Eleição legislativa da França em 2024

A eleição legislativa da França em 2024 será realizada nos dias 30 de junho e 7 de julho para eleger os 577 membros da Assembleia Nacional Francesa. Estas eleições, que eram esperadas para 2027, foram antecipadas pelo presidente Emmanuel Macron após os resultados das eleições europeias de 2024 em que a coligação de Macron (Juntos/Ensemble) sofreu uma pesada derrota contra a extrema-direita liderada pelo Reagrupamento Nacional[1][2].

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Eleições legislativas na França em 2024
577 deputados à Assembleia Nacional
(289 necessários para uma maioria absoluta)
30 de junho e 7 de julho de 2024
Demografia eleitoral
Hab. inscritos:  48 953 748
Gabriel AttalEssemble
Liderança coletivaNova Frente Popular
Jordan BardellaRN
Annie GenevardLR


Primeiro-Ministro da França
Eleito

Cenário político

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Depois da eleição legislativa da França em 2022, Juntos (coligação do presidente Macron) perdeu a maioria absoluta que detinha na Assembleia Nacional. Pela primeira vez desde 1997, o partido do presidente em funções perdia a maioria no parlamento. Os resultados das eleições de 2022 traduziram-se num forte crescimento da coligação da esquerda francesa (Nova União Popular Ecologista e Social/NUPES) e da extrema-direita do Reagrupamento Nacional (RN) e, com estes resultados, nenhum partido ou coligação tinha maioria no parlamento para governar, algo que não acontecia desde 1988[3].

A 9 de junho de 2024, pouco mais de uma hora depois de saber a dimensão da vitória do Reagrupamento Nacional nas eleições europeias de 2024, o presidente Macron fazia um discurso à nação em que afirmava que a ascensão do nacionalismo feita por "agitadores" era uma ameaça à França, Europa e à posição da França no mundo. Macron também atacava a extrema-direita como oferecendo o "empobrecimento do povo francês e levar à queda do nosso país". Após este discurso, Macron anunciou a data das eleições antecipadas para 30 de junho e 7 de julho[4][1].

Jordan Bardella, líder do RN, descreveu a vitória folgada do seu partido como um claro sinal de desaprovação contra Macron, pedindo a dissolução da Assembleia Nacional e descrevendo o dia da vitória do seu partido como o "Dia 1 do pós-Macron"[5]. Marine Le Pen, atual líder parlamentar da RN na Assembleia Nacional, e Jean-Luc Mélenchon, líder dos populistas de esquerda da França Insubmissa, celebram os resultados eleitorais e a convocação das eleições antecipadas[5].

A decisão de convocar eleições antecipadas foi considerada uma surpresa e, vista por muitas, como uma decisão arriscada. Analistas dividem-se na análise, com alguns a descrever que Macron estaria a forçar para uma divisão entre o RN e os outros partidos de oposição, outros a dizerem que Macron pretendia (re)conquistar a maioria absoluta parlamentar. Vários líderes políticos franceses criticaram a decisão de Macron, com especial destaque para Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, expressando preocupação pelos efeitos que as eleições poderão ter nos Jogos Olímpicos de Verão de 2024[6][7].

Campanha eleitoral

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O tempo para registar as candidaturas às eleições para a primeira ronda foi de 12 a 16 de junho, enquanto para a segunda volta será até a 2 de julho[8]. A campanha eleitoral começou oficialmente a 17 de junho[9].

Logo após os resultados das europeias, François Ruffin, deputado da França Insubmissa, pediu uma nova Frente Popular para travar a ascensão do Reagrupamento Nacional. Rapidamente, os líderes do Partido Socialista, Verdes e do Partido Comunista Francês, bem como diversos intelectuais e independentes, juntaram-se ao apelo e, a 10 de junho foi apresentada a Nova Frente Popular[10][11][12]. O programa da Frente Popular, apresentado a 14 de junho, onde prevê reverter a política de imigração e de pensões do governo Macron, reconhecimento do Estado da Palestina continuar com ajuda militar para a Ucrânia e o envio de soldados da manutenção da paz para proteger as centrais nucleares ucranianas[13][14].

Na direita francesa, a divisão tem sido a palavra de ordem. Na noite das eleições europeias, Marion Maréchal, candidata pelo partido Reconquête de Éric Zemmour, anunciou uma reunião no dia seguinte com Jordan Bardella e Marine Le Pen (tia de Marion). Após a reunião, Marion anunciava que o Reagrupamento Nacional não queria uma coligação em virtude da sua posição contra Zemmour[15][16]. Apesar disto, Marion Maréchal anunciou o seu apoio ao RN. Como consequência deste anúncio, Zemmour expulsou, não só Marion Maréchal, como outros membros do seu partido e ficando reduzido a 1 eurodeputado, apenas dois dias depois de ter elegido 5[17].

Marine Le Pen prometeu que o RN iria formar um governo de "unidade nacional" em caso de vitória eleitoral[14]. Ao mesmo tempo, Bardella afirmou que só ele "era o único capaz de bloquear Mélenchon e bloquear a extrema-esquerda" e apelou a "todas as forças patrióticas da república" para se unirem e travar uma possível vitória da esquerda francesa. Ele também prometeu passar uma nova lei de imigração que permita a deportação de "islamistas e delinquentes" e cortar os custos da energia enquanto primeiro-ministro[18].

A grande questão destas eleições foi uma possível aliança entre a direita tradicional gaullista dos Republicanos e o Reagrupamento Nacional. A 11 de junho, numa entrevista a um canal francês, Éric Ciotti, líder dos Republicanos, anunciou o seu apoio para que tal aliança aconteceu[19][20]. Este anúncio motivou uma onda de choque com vários membros dos Republicanos a condenaram tal decisão, e no dia seguinte, a comissão política do partido anunciou a expulsão de Ciotti, não só como líder do partido, mas como membro do partido totalmente[21]. Apesar disto, Ciotti rejeitou tal decisão, descrevendo-a como uma "violação flagrante dos nossos estatutos" e que era ilegal e nula. Ciotti viu um tribunal administrativo de Paris a dar-lhe razão a 14 de junho, sendo restituído líder dos Republicanos[22]. Jordan Bardella afirmava que o RN e os Republicanos iriam apoiar 70 candidatos de forma conjunta, embora os Republicanos afirmam que o número de candidatos não está correto[18]. Por contraponto, a secção do partido Republicano de Altos do Sena anunciou uma aliança com a coligação de Macron[23].

O primeiro-ministro Gabriel Attal prometeu fazer de tudo para evitar o "pior cenário" possível, com fontes próximas de Attal a afirmarem a sua preocupação com a extrema-direita estar "às portas do poder" na França[24]. O ministro das finanças Bruno Le Maire também avisou que uma vitória da extrema-direita ou da coligação de esquerda poderia provocar uma crise financeira[18]. A 12 de junho, Macron justificou a sua decisão de convocar estas eleições para travar a vitória da extrema-direita na eleição presidencial da França em 2027. Macron também iria criticar a possível aliança entre Republicanos e o Reagrupamento Nacional, bem como a Nova Frente Popular, e apelou a todos os partidos a "dizerem não aos extremos" e unirem-se[25].

Partidos concorrentes

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Os principais partidos e coligações concorrentes as seguir são:

Partidos e/ou coligações Lider(es) Principal Ideologia Aspecto politico Assentos antes da eleição Situação
Juntos Renascimento Stéphane Séjourné Liberalismo social Centro
158 / 577
Governo
Movimento Democrático François Bayrou Democracia Cristã Centro a Centro-direita
47 / 577
Horizontes Édouard Philippe Conservadorismo liberal Centro-direita
30 / 577
União dos Democratas e Independentes Hervé Marseille Liberalismo Centro para Centro-direita
7 / 577
Partido Radical Laurent Hénart Liberalismo Centro
5 / 577
245 / 577
Nova Frente Popular França Insubmissa Manuel Bompard Populismo de esquerda Esquerda
75 / 577
Oposiçao
Partido Socialista Olivier Faure Social-democracia Centro-esquerda
32 / 577
Os Ecologistas Marine Tondelier Politica verde Centro-esquerda para Esquerda
23 / 577
Partido Comunista Frances Fabien Roussel Comunismo Esquerda para Extrema-esquerda
22 / 577
Place Publique Raphaël Glucksmann e Aurore Lalucq Social-democracia Centro esquerda Ainda nao possui
155 / 577
Reagrupamento Nacional Jordan Bardella Populismo de direita Extrema-direita
84 / 577
Os Republicanos Annie Genevard (de fato)

Éric Ciotti [26]

Conservadorismo liberal Centro-direita para direita
59 / 577
Reconquête Éric Zemmour Conservadorismo nacional Extrema-direita
0 / 577
Lutte Ouvrière[a] Liderança coletiva Trotikismo Extrema-esquerda
0 / 577
Outros ou Independentes
35 / 577

Resultados

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Referências

  1. a b «Macron calls snap French election and Belgian PM to resign after disastrous poll results». Sky News (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  2. «Macron convoca eleições antecipadas face a vitória da extrema-direita em França». SIC Notícias. 9 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  3. Bernard, Mathias (20 de junho de 2022). «Parliamentary elections shock France's political order to its core». The Conversation (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  4. «Macron convoca eleições legislativas antecipadas na França após derrota em votação para o Parlamento». Estadão. Consultado em 17 de junho de 2024 
  5. a b Xu, Niamh Kennedy, Christian Edwards, Xiaofei (9 de junho de 2024). «Macron gambles on snap election after crushing loss to French far right in EU vote». CNN (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  6. Henley, Jon (10 de junho de 2024). «Three possible outcomes of Macron's shocking snap election». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 17 de junho de 2024 
  7. Jones, Sam; Henley, Jon; Rankin, Jennifer; O'Carroll, Lisa (10 de junho de 2024). «French parties hold emergency talks with possible allies for snap election». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 17 de junho de 2024 
  8. «What are the rules for France's snap parliamentary elections?». Le Monde.fr (em inglês). 13 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  9. «France kicks off accelerated campaign after Macron's legislative poll gamble». France 24 (em inglês). 17 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  10. «'Win together or lose separately?': French left calls for unity ahead of snap elections». France 24 (em inglês). 10 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  11. «Macron dissolves the French parliament and calls a snap election after defeat in EU vote». AP News (em inglês). 9 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  12. «« L'union des gauches et des écologistes, maintenant ! » : l'appel de 350 personnalités du monde politique, intellectuel, militant et artistique». Le Monde.fr (em francês). 10 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  13. «Ce que contient le programme du Nouveau Front populaire pour les élections législatives». Le Monde.fr (em francês). 14 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  14. a b «French left-wing alliance New Popular Front vows 'total break' with Macron policies». France 24 (em inglês). 14 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  15. «French snap elections: Le Pen and niece strive for far right's reconciliation». Le Monde.fr (em inglês). 11 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  16. «French far-right alliance talks break down». POLITICO (em inglês). 11 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  17. «Eric Zemmour exclut Marion Maréchal de son parti Reconquête pour "trahison"». rts.ch (em francês). 13 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  18. a b c «French elections: Left-wing parties form 'popular front' to fight National Rally». www.bbc.com (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  19. «France's Republicans leader wants to form 'alliance' with Le Pen's NR». Al Jazeera (em inglês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  20. SAPO. «Ciotti quer aliar-se a Le Pen e o partido quer expulsá-lo por isso. A "novela" da política francesa após Macron convocar eleições». SAPO 24. Consultado em 17 de junho de 2024 
  21. «Presidente é expulso de partido após propor aliança com Le Pen | Metrópoles». www.metropoles.com. 12 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  22. «Paris court overturns decision to expel Ciotti as head of France's right-wing Les Républicains». France 24 (em inglês). 14 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  23. «Législatives 2024 : accord local entre la coalition présidentielle et les responsables des Républicains dans les Hauts-de-Seine | LCP - Assemblée nationale». lcp.fr (em francês). Consultado em 17 de junho de 2024 
  24. «French PM Attal vows to 'do everything' to 'avoid the worst' in snap elections». Le Monde.fr (em inglês). 11 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  25. «Macron says he called snap elections to prevent rise of far right in 2027 presidential vote». France 24 (em inglês). 12 de junho de 2024. Consultado em 17 de junho de 2024 
  26. Éric Ciotti é de jure líder do partido, Os Republicanos (LR), mas apresenta um conjunto rival de candidatos em aliança com o Reagrupamento Nacional (RN) contra candidatos selecionados pelo comitê nacional de investidura dos Republicanos (em francês: Commission nationale d'investiture des Républicains). Annie Genevard e François-Xavier Bellamy foram empossados como presidentes interinos do partido antes da reintegração de Ciotti como presidente e membro do partido, e Genevard foi considerado o líder de fato da ala anti-Ciotti do partido por padrão.
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