Descomunização na Rússia

Descomunização na Rússia é o processo de lidar com o legado do comunismo em termos de pessoas e instituições, que tende a romper com a história da União Soviética. Em comparação com os esforços de antigos países do bloco do Leste e de ex-integrantes da União Soviética, na Rússia esta restringiu-se a meias medidas, quando realizadas.[1]

A fachada do Grande Palácio do Kremlin foi restaurada à sua forma original após a dissolução da União Soviética em 1991. O Emblema do Estado da URSS e as letras incorporadas que formam a abreviatura da URSS (CCCP) foram removidas e substituídas por cinco duplas-cabeças de águias. Uma restauração adicional do brasão de armas dos vários territórios do Império Russo foi colocada acima das águias

Algumas medidas anticomunistas notáveis na Federação Russa, foram a proibição do Partido Comunista da União Soviética (e da criação do Partido Comunista da Federação Russa) e, o ato de rebatizar muitas cidades russas, devolvendo os nomes estas tinham antes da Revolução de Outubro de 1917 (Leningrado para São Petersburgo, Sverdlovsk para Ecaterimburgo, Gorki para Níjni Novgorod, etc.).[2]

No entanto, a nostalgia pela União Soviética está aumentando gradualmente na Rússia.[3] A simbologia comunista continua sendo uma parte importante da retórica utilizada nos meios de comunicação controlados pelo Estado, pois sua proibição é vista pelo Ministério de Relações Exteriores como "sacrilégio" e "uma ideia perversa de bem e mal".[2] O processo de descomunização na vizinha Ucrânia também encontrou críticas na Rússia [2] e os crimes de guerra soviéticos continuam a ser classificados como um "mito ocidental".[4] A descomunização do país foi menos traumática do que em outras sociedades do Leste Europeu, sendo que o Putin fez questão de defender os direitos do judeus do país e foi criticado por isso.[5]

Golpe de Agosto editar

 
Barricadas da resistência em frente da Casa Branca durante a tentativa de golpe em Agosto de 1991

Após o malogrado golpe de estado de Agosto de 1991, em 23 de Agosto, as pessoas aplaudiram o presidente da República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), Boris Iéltsin, por suspender o PCUS (Partido Comunista da União Soviética) no momento da investigação, apesar dos protestos do presidente soviético Mikhail Gorbachev, que insistiu que o partido, como um todo, não era o culpado pelos eventos.[6] O partido comunista russo e a sede do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética foram fechados.[carece de fontes?]

Em 24 de Agosto, Gorbachev dissolveu o comitê central do PCUS e renunciou ao cargo de secretário-geral (mas permaneceu presidente da URSS). Em 25 de Agosto, Iéltsin emitiu outro decreto nacionalizando a propriedade do partido (incluindo arquivos e contas bancárias) em favor do Conselho de Ministros da RSFSR.[7]

Algumas semanas após o golpe, a União Soviética rompeu-se pacificamente. Em 6 de Novembro de 1991, Iéltsin proibiu o PCUS, que exerceu o controle generalizado sobre a sociedade soviética há anos.[8] A dissolução da União Soviética foi reconhecida no Pacto de Belaveja de 8 de Dezembro, ratificado pelo Soviete Supremo da RSFSR em 12 de Dezembro. Em 26 de Dezembro de 1991, a dissolução da URSS foi declarada. Sua maior república constituinte, a RSFSR, foi renomeada Federação Russa. Foi formalmente estabelecida em 1 de Janeiro de 1992 e tornou-se o estado sucessor da União Soviética.[carece de fontes?]

Investigação do golpe editar

A comissão parlamentar para investigar a tentativa de golpe foi estabelecida em 1991 sob direção de Lev Ponomaryov (incluindo também Gleb Yakunin), mas em 1992 foi dissolvida devido à insistência de Ruslan Khasbulatov. Tendo obtido acesso aos arquivos secretos da KGB como membro do comitê, em março de 1992, Gleb Yakunin publicou materiais sobre a cooperação do Patriarcado de Moscou com a KGB. Ele afirmou que o Aleixo II de Moscou, o metropolita Filaret de Kiev, Pitrim de Volokolamsk e outros foram recrutados pela KGB.[9] [10]

Uma grande parte dos arquivos do Partido Comunista (preservados agora em arquivos estatais, como o Arquivo Presidencial da Federação Russa, Arquivo Estatal Russo de História Contemporânea, Arquivo Estatal Russo de História Sócio-Política e o Arquivo Estatal da Federação Russa), incluindo quase todos os documentos do seu comitê central, permanecem em sigilo.[11]

Em 1992, vários deputados de pessoas processaram Iéltsin, solicitando o exame de seus decretos sobre o Partido Comunista para o cumprimento da constituição russa de 1978. Em 30 de Novembro de 1992, a Corte Constitucional da Federação Russa revisou parcialmente os decretos e suspendeu a proibição contra o Partido Comunista do RSFSR.[12]

Restabelecimento do partido comunista editar

O colapso da URSS é uma vergonha. (morador de Yegoryevsk).[3]

O Partido Comunista da Federação Russa foi restabelecido em Fevereiro de 1993. Alguns partidos comunistas menores alegam também ser sucessores do PCUS.[carece de fontes?]

Ao contrário de muitos outros países do antigo bloco soviético, o lustrismo [13] [14] (ostracismo político) de integrantes do PCUS e de membros da KGB na Rússia enfrentou forte resistência e nunca foi implementado. Muitos deles permaneceram no poder. Na realidade, grande parcela dos atuais políticos russos iniciaram suas carreiras na URSS. Um projeto de lei sobre o lustrismo foi proposto pela primeira vez ao parlamento em Dezembro de 1992 por Galina Starovoytova, mas nunca avançou.[carece de fontes?]

As pessoas encarceradas por participação na tentativa de golpe de Agosto de 1991 foram libertadas da prisão em 1992 e as acusações foram anuladas sob anistia pela Duma Federal em 23 de Fevereiro de 1994. Vasily Starodubtsev, governador do Oblast de Tula de 1997 a 2005, Anatoly Lukyanov, deputado do Partido Comunista da Federação Russa na Duma de 1993 a 2003, Valentin Varennikov deputado na Duma desde 1995 (Partido Comunista da Federação Russa, Rodina), os dois últimos, chefes das comissões parlamentares .[carece de fontes?]

Não houve uma tentativa deliberada da sociedade em lidar com o passado soviético da Rússia.[15]

Ver também editar

Referências

  1. Russian Bureaucracy: Power and Pathology. Autor: Karl W. Ryavec. Rowman & Littlefield, 2005, pág. 13, (em inglês) ISBN 9780847695034 Adicionado em 12/08/2017.
  2. a b c BBC News - Goodbye, Lenin: Ukraine moves to ban communist symbols. Vitaly Shevchenko, 14 de Abril de 2015, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  3. a b BBC News - The Russians with fond memories of the USSR. Steve Rosenberg, 19 de Agosto de 2016, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  4. BBC News - The rape of Berlin. Lucy Ash, 1 de Maio de 2015, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  5. Azov fighters are Ukraine's greatest weapon and may be its greatest threat
  6. Указ Президента РСФСР от 23 августа 1991 года N 79 "О приостановлении деятельности Коммунистической партии РСФСР" (Decreto Presidencial da RSFSR de 23 de Agosto de 1991 Nº 79: "sobre a suspensão das atividades do Partido Comunista da RSFSR"). Adicionado em 12/08/2017.
  7. Informika (Об имуществе КПСС и Коммунистической партии РСФСР "Sobre as propriedade do PCUS e do Partido Comunista da RSFSR Arquivado em 22 de janeiro de 2005, no Wayback Machine. - Указ Президента РСФСР от 25 августа 1991 года N 90 (Decreto Presidencial da RSFSR Nº 90, de 25 de Agosto de 1991). (em russo) Acessado em 12/08/2017.
  8. Указ Президента РСФСР от 6 ноября 1991 года N 169 "О деятельности КПСС и КП РСФСР" (Decreto presidencial da RSSFR, de 6 de Novembro de 1991, Nº 169: "Sobre a atividade do PCUS e partido comunista da RSSFR." Adicionado em 12/08/2017.
  9. O Arquivo Mitrokhin. Autores: Christopher Andrew & Vasili Mitrokhin. Penguin Books, 2000, (em inglês) ISBN 9780140284874 Adicionado em 12/08/2017.
  10. The State Within a State. Autora: Yevgenia Albats. Farrar, Straus and Giroux, 1999, (em inglês) ISBN 9780374527389 Adicionado em 12/08/2017.
  11. Jstor - The Case of the Russian Archives: An Interview with Iurii N. Afanas'ev. Dar'ia Khubova & Vitaly Chernetsky. Slavic Review, Vol. 52, Nº. 2, 1993, págs. 338-352, (em inglês). (Para um exemplo de documentos preservados, veja o Soviet Archive compilado por Vladimir Bukovsky em 1992). Acessado em 12/08/2017.
  12. Panorama.ru - Дело о проверке конституционности Указов Президента Российской Федерации от 23 августа 1991 года N 79. ("O caso sobre a constitucionalidade do decreto presidencial Nº 79, de 23 de Agosto de 1991.") (em russo) Acessado em 12/08/2017.
  13. Russia and the Cult of State Security: The Chekist Tradition, From Lenin to Putin. Autora: Julie Fedor. Routledge, 2013, (em inglês) ISBN 9781136671852 Adicionado em 12/08/2017.
  14. Beyondintractability - Lustration. Eric Brahm, Junho de 2004, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  15. Universidade de Maryland - The Bureaucratic Politics of Democracy Promotion: The Russian Democratization Project. Susan H. Nelson, 27 de Abril de 2006, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.

Leitura adicional editar

  • Project Muse - The Two Sides of the New Russia. Lilia Shevtsova, Journal of Democracy, Vol. 6, Nº3, 3 de Julho de 1995, págs. 56-71, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  • Jstor - Moral Reasoning in the Context of Reform: A Study of Russian Officials. Debra W. Stewart, Norman A. Sprinthall & Jackie D. Kem. Public Administration Review, Vol. 62, Nº3, Maio-Junho de 2002, (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  • Worldcat - Bureaucrats and the Russian transition: The politics of accommodation, 1991-2003. Yevgenia Albats. PhD Dissertation, Harvard University, 2004. (em inglês) Acessado em 12/08/2017.
  • Reckoning With Moscow: A Nuremberg Trial for Soviet Agents and Western Fellow Travelers. Autor: Vladimir Bukovsky. Regnery Publishing, Incorporated, An Eagle Publishing Company, 1998, (em inglês) ISBN 9780895263896 Adicionado em 12/08/2017.

Ligações externas editar