Estação-tumulus de Aljezur

A Estação-tumulus de Aljezur foi um sítio arqueológico na vila de Aljezur, na região do Algarve, em Portugal. O nome foi colocado pelo investigador Estácio da Veiga, que fez escavações no local nos finais do Século XIX.

Estação-tumulus de Aljezur
Estação-tumulus de Aljezur
Construção Neolítico e Calcolítico
Geografia
País Portugal Portugal
Coordenadas 37° 18' 59.5" N 8° 47' 43.6" O
Mapa
Localização do edifício em mapa dinâmico
Diagrama da necrópole e de outros vestígios antigos junto à igreja de Aljezur, escavados por Estácio da Veiga. A letra A corresponde ao hipogeu, cujo corte lateral está indicado no B, e o a indica o local onde foi encontrado um conjunto de machados em xisto. Os números 1 a 9 são covas abertas no solo, que Estácio da Veiga interpretou como depósitos ou habitações antigas.

Descrição e história editar

Os vestígios arqueológicos situavam-se junto à Igreja Matriz, no interior da vila de Aljezur.[1] O principal elemento era uma necrópole, onde foram descobertos os restos ósseos de pelo menos trinta pessoas.[1] Este monumento funerário consistia uma gruta artificial que tinha sido escavada na rocha, de planta irregular, e que era composto por seis semiciclos organizados em planos escalonados, sendo provavelmente exemplar único em território nacional.[1] As cordas das curvas tinham dimensões variáveis, desde 1,70 m a 2,30 m, tal como as perpendiculares, que tinham entre 1,05 m e 1,30 m.[2] As câmaras foram dispostas em plataformas horizontais de larguras e altitudes diferentes, gerando uma espécie de escada.[2] Não foram descobertos quaisquer vestígios da galeria de entrada nem da cobertura em mamoa, o que pode ser explicado pelas obras de nivelamento dos terrenos que foram feitas por ordem do Bispo do Algarve, Francisco Gomes do Avelar, para construir a igreja e os novos bairros para os habitantes de Aljezur.[2] Com efeito, o edifício da Estalagem da Igreja Nova foi construído sobre parte do antigo túmulo.[2] Durante os trabalhos foram invadidos os planos mais à superfície da necrópole, enquanto que os mais profundos foram simplesmente entulhados, motivo pelo qual foi nesta camada que se encontrou a maior parte do espólio.[2]

Durante as escavações foram descobertos os restos osteológicos de mais de trinta humanos,[3] estando os corpos dobrados pela articulação dos fémures, de forma a encostar a cabeça aos joelhos, posição corporal muito comum entre os cadáveres descobertos nos dólmenes e outros monumentos funerários dos finais do neolítico.[2] Alguns destes vestígios ósseos foram destruídos pelos operários durante as escavações iniciais por José da Costa Serrão, incluindo incluindo cinco crâneos, que foram descritos como «muito compridos e descahidos para traz», o que Estácio da Veiga interpretou como um vestígio de dolicocefalia.[2] Também foram encontrados alguns vestígios de animais, destacando-se os fósseis de dentes de uma espécie extinta de tubarão, provavelmente Carcharodon megalodon,[4] semelhantes aos encontrados na caverna da Sinceira, em Aljezur, e que poderiam ter sido aproveitados como ferramentas pelos habitantes pré-históricos.[3] Com efeito, os dentes tinham perdido quase totalmente o revestimento do esmalte e a fina denticulação, tendo nalguns sido escavados dois entalhes laterais, podendo ter sido utilizadas como serras para cortar ossos, ou como polidores.[4] Estes dentes, devido à forma e dureza natural, eram consideradas como excelentes ferramentas, tendo Estácio da Veiga feito com sucesso uma experiência numa lâmina de mármore.[5] Estácio da Veiga avançou a teoria que a sua presença num contexto tumular, igualmente constatada no dolmen da Nora, em Aljezur, poderia estar igualmente associada a uma função devocional, uma vez que este tipo de peças eram por vezes venerada pelos indivíduos como defesa sobrenatural contra doenças.[5] O espólio em sílex inclui algumas pontas de flecha e uma de lança, várias facas e serras, e dois núcleos de cristal de rocha.[3] Os materiais em xisto eram compostos por machados polidos em anfibolito, três esboços preparados para machados, dois percutores, e uma placa com gravuras.[3] Foram igualmente descobertos um desgastador em grés vermelho, várias cabeças de alfinetes de osso, e vários fragmentos de louça.[3]

Além da necrópole em si, também foram descobertas nove covas escavadas no solo a curta distância da igreja matriz, que foram igualmente atingidas pelas obras de terraplanagem.[2] Estas estruturas eram geralmente identificadas pelas populações como antigos celeiros, mas Estácio da Veiga avançou a teoria que originalmente poderiam ter sido utilizados como habitações.[2] Tinham uma profundidade muito variável, algumas tendo apenas poucos centímetros, enquanto que as outras alcançavam 1,5 a 7 metros, sendo estas últimas semelhantes às covas encontradas por Estácio da Veiga em Silves.[2]

Segundo Estácio da Veiga, os vestígios do túmulo foram encontrados em 1881 pelo administrador do concelho de Aljezur, José da Costa Serrão, quando estava a extrair materiais para uma outra obra, no espaço contíguo à igreja.[6] Durante o processo, reparou que algumas pedras sobressaíam em relação ao nível do terreno, pelo que ordenou a sua remoção, no sentido de deixar o local nivelado.[6] Descobriu assim que estas pedras faziam parte de uma estrutura subterrânea, que continha os esqueletos de vários indivíduos, além de diversos utensílios em pedra e outras peças, que enviou para Estácio da Veiga.[6] Este dirigiu-se em seguida para o local, após ter pedido autorização ao governo, e iniciou escavações nos terrenos em redor da igreja,[6] com a colaboração do padre António José Nunes da Glória.[2] Assim, foi removido o entulho que tinha sido colocado por ordem de Costa Serrão, no sentido de proteger os vestígios.[3] Este entulho foi depois alvo de uma escolha por parte de um grupo de mulheres, de forma a garantir que não se perderiam quaisquer peças antigas.[3] Os vestígios das estruturas foram muito provavelmente destruídos após as escavações.[1]

Em 2011 foram descoberto um outro monumento funerário pré-histórico na zona da Barrada, a pouca distância da igreja de Aljezur, e que apresentava algumas semelhanças com a necrópole escavada por Estácio da Veiga, nomeadamente o Hipogeu I, formado por uma antecâmara e uma câmara funerária com planta irregular.[1]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e «"Os hipogeus de Aljezur: velhos dados e novas descobertas" motivam palestra na Universidade do Algarve». Sul Informação. 19 de Março de 2014. Consultado em 3 de Agosto de 2021 
  2. a b c d e f g h i j k VEIGA, 1886:147-148
  3. a b c d e f g VEIGA, 1886:149-150
  4. a b VEIGA, 1886:151-152
  5. a b VEIGA, 1886:153-154
  6. a b c d VEIGA, 1886:145-146

Bibliografia editar

Ligações externas editar


  Este artigo sobre Património de Portugal é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.