. New York City. Consultado em October 20, 2019. Arquivado do original em June 14, 2018  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  20. Egelko, Bob (June 6, 2018). «Judge Aaron Persky, who ruled in sex assault case, recalled in Santa Clara County». San Francisco Chronicle. San Francisco, California. Consultado em October 20, 2019. Arquivado do original em October 24, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  21. «Court Statement of Stanford Rape Victim». The New York Times. New York City. June 8, 2016. Consultado em September 6, 2019. Arquivado do original em September 6, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  22. Whitaker, Bill. «'Know My Name': Author and sexual assault survivor Chanel Miller's full "60 Minutes" interview». www.cbsnews.com (em inglês). Consultado em 6 January 2021. Arquivado do original em January 9, 2021  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  23. de León, Concepción (September 22, 2019). «'It Will Always Be a Part of My Life': Chanel Miller Is Ready to Talk». The New York Times. New York City. Consultado em November 18, 2019. Arquivado do original em November 17, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  24. Wyatt, Neal (October 3, 2019), «New Bestsellers, Oct. 3, 2019 - Book Pulse», New York City: Media Source Inc., Library Journal, consultado em October 28, 2019, cópia arquivada em October 28, 2019, Know My Name: A Memoir by Chanel Miller (Viking: Penguin) reclaims her story at No. 5 on the NYT Hardcover Nonfiction Best Sellers list and No. 14 on the USA Today Best-Selling Books list.  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  25. «Hardcover Nonfiction Books - Best Sellers - Oct 13. 2019», The New York Times, October 13, 2019, consultado em October 28, 2019, cópia arquivada em October 6, 2019, New This Week - Know My Name - by Chanel Miller - Viking - A sexual assault victim reclaims her identity and challenges our culture and criminal justice system as they relate to this issue.  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  26. «Best-Selling Books Week Ended September 28». The Wall Street Journal. New York City: Dow Jones & Company. October 3, 2019. Consultado em October 28, 2019. Arquivado do original em October 28, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  27. Beth Parker (March 12, 2020). «Announcing the 2019 Award Winners». bookcritics.org. Consultado em March 13, 2020. Arquivado do original em March 22, 2020  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  28. «Best Books of 2019». The Washington Post. November 21, 2019. Consultado em November 26, 2019. Arquivado do original em November 22, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  29. «100 Notable Books of 2019». The New York Times. November 25, 2019. Consultado em 29 November 2019. Arquivado do original em November 30, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  30. «2020 Awards – Dayton Literary Peace Prize». Dayton Literary Peace Prize (em inglês). Consultado em 6 January 2021. Arquivado do original em November 13, 2020  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  31. Cleary, Tom. «Chanel Miller: Stanford Rape Survivor Wants You to Know Her Name». Heavy. Consultado em September 6, 2019. Arquivado do original em September 4, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata= (ajuda)
  32. Quinn, Annalisa (September 23, 2019). «Chanel Miller Says 'Know My Name,' As She Reflects On Her Assault By Brock Turner». NPR.org (em inglês). Consultado em September 23, 2019. Arquivado do original em September 23, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  33. de León, Concepción (September 4, 2019). «You Know Emily Doe's Story. Now Learn Her Name.». The New York Times. Consultado em September 6, 2019. Arquivado do original em September 6, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  34. «Glamour Women of the Year: Stanford Sexual Assault Case Survivor Emily Doe Speaks Out». glamour.com. Glamour Magazine. November 2016. Consultado em November 3, 2016. Arquivado do original em November 2, 2016  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  35. Shammas, Brittany (November 12, 2019). «Once an unnamed sexual assault victim, Chanel Miller accepts Woman of the Year award — this time, herself». The Washington Post. Consultado em November 18, 2019. Arquivado do original em November 14, 2019  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  36. «The Best Moments From Glamour's 2019 Women of the Year Awards». glamour.com. November 11, 2019. Consultado em March 20, 2021. Arquivado do original em March 1, 2020  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  37. «Chanel Miller on Time magazine's 100 next list». www.whio.com (em inglês). November 14, 2019. Consultado em 29 de novembro de 2019. Arquivado do original em November 15, 2019  Verifique data em: |arquivodata=, |data= (ajuda)
  38. Facing public pressure, Stanford decides to install plaque with Chanel Miller's words Arquivado em agosto 3, 2021, no Wayback Machine 2019
  39. a b Finkel, Jori (August 5, 2020). «Chanel Miller's Secret Source of Strength». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 26 de janeiro de 2021. Arquivado do original em February 6, 2021  Verifique data em: |arquivodata=, |data= (ajuda)
  40. Plummer, Todd (17 August 2020). «Chanel Miller on her art debut: I never thought I'd have so much space to be seen». Los Angeles Times. Consultado em 20 August 2020. Arquivado do original em August 20, 2020  Verifique data em: |acessodata=, |arquivodata=, |data= (ajuda)
  41. «AAPI Artists Create Vibrant Murals for Chinatown Restaurants». Time (em inglês). 14 de maio de 2021. Consultado em 24 de maio de 2023 
  42. «Assembly for Chinatown». ThinkChinatown (em inglês). 16 de agosto de 2020. Consultado em 24 de maio de 2023 
  43. «Assembly for Chinatown». A+A+A (em inglês). 20 de julho de 2020. Consultado em 24 de maio de 2023 
  44. «Racism targets Asian food, business during COVID-19 pandemic». PBS NewsHour (em inglês). 20 de dezembro de 2020. Consultado em 24 de maio de 2023