Forte de São Bento (Porto Martins)

O Forte de São Bento localiza-se na freguesia do Porto Martins, concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, nos Açores.

Forte de São Bento: vestígios.
Forte de São Bento: painel testemunho.
Forte de São Bento (autor desconhecido, s/d, Arquivo Histórico Militar).
Planta do Forte de São Bento (Almeida Jr.; Damião Pego, 1881; 1883).

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico.

Inicialmente compreendido na freguesia do Cabo da Praia, encontra-se hoje na de Porto Martins por divisão administrativa da primeira. Cooperava com o Forte de São Filipe e o Forte de São Jorge, o primeiro arruinado e este último desaparecido ao final do século XIX.

História editar

Foi uma das fortificações erguidas na Terceira no contexto da crise de sucessão de 1580 pelo então corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, conforme o plano de defesa da ilha elaborado por Tommaso Benedetto em 1567, após o ataque do corsário francês Pierre Bertrand de Montluc ao Funchal (outubro de 1566), intentado e repelido em Angra no mesmo ano (1566):

"Não havia naquele tempo [Crise de sucessão de 1580] em toda a costa da ilha Terceira alguma fortaleza, excepto aquela de S. Sebastião, posto que em todas as cortinas do sul se tivessem feito alguns redutos e estâncias, nos lugares mais susceptíveis de desembarque inimigo, conforme a indicação e plano do engenheiro Tomás Benedito, que nesta diligência andou desde o ano de 1567, depois que, no antecedente de 1566, os franceses, comandados pelo terrível pirata Caldeira, barbaramente haviam saqueado a ilha da Madeira, e intentado fazer o mesmo nesta ilha, donde parece que foram repelidos à força das nossas armas." [1]

A seu respeito, DRUMMOND registou: "Na Ponta Negra edificou-se o forte de Nazaré, e logo adiante o de S. Tiago, que cruza, com o forte de São Bento, a enseada do Porto de Martim."[1]

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Forte de S. Bento." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[2]

Com a instalação da Capitania Geral dos Açores, o seu estado foi assim reportado em 1767:

"20º - Forte de São Bento. Precisam as suas muralhas encascadas e rebuçadas. Tem seis canhoneiras e cinco peças de ferro, quatro boas e huma incapaz, e os seus reparos bons; carece de duas peças com os seus reparos, e para se guarnecer seis artilheiros e vinte e quatro auxiliares."[3]

Encontra-se referido como "17. Forte de S. Bento" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que lhe aponta os reparos necessários:

"Este Forte careçe ser guarnecido, e rebocado, o seu portáo consertado, e hua porta nova na sua caza; e metade do teto em madeirado, e o telhado feito de novo, este Forte, tambem hé dos importantes, pois defendem, mais outro que se segue hua bahia."[4]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que "Tem algumas ruinas a cuja reparação se está procedendo."[5]

O tombo de 1881 encontrou-o abandonado e em relativo estado de conservação.[6]

Atualmente pouco resta das suas ruínas, assinaladas em 2005 a partir da estrada por um painel de azulejos, por iniciativa da Junta de Freguesia.

Características editar

De tipo abaluartado, apresentava planta com formato poligonal triangular, em alvenaria de pedra. O conjunto ocupava uma área total de 480 metros quadrados.

Em seus muros, pelo lado de mar, rasgaram-se, ao longo dos séculos, seis, cinco e três canhoneiras. Pelo lado de terra apresentava dois pequenos baluartes nos vértices. Em seu terrapleno erguiam-se a casa da guarda e o paiol, abobadado.

Adossado ao muro, com acesso pelo exterior, erguia-se a cozinha, dotada de forno.

No baluarte este, acedido por uma escada, erguia-se o mastro da bandeira.

Referências

Bibliografia editar

  • Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 272-274.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
  • JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
  • MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 43.
  • MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.

Ver também editar

Ligações externas editar