Guerra de Troia

conto mitológico grego

A Guerra de Troia AO 1990 foi, de acordo com a mitologia grega, um grande conflito bélico entre os aqueus das cidade-estados da Grécia e Troia, possivelmente ocorrendo entre 1 300 a.C. e 1 200 a.C. (fim da Idade do Bronze no Mediterrâneo).

Guerra de Troia


Aquiles cuidando dos ferimentos de Pátroclo
(Kylix figura-vermelha ática, ca. 500 BC)

A guerra

Ambiente: Troia (moderna Hisarlik, Turquia)
Período: Idade do Bronze
Data tradicional: ca. 1 194–1 184 a.C.
Data moderna: entre 1 260 e 1 240 a.C.
Resultado: Vitória grega, destruição de Troia
Ver também: Historicidade da Ilíada

Fontes literárias

Ilíada · Ciclo épico · Eneida, Livro 2 ·
Ifigênia em Áulis · Filoctetes ·
Ájax · As Mulheres de Troia · Posthomérica
Ver também: Guerra de Troia na cultura popular

Episódios

Julgamento de Páris · Sedução de Helena ·
Cavalo de Troia · O Saque de Troia · Regressos ·
Andanças de Odisseu ·
Eneias e a fundação de Roma

Gregos e aliados

Agamemnon · Aquiles · Helena · Menelau · Nestor · Odisseu · Ájax · Diomedes · Pátroclo · Térsites · Aqueus · Mirmidões
ver também: Catálogo de navios

Troianos e aliados

Príamo · Hécuba · Heitor · Páris · Cassandra · Andrómaca · Eneias · Mêmnon  · Troilo · Pentesileia e as Amazonas · Sarpedão
Ver também: Ordem da batalha dos troianos

Tópicos relacionados

Questão homérica · Arqueologia de Troia · Micenas · Armas da Idade do Bronze

A queda de Troia
Johann Georg Trautmann (1713–1769)
Da coleção dos grão-duques de Baden, Karlsruhe

Segundo a lenda, a guerra teria se originado a partir de uma disputa entre as deusas Hera, Atena e Afrodite, após Éris, a deusa da discórdia, dar a elas o pomo de ouro, também conhecido como "Pomo da Discórdia", marcado para "a mais bela". Zeus mandou as deusas para Páris, que julgou Afrodite como a mais bela. Em troca, Afrodite fez Helena, a mais bonita de todas as mulheres e esposa do rei grego Menelau, se apaixonar por Páris, que então a levou para Troia. Agamenão, rei de Micenas e irmão de Menelau, reuniu os aqueus (gregos), liderou uma expedição contra Troia e cercou a cidade por dez anos, como uma represália pelo insulto de Páris. Após a morte de muitos heróis, incluindo Aquiles e Ájax (entre os gregos) e Heitor e Páris (entre os troianos), a cidade caiu após a introdução do "Cavalo de Troia". Os aqueus massacraram os troianos (exceto as mulheres e crianças, tomados como escravos) e dessacraram seus templos, invocando assim a fúria dos deuses. Poucos dos aqueus conseguiram retornar para casa e muitos tiveram que achar novos lares, fundando novas colônias. Os romanos afirmavam traçar suas origens a Eneias, um troiano filho de Afrodite, que teria levado os sobreviventes de Troia até a região que hoje é conhecida como Itália.[1]

Os gregos antigos acreditavam que Troia era localizada próxima de Dardanelos e que a guerra troiana era um evento histórico datado dentre os séculos XIII e XII a.C., mas até meados do século XIX da Era Cristã a cidade e os acontecimentos do conflito eram considerados "não históricos". Em 1868, contudo, o arqueólogo britânico Frank Calvert convenceu o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann de que Troia era uma cidade real que estava localizada em Hisarlik, na atual Turquia.[2] Baseado nas escavações de Schliemann e outros estudiosos, os acadêmicos agora acreditam na veracidade histórica de uma cidade-estado grega chamada Troia, mas ainda levantam dúvidas sobre a guerra em si.[3][4]

Se os eventos narrados por Homero e a lenda envolta a respeito da "Guerra de Troia" têm algum fundamento histórico, ainda é motivo de debates entre acadêmicos. Muitos estudiosos e historiadores acreditam que há uma base histórica para a guerra, com os contos Homéricos sendo, na verdade, uma coletânea de cercos e expedições militares feitas pelos gregos micênicos durante a Idade do Bronze. Historiadores indicam que a guerra, se ocorreu, teria acontecido entre os séculos XII e XI a.C., fazendo referência às datas dadas por Eratóstenes, 1194–1184 a.C., que corresponde as evidências arqueológicas encontradas nas ruínas de Troia VII.[5]

Causa da guerra editar

 Ver artigo principal: Julgamento de Páris

Segundo o poeta Homero, a guerra foi causada pelo rapto da rainha Helena (esposa do lendário rei Menelau) por Páris, (filho do rei Príamo). Isso ocorreu quando o príncipe troiano foi a Esparta, em missão diplomática, e acabou apaixonando-se por Helena. Páris havia recebido de Afrodite a recompensa de ter a mulher mais bonita do mundo, que era Helena. O rapto deixou Menelau enfurecido, fazendo com que este organizasse poderoso exército junto a seu irmão Agamenão. O rei de Micenas, Agamenão, aceitou o pedido de seu irmão para comandar o ataque aos troianos. Através do mar Egeu, mais de mil navios foram enviados para Troia.

Historicidade editar

A maioria dos gregos antigos dizia que a Guerra de Troia era um evento histórico, embora muitos entendessem que os poemas homéricos continham vários exageros. Por exemplo, o historiador Tucídides, conhecido por seu espírito crítico, considerava-a um evento real, mas duvidava que os gregos houvessem mobilizado a quantidade de navios (mais de mil) mencionada por Homero para atacar os troianos.

Por volta de 1870, na Europa, os estudiosos da Antiguidade eram concordes em considerar as narrativas homéricas absolutamente lendárias. Segundo eles, a guerra jamais ocorrera e Troia nunca existira. Mas, quando o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann, um apaixonado pelas obras de Homero, descobriu as ruínas de Troia e de Micenas, foi preciso reformular esses conceitos.

Ao longo do século XX, tentou-se tirar conclusões baseadas em textos hititas e egípcios, que datam da provável época da guerra. Arquivos hititas, como as Cartas de Tauagalaua, mencionam o reino de Aiaua (Acaia, a moderna Grécia), que se localizava "além do mar" (Egeu) e controlava a cidade de Miliuanda, identificada como Mileto. Igualmente é mencionada, nesses e em outros documentos, a Confederação de Assua, uma liga composta por 22 cidades, uma das quais, Uilussa (Ílio), podendo ter sido Troia. Em um tratado datado de 1 280 a.C., o rei de Uilussa é chamado de Alexandre ou Alaquesandu, que é o outro nome pelo qual Páris é referido na Ilíada.

Após a famosa Batalha de Cadexe (contra o Egito de Ramessés II), essa confederação rompeu sua aliança com os hititas, o que provocou, em 1 230 a.C., uma campanha punitiva do rei Tudália IV (r. 1240–1210 a.C.). Mas sob o reinado de Arnuanda III (r. 1210–1205 a.C.) os Hititas foram forçados a abandonar as terras que controlavam na costa do Egeu, abrindo espaço para possíveis invasores d'além-mar. Nesse caso, a Guerra de Troia teria sido o ataque de Aiaua (Acaia) contra a cidade de Uilussa (Ílio) e seus aliados da Confederação de Assua.

Os trabalhos dos historiadores Moses Finley e Milman Parry procuraram associar a Guerra de Troia a um amplo fluxo migratório micênico, decorrente da invasão dos dórios no Peloponeso. Poderia também haver uma correlação com o ataque ao Egito pelos "povos do mar", nos tempos do faraó Ramessés III.

Mas os céticos quanto à veracidade da guerra glorificada por Homero apoiam-se na ausência de qualquer registro hitita de uma invasão da Anatólia (onde se localizava Troia) por povos vindos do mar.

Em resumo, embora Schliemann tenha encontrado as ruínas da cidade de Troia (aliás, várias cidades, uma sobre a outra) no sítio mencionado por Homero, a questão da historicidade da guerra continua dividindo a opinião dos estudiosos.

Mitologia editar

 
Helena e Páris
Jacques-Louis David
Museu do Louvre

A versão mitológica da guerra estava contida nos poemas do Ciclo Épico, formado por oito poemas: Cantos Cípricos de Estasino, Ilíada de Homero, a Etiópida de Arctino de Mileto, a Pequena Ilíada de Lesques de Mitilene, O Saque de Troia de Arctino de Mileto, Os Retornos de Hágias de Trezena, Odisseia de Homero e Telegonia de Eugamão de Cirene; somente restaram completos os poemas de Homero, a Ilíada e Odisseia, dos outros restaram somente fragmentos e informações de fontes secundárias da antiguidade. Segundo essas versões, a guerra se deu quando os aqueus (os gregos da época micênica) atacaram Troia, para recuperar Helena, raptada por Páris.

A lenda conta que a (ninfa) do mar Tétis era desejada como esposa por Zeus e por Posidão. Porém Prometeu fez uma profecia que o filho da deusa seria maior que seu pai, então os deuses resolveram dá-la como esposa a Peleu, um mortal já idoso, tencionando enfraquecer o filho, que seria apenas um humano. O filho de ambos foi Aquiles, e sua mãe, visando fortalecer sua natureza mortal, o mergulhou quando ainda bebê nas águas do mitológico e sombrio rio Estige. As águas tornaram o herói invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a mãe o segurou para mergulhá-lo no rio (daí a expressão "calcanhar de Aquiles", significando ponto vulnerável). Aquiles se torna o mais poderoso dos guerreiros, porém, ainda é mortal. Mais tarde, sua mãe profetiza que ele poderá escolher entre dois destinos: lutar em Troia e alcançar a glória eterna, mas morrer jovem, ou permanecer em sua terra natal e ter uma longa vida, porém ser logo esquecido. Aquiles escolhe a glória.

Para o casamento de Peleu e Tétis todos os deuses foram convidados, menos Éris (ou Discórdia). Ofendida, a deusa compareceu invisível e deixou à mesa um pomo de ouro com a inscrição "À mais bela". As deusas Hera, Atena e Afrodite disputaram o título de mais bela e o pomo. Zeus não quis ser o juiz, para não descontentar duas das deusas, então ordenou que o príncipe troiano Páris, à época sendo criado como um pastor ali perto, resolvesse a disputa. Para ganhar o título de "mais bela", Atena ofereceu a Páris poder na batalha e sabedoria, Hera ofereceu riqueza e poder e Afrodite, o amor da mulher mais bela do mundo. Páris deu o pomo a Afrodite, ganhando sua proteção e o ódio das outras duas deusas contra si e contra Troia.

A mulher mais bela do mundo era Helena, filha de Zeus e de Leda, esposa de Menelau, rei de Esparta, que a conquistara disputando contra vários outros reis pretendentes com a ajuda de Ulisses (Odisseu) rei de Ítaca e Agamenão rei supremo de Micenas e de toda a Grécia, tendo todos jurado lealdade ao marido de Helena e sempre protegê-la, qualquer que fosse o vencedor da disputa.

Quando Páris foi a Esparta em missão diplomática, apaixonou-se por Helena e ambos fugiram para Troia, enfurecendo Menelau. Este foi pedir ajuda a seu irmão que, a conselho de Nestor (rei de Pilos), um de seus conselheiros, apelou aos antigos pretendentes de Helena, lembrando o juramento que haviam feito. Agamenão então assumiu o comando de um exército de mil navios e atravessou o mar Egeu para atacar Troia com o auxílio de Ulisses (que fingiu-se de louco para não ir a guerra sabendo que se partisse passaria 20 anos sem regressar a seu reino), levando consigo grandes guerreiros como Aquiles, Ajax, o pequeno Ajax, Diomedes, Idomeneu entre outros. As naus gregas desembarcaram na praia próxima a Troia e iniciaram um cerco que iria durar dez anos e custaria a vida a muitos heróis de ambos os lados. Dois dos mais notáveis heróis a perderem a vida na guerra de Troia foram Heitor (que foi morto por Aquiles por vingança por ter matado seu primo Pátroclo) e Aquiles.

 
O Cavalo de Troia
Giovanni Domenico Tiepolo

Finalmente, a cidade foi tomada graças ao artifício concebido por Odisseu (Ulisses): fingindo terem desistido da guerra, os gregos embarcaram em seus navios, deixando na praia um enorme cavalo de madeira, que os troianos decidiram levar para o interior de sua cidade, como símbolo de sua vitória, apesar das advertências de Cassandra. À noite, quando todos dormiam, os soldados gregos, que se escondiam dentro da estrutura oca de madeira do cavalo, saíram e abriram os portões para que todo o exército (cujos navios haviam retornado, secretamente, à praia) invadisse a cidade.

Apanhados de surpresa, os troianos foram vencidos e a cidade incendiada. As mulheres (inclusive a rainha Hécuba, a princesa Cassandra e Andrômaca, viúva de Heitor) foram escravizadas. O rei Príamo e a maioria dos homens foram mortos (um dos poucos sobreviventes foi Eneias, príncipe de Lirnesso, que fugiu de Troia carregando seu pai Anquises, já idoso, sobre os ombros).

E assim, Menelau recuperou sua esposa, Helena (tendo matado Dêifobo, com quem ela se casara, após a morte de Páris), e levou-a de volta a Esparta. Agamenão foi morto por sua esposa que lhe roubou o trono e Odisseu como profetizado passou com o fim da guerra (que durou dez anos) mais dez anos vagando pelo mar, até chegar a Ítaca vestido de mendigo para provar a fidelidade de Penélope, sua esposa, que estava cheia de pretendentes ao casamento e consequentemente ao trono, porém ela os enganara durante 20 anos até o retorno de seu marido que, ao descobrir tudo o que se passou em sua ausência, matou seus inimigos com a ajuda de seu filho.

A Guerra de Troia no cinema editar

Referências

  1. Thompson, Diane P. The Trojan War: Literature and Legends from the Bronze Age to the Present. Jefferson, NC: McFarland. ISBN 0-7864-1737-4 
  2. Bryce, Trevor (2005). The Trojans and their neighbours. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 37. ISBN 978-0-415-34959-8 
  3. Rutter, Jeremy B. «Troy VII and the Historicity of the Trojan War». Consultado em 17 de julho de 2018. Arquivado do original em 22 de julho de 2006 
  4. Wood, Michael (1998). «Preface». In Search of the Trojan War 2 ed. Berkeley, CA: University of California Press. p. 4. ISBN 0-520-21599-0 
  5. Wood, Michael. In Search of the Trojan War. Berkeley: University of California Press, 1998 (paperback, ISBN 0-520-21599-0); Londres: BBC Books, 1985 (ISBN 0-563-20161-4).

Bibliografia editar

  • Homero, Ilíada, tradução do grego de Frederico Lourenço (ISBN 972-795-118-X).
  • Strauss, Barry. The Trojan War: A New History. New York: Simon & Schuster, 2006 (ISBN 0-7432-6441-X).
  • Bowder, Diana - Quem foi quem na Grécia Antiga, São Paulo, Art Editora/Círculo do Livro S/A, s/d.

Ligações externas editar