Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária

O Comando Feminista de Ação Antiautoritária (COFIAA) foi uma guerrilha urbana anarcafeminista insurrecionária mexicana ativa na Região Metropolitana do Vale do México entre 2014 e 2017.[1][2] A organização reivindicou oito atos terroristas durante sua existência, sendo o ataque a bomba contra a Conferência do Episcopado Mexicano em 2017 o mais amplamente noticiado.[3] O COFIAA foi a primeira organização anarquista insurrecionária no Mexico a ser composta exclusivamente por mulheres.[4]

Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (COFIAA)
Fundação 25/8/2014
Motivos Guerra ao Estado
Área de atividade Cidade do México
Ideologia Anarquismo Individualista, Anarquismo insurrecionário, Anarcafeminismo, Ecofeminismo, Anarcocomunismo, ilegalismo
Espectro político Extrema-Esquerda
Principais ações Ataques explosivo-incendiários contra igrejas e propriedade privada
Status Inativa
Aliados Várias células anarquistas mexicanas
Inimigos Estado Mexicano

História editar

Surgimento e Primeiros Atos editar

A COFIAA surgiu em 25 de agosto de 2014. Seu primeiro ataque foi a explosão de uma bomba caseira em uma oficina de atenção cidadã do deputado Orlando Anaya González, do Partido de Ação Nacional, em Iztapalapa.[5] O segundo, no mesmo dia, foi uma explosão na Igreja de Nossa Senhora de Loreto. Ambos os ataques foram reivindicados no primeiro comunicado do grupo, o manifesto Despues de Media Noche.[6] No manifesto, o COFIAA afirmava que a segunda bomba originalmente seria deixada na Catedral Metropolitana da Cidade do México, mas que o alvo foi alterado devido à presença de trabalhadoras no local que poderiam se ferir na explosão; No manifesto também afirmam ter deixado outras três bombas espalhadas pela Cidade do México, mas estas nunca foram encontradas.

Em 12 de abril de 2015, o grupo deixou uma bomba incendiária em uma sucursal da Santander México na demarcação de Gustavo A. Madero.[3][7] Meses depois, em junho, um ataque explosivo foi realizado contra a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Territorial e Urbano (SEDATU).[8][9][10][11] Ambos os ataques causaram apenas danos materiais.

 
Oficina da SACMAG danificada após ataque do COFIAA

Ainda em 2015 o COFIAA voltou a atacar o clero, deixando um explosivo a base de dinamite na porta de uma igreja católica.[12] O ataque foi realizado in memorian do estudante anarquista Aléxandros Grigorópulos, morto na Grécia em 2008. Em maio do ano seguinte, o grupo reivindicou um ataque contra uma oficina da empresa SACMAG México S.A, sem uma explicação da motivação do ato.[13][14][15]

Ataque mais notórios editar

Em 20 de dezembro de 2016, o COFIAA se responsabilizou pela explosão de uma bomba caseira no Instituto das Mulheres da Cidade do México, danificando o portão de metal e a vidraçaria da entrada principal, sem no entanto resultar em pessoas feridas.[16][17] Na ocasião, a reivindicação feita pelo grupo afirmava que continuariam a atacar a “instituições feministas burguesas”, que consideravam ser danosas à emancipação feminina.[18]

Em 16 de abril de 2017, outro ataque foi realizado, desta vez contra a petroleira EXXON através de uma bomba caseira colocada em uma de suas instalações.[19][20][21] O ataque resultou em danos materiais a partes do local. Na reivindicação, as anarquistas caracterizavam a EXXON como uma empresa genocida e ecocida com um “enorme histórico de devastação”.[22] O comunicado também denuncia o nacionalismo estadunidense do então presidente dos Estados Unidos Donald Trump, assim como o nacionalismo mexicano.

No que foi seu ato mais amplamente noticiado, e também seu último ato, o COFIAA abandonou uma bomba que causou sérios danos às portas da Conferência do Episcopado Mexicano.[23][24][25] Segundo policiais, e de acordo com o comunicado do grupo, o explosivo era feito à base de dinamite, gás butano e gasolina.[26][27][28] Este ataque acabou por chamar a atenção da mídia e também das autoridades do governo mexicano, e uma investigação foi iniciada pela Procuradoria Geral da Justiça da Cidade do México, sem porém chegar a quaisquer conclusões.[29]

Ideologia editar

O Comando Feminista de Ação Antiautoritária se reivindica como uma organização anarcafeminista, anarcoindividualista e ecofeminista. Em seus documentos o grupo também defende o abolicionismo penal e o fim da justiça institucionalizada.[30]

Para além de sua oposição ao capitalismo e seu antiestatismo, o COFIAA também se opõe fortemente ao feminismo liberal e às correntes moderadas e reformistas do feminismo.[6] Em um de seus comunicados, chegam a afirmar:[18]

Nos dói tanto a crueldade feminicida que paira sobre nós […] mas vemos em tempo os congressos e movimentos feministas exigindo que sejam feitas mais leis, criados mais tipos penais, produzidos mais acordos com o estado quando é precisamente a existência das leis e do sistema de dominação de representação hierárquica o cenário sine qua non dessa violência!
 
Ana, la mariposa negra.

Ainda que seja um dos grupos considerado parte das "guerrilhas negras" surgidas no México dos anos 2010,[31] e ainda que ecoe muito daquilo que defendiam grupos como as Células Autônomas de Revolução Imediata Práxedis G. Guerrero e a Célula Mariano Sánchez Añón, o foco no feminismo diferencia o COFIAA de outras organizações do chamado "anarcoterrorismo", e de fato a torna uma das poucas organizações feministas armadas da história.

Ver Também editar

Ligações Externas editar

Coleção de todos os comunicados publicados pelo COFIAA, coletado pelo website anarquista LaPeste.org

Referências

  1. Gómez, Carolina; Gómez, Laura (27 de junho de 2017). «Comando feminista se adjudica la autoría del ataque contra edificio de la CEM». La Jornada (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  2. Vera, Rodrigo (26 de junho de 2017). «Comando 'anarco-feminista" se adjudica ataque a sede del Episcopado». Proceso (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  3. a b «"Comando Feminista" se atribuye otros ataques». El Universal (em espanhol). 27 de julho de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  4. Castellanos, Laura (2018). Cronica de un Pais Embozado 1994-2018 (em espanhol). Cidade do México: Ediciones Era. p. 151. ISBN 978-607-445-509-0 
  5. «Reprueba Sen. Mariana Gómez del Campo ataque al Módulo de Atención del dip. Orlando Anaya». Senado de la República (em espanhol). 27 de agosto de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  6. a b La Camelina, Lupe (2017). Después de media noche. Periódico Anarquista Insurrecional de Agitación por la Acción (em espanhol). Cidade do México: Célula por Afinidad de Difusión del Comando Feminista Informal de Acción Antiautoritaria 
  7. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (13 de abril de 2015). «México: Ataque incendiario contra sucursal del banco Santander». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  8. Redação AN (6 de junho de 2015). «Atacan con explosivo instalaciones de la Sedatu». Aristegui (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  9. «Estallan explosivos en instalaciones de Sedatu». La Silla Rota (em espanhol). 6 de junho de 2015. Consultado em 13 de maio de 2022 
  10. «Atacan con explosivo instalaciones de la Sedatu». Líneas Delgadas (em espanhol). 6 de junho de 2015. Consultado em 13 de maio de 2022 
  11. Comando Feminino Informal de Ação Antiautoritária (7 de junho de 2015). «México D.F.: Ataque explosivo a las oficinas de SEDATU». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  12. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (25 de dezembro de 2015). «México: Dispositivo explosivo em igreja católica – Por um Dezembro Negro». ContraInfo. Consultado em 13 de maio de 2022 
  13. Alarcón, Rodrigo (5 de maio de 2016). «Arrojan artefacto explosivo en oficinas de la colonia Nápoles». Excelsior (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  14. Jiménez, Carlos (5 de maio de 2016). «Detona explosivo en edificio de la colonia Nápoles». López-Dóriga (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  15. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (5 de maio de 2016). «Cidade do México: Ataque explosivo contra a empresa SAGMAC DE MÉXICO». ContraInfo. Consultado em 13 de maio de 2022 
  16. «Autoridades capitalinas investigan explosión en Inmujeres CDMX». Ciudadania Express (em espanhol). 21 de dezembro de 2016. Consultado em 13 de maio de 2022 
  17. «Investiga Gobierno capitalino explosión de artefacto en portón de InmujeresCDMX». Secretaría de Gobierno (em espanhol). 20 de dezembro de 2016. Consultado em 13 de maio de 2022 
  18. a b Comando Feminista INformal de Ação Antiautoritária (20 de dezembro de 2016). «México: Artefacto explosivo contra el Instituto de las Mujeres de la Ciudad de México». ContraInfo (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  19. Camacho, Zósimo (19 de abril de 2017). «Atentado de la insurrección anarquista contra oficinas de la petrolera ExxonMobil en México». ContraLínea (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  20. «Comando feminista reivindica explosión en sede de Exxon en la CDMX». Proceso (em espanhol). 20 de abril de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  21. «Comando Feminista se adjudica explosión en Exxon México». Marquesina (em espanhol). 20 de abril de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  22. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (24 de abril de 2017). «México: Atentado explosivo contra a petroleira EXXON, em solidariedade com xs anarquistas do caso Aachen». ContraInfo. Consultado em 13 de maio de 2022 
  23. Redacción OEM en Línea (25 de julho de 2017). «[Video] Artefacto explota en la entrada del Episcopado Mexicano». EL Sol de Mexico (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  24. Ramos, Jorge (26 de julho de 2017). «Explosión es un 'mensaje de odio', afirma Segob». El Universal (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  25. «Explosión daña puerta de la Conferencia del Episcopado en Ciudad de México». EFE (em espanhol). 26 de julho de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  26. «Artefacto explosivo daña sede de la Conferencia del Episcopado Mexicano». El Economista (em espanhol). 25 de julho de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  27. «México. Grupo feminista reivindica responsabilidade por bomba detonada no lado da sede do episcopado». Revista IHU Online. 28 de julho de 2017. Consultado em 13 de maio de 2022 
  28. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (26 de julho de 2017). «Cidade do México: Ataque explosivo contra a Conferência do Episcopado Mexicano». ContraInfo. Consultado em 13 de maio de 2022 
  29. Redacción OEM en Línea (26 de julho de 2017). «PGR toma investigación sobre explosión de artefacto en Episcopado Mexicano». El Sol de Mexico (em espanhol). Consultado em 13 de maio de 2022 
  30. Comando Feminista Informal de Ação Antiautoritária (2021). COFIAA. Comunicados y Reflexiones. [S.l.]: Ediciones Expandiendo la Revuelta 
  31. Camacho, Zósimo (16 de outubro de 2016). «XI. 50 células anarquistas en guerra contra el capitalismo y el Estado». Contralínea (em espanhol). Consultado em 23 de abril de 2022