Frota A do Metrô de São Paulo

A Frota A do Metrô de São Paulo foi a primeira frota de trens adquirida pela Companhia do Metropolitano de São Paulo e a primeira frota de metropolitano do Brasil. Os primeiros trens entraram em testes em 1971 e operaram comercialmente entre 1974 e 2018, ano em que o último trem foi retirado de serviço, no dia 2 de fevereiro, para modernização.[2][3]

Frota A[1]

Trem A14 na Estação Portuguesa-Tietê, 2010.
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Fabricante Budd Company
Westinghouse Air Brake (WABCO)
Westinghouse Electric Corporation
Fresinbra
Mafersa
Villares Metals S.A
Fábrica Budd, Filadélfia, Pensilvânia, EUA

Mafersa, Lapa, São Paulo, Brasil

Período de construção
Entrada em serviço 1974 - 2018
Período de renovação 2009-2018
Total em construção 51
Total construídos 51
Total em serviço 0
Total desmanchados 0
Total preservados 0
Formação 6 carros, sendo todos os carros motores
Capacidade 62 sentados
270 em pé por carro
Operador Metropolitano de São Paulo (1974–2018)
Depósitos Pátio Jabaquara
Linhas Azul
Verde
Vermelha
Especificações
Corpo Aço inoxidável
Comprimento do veículo 21,66 m
Carros A e B
Largura 3,17 m
Altura 3,56 m
Altura da plataforma 1,10 m
Portas 8 por carro (4 de cada lado)
Acionamento pneumático
Velocidade máxima 100 km/h
Peso 32400 kg (vazio)
Aceleração 1,12 m/s²
Desaceleração 1,20 m/s² (serviço)
Tipo de tração Elétrica (Corrente contínua)
Chopper
Motor 4 motores de 110kW (nominal)
Potência 1 224 kW
Tipo de transmissão ATO - Automático, MCS - Semi-Automático e Manual
Tipo de climatização Ventilação Forçada
6 ventiladores e 4 exaustores
Alimentação 750 Vcc
Captação de energia terceiro trilho
Freios Elétrico (regenerativo) e por atrito (pneumático) disco
segurança ATC, ATO
Acoplamento 6 carros, todos motores e acoplados entre si
Bitola 1 600 mm

História

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Projeto e fabricação

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A Companhia do Metropolitano de São Paulo realizou em 1969 uma licitação internacional para a aquisição de 198 carros para a Linha Norte Sul do Metrô. Várias empresas se apresentaram para a concorrência, sendo classificadas[4]:

O resultado da licitação foi anunciado em 14 de agosto de 1969 e envolveu uma controvérsia (vide seção Controvérsias): a unificação das empresas classificadas em um único consórcio, batizado Metrocarro.[4].O valor do contrato foi acordado em 238.478.627,00 cruzeiros.[5]

De acordo com o contrato, o cronograma de entregas ficou dividido da seguinte forma[4]:

Ano Quantidade
1970 Trem protótipo
1971 54
1972 143
Total 198

Em novembro de 1969 a primeira representação artística dos trens foi apresentada ao público pelo presidente da Companhia do Metropolitano, Vicente Chiaverini.[6] Por falta de recursos, o contrato ficou paralisado por quase dois anos. O primeiro carro começou a ser construído em 1971, ao passo que a primeira composição de 2 carros (trem-protótipo) tinha previsão de entrega para agosto de 1972.[7][8] Em 26 de junho de 1972 os truques do trem-protótipo construídos nos Estados Unidos desembarcaram no porto de Santos sendo transportados no dia 29 até a fábrica da Mafersa no bairro da Lapa, onde foi iniciada a montagem do trem-protótipo.[9] Em julho de 1972 o primeiro carro encontrava-se pronto, enquanto que os demais do trem protótipo tinham a previsão de conclusão em 15 de agosto pela Mafersa.[10][11] O trem protótipo acabou entregue em 28 de agosto de 1972.[12]

O trem-protótipo, com dois carros, foi apresentado em 6 de setembro de 1972 durante as comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil. No entanto, por questões de segurança, o presidente Médici não viajou no primeiro teste do trem e optou por acionar à distância uma campainha para que o operador do trem movimentasse o veículo no circuito de testes em Jabaquara.[13]

Das 198 carrocerias encomendadas , 56 foram construídas nos Estados Unidos pela Budd (para serem completadas no Brasil) e 142 pela Mafersa no Brasil. No total, o índice de nacionalização do projeto foi de 60%. O primeiro trem-protótipo com seis carros foi entregue pela Mafersa ao Metrô em 1 de fevereiro de 1973. [14] O trem protótipo percorreu 20 mil quilômetros em testes no trecho de 3,5 quilômetros entre Jabaquara e Saúde de forma manual. Após ter sido aprovado em testes, recebeu os equipamentos do ATC e ATO, sendo modificado e incorporado ao lote de série.[15]

Durante a montagem dos 143 carros de série, parte dos componentes importados dos Estados Unidos acabou extraviada no aeroporto de Congonhas, atrasando o cronograma de inauguração da Linha Norte-Sul. Após um mês, a caixa foi encontrada no setor alfandegário e acabou desembaraçada e entregue para a Mafersa. [15][16] Os dois primeiros carros de série foram entregues ao Metrô em 24 de janeiro de 1974.[17][18]

Até 30 de junho deveriam ser entregues 36 carros (equivalentes a 6 trens-unidade), porém atrasos na produção da Mafersa causados por falta de matéria-prima dos fornecedores fizeram com que no início de julho apenas 24 carros fossem entregues.[19] Após a inauguração da Linha Norte-Sul, as entregas retomaram um bom ritmo e em outubro 54 carros haviam sido concluídos e entregues. A previsão para os 144 carros restantes da encomenda era de serem entregues até o final de 1975.[20] Até abril de 1975 foram entregues mais 56 carros, perfazendo um total de 110 carros divididos por 14 trens-unidade.[21]

Cronograma de entregas

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Ano Quantidade
1972 Trem-protótipo
1974 54
1975 144
Total 198

Retomada da produção

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Após a inauguração da Linha Norte-Sul, a Companhia do Metropolitano estudou a encomenda de novos carros para ampliar a frota. Em agosto de 1976 foi novamente selecionado (sem concorrência) o Consórcio Metrocarro para a fabricação de 108 carros para operação inicial na Linha Leste-Oeste ao custo de 688 milhões de cruzeiros (cerca de 84,9 milhões de dólares).[22] Os primeiros carros começaram a ser montados em 30 de junho de 1978 pela Mafersa. O cronograma de entregas previa a entrega de todos os trens até 1979.[23]

Cronograma de entregas

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Ano Quantidade
1978 30 carros
1979 78 carros
Total 108

Acidentes e incidentes

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  • 21 de novembro de 1979 – Pane no sistema elétrico de um trem da Linha Norte Sul nas proximidades da estação Ponte Pequena causa pânico entre os passageiros, deixando 2 passageiros feridos (em estado de choque)[24].
  • 5 de fevereiro de 1984 – Curto circuito em cabos elétricos nas proximidades da estação Ponte Pequena (atual Armênia) causou um princípio de incêndio em um trem, deixando 9 pessoas feridas durante a evacuação do trem.[25][26]
  • 23 de fevereiro de 1986 – Princípio de incêndio no sistema de refrigeração de um dos motores do quatro vagão do trem 1145 paralisou o tráfego de trens entre as estações Jabaquara e Ana Rosa por uma hora e meia. Nenhum passageiro ficou ferido.[27]
  • 3 de agosto de 1986 – Descarrilamento de trem vazio entre as estações Liberdade e Sé interditou uma das vias da Linha Norte-Sul por mais de seis horas.[28]
  • 13 de agosto de 1987 – Curto circuito em equipamento elétrico da subestação Tietê paralisou trecho Santana – Sé da Linha Norte Sul por oito horas. O problema foi casado pela sapata coletora de um trem que danificou o terceiro trilho, que caiu sobre os trilhos causando a pane. Nenhum passageiro ficou ferido.[29]
  • 18 de outubro de 1999 – Trem descarrilhou nas proximidades da estação Santana. O trecho Santana – Tucuruvi da Linha 1 Azul ficou interrompido durante 1 dia. Nenhum passageiro ficou ferido. Esse foi o primeiro descarrilhamento em operação comercial da história do metrô.[30]
  • 1 de dezembro de 2012 - Um Trem da Frota I chocou-se com outro da Frota A na oficina de manutenção do Pátio Jabaquara. Sem feridos.[31]

Controvérsias

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A exigência de trens com carrocerias de aço inoxidável por parte da Companhia do Metropolitano limitou a concorrência, pois apenas a Mafersa estava apta para fabricar trens com essa tecnologia no Brasil, fornecida pela estadunidense Budd. A empresa nacional foi favorecida nos anos 1950 pelo então presidente da RFFSA, Renato de Azevedo Feio (que era, ao mesmo tempo, diretor acionista da Mafersa), gerando o Caso Mafersa. Outras empresas detentoras de tecnologia para produção de trens de aço inoxidável como a St. Louis Car Company foram preteridos pelas empresas Budd e Mafersa. Das várias empresas que apresentaram propostas para a concorrência dessa frota, o metrô aprovou cinco e as agrupou em um único consórcio. Dessas cinco empresas, quatro estavam ligadas entre si (seja de forma associativa ou por serem subsidiárias):

Empresa País Observações
Budd Company Estados Unidos Fabricante de trens
Detentora da patente de construção de trens de aço inox;
Material Ferroviário S/A (Mafersa) Brasil Fabricante de trens
Representante da Budd desde 1954[32];
Westinghouse Air Brake (WABCO)
e Westinghouse Electric Corporation (WELCO)
Estados Unidos Fabricantes de equipamentos ferroviários
Freios e Sinais do Brasil S.A. (Fresinbra) Brasil Representante da WABCO desde 1960 [33];
Villares S/A Brasil Siderúrgica;

Posteriormente a WELCO e a WABCO entraram em disputa (por meio de consórcios distintos) pela concorrência do sistema de sinalização de trens, com a vitória da primeira.[34]

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  • Na década de 1970 a Metalma, especializada em brinquedos de lata, lançou o "Metrô Brasileiro", uma miniatura da Frota A de 34 centímetros com rodinhas, sendo o primeiro brinquedo lançado relacionado ao Metrô de São Paulo. Atualmente é um brinquedo raro.[35]
  • Em 26 de setembro de 1976 os Correios lançou uma série comemorativa de selos retratando a Frota A;[36]
  • Em abril de 1999 um dos trens da Frota A foi usado como cenário do clipe da música Amanhã, do álbum Caminhos (1999) da cantora Roberta Miranda (com participação do cantor Reginaldo Rossi);[37]

Referências

  1. Mafersa (23 de setembro de 1972). «Anúncio publicitário». Revista Manchete, ano 20, edição 1066, página 143/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  2. Rose Saconi (1 de junho de 2014). «Em 1974, a primeira viagem do Metrô». Acervo Estadão. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  3. Ricardo Meier (1 de fevereiro de 2018). «Trem que inaugurou o Metrô de São Paulo sai de cena». Metrô-CPTM 
  4. a b c «São Paulo já sabe quem vai fornecer carros para o metrô». Correio da Manhã, ano LXIX, edição 23414, página 7/republicado pela Biblioteca nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 15 de agosto de 1969. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  5. «Metrô inicia o pagamento de carros da Linha Norte-Sul». Folha de S.Paulo, ano L, edição 15207, página 8. 3 de fevereiro de 1971. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  6. «Tudo pronto para construir os trens do metrô». Folha de S.Paulo, Ano XLIX, edição 14770, página 1. 23 de novembro de 2019. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  7. «Técnicos verão material rodante do Metrô nos EUA». Folha de S.Paulo, Ano LI, edição 15393, página 11. 8 de agosto de 1971. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  8. «Protótipo fica pronto em agosto». Folha de S.Paulo, Ano LII, edição 15620, página 9. 22 de março de 1972. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  9. «Em Santos os "trucks" do trem-protótipo do Metrô». Folha de S.Paulo, Ano LII, edição 15717, página 10. 27 de junho de 1972. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  10. «Chegam os "trucks" do trem do Metrô». Folha de S.Paulo, Ano LII, edição 15719, página 7. 29 de junho de 1972. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  11. «Últimos retoques no protótipo do Metrô». Folha de S.Paulo, Ano LII, edição 15721, página 5. 1 de julho de 1972. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  12. Departamento de Imprensa do Metrô (28 de agosto de 2007). «Primeiro trem do Metrô de São Paulo completa 35 anos». Portal do Governo do estado de São Paulo. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  13. «Primeiro metrô do Brasil:Celebração prematura». Aventuras na História. 9 de fevereiro de 2019. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  14. «Metrô começa a escavar segundo túnel:Novo protótipo». Folha de S.Paulo, ano LII, edição 15936, página 6. 2 de fevereiro de 1973. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  15. a b «Maqueta para explicar o Metrô:Cronograma dos testes pode mudar». Folha de S.Paulo, ano LIII, edição 16279, página 7. 14 de janeiro de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  16. «Atraso na entrega do trem do Metrô». Folha de S.Paulo, ano LIII, edição 16280, página 10. 15 de janeiro de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  17. «Metrô recebe hoje dois carros». Folha de S.Paulo, ano LIII, edição 16289, página 14. 24 de janeiro de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  18. «O Metrô, já no segundo semestre». Folha de S.Paulo , ano LIII, edição 16290, página 8. 25 de janeiro de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  19. «Falta de material atrasa os vagões». Folha de S.Paulo, ano LIV, edição 16452, página 5. 6 de julho de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  20. «Vagões:começam os investimentos». Folha de S.Paulo, ano LIV, edição 16644, página 31. 6 de outubro de 1974. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  21. «No fim do ano, ônibus-metrô a Cr$ 1,50». Folha de S.Paulo, ano LV, edição 16849, página 13. 29 de abril de 1975. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  22. «Mais 108 novos carros para o Metrô de São Paulo». Folha de S. Paulo, ano LVI, edição 17130, página 12. 25 de agosto de 1976. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  23. «Metrô mostra primeiro carro que rodará entre Sé e Brás». Folha de S.Paulo, ano 57, edição 17986, página 10. 1 de julho de 1978. Consultado em 20 de novembro de 2019 
  24. «Acidente pára metrô e dois ficam feridos». Folha de S.Paulo, Ano 58, edição 18495, página 15. 21 de novembro de 1979. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  25. «Explosão em trem do Metrô gera pânico e 9 se ferem». Folha de S. Paulo. Ano LXIII, nº 20.032. Primeiro Caderno, Necrologia - Geral, p.13. 6 de fevereiro de 1984. Consultado em 4 de janeiro de 2021 
  26. «Fio desencapado provoca acidente no metrô de SP». Jornal do Brasil, ano XCIII, edição 302, página 14/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 6 de fevereiro de 1984. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  27. «Fogo causa interrupção do metrô por uma hora e meia». Folha de S.Paulo, Ano 66, Edição 20780, Página 13. 24 de fevereiro de 1986. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  28. «Vagão descarrila e bloqueia um trecho da linha do metrô». Folha de S.Paulo, Ano 66, Edição 20942, Página 15. 4 de agosto de 1986. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  29. «Metrô quebra duas vezes em menos de oito horas». Folha de S.Paulo, ano 67, edição 21317, página 9. 14 de agosto de 1987. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  30. Marcelo Oliveira e Chico de Góis (19 de outubro de 1999). «Trem do metrô descarrila pela 1ª vez». Folha Online. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  31. Renato Lobo (4 de dezembro de 2012). «Trens da Linha 1 – Azul colidem no pátio e sindicato acusa Metrô e Alstom». Via Trólebus. Consultado em 30 de novembro de 2019 
  32. «O Inquérito parlamentar sobre a Rede Ferroviária». O Semanário, Ano III, número 14, página 14 / republicado pela Biblioteca Nacional- Hemeroteca digital brasileira. 18 de dezembro de 1958. Consultado em 27 de novembro de 2019 
  33. «O Brasil vai fabricar freios e sinalizadores ferroviários». Correio da Manhã, ano LIX, edição 20536, página 11/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 9 de março de 1960. Consultado em 27 de novembro de 2019 
  34. «Controvérsia sobre o Metrô». Folha de S.Paulo, ano LI, edição 15502, página 20/ republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 25 de novembro de 1971. Consultado em 27 de novembro de 2019 
  35. «Metrô Brasileiro Metalma». Brinquedos Raros. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  36. «Selos dos Correios». Leilões Alarcon. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  37. Leonam Bernardo (26 de fevereiro de 2017). «Reginaldo Rossi: 5 vídeos que mostram por que ele será o eterno 'Rei do Brega'». Veja-SP. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
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