Experiência de Miller e Urey

experiência química para testar a hipótese de Oparin

A experiência de Miller e Urey foi uma experiência científica concebida para testar a hipótese de Oparin e Haldane sobre a origem da vida.

Esquema do experimento

Segundo o experimento, as condições na Terra primitiva favoreciam a ocorrência de reações químicas que transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Em 1953, Stanley L. Miller e Harold C. Urey da Universidade de Chicago realizaram uma experiência para testar a hipótese de Oparin e Haldane que ficou conhecida pelos nomes dos cientistas.[1] Esta experiência tornou-se na experiência clássica sobre a origem da vida.

Experiência

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Video descritivo da experiência de Miller e Urey

A experiência de Miller consistiu basicamente em simular as condições da Terra primitiva postuladas por Oparin e Haldane. Para isso, criou um sistema fechado, sem oxigênio gasoso, onde inseriu os principais gases atmosféricos, tais como hidrogênio, amônia, metano, além de vapor d'água.[2] Através de descargas elétricas, e ciclos de aquecimento e condensação de água, obteve após algum tempo, diversas moléculas orgânicas (aminoácidos). Deste modo, conseguiu demonstrar experimentalmente que seria possível aparecerem moléculas orgânicas através de reações químicas na atmosfera utilizando compostos que poderiam estar nela presentes. Estas moléculas orgânicas são indispensáveis para o surgimento da vida.

Comprovações

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Reanálises publicadas em outubro de 2008 do material original da experiência, mostraram a presença de 22 aminoácidos ao contrário dos 5 publicados no artigo original. Antigos resultados mostram uma forte evidência de estas moléculas orgânicas específicas poderem ser sintetizadas de reagentes inorgânicos atmosféricos. Comprovando então a hipótese da vida heterotrófica.[3]

Química do experimento

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A primeira etapa das reações químicas da mistura de gases deu origem ao cianeto de hidrogênio (HCN), formaldeido (CH2O) e outros compostos químicos como o acetileno, cianoacetileno, etc:

CO2 → CO + [O] (oxigênio atómico)
CH3 + 2[O] → CH2O + H2O
CO + NH3 → HCN + H2O
CH4 + NH3 → HCN + 3H1 ([Proceso Degussa)

O formaldeido, a amônia e o HCN reagiram entre si em um processo conhecido como Síntese de aminoácido de Strecker para formar aminoácidos e outras biomoléculas:

CH2O + HCN + NH3 → NH2-CH2-CN + H2O
NH2-CH2-CN + 2H2O → NH3 + NH2-CH-COOH (glicina)

Além disso, a água e o formaldeído reagiram pelo processo conhecido como Reação de Butlerov para produzir vários açúcares , tais como a ribose.

As experiências mostraram que compostos orgânicos simples, proteínas e outras macromoléculas podem ser formados a partir de gases com a adição de energia.

Aminoácidos identificados

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Abaixo é a tabela de aminoácidos produzidos e identificados no "clássico" experimento de 1952, como publicado por Miller em 1953,[4] the 2008 re-analysis of vials from the volcanic spark discharge experiment,[5] and the 2010 re-analysis of vials from the H2S-rich spark discharge experiment.[6]

Aminoácido Produzidos no experimento Proteinogenic
Miller–Urey

(1952)

Volcanic spark discharge

(2008)

H2S-rich spark discharge

(2010)

Glicina  
α-Alanina  
β-Alanina
Ácido aspártico  
Ácido α-aminobutírico
Serina  
Isoserina
α-Aminoisobutyric acid
β-Aminoisobutyric acid
β-Aminobutyric acid
γ-Aminobutyric acid
Valine  
Isovaline
Glutamic acid  
Norvaline
α-Aminoadipic acid
Homoserine
2-Methylserine
β-Hydroxyaspartic acid
Ornithine
2-Methylglutamic acid
Phenylalanine  
Homocysteic acid
S-Methylcysteine
Methionine  
Methionine sulfoxide
Methionine sulfone
Isoleucine  
Leucine  
Ethionine
Cysteine  
Histidine  
Lysine  
Asparagine  
Pyrrolysine  
Proline  
Glutamine  
Arginina  
Threonine  
Selenocysteine  
Tryptophan  
Tyrosine  

Ver também

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Referências

  1. Mariana Araguaia. «Experimento de Miller». Mundo Educação. Consultado em 13 de outubro de 2016. Arquivado do original em 13 de outubro de 2016 
  2. «Morre Stanley Miller, o homem da "sopa orgânica"». G1 Notícias. 4 de maio de 2008. Consultado em 13 de outubro de 2016. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2016 
  3. «Bases da construção da vida – a origem dos seres vivos». Vidraria de Laboratório. 18 de novembro de 2015. Consultado em 13 de outubro de 2016. Cópia arquivada em 23 de abril de 2016 
  4. Miller, Stanley L. (1953). «Production of Amino Acids Under Possible Primitive Earth Conditions» (PDF). Science. 117 (3046): 528–9. Bibcode:1953Sci...117..528M. PMID 13056598. doi:10.1126/science.117.3046.528. Consultado em 17 de janeiro de 2011. Arquivado do original (PDF) em 17 de março de 2012 
  5. Myers, P. Z. (16 de outubro de 2008). «Old scientists never clean out their refrigerators». Pharyngula. Consultado em 7 de abril de 2016. Cópia arquivada em 17 de outubro de 2008 
  6. Parker, ET; Cleaves, HJ; Dworkin, JP; et al. (14 de fevereiro de 2011). «Primordial synthesis of amines and amino acids in a 1958 Miller H2S-rich spark discharge experiment». Proceedings of the National Academy of Sciences. 108 (14): 5526–31. Bibcode:2011PNAS..108.5526P. PMC 3078417 . PMID 21422282. doi:10.1073/pnas.1019191108 

Ligações externas

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