O Fossado de Triana foi uma campanha militar levada a cabo em 1178 pelos portugueses, chefiados por D. Sancho, então príncipe herdeiro de D. Afonso Henriques, contra os almóadas, que por então controlavam o sul da península Ibérica.

Fossado de Triana
Reconquista Portuguesa

As muralhas de Sevilha
Data Maio-Julho 1178
Local Península Ibérica
Desfecho Vitória portuguesa
Beligerantes
Reino de Portugal Califado Almóada
Comandantes
Infante D. Sancho Desconhecido
Forças
~2,300 cavaleiros
5,000 peões
Desconhecido
Baixas
Desconhecidas Desconhecidas

Contexto

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O fossado deu-se quando expirou uma trégua assinada entre os portugueses e os almóadas.[1][2] Os indícios de que os almóadas se preparavam para renovar a guerra contra os portugueses assim que expirada a trégua eram evidentes, pois em 1178 renovaram as defesas de Mértola e entre 1174 e 1175, reconstruíram as muralhas de Beja. Impunha-se também recuperar a capacidade militar das forças portuguesas para que se encontrassem aptas a combater assim que terminasse a trégua.

A campanha

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A hoste portuguesa reuniu-se em Coimbra em Maio e incluíam tanto infantaria como cavalaria, contingentes oriundos da Ordem de Calatrava em Portugal, chefiada então por Gonçalo Viegas de Lanhoso, as milícias concelhias da cidade e também de várias outras localidades, como Santarém, Lisboa e Évora, e as mesnadas de alguns dos mais importantes nobres de Portugal, como Afonso Hermiges de Baião, Vasco Fernandes de Soverosa, Pedro Fernandes de Bragança e Soeiro Viegas de Ribadouro, senhores de Baião, Basto, Bragança e Lamego respectivamente.[3] Contava a hoste com cerca de 2.300 cavaleiros e 5.000 peões, uma das maiores forças mobilizadas pela Coroa portuguesa até então.[3] O infante D. Sancho estaria coadjuvado pelo alferes Pedro Afonso, a quem competia transportar a bandeira real.[3]

A marcha

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De Coimbra, a hoste portuguesa chegou a Penela um dia depois e acampou ali.[3] De Penela a hoste dividiu-se e reecontrou-se em na Golegã, presumivelmente para impedir que os muçulmanos se apercebessem de tão grande movimentação de guerreiros, bem como para evitar problemas logísticos.[3] Novamente reunida a hoste, atravessaram o Tejo e alcançaram a cidade de Évora, enclave cristão em território muçulmano, a 150km de distância, estimando-se que tenham demorado quatro dias e noites.[3]

Em Évora os portugueses esperaram pela chegada de reforços de Lisboa e Santarém.[3] Informados pelos batedores que não se detectava nenhuma reacção muçulmana, os portugueses avançaram para o castelo de Valongo. A partir de Valongo os portugueses lançam algaras, ou pequenos raides para a obtenção de despojos ou destruição de bens nas regiões redor, à medida que a hoste avançava.[3]

A cidade de Beja e sua região, ainda sob controlo almóada foram atacadas.[3] Fazendo um amplo circuito pela moderna Estremadura espanhola, os portugueses cruzaram a Serra Morena e alcançaram Aljarafe, região criadora de gado.[3]

Duas semanas após terem partido de Beja, os portugueses chegaram a Sevilha em finais de Junho e inícios de Julho, mas a sua hoste revelou-se insuficiente para tomar a grande cidade.[4] Os portugueses acamparam a alguns quilómetros a ocidente de Sevilha.[4][3]

Batalha campal

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Plano das muralhas de Sevilha.

No dia seguinte, deu-se uma batalha campal entre a hoste portuguesa e uma hoste reunida pelos almóadas para destroçar os portugueses.[3] A ordem de batalha portuguesa era composta por vanguarda, corpo central, rectaguarda e duas alas, para além de uma reserva encarregue de defender o acampamento.[3] O infante D. Sancho comandava na vanguarda com 600 cavaleiros e 1500 peões e na rectaguarda encontravam-se igualmente 600 cavaleiros mas sem infantaria.[3] As alas tinham 250 cavaleiros e 2000 peões cada uma. A reserva era composta por alguns lanceiros e besteiros.[3]

A hoste muçulmana era profunda e continha cavalaria ligeira na vanguarda e grande número de infantaria na rectaguarda, não sendo impossível a presença de cavaleiros pesados andaluzes e escravos negros arqueiros.[3] Os muçulmanos atravessaram o Guadalquivir mas isto deixou-os encurralados entre os portugueses e o rio.[3] Os combates iniciaram-se com a troca de projécteis e as manobras da cavalaria ligeira almóada mas foram os esquadrões de cavalaria pesada na vanguarda portuguesa que avançaram primeiro contra as linhas inimigas.[3] A carga não logrou destroçar a vanguarda muçulmana e os portugueses dividiram-se me quatro ou cinco grupos separados.[3] A vanguarda foi, porém, socorrida pelo corpo central da hoste portuguesa, bem como pelas alas, que avançaram para a batalha em socorro do príncipe herdeiro e pouco depois os guerreiros almóadas e andaluzes começam a debandar de regresso a Sevilha, fortemente amuralhada.[3]

 
A Torre del Oro, antiga atalaia almóada.

Embora Sevilha quedasse na margem esquerda do rio, o subúrbio de Triana ficava na margem direita, ligada a Sevilha por uma ponte de barcas perto da Torre del Oro.[4] Uma torre na margem direita dominava o acesso à ponte.[4] Os subúrbios foram saqueados e ricos despojos tomados.[4][3] As galés muçulmanas varadas daquele lado do rio foram incendiadas.[3]

Caminho de regresso

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No caminho de regresso a Coimbra, Niebla e Gibraleón foram saqueados.[3] A travessia do Guadiana foi feita perto de Mértola, no Vale das Azenhas, e alcançou Beja, provavelmente entre 9 e 24 de Julho. Ali souberam que a guarnição de Beja e de Serpa, comandadas por Ibn Timsalit e Ali ben Wazir respectivamente, se encontravam fora, envolvidas num fossado contra a região de Alcácer do Sal, conquistada pelos portugueses em 1158.

Um destacamento de 1400 cavaleiros ligeiros juntamente com a guarnição de Alcácer do Sal derrotaram um contingente almóada de Beja e Serpa, comandado pelos alcaides Ibn Wazir e Ibn Timsalit, ambos mortos em combate.[3]

Consequências

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O grande fossado de Triana foi uma das mais ousadas operações militares da história de Portugal e permitiu ao príncipe Sancho afirmar-se como um digno comandante e herdeiro ao trono.[3] Todos os objectivos da expedição foram alcançados, nomeadamente a tomada de despojos, a destruição de bens aos muçulmanos, a afirmação de D. Sancho e retomar a expansão de Portugal em direcção ao sul.[3]

O poderio almóada não foi, porém, afectado e logo em finais de 1178 ou em inícios de 1179 os muçulmanos invadiram Portugal por terra e por mar, em represália pelo fossado de Triana.[3] Atacaram o castelo de Abrantes, que não conseguiram conquistar.[5] É neste contexto que se dá a Batalha do Cabo Espichel, em que o almirante D. Fuas Roupinho derrotou uma frota almóada enviada a pilhar as costas portuguesas.

Ver também

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Referências

  1. Jensen, Kurt Villads, (2016). Crusading on the Edges of Europe: Denmark and Portugal c.1000 – c.1250, Taylor & Francis, p. 151.
  2. Livermore, 1947, p. 87.
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa Miguel Gomes Martins: De Ourique a Aljubarrota - A Guerra Na Idade Média , A Esfera dos Livros, 2011, pp. 105-124.
  4. a b c d e McMurdo, 1888, p. 229.
  5. Carlos Selvagem: Portugal Militar: Compêndio de História Militar e Naval de Portugal Desde as Origens do Estado Portucalense Até o Fim da Dinastia de Bragança, 1931, p. 57.